sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

O sistema internacional

Integram o sistema internacional países e organizações internacionais. Também estão presentes as organizações não governamentais e os movimentos sociais, além das empresas transnacionais, que buscam influenciar as leis dos países e as organizações internacionais. 
As organizações governamentais internacionais podem ter objetivos e interesses diversos. Algumas têm caráter político e regional, como a Organização dos Estados Americanos (OEA), que funciona como um fórum governamental político, jurídico e social dos países da América. Outras, como a Organização das Nações Unidas (ONU), têm atuação global.
Vamos conhecer mais esse conjunto de atores globais.

Organizações internacionais


Os objetivos das organizações internacionais são discutir problemas que afetam os países e buscar soluções para eles. Cada organização, por meio de seus países-membros, define um conjunto de normas que deve ser seguido por todos. Após ingressar, aquele que não seguir as regras estabelecidas pode ser punido. As despesas são cobertas por meio de contribuição dos países.

A criação das organizações internacionais 


A partir de meados do século XX, as relações econômicas entre os países se intensificaram, em grande parte pela influência e consolidação da globalização moderna. Ao analisarmos o contexto humanístico, cultural, geopolítico e econômico do planeta, percebemos que várias organizações internacionais passaram a se destacar desde então. A maioria dessas organizações surgiu no contexto em que o mundo se recuperava dos danos e traumas causados pela Segunda Guerra Mundial. Foi o momento em que a Guerra Fria se acirrou e a globalização moderna começou a se estruturar, ainda de forma incipiente.
Essas organizações tornaram-se importantes e muitas vezes decisivas no cenário internacional, uma vez que ordenaram e estabeleceram as relações e a influência política e econômica entre os países, criando regulações, normas e acordos entre blocos e nações na tentativa de atender a objetivos diversos. Em um mundo no qual a democracia ainda era embrionária em muitos países, sobretudo naqueles que estavam se desvencilhando de seus colonizadores, era fundamental que organismos internacionais começas sem a despontar para mediar o jogo político, econômico e cultural e reafirmar os direitos humanos em um con texto dominado pelo poderio bélico, pela busca inces sante do lucro e pela guerra ideológica. Foi nesse panorama que, em 1945, surgiu a Organização das Nações Unidas (ONU), uma segunda tentativa de organizar um foro de diálogo permanente e universal para todas as nações depois do fracasso da Liga das Nações. Criada em 1919, ao fim da Primeira Guerra Mundial, a Liga tinha como objetivo principal evitar novas guerras e promover a paz.

A Organização das Nações Unidas (ONU)


A Organização das Nações Unidas (ONU) surgiu quando 51 países se reuniram em São Francisco, nos Estados Unidos, entre abril e junho de 1945, para participar da Conferência das Nações Unidas para a Organização Internacional. Essa conferência ocorreu antes do fim da Segunda Guerra Mundial e foi financiada por Estados Unidos, China, Reino Unido e União Soviética. A Declaração das Nações Unidas foi produzida em janeiro de 1942. Naquele ano, 26 países, incluindo os quatro citados, aderiram à expressão “Nações Unidas” usada pelo presidente dos Estados Unidos à época, Franklin Roosevelt (1882-1945), para se referir aos aliados contra o autoritarismo. A principal missão da ONU é promover a paz e a cooperação entre os países. A organização promove reuniões anuais para discutir assuntos de interesse geral, como meio ambiente, fome, direitos humanos, entre outros. Para cumprir os objetivos da ONU, foram criados quatro fóruns de decisão: a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, a Corte Internacional de Justiça e o Conselho Econômico SPUTNIK/Agência France-Presse e Social.

A ONU e a cultura de desenvolvimento 


Uma das principais missões da ONU é garantir o fomento e a diversidade cultural, já que viver em determinada cultura e celebrá-la é um dos direitos mais básicos de uma pessoa. Entretanto, a polarização vista nos últimos anos representa um obstáculo para as previsões iniciais de que no século XXI pudesse haver maior integração entre países e nações e respeito às diferenças. Há também uma tendência à uniformi dade e ao aniquilamento de culturas, o que significa, em última instância, apagar a memória de muitos povos, empobrecendo o repertório da história humana. Na contramão desse contexto, a ONU busca fomen tar o que se denomina cultura de desenvolvimento, ressaltando os valores da educação, da comunicação social e das identidades culturais por meio da cida dania democrática, do desenvolvimento humano, da recuperação e do desenvolvimento das identidades nacionais diante do movimento de uniformidade cultu ral. Acima de tudo, investe no aprendizado da cultura da paz, que preconiza a convivência pacífica entre diferentes culturas. Para atuar nas diversas frentes a que se propõe, a ONU dispõe de vários organismos especializados.

Assembleia Geral


A Assembleia Geral da ONU ocorre anualmente (figura 5). Em 2018, integravam a ONU 193 países, segundo o site da instituição. Esses países podem enviar representantes, que têm direito de voto e de manifestação. Não importa o tamanho do país, nem de sua população, nem a capacidade militar ou econômica; todos têm o mesmo peso e importância. Cabe à Assembleia discutir temas que envolvem a segurança mundial e a paz, a adesão de novos países, a localização das reuniões temáticas que ela decide apoiar, entre outros assuntos. A Assembleia pode criar grupos de trabalho e comissões especiais que trabalham temporariamente a fim de gerar estudos e pesquisas que auxiliam os países a tomar decisões.

Conselho de Segurança


Ainda que nos documentos de criação da ONU a Assembleia Geral seja indicada como o principal fórum de decisão, cabe ao Conselho de Segurança tratar dos assuntos mais importantes. Um dos temas decididos pelo Conselho é o envio de tropas das Forças de Paz para atender países em situação de conflito em que a população esteja em risco. Também são discutidas as resoluções de paz, que resultam de propostas dos países-membros e que são aceitas pelos países em conflito. Por fim, outra decisão importante que cabe ao Conselho de Segurança é o bloqueio econômico, medida punitiva que proíbe todo e qualquer tipo de comércio com determinado país. Para as decisões, o Conselho conta com uma estrutura muito pequena. Ele é formado por apenas 15 países, que se reúnem pelo menos duas vezes por mês, ou extraordinariamente, quando surge um problema emergencial. Há cinco membros permanentes, que estão no Conselho desde a sua fundação e têm o poder de vetar uma decisão: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia (anteriormente, União Soviética) ou seja, os países que venceram a Segunda Guerra Mundial. Os membros permanentes devem estar de acordo nas decisões; basta um deles votar contra para a decisão não ser aceita. Os demais dez membros são eleitos na Assembleia Geral, com mandato de dois anos. Há um acordo entre o grupo africano e o asiático para que, alternadamente, exista sempre um representante de um país árabe.

