domingo, 4 de agosto de 2024

Urbanização e problemas urbanos

Urbano e rural 

O termo urbano, do latim urbanus, remete ao conceito de cidade. Seu oposto, rural, remete a campo. As cidades têm características bem diferentes do campo: em geral, têm maior densidade populacional, maior oferta de serviços e infraestrutura mais desenvolvida, com presença de hospitais, instituições de ensino, vias públicas, redes de transporte, opções de lazer, áreas industriais, comerciais e residenciais. Já o campo é predominantemente domina do por atividades agropecuárias, e em certos espaços há áreas de preservação ambiental. Em comparação aos espaços urbanos, os rurais registram baixa concentração de pessoas. Em algumas localidades, há menor oferta de serviços essenciais e infraestrutura com certa limitação. O campo sofreu intensas transformações nos últimos 50 anos. 
Observa-se no espaço rural o aumento de atividades tanto agropecuárias quanto não agrícolas, como processamento, distribuição e comércio de produtos agrope cuários; mecanização da produção; certa preocupação com a biodiversidade e sua valorização; desenvolvimento do setor terciário; e intensificação de fluxos materiais e imateriais. Essas no vas características se expandiram sobretudo em virtude do crescimento do agronegócio.
À transformação do espaço geográfico devido ao surgimento e crescimento das cidades, incluindo suas estruturas e características típicas, damos o nome de urbanização. Esse processo ocorreu e continua ocor rendo de modo desigual. Há 2 500 anos, por exemplo, Roma, atual capital da Itália, já contava com 1 milhão de habitantes. Ainda na Europa, no século XIX, o processo de industrialização levou milhares de pessoas a sair de áreas rurais e ir para cidades em busca de oportunidades nas indústrias, o que acabou elevando consideravelmente o número de habitantes em cidades como Londres e Berlim.


O processo de urbanização  


A urbanização é o processo no qual a população urbana cresce a taxas mais elevadas do que a população rural. Caracteriza-se pela tendên cia de concentração da população de um país ou região nas cidades. A urbanização mais acelerada aconteceu a partir das Revoluções In dustriais, entre a segunda metade do século XVIII e o século XIX, em paí- ses europeus, nos Estados Unidos e no Japão. 
A industrialização atraiu contingentes populacionais do campo para as cidades, em razão da ne cessidade de mão de obra para as fábricas. Em países como Brasil, México, Argentina e outros, a urbanização é mais recente – intensificou-se a partir dos anos de 1950, com o crescimento da atividade industrial. É importante lembrar, porém, que em alguns desses países, como é o caso do Brasil, a urbanização não foi resultado apenas da industrialização, mas também de problemas existentes no campo, como a concentração fundiária, o difícil acesso à propriedade da terra e outros. A mecanização e a introdução de inovações científicas e tecnológicas em atividades agropecuárias também têm relações com a urbanização nos últimos 50 anos.
Embora tardio em comparação às potências europeias, o processo de urbanização no Brasil foi significativamente acelerado e transformou completamente a configuração do país. Fatores como a Proclamação da República, o fim da escravidão e o desenvolvimento industrial – este impulsionado especialmente pelo café – pressionaram e aceleraram a urbanização de cidades brasileiras. A partir dos anos 1970, com a modernização da agricultura e a expansão das atividades industriais no Brasil, a população das cidades superou a do campo e o país se tornou, de fato, urbano. 
A evolução da população urbana brasileira entre 1960 e 2015. Recife, São Paulo e Rio de Janeiro foram algumas das primeiras cidades a receber saneamento básico e aparelhos de infraestrutura urbana. Na cidade de São Paulo, por exemplo, foi demolida grande parte do an tigo centro, cujo projeto paisagístico lembrava o das ruas de Paris. Entre as décadas de 1950 e 1970, a cidade foi reurbanizada por meio da verticalização das construções e da abertura de grandes vias, além do alargamento da Avenida Rio Branco e da Avenida São João. 
O processo de urbanização no Brasil, principalmente começando na década de 1950 e se estendendo pelas décadas seguintes, está vinculado à expansão e à modernização das atividades industriais – sobretudo nas cidades das regiões Sudeste e Sul – e à modernização da agricultura. Em virtude dessas moderni zações e do crescimento econômico acentuado, houve expressivo êxodo rural e intensa migração interna entre regiões, com destaque para o fluxo da Região Nordeste para o Sudeste. Além disso, ocorreram mudanças na paisagem natural dessas cidades, entre as quais pode-se destacar a redução de áreas florestais, a retificação dos rios e o aumento da poluição atmosférica e hídrica.