A Corte Internacional de Justiça


Corte Internacional de Justiça foi criada em 1945 e começou a funcionar em 1946. Diferentemente dos outros órgãos, que têm sede em Nova York, nos Estados Unidos, a Corte se localiza em Haia, nos Países Baixos, a Corte tem como principal objetivo estabelecer regras jurídicas que podem ser aplicadas nas relações entre os países-membros da ONU. Ela também atua para que as decisões de outros órgãos da ONU tenham efeito jurídico entre os países-membros.

Conselho Econômico e Social


O Conselho Econômico e Social da ONU (figura 8) também foi criado em 1945 e sempre teve um papel de menor destaque no sistema de decisões. Isso começou a mudar em 2006, quando a Assembleia Geral decidiu que ele deveria promover uma reunião anual de ministros para avaliar se as decisões das Conferências da ONU estavam sendo adotadas. Além disso, foi aprovado nesse mesmo ano que caberia ao Conselho Econômico e Social promover uma agenda de cooperação para o desenvolvimento. Desde 2005, ficou estabelecido que ele seria composto de 54 países, eleitos pela Assembleia Geral a cada três anos, segundo critérios geográficos: 14 da África, 11 da Ásia, 6 da Europa Oriental, 10 da América Latina e do Caribe e 13 da Europa Ocidental.

Além desses órgãos, também foram criadas a Secretaria Geral e as Forças de Paz. Ao longo dos anos, outros órgãos foram surgindo para tratar de assuntos específicos, como desenvolvimento, infância e adolescência e meio ambiente

Conferência da ONU


Reunião de chefes de Estado, ou de seus representantes, para tratar de temas específicos, como meio ambiente, moradia, crescimento populacional, entre outros. Esses eventos podem ou não gerar convenções internacionais que obrigam os países signatários a adotar as medidas decididas.

Críticas à ONU


Entre as críticas que a ONU recebe, a maior é a de favorecer os Estados Unidos, seu maior financiador. Como a sede principal está em Nova York (Estados Unidos), existe muita pressão do governo estadunidense para que seus interesses sejam contemplados nas decisões da organização. Outro ponto muito criticado é a demora na tomada de decisões, que devem ser por consenso, o que exige tempo para que seja elaborado um texto em que todos estejam de acordo. Aqui aparece a terceira crítica. Para serem aceitos por países tão distintos e com interesses tão diferentes, os textos das decisões acabam sendo genéricos, o que diminui sua eficácia.

O Fundo Monetário Internacional (FMI)


Com o objetivo de regular a movimentação financeira no mundo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi criado, em 1944, na Conferência de Bretton Woods. Leia mais sobre essa conferência na seção Olhar interdisciplinar. Em 2018, o FMI contava com 189 países-membros. Sua sede fica em Washington D.C. (Estados Unidos). Monitorar a economia de seus países-membros é uma das funções do FMI, que recebe informações e gera anualmente um relatório em que avalia os pontos fortes e fracos da economia de uma nação e os compara com os dos demais integrantes. Mas sua maior missão é manter a estabilidade financeira internacional, garantindo que os pagamentos entre bancos e demais empresas financeiras dos países possam ocorrer sem dificuldade. Quando um dos sócios do fundo necessita de recursos, ele recebe uma visita de técnicos do FMI, que levantam informações sobre a economia do país. Nem sempre eles são bem recebidos. Nesse processo, investiga-se o valor que o país deve, quando deve pagar as dívidas e avaliam-se suas reservas monetárias internacionais para, então, decidir a quantia a emprestar e de que forma isso será feito. Os recursos para o empréstimo vêm da contribuição de uma parcela do PIB de cada país-membro, que forma uma espécie de poupança que pode ser sacada por um país em dificuldades para honrar seus compromissos financeiros.

É nesse ponto que surgem os problemas. Para pedir empréstimo ao FMI, os países devem obedecer a regras muito rígidas, que em geral afetam sua economia. Uma das exigências é o controle do aumento de preços e maior equilíbrio nas contas do governo (que deve gastar e investir de acordo com a quantidade de dinheiro arrecadado por meio de impostos, taxas e multas). Geralmente, essas medidas provocam diminuição da atividade econômica, já que o Estado investe menos recursos em obras e em serviços de saúde e educação, por exemplo, o que resulta em menos empregos, menos dinheiro circulando pelo país e menor amparo social. Esse quadro dificulta a vida da população mais carente, que em geral tem acesso a serviços de pouca qualidade, em condições piores do que as anteriores à crise. Dada a série de crises financeiras enfrentadas por muitos países nos últimos anos, pode-se dizer que o FMI não é uma organização bem-sucedida.

Conferência de Bretton Woods


Muitos autores acreditam que a Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas, que ficou conhecida como Conferência de Bretton Woods, de 1944, foi o começo da criação das organizações internacionais. Em Bretton Woods, em New Hampshire, nos Estados Unidos, 44 países se reuniram para definir o funcionamento da economia do pós-guerra. Foram discutidos, pela primeira vez na história, formas de controlar a circulação do dinheiro no mundo e meios de garantir as trocas cambiais entre os países. Nessa reunião foram criados o Fundo Monetário Internacional (FMI), responsável por orientar o desenvolvimento econômico dos países integrantes, e o Banco Mundial (a princípio denominado Bird – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento), para promover a reconstrução dos países arrasados pela Segunda Guerra.

O Banco Mundial


Financiar países em prol de seu desenvolvimento: essa era inicialmente a missão do Banco Mundial, criado em 1944. Em 2018, havia 189 países-membros dessa organização, que reúne várias instituições financeiras. Entre elas, a mais importante é o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), cuja atuação teve destaque no final da Segunda Guerra Mundial, quando financiou a reconstrução dos países europeus. Depois dessa ação, o Bird começou a financiar outros países. O foco das ações passou a ser o apoio ao desenvolvimento. Porém, surgiram muitas críticas ao financiamento que fornecia aos governos, pois ele não se preocupava, por exemplo, com os impactos ambientais resultantes do modelo de desenvolvimento adotado. Também surgiram algumas denúncias de desvios do dinheiro proveniente do Bird. As críticas influenciaram o Bird, que passou a ser mais exigente em relação à gestão dos empréstimos, o que dificultou a corrupção, mas não a eliminou. Em relação aos impactos ambientais, os projetos financiados tiveram de demonstrar como afetariam o ambiente e quais medidas seriam adotadas para evitar danos sociais e ambientais. Não se pode dizer que as ações financiadas pelo Bird deixaram de causar impactos ambientais, mas alguma melhoria pôde ser notada. No entanto, a principal crítica que se costuma fazer ao Bird está no uso de tecnologia de países ricos. Argumenta-se que os projetos, para serem aprovados, necessitam empregar tecnologias de países ricos. Ou seja, o Bird só financiaria projetos que, de algum modo, repassassem dinheiro a países ricos, seus maiores contribuintes, por meio do pagamento pelo uso dessas tecnologias.

A Organização Mundial do Comércio (OMC)


O comércio é uma prática que remonta à Antiguidade. Depois de um grande impulso nos séculos XV e XVI, época das Grandes Navegações, o capital acumu lado possibilitou a consolidação dos primeiros Estados modernos. Foi somente após o século XIX, contudo, com o desenvolvimento das revoluções industriais, que a produção de mercadorias aumentou significativamente, fomentando o comércio internacional.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) surgiu da alteração do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (AGTC) ou GATT (General Agreement on Tariffs and Trade), instituído em 1947. Esse acordo visava constituir a Organização Internacional do Comércio, um órgão especial da ONU. A principal função seria regulamentar a cobrança das taxas de importação e exportação dos países para facilitar o comércio mundial. Entretanto, essa iniciativa não foi implementada e o GATT deixou de existir em 1995, quando surgiu a Organização Mundial do Comércio (OMC), que tem sede em Genebra, na Suíça. Em 2018, a instituição contava com 164 países-membros. Todos os anos, ministros dos países-membros da OMC se reúnem para discutir mecanismos de facilitação do comércio entre eles. Mas as negociações não são simples. Em geral, os países mais ricos desejam que os países pobres não cobrem taxas para a exportação de seus produtos, mas mantêm taxas para importação de produtos oriundos de países mais pobres, em especial os artigos agrícolas e extrativistas. Além disso, a OMC é o foro de discussão de divergências comerciais entre países-membros. Essas discussões ocorrem no Conselho Geral. Um exemplo é o caso entre Brasil e Estados Unidos, iniciado em 2008, no qual o Brasil questionou ações adotadas pelo outro país que restringiam a importação de suco de laranja. Depois de três anos de discussões, a OMC reconheceu que os Estados Unidos não poderiam impor tais regras. Em 2011, os dois países apresentaram um documento à OMC no qual expressaram estar mutuamente satisfeitos com a decisão.
Uma das principais ações da OMC é promover reuniões entre os países para estabelecer acordos comerciais no âmbito mundial. Essas reuniões são chamadas rodadas, com destaque para a Rodada de Doha (Catar), que se iniciou em 2001 e continua até hoje.

 A que visam as rodadas 


Geralmente, o principal assunto de uma rodada é a questão das barreiras comerciais, ou protecionismo, prática adotada por muitos países que prejudica principalmente a economia dos países pouco desenvolvidos e emergentes. O protecionismo diz respeito a um conjunto de medidas que protegem a indústria ou o comércio interno, dificulta as importa ções e a concorrência externa. Essas barreiras ficam evidentes nos subsídios concedidos pelos governos, principalmente para o setor agrícola. 
Esses subsídios beneficiam os agriculto res, que passam a produzir por um preço baixo e podem lançar no mercado pro dutos mais em conta. Como resultado, a maioria dos países que exportam bens primários, em especial produtos agríco las, não consegue vendê-los para nações desenvolvidas, o que constitui uma con corrência desleal. 
O governo brasileiro acionou a OMC diversas vezes, em especial para recla mar dos subsídios concedidos pelos Estados Unidos aos produtores locais de algodão e também dos subsídios concedidos pela União Europeia aos países-membros do bloco para a produção de açúcar. Em ambas as ações, a organi zação deu ganho de causa ao Brasil, por entender que esses subsídios eram exagerados, violavam as regras internacionais de comércio e, como consequên cia, prejudicavam o país. Além da OMC, outras organizações internacionais e instituições financei ras foram criadas, todas muito importantes para a regularização econômica e comercial entre as nações.

Os desafios das organizações internacionais 


Apesar de ter sido criada com o objetivo de facilitar o comércio mundial, a OMC é questionada por diversos líderes e organizações por não garantir trocas comerciais e econômicas igualitárias entre os países. Muitos criticam o fato de que algumas práticas da OMC favorecem os países desenvolvidos, coibindo de maneira desigual as ações protecionistas de outros, legitimam barreiras alfandegárias e taxam nações em desenvolvimento que tentam fazer o mesmo. A consequência disso é que apenas alguns setores da sociedade conseguem se beneficiar dos acordos comerciais, o que contribui para a estagnação econômica dos países envolvidos. 
Muitos estudiosos defendem que as relações comerciais e econômicas fomentadas pela OMC deveriam favorecer a melhoria dos padrões de vida e o crescimento estável e amplo da renda, assegurar emprego às pessoas e expan dir a produção e o comércio de bens e serviços. Desenvolvimento e crescimento econômico, por sua vez, não são sinônimos. 
Para que as condições de vida de uma população melhorem, a economia não deve apenas crescer, mas também desenvolver o bem-estar social e garantir que os cidadãos tenham condições tanto de consumir quanto de viver bem, com acesso a trabalho, moradia, saúde, educação e alimentação balanceada. Em uma visão mais ampla, esse é um desafio para qualquer organização internacional.
Atualmente, o desenvolvimento tecnológico, encabeçado pelas potências mundiais, traz à tona questões da inteligência artificial, que, com o passar do tempo, é incorporada ao mercado de trabalho a ponto de muitas vezes substituir a mão de obra humana. Diante disso, o mundo do trabalho parece ser uma área que precisará de atenção das organizações internacionais nos próximos anos. Membros da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e de ONGs que atuam em questões relacionadas ao assunto já se preocupam com o que vem sendo chamado de desemprego tecnológico, ou seja, a exclusão dos trabalhadores que, por diversas razões, não conseguem se adaptar às novas exigências do mercado de trabalho. 
Se lançarmos um olhar para a história, veremos que o mundo do século XVIII, que passou da produção manual para a mecanizada, teve ganhos e perdas. No início do século XX, assistimos às transformações do trabalho favo recidas pela microeletrônica. No fim desse mesmo século, a internet revolucionou o modo analógico da eletrônica, dando origem à época digital. Ainda que, indubitavelmente, as diversas formas de inteligência artificial sejam parceiras dos seres humanos, a ameaça à desqualificação do trabalho humano e do cresci mento do desemprego existe. Cabe às organizações inter nacionais e às organizações trabalhistas colaborar com mecanismos que possibilitem ao ser humano continuar como protagonista da história.