O crescimento da população urbana 


Até o início do século XIX, a população urbana mundial não havia atin gido 7% do total. Cerca de dois séculos depois, em 2008, pela primeira vez na história, a população urbana ultrapassou os 50% (cerca de 3,3 bilhões de pessoas). Segundo previsões da ONU, esse número chegará a 5,2 bilhões em 2030, representando 60,4% da população mundial. Estima-se que, nas próximas décadas, o crescimento urbano nos paí ses desenvolvidos não será muito elevado (cerca de 13%); entretanto, du plicará principalmente em países da Ásia e da África em cerca de 15 anos. Diante disso, uma parcela cada vez maior da população mundial estará exposta à pobreza, ao desemprego e aos riscos ambientais associados à urbanização acelerada, como a deficiência de saneamento básico. 
Segundo a ONU, aproximadamente 30% da população urbana mun dial vive em condições de pobreza, cerca de 1,2 bilhão de pessoas moram em áreas irregulares e habitações precárias e entre 20 e 40 mi lhões de famílias não têm moradia. A falta de emprego é outro grave problema, levando 50% dos moradores de áreas urbanas a trabalhar na informalidade. Além disso, se confirmada a previsão de que, até 2050, a população urbana será de 6,7 bilhões, a pobreza nas cidades deverá se agravar caso não sejam tomadas providências para erradicá-la.
Os problemas associados à urbanização serão mais graves nas megacidades e nas megalópoles (consulte o mapa). Em 1950, Nova York e Tóquio eram as duas megacidades do planeta; em 2007, havia dezeno ve; e, em 2022, o número de megacidades passou a ser de 32, a maioria concentrada nos países menos desenvolvidos, onde os problemas eco nômicos, sociais e ambientais são graves (desemprego, violência, carên cia de transporte público, poluição, saneamento básico deficiente etc.). 
Nas próximas décadas, as megacidades se concentrarão nos países emergentes e nos menos desenvolvidos, enquanto o crescimento desse tipo de aglomeração urbana nos países desenvolvidos tenderá à estabilização.


Cidades e hábitos de consumo mundializados 


Para 2022, estimava-se que haveria mais de 570 cidades no mundo com mais de um milhão de habitantes; em 1950 elas eram apenas 86. Nas últimas décadas, o aumento de pessoas nas cidades tem impulsionado o consumo de produtos diversos, desde aqueles essenciais à sobrevivência, como os alimentos, até os mais supérfluos. Como nessas aglomerações não há espaço para a produção de alimentos em larga escala, as pessoas são obrigadas a adquiri-los em feiras e supermercados ou em outros pon tos de abastecimento. Além disso, o estilo de vida nas grandes cidades demanda o uso de produtos específicos para as pessoas trabalharem, se locomoverem, se comunicarem, entre outras necessidades. Como estudamos nos Percursos 2 e 3, os modelos de consumo das grandes cidades são difundidos mundialmente e, em geral, seguidos por grande parte da população. Assim, as empresas transnacionais têm expandido seus negócios e investido muito em propaganda, o que influencia na mundialização de alguns hábitos e na implantação da globalização cultural.