ONGs e movimentos sociais

As ONGs são instituições civis com preocupações e práticas sociais, sem fins lucrativos, que realizam serviços em lugares e situações em que os governos se fazem pouco presentes. Essas organizações obtêm recursos por meio de financiamentos de governos e empresas privadas, venda de produtos, doações da população em geral, e contam com voluntários – pessoas que não recebem salários pelo seu trabalho na organização.
Organizações internacionais atuam em muitos assuntos de interesse geral. Nelas, as Organizações Não Governamentais (ONGs), os movimentos sociais e os países podem se manifestar. Porém, só os países podem votar. Isso não quer dizer que as ONGs e os movimentos sociais não tenham funções importantes. Na verdade, eles conseguem realizar o que os países, em geral, não querem fazer: mobilizar a opinião pública para discutir os problemas. 
As ONGs são organizações que dependem de dinheiro de doações de voluntários, de empresas, organizações internacionais e de países. Elas funcionam muitas vezes de modo complementar aos governos, promovendo ações que eles não conseguem fazer ou não são prioritárias. 
Os movimentos sociais resultam da organização da sociedade na luta por amplas mudanças sociais. Suas origens não estão vinculadas à captação financeira e sim à conquista de direitos com o Estado, por isso são diferentes das ONGs. Como exemplo, podemos citar o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), movimento composto de trabalhadores urbanos em torno de uma série de reivindicações comuns, sendo a principal delas o direito à moradia. Outro exemplo, é o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), movimento de ativismo político que tem como bandeiras principais a realização de uma ampla reforma agrária e a conquista de melhores condições para os pequenos agricultores. Povos indígenas também estão organizados na escala internacional. Eles se reúnem para discutir assuntos de seu interesse, como seu papel no desenvolvimento de novas tecnologias.
O movimento feminista é outro que atua em escala nacional e internacional. Uma das bandeiras das mulheres é receber salários iguais aos dos homens quando exercem a mesma função. Na maioria dos países, isso ainda não ocorre, por isso a luta é internacional. Mas ela também é nacional, porque as leis que definem o trabalho são diferentes em cada país. Para tratar de assuntos de escala internacional, como emprego, ambiente e direitos das mulheres, foi criado o Fórum Social Mundial.

Fórum Social Mundial


Discutir problemas e buscar alternativas para resolvê-los foi a maior razão pela qual inúmeras ONGs e movimentos sociais organizaram o primeiro Fórum Social Mundial. O primeiro ocorreu em 2001, em Porto Alegre, e desde então ele acontece com regularidade em outras cidades do mundo, embora a maior parte dos encontros tenha sido na capital do Rio Grande do Sul. O Fórum Social Mundial tem um Conselho Internacional que organiza as reuniões com participação de ONGs e movimentos sociais nacionais e internacionais. Nos últimos anos, aconteceram vários Fóruns Sociais Regionais. Entre os temas mais discutidos estão os efeitos que as mudanças no mundo atual trazem para trabalhadores, mulheres e crianças, incluindo os impactos ambientais. Além disso, as reuniões do Fórum Social Mundial costumam produzir muitos documentos e uma declaração, que é enviada aos líderes mundiais e às organizações internacionais que tratam do assunto em questão. Mas nelas também ocorrem muitas manifestações políticas e culturais, indicando que “um outro mundo é possível”, o principal lema do Fórum.

ONGs e sua atuação


As ONGs são importantes fiscalizadoras e denunciadoras de ações dos vários atores do espaço geográfico mundial. Existem milhares de ONGs, a maioria de atuação local. Apenas algumas centenas delas são internacionalmente influentes.

Anistia Internacional 


Fundada no Reino Unido, em 1961, e atualmente presente em 150 países, a Anistia Internacional atua para que os direitos humanos sejam respeitados, promovendo a defesa de vítimas de tortura, condenados à pena de morte e presos políticos. Em 1977, a Anistia Internacional recebeu o Prêmio Nobel da Paz, um reconhecimento pela atuação no cenário internacional.

Oxfam 


Criada em 1995, a Oxfam é uma confederação internacional de 15 organizações que trabalham pelo combate à pobreza, à injustiça social e às violações dos direitos humanos. Atua em 98 países exercendo pressão sobre governos e empresas a fim de garantir melhores condições de vida às populações carentes.

Greenpeace 


O Greenpeace surgiu em 1971. Suas ações estão voltadas para a proteção do ambiente, com destaque para florestas, oceanos e atmos fera. A instituição promove campanhas criativas e provocativas para chamar atenção para os problemas ambientais.

G20 financeiro e comercial

A sigla G20 identifica dois grupos.

O primeiro (G20 financeiro) reúne os países mais ricos e os que estão aumentando sua influência no mundo, desde 1999. Em 2018, era composto de 19 países mais a União Europeia. Trata-se de uma ampliação do antigo G8, que tinha apenas representantes dos oito países mais ricos do mundo. O maior foco das ações do G20 financeiro é na área econômica e financeira, por isso os representantes dos países são os ministros financeiros e os presidentes dos Bancos Centrais, que controlam a quantidade de dinheiro que circula em cada país.

O outro grupo, G20 comercial, foi criado em 2003 e atua com destaque na OMC em assuntos relacionados à agricultura. Em 2018, era composto de 23 países. O grupo critica os países mais ricos do mundo e sua principal meta é combater medidas que protegem os agricultores desses países e dificultam a compra de produtos agrícolas de países pobres.

O Japão

O Japão é uma monarquia constitucional que exerce soberania sob o arquipélago japonês, situado no oceano Pacífico, no leste da Ásia, região também conhecida como Extremo Oriente. 
Esse arquipélago compreende cerca de 3,4 mil ilhas de vários tamanhos, que se estendem paralelamente ao litoral oriental da Ásia na forma de um grande arco.
Quatro ilhas do arquipélago japonês apresentam grandes dimensões, correspondendo a 97% do território do país: 
• Honshu, a maior delas (230.822 km2), abriga a capital do país, Tóquio; 
• Hokkaido (83.519 km2) é a mais setentrional; 
• Kyushu (42.030 km2) situa-se ao sul de Honshu; 
• Shikoku, a menor dessas ilhas (18.780 km2), situa-se entre Honshu e Kyushu. 
De modo geral, suas ilhas são resultantes do vulcanismo ocorrido no fundo do oceano Pacífico em tempos geológicos recentes (há menos de 200 milhões de anos). O vulcanismo e o tectonismo continuam ativos no Japão, provocando, em algumas ocasiões, terremotos de grande intensidade e de graves consequências materiais e humanas, como o ocorrido em Kobe, em janeiro de 1995, que causou a morte de mais de 5 mil pessoas e atingiu 7,2 pontos na escala Richter, além do trágico terremoto seguido de tsunami ocorrido no dia 11 de março de 2011.
No caso, o Grande Terremoto do Leste do Japão foi o maior já registrado pelos japoneses. Provocou ondas de 10 metros que invadiram várias cidades do país e atingiram a usina nuclear da região de Fukushima, causando um grave acidente. Mais de 15 mil pessoas morreram.
As características físicas do Japão exerceram influência sobre sua história, cultura e desenvolvimento econômico. A ocorrência de vulcanismo e tectonismo, por exemplo, é um aspecto marcante, ao qual a sociedade japonesa já está, de certa forma, preparada.

A questão demográfica 


O Japão é um dos países mais populosos do mundo. Em 2018, contava cerca de 126 milhões de habitantes. Com uma pequena extensão territorial, sua densidade demográfica é, consequente mente, muito elevada (337 hab./km2). 
Apesar do relevo bastante acidentado, o país é populoso e densamente povoado. Cerca de um terço da população vive na Região Metropolitana de Tóquio – a maior área metropolitana do mundo –, onde está a capital e a mais importante cidade japonesa. 
Na faixa compreendida entre Tóquio e Kobe (no centro-sul da ilha de Honshu) ocorre a maior aglomeração urbana do mundo, com mais de 70 milhões de habitantes. Nessa região estão as três principais áreas conurbadas do território japonês: Tóquio, com 38 milhões de habitantes (inclusive Yokohama); Nagoya, com 8 milhões; e Osaka, com 16 milhões (inclusive Kyoto e Kobe). 
A partir de 2020, a população absoluta de Tóquio começa a reduzir e, segundo estimativas, a cidade permanecerá como a maior aglomeração do mundo em 2030, abrigando cerca de 37 milhões de habitantes.
A estrutura de produção japonesa e a divisão da riqueza entre a população levam o país a excelentes indicadores sociais. Sua expectativa de vida está entre as maiores do mundo. Em 2015, era de 83,7 anos, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2016. A taxa de mortalidade infantil era de apenas 5 por mil. Além disso, a média de anos de estudo era de 12,5 anos. Toda a população tinha completado o Ensino Médio, e cerca de 60%, o Ensino Superior, mostrando que o índice educacional do Japão é um dos mais elevados do mundo.
Em 2019, a expectativa de vida no Japão era de 84 anos. Nesse mesmo ano, cerca de 28% da população tinha mais de 65 anos de idade. Em decorrência disso, há uma elevação dos gastos com pagamento de aposentadorias e o sistema de saúde. Se a situação persistir, estima-se que haverá uma redução de 14% no número de habitantes do país até 2050. Como a esperança de vida é alta, cerca de um terço dos japoneses terá, nesse mesmo ano, mais de 65 anos.
O governo japonês chegou a desenvolver campanhas de incentivo à natalidade, mas sem obter resultados sa tisfatórios. Para os casais jovens, os custos de moradia e educação dos filhos representam um peso econômico. A escassez de terras ocasionou uma grande elevação dos preços de imóveis, obrigando jovens a alu gar ou comprar apartamentos minúsculos.
Por conta do território reduzido, o país tem cidades com elevada concentração populacional. Na região metropolitana de Tóquio, onde fica a capital do país, em 2018 viviam mais de 37 milhões de habitantes, segundo o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas. Outra aglomeração urbana importante é Osaka-Kobe, com cerca de 11 milhões de habitantes. A concentração populacional no Japão formou uma megalópole, ou seja, um conjunto de metrópoles próximas umas das outras e muito articuladas entre si.A grande escassez de mão de obra também é reflexo do atual cenário demográfico. Acredita-se que, até 2030, o país sofrerá um déficit de 6,44 milhões de trabalhadores, situação que poderá ser agravada por seu histórico de restrição da entrada de imigrantes.
Os elevados índices econômicos e sociais do Japão impressionam se lembrarmos que o país esteve sob regime feudal até o século XIX. Porém, de 1868 a 1912, passou por uma grande mudança iniciada pelo imperador Mutsuhito (1852-1912), que ficou conhecido como Meiji. Esse imperador promoveu alterações radicais na estrutura econômica e política japonesa. O imperador combateu o xogunato, sistema político baseado no domínio militar, e estabeleceu o ensino obrigatório na Constituição. Mas a mudança mais significativa foi a criação de um sistema de organização empresarial, conhecido como zaibatsu.

 Japão: grande potência industrial 


Até 1868 o Japão era um país feudal (xogunato) e agrícola. A partir daquele ano (início da Era Meiji) foi restaurado o poder imperial, e teve início um rápido processo de desenvolvimento econômico e de transformações na sociedade japonesa. A industrialização, o combate ao analfabetismo e os investimentos em infraestrutura foram a base da modernização do país. Esse período durou até 1912. 
A Era Meiji concluiu o processo de ruptura com o passado feudal, estabelecendo uma estrutura de produção e relações sociais capitalistas. A partir dessas mudanças o Japão deu início a um período de expansionismo imperialista, que se estendeu até a Segunda Guerra Mundial. Ao final dessa guerra, o país, derrotado, estava com parte significativa de sua infraestrutura e capacidade produtiva desestruturadas. No entanto, graças a um conjunto de fatores, o Japão atingiu uma vigorosa recuperação econômica, que chegou a elevá-lo ao posto de segunda potência econômica mundial (em 2017, o país ocupava a terceira posição). 
Entre esses fatores, podemos destacar: 
• a mão de obra barata e abundante, submetida a longas jornadas de trabalho; 
• a valorização do trabalho em grupo; 
• os fortes investimentos em educação, inclusive na qualificação de mão de obra; 
• o amparo do Estado à economia, com forte apoio às empresas privadas; 
• a adoção de uma política econômica protecionista, que mantinha (e, de cer ta forma, ainda mantém) impostos de importação elevados, com o objetivo de proteger a indústria nacional (proteção também presente no setor agrí cola, especialmente no caso da produção de arroz); 
• a enorme capacidade de poupança interna, que fez do país um dos maiores investidores nacionais; 
• o auxílio financeiro-econômico dos Estados Unidos, que estavam preocupa dos com a possibilidade de um avanço do socialismo no Extremo Oriente.

Economia japonesa


A economia japonesa é bastante diversificada. Em função de sua peque na extensão territorial, o país encontra limitações para algumas atividades, as quais são parcialmente compensadas pela elevada tecnologia e organização produtiva.
A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão se transformou em um exemplo de crescimento econômico, aumentando sua participação no comércio internacional e elevando o padrão de vida de sua população.
Atualmente, o Japão forma com Estados Unidos, União Europeia e China o principal eixo de poder econômico do mundo, destacando-se como uma grande potência econômica industrializada. O país abriga a sede de várias empresas transnacionais e constitui um dos principais centros financeiros globais.
Uma característica importante do Japão é a forte presença do Estado na economia. Além de direcionar investimentos para educação e para a formação de tecnopolos, que unem indústrias e centros de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia avançada, o Estado desenvolve análises sobre o mercado internacional, elabora sistemas de organização empresarial, cria linhas de produtos e apoia as empresas privadas. 
Desde a década de 1980, as grandes empresas do Japão têm investido em países de todo o mundo, desempenhando um papel importante no crescimento econômico dos países denominados Tigres Asiáticos e Novos Tigres.
A expansão desses investimentos faz parte do contexto da globalização, caracterizado por um aumento da concorrência internacional. As empresas japonesas buscam diminuir o custo de produção, utilizando mão de obra mais barata oferecida por diversos países do Leste e Sudeste Asiático.

A formação dos zaibatsus


Até 1868, o Japão era um país feudal (xogunato) e agrícola. A partir daquele ano (início da Era Meiji), foi restaurado o poder imperial, dando início a um período de industrialização e expansionismo imperialista que se estendeu até a Segunda Guerra Mundial. 
Em 1868, o país começou a se modernizar, construindo os alicerces de seu processo de industrialização. Nessa ocasião, o governo estimulou a formação dos zaibatsus, grandes conglomerados industriais (familiares), verdadeiros impérios com elevado grau de competição.
Os zaibatsus foram criados para permitir o surgimento de grandes empresas no Japão. O governo ajudou famílias importantes a concentrar atividades bancárias e industriais, o que lhes conferiu muito poder econômico. Foi dessa forma que surgiram empresas que existem até hoje, atuando nos setores de produção automobilística, mineração, telecomunicações, seguros, entre outros. A partir da industrialização, ocorrida no final do século XIX, o Japão adotou a estratégia de conquistar novos territórios.
Essa postura expansionista levou a conflitos com a China, a Coreia e a Rússia, que só foram resolvidos com a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial. Como já foi estudado, o Japão se rendeu na Segunda Guerra Mundial apenas após o lançamento das bombas atômicas em Hiroxima e Nagasáqui. 
Logo após a Segunda Guerra Mundial, os zaibatsus, que haviam contribuído também para a grande concentração de riquezas nas mãos de poucos indivídu os, tiveram seu poder drasticamente reduzido; membros das famílias desses impérios e seus principais executivos perderam vez na vida pública, e a maior parte de suas propriedades passou para o domínio do governo. Entretanto, muitas das grandes companhias que compunham os zaibatsus continuaram a exis tir e tiveram um papel importante na reconstrução do país no pós-guerra.
Logo depois se iniciou o período da Guerra Fria e o Japão passou a ser um território importante do ponto de vista estratégico para os Estados Unidos por causa de sua proximidade com a União Soviética e a China. Esse motivo levou os Estados Unidos a realizar grandes investimentos para a reconstrução do país, impulsionando a economia japonesa, que registrou o maior crescimento entre 1950 e 1980.
As inovações no processo de fabricação também foram de grande importância para a trans formação do Japão em uma po tência industrial. Com o objetivo de reduzir custos, ciclos de produção e prazos, priorizando a qualidade dos produtos, desen volveu-se uma nova organização da produção: o toyotismo. Esse sistema teve origem em meados do século XX na indústria automo bilística Toyota.
No entanto, é preciso ressaltar os aspectos negativos, particular mente para os trabalhadores, nesse sistema, como o fato de as empre sas subcontratadas pagarem salá rios mais baixos e exigirem mais horas de trabalho.
As novas estratégias pro dutivas do Japão levaram esse país a se tornar uma potência industrial, disputando com os Estados Unidos a liderança na fabricação de produtos como automóveis, eletrônicos, máquinas industriais e robôs. O país obteve, principalmente nos anos 1980, um perío do de grande acúmulo de capitais, graças aos superavits (saldos positivos) de sua balança comercial e à poupança financeira expressiva de sua população, que transformou o país em uma poderosa fonte de investimento, uma potência financeira.
No fim dos anos 1990, a economia japonesa entrou em recessão, isto é, diminuiu seu ritmo por causa do colapso de alguns bancos (que emprestaram dinheiro de retorno duvidoso para muitas empresas), da elevação do deficit (saldo negativo) do orçamento do governo e da queda na rentabilidade das empresas mais fracas, fato que contribuiu para o aumento do desemprego no país.
Ao longo das décadas finais do século XX, produtos industriais japoneses, tecnologicamente avançados, espalharam-se pelo mundo e proporcionaram um expressivo crescimento do PIB, que não continuou a partir da década de 2010.  No entanto, a qualidade de vida da população japonesa se elevou e a mão de obra se tornou cada vez mais qualificada e valiosa. À medida que os custos da produção se tornaram mais altos, muitas empresas japonesas passaram a investir em países em desenvolvimento, onde instalaram suas unidades produtivas para explorar vantagens como mão de obra barata.
No século XXI, a economia japonesa interrompeu seu longo período de crescimento acelerado. Nesse contexto, o país perdeu sua posição de liderança regional e o posto de segunda maior economia do mundo para a China. Uma das razões para a diminuição do ritmo do crescimento econômico japonês são os elevados gastos orçamentários do governo com a população idosa, como os investimentos em aposentadorias. A desaceleração da economia também provocou o fechamento de muitas fábricas e, a partir de então, certos problemas sociais, antes quase inexistentes, como o desemprego, têm se intensificado.
Ainda no início do século XXI, com a migração de fábricas globais para países que ofereciam mão de obra mais barata, a estagnação do consumo interno, o ele vado deficit público e as dificuldades para dinamizar setores ligados ao setor terciário mais moderno (consultoria, produção de software, publicidade, ativida des ligadas à internet), entre outros motivos, o Japão passou por outro período de recessão em sua economia.
Paralelamente ao crescimento econômico, o Japão conseguiu desenvolver tecnologia de ponta, em especial nas áreas de eletrônica, computação e telecomunicações. O país se tornou um grande exportador de produtos industrializados, inclusive de carros. Esse conjunto de fatores propiciou o aumento da renda da população, uma das mais ricas do mundo. Apesar da forte concentração industrial e do espaço físico limitado, no Japão também se desenvolvem atividades agrícolas. O país é grande produtor de arroz para consumo interno.

Diversificação e distribuição espacial da indústria


No Japão, onde o parque industrial é amplamente diversificado, destacam-se as seguintes indústrias: 
  • siderúrgica e metalúrgica, com grandes estabelecimentos localizados próximo da zona carbonífera de Kyushu; embora importem matérias-primas, superam a produção de aço de vários países europeus; 
  • de construção naval (primeiro produtor mundial), com grandes e modernos estaleiros situados em Nagasaki e ao redor do porto de Kobe; 
  • têxtil, cujo principal produto é a seda (primeiro produtor mundial), seguida pelas fibras artificiais e sintéticas; eletroeletrônica, que é competitiva e das mais modernas do mundo, respon dendo por cerca da metade das exportações de produtos eletrônicos e ele trodomésticos do mundo (fornos de micro-ondas, televisores, etc.); 
  • automobilística, cujos veículos, produzidos a baixo custo, são modernos e conquistaram parte dos mercados estadunidense e europeu, além de diver sos países da própria Ásia e da América Latina. A robotização da atividade industrial atinge no Japão o índice mais elevado do mundo. 

Comércio internacional 


Com relação aos produtos exportados, o Japão está entre os principais fornecedores de carros, máquinas e navios. O país também aparece com destaque na produção de eletroeletrônicos. Porém, é um importador de alimentos e de recursos naturais. O principal parceiro comercial do país são os Estados Unidos, seguido pela China.
Os países europeus também estabelecem um comércio importante com o Japão, mas os países asiáticos e os do Oriente Médio apresentam um volume maior de negócios. A movimentação de navios é intensa nos portos japoneses, e o de Yokohama é o principal do país. De acordo com a administração desse porto, por ele passaram 35 677 navios em 2016, que transportaram cerca de 291,7 milhões de toneladas. Desse volume, 30 mi de toneladas foram destinadas para outras partes do país.
Em junho de 2002, o Japão havia ratificado o Protocolo de Kyoto, acordo en tre países para diminuir a emissão de gases na atmosfera e, em 2017, ratificou o Acordo de Paris. O país é responsável pelo lançamento de 7,5% dos gases de efeito estufa do planeta. 

 A agropecuária e a pesca 


A política agrícola japonesa, apesar das pressões internacionais, é marcada pelos subsídios aos agricultores, por limitação das importações e pelas elevadas tarifas sobre produtos agrícolas importados. Apenas 16% do território japonês é apropriado para as práticas agrícolas. Apesar disso, o Japão consegue obter grandes colheitas de seu solo, com o auxílio de técnicas modernas, máquinas e fertilizantes. 
A agricultura é desenvolvida nas planícies, sendo também aproveitadas as encostas das montanhas, por meio da técnica do terraceamento. No espaço rural japonês predominam as pequenas propriedades, consequência da reforma agrária instituída logo após a Segunda Guerra Mundial (1946). 
O principal produto cultivado no Japão é o arroz, alimento básico da população. Sua cultura ocupa 45% das terras agrícolas. O país é um dos maio res produtores de arroz do mundo, apresentando também o maior rendimento por hectare (cerca de 6.500 kg por hectare, enquanto a média mundial é de aproxima damente 3.800 kg por hectare). Além do arroz, cultivam-se o chá, o algodão, a soja, a cana-de-açúcar e o trigo. 
Apesar da elevada produtividade, o Japão não é autossuficiente, dependendo da importação de diversos produtos como trigo, açúcar, milho e soja. O Japão é o primeiro produtor mundial de pescado, sendo considerado o país mais desenvolvido tecnologicamente no setor. Navios-fábricas percorrem milhares de quilômetros de mares em busca de pescado.

 Extrativismo 


Parte da cobertura vegetal do Japão é aproveitada para exploração da ma deira (construção, fabricação de papel) e geração de energia. Essa exploração é controlada pelo governo, que incentiva o reflorestamento. Devido à intensa demanda interna, o Japão importa madeira de vários países do globo, especialmente da Indonésia e do Brasil, sendo um dos maiores importa dores de madeira tropical do mundo. Quanto ao extrativismo mineral, seus recursos são escassos, necessitando importar praticamente todas as matérias-primas essenciais ao desenvolvimento de sua atividade industrial, tais como: petróleo, carvão, minério de ferro, cobre, níquel e bauxita.


Influência do Japão



O Japão aparece como importante centro de produção tecnológica; entretanto, seu papel vai além. Empresas e grupos financeiros japoneses estão entre os maiores do mundo. Após a Segunda Guerra Mundial, o Japão, sob ocupação dos Estados Unidos, promulgou a Constituição de 1947, na qual estabelece a renúncia “para sempre” à guerra, atribuindo às forças armadas a função de defender seu território e não atacar outros. 
Em 1967, na Guerra Fria, o governo proibiu a exportação de armas a países comunistas e, em 1976, aos demais países. Apesar dessas restrições, desenvolveu tecnologias para produtos que também podem ser usados para fins militares. Esse fato o tornou um produtor potencial de armamentos.
Desde o início da década de 1990, o Japão passou a investir em defesa e, nos últimos anos, tem exportado equipamentos e tecnologia destinados à produção armamentista. Em 2014, o governo japonês decidiu retomar as vendas de armas a países vizinhos. Segundo o Ranking de Força Militar 2018, em 2018, as forças armadas do Japão contavam com mais de 310 mil militares, sendo que 80% deles estavam na ativa. 
O orçamento de defesa foi de 44 bilhões de dólares. Esse grande volume de recursos aplicados na área militar indica que as intenções japonesas não são apenas de defesa, mas de ampliar sua influência no mundo. Prova disso é a aspiração japonesa, expressa várias vezes, de integrar o Conselho de Segurança da ONU como membro permanente, caso ele venha a ser alterado.

A Antártida

A Antártida é constituída de uma massa territorial de 13,7 milhões de km2 . O continente é cercado pelos oceanos Pacífico, Índico e Atlântico. Como está em latitude muito elevada, apresenta temperaturas sempre baixas ou extremamente baixas, podendo atingir até 289 oC. Por isso, o continente é recoberto de gelo. Além da massa continental, a Antártida possui uma banquisa cuja extensão varia de acordo com as estações do ano. No inverno, sua área pode atingir 19 milhões de km2 e, no verão, restringir-se a 2 milhões de km2 ou menos.

Como foi “descoberta” depois do Ártico, a Antártida recebeu esse nome pela posição geográfica que ocupa, oposta ao outro extremo da Terra. A região, porém, apresenta uma situação distinta, pois é um continente recoberto de gelo. O continente antártico possui importantes recursos naturais, como minério de ferro, carvão e petróleo. No entanto, esses recursos são protegidos da exploração pelo Tratado Antártico, firmado no ano de 1959 com o objetivo de evitar disputas territoriais pelo continente, reivindicado à época por Argentina, Chile, Austrália, Nova Zelândia, França, Noruega e Reino Unido.

Atualmente, a Antártida é um território internacional, ou seja, nenhum país exerce soberania sobre o continente. Isso, porém, não significa que não haja países interessados em exercer o controle sobre suas áreas

Os curdos: uma nação sem Estado

Exemplo da maior nação constituída sem Estado, o povo curdo soma aproximadamente 30 milhões de pessoas distribuídas por seis países: Turquia (que abriga a maior população curda, com cerca 15 milhões de pessoas), Iraque, Irã, Síria, Armênia e Azerbaijão. Os curdos, lutam pela reconstrução de seu país, o Curdistão, que se situava em terras que hoje pertencem a Armênia, Irã, Iraque, Síria e Turquia.
Os curdos enfrentam uma longa trajetória de perseguição e dura repressão às tentativas de formação política de um Estado próprio no território onde vive a maioria da população, o Curdistão. No entanto, esse objetivo encontra oposição dos governos dos países da região, rica em recursos naturais como o petróleo, e abrange nascentes de importantes rios, como o Tigre e o Eufrates.
Turquia e Irã concentram a maior parte de curdos, cerca de 15 milhões e 14 milhões de pessoas, respectivamente. Parte deles também foi para a Europa, em especial Alemanha e França. A autonomia dos curdos tem sido combatida pelos países em que esse povo está presente há anos.
Em 1988, o líder e ditador do Iraque, Saddam Hussein (1937-2006), comandou o genocídio de 5 mil curdos que habitavam uma região de jazidas de petróleo. 
Na década de 1980, a população curda foi massacrada pelo exército de Saddam Hussein, inclusive com o uso de armas químicas – acredita-se que tenham morrido mais de 800 mil curdos nesse período. Nesse contexto, a presença dos Estados Unidos no Iraque, a partir de 1992, beneficiou o povo curdo, que construiu uma aliança com os estadunidenses. 
Desde então, os curdos passaram a se empenhar para ampliar a autonomia que conquistaram. No entanto, entre 2014 e 2018, propriedades rurais e cidades de maioria curda no Iraque foram dominadas por uma organização terrorista formada por fundamentalistas islâmicos, o Estado Islâmico (EI), causando uma onda de violência e destruição. 
Os curdos fizeram alianças vitoriosas com países do Ocidente para combater o EI, mas não conseguiram apoio suficiente para levar adiante a criação de seu Estado nacional.
Na Turquia, a situação do povo curdo é marcada pela repressão do governo, que vem sendo agravada pelo uso de táticas violentas por parte dos curdos. Em 2016, os grupos Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) e Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK) assumiram atentados terroristas em busca de instabilidade política para a conquista da independência. Em decorrência dos eventos, o governo turco intensificou ainda mais a oposição ao nacionalismo curdo no país.
Na Turquia, os curdos conseguiram vitórias, como o ensino do curdo como língua opcional. Também foram autorizadas a produção e a veiculação de jornais, rádios e programas de televisão em curdo. 
Porém, no Irã, eles são discriminados. Com a ascensão do Estado Islâmico entre 2014 e 2017, as forças militares curdas receberam armamento e apoio militar liderado pelos Estados Unidos e foram essenciais na derrota territorial do grupo extremista, principalmente no norte da Síria. Com isso, antigos anseios dos curdos por autonomia e independência ganharam força e repercussão.

O Irã

A República Islâmica do Irã apresenta um grande território localizado no Oriente Médio, com destacada posição geográfica no golfo Pérsico. Herdeiro do Império Persa, o Irã resistiu à presença europeia no Oriente Médio e passou a ser alvo do interesse do mundo ocidental no início do século XX, quando foram descobertas reservas de petróleo. Em 2016, de acordo com o Banco Mundial, sua população era de 80,2 milhões de habitantes. Parte chegou ao país nos últimos anos como refugiada do Afeganistão, que foi ocupado por tropas estadunidenses após o atentado de 11 de setembro de 2001. Outra parte pertencia a um país que “deixou de existir”, o Curdistão.

Programa nuclear e bloqueio econômico

O Irã gerou desconfiança em muitos países por manter um programa nuclear suspeito de enriquecer urânio, processo básico para a construção de bomba atômica. Por isso enfrentou sanções do Conselho de Segurança da ONU em 2006, 2007 e 2008, que resultaram em proibição à exportação de armas. As preocupações aumentaram quando, em 2012, anunciou o lançamento de um míssil terra-ar (que poderia ser carregado com armamento nuclear) e o domínio da produção de combustível atômico. Isso intensificou o boicote econômico ao país, que se recusava a receber visitas internacionais a suas instalações nucleares, alegando que tinham fins pacíficos. Em 2015 houve um novo acordo entre o Irã e as principais potências nucleares, o que levou o país a reduzir suas centrífugas de beneficiamento de urânio para cerca de 6 mil, contra os 19 mil anteriores. Além disso, o país concordou que a Agência Internacional de Energia Nuclear fizesse uma visita às suas instalações nucleares. Em 2016, depois da inspeção, o acordo entrou em vigor. Como não foi encontrado nada que indicasse a possibilidade de chegar à bomba atômica, o bloqueio econômico foi suspenso. Desde que assumiu a Presidência dos Estados Unidos, em 2017, Donald Trump passou a questionar o Acordo Nuclear, alegando violação dos termos. Assim, em 2018, os Estados Unidos saíram do Acordo e prometeram restaurar as sanções econômicas, criando incertezas e tensões. Mesmo com o bloqueio econômico, os Estados Unidos acompanham a situação política e econômica do Irã, auxiliando, inclusive, tropas do exército curdo no combate contra o Estado Islâmico (EI).




O Paquistão

Como ocorreu com a Índia, o Paquistão tornou-se um país independente em 1947, como parte da Comunidade Britânica de Nações, mas com uma diferença: concentrava uma enorme população de islâmicos. Em 1956, o país foi redefinido como uma república islâmica, da qual fazia parte o atual Bangladesh. Esse fato atraiu parte da população muçulmana da Índia. Ao mesmo tempo, parte da população hindu do Paquistão mudou-se para a Índia. Esses deslocamentos ocorreram principalmente junto aos estados de Punjab, no Paquistão, e Caxemira, na Índia, causando conflitos que ainda hoje não foram resolvidos. Em 1971, Bangladesh tornou-se independente, o que deixou o Paquistão com sua área atual de 796095 km2. A depender do resultado do litígio com a Índia, essa área pode ser alterada. De acordo com o Banco Mundial, a população do país era de cerca de 193,2 milhões, em 2016. A maioria da população é muçulmana. Parte dela veio do Afeganistão, depois que as Forças Armadas dos Estados Unidos invadiram aquele país em busca de um líder terrorista que teria comandado os atentados de 11 de setembro de 2001.

Atividades econômicas e indicadores sociais

A agricultura gera cerca de 40% dos empregos e 25% do PIB do Paquistão. No comércio internacional, o país aparece como fornecedor de produtos primários e com baixo nível de industrialização. Segundo o OEC (Observatory of Economic Complexity), em 2016, os principais produtos vendidos foram têxteis (roupas e tecidos) e arroz, representando, respectivamente, cerca de 30% e 7% das exportações daquele ano. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2016, a expectativa de vida no país era de 66,4 anos. A média de anos de estudo chegava a 5,1 anos. As mulheres tinham 3,7 anos de estudo em média, e os homens, 6,5 anos. Parte expressiva da população paquistanesa vivia em extrema pobreza: 26,5% do total.

O fundamentalismo islâmico no Oriente Médio

O fundamentalismo islâmico, ou muçulmano, ganhou força com a ascensão política, econômica e militar do Ocidente e a dominação imperialista d...