Transformações da produção agropecuária e urbanização 


As transformações da atividade agropecuária, decor rentes da introdução de inovações científicas e tecnológicas no campo, desde os anos 1960, ajudam a explicar não somente a intensa urbanização após esse período, como também o desemprego estrutural no campo. A intensificação do uso de máquinas agrícolas, fer tilizantes, agrotóxicos e rações, além do melhoramen to genético de plantas e animais, alterou o rendimento e a produtividade da agropecuária. Já em 1960, as sementes híbridas de cereais, obtidas em laboratórios de pesquisas, possibilitaram maior rendi- mento das lavouras e maior resistência a pragas e doen ças, o que ficou conhecido como Revolução Verde. 
Nos anos 1980, organismos geneticamente modificados (OGMs) começaram a ser desenvolvidos a partir de sementes transgênicas, representando outra inovação cientí fica e tecnológica importante para as transformações na agropecuária. Os cultivos com sementes de alto rendimento da Revolução Verde, como também os OGMs, exigem aplicação de defensivos agrícolas, fertilizantes etc. Entretanto, o uso intensivo de agrotóxicos é responsável por grandes danos ambientais: ao solo, pois este os retém, comprometendo a sua biodiversidade; ao ar, pois o material em suspen são provoca danos à saúde humana e a outros seres vivos, além da contaminação de alimentos; às águas superficiais e subterrâneas, além de outros. 
Nos anos 1990, com o desenvolvimento da informática, muitas de suas inovações foram empregadas na agropecuária: aplicativos para o gerenciamento dessa ativida de; drones para detectar doenças e pragas em plantações e pastagens, falhas de plan tio, contagem do número de cabeças de gado, localização de nascentes de águas etc.; além de máquinas agrícolas computadorizadas. 
Se, por um lado, as inovações científicas e tecnológicas favoreceram a agropecuária por meio do aumento do rendimento e da produtividade, por outro, substituíram parte da mão de obra empregada no campo e provocaram o desemprego estrutural. Dispensadas do trabalho no campo, populações migraram para as cidades, contribuindo para o processo de urbanização.

A urbanização nos séculos XX e XXI 


A urbanização intensificou-se a partir de 1950, principalmente em decorrência do crescimento populacional mundial, da industrialização em vários países – fato que atraiu populações do campo para as cidades em busca de emprego – e também em virtude de vários problemas nas zonas rurais que provocaram êxodos para as cidades.

Entretanto, com o crescimento populacional, problemas que afetam diretamente a qualidade de vida das pessoas se agravaram: destinação inadequada do lixo, congestionamento do tráfego de veículos, falta de emprego, transporte público precário e sobrecarregado, poluição atmosférica e hídrica em rios que banham as cidades, redes de abastecimento de água e de esgoto insuficientes, pequena quantidade de escolas e hospitais para atender a população etc. A urbanização acelerada provocou também a ocupação desordenada no espaço urbano, por exemplo, com a localização de indústrias causadoras da poluição ambiental, incluindo sonora, ao lado de residências. Outro resultado grave foi a formação de bairros sem infraestrutura urbana necessária – redes de água e de esgoto, energia elétrica, pavimentação de ruas, coleta de lixo, escolas etc. –, além da expansão de moradias precárias em favelas, principalmente em países em que grande parte da população vive em condição de pobreza – no Brasil, em 2021, mais de 17 milhões de pessoas viviam em favelas. 

▪ As moradias precárias 

Embora um grande número de pessoas no mundo viva em moradias precárias, ninguém gosta de morar em habitações sem conforto e higiene, sem redes de abastecimento de água e esgoto, sem espaço suficiente para dormir, cozinhar, fazer refeições, tomar banho, reunir-se etc. 

É importante compreender as moradias precárias como forma de sobrevivência social, ou seja, não tendo onde morar em condições dignas ou apropriadas, a população de baixa renda constrói moradias em espaços fragilizados ou de risco – encostas de morros, margens de rios e córregos –, em terrenos baldios (terreno não aproveitado) e até mesmo sob viadutos e pontes. Compreendemos, assim, que há razões sociais, econômicas e políticas que levam o ser humano a morar nessas condições. Entre as razões políticas está a falta de investimento suficiente do poder público – os governos – no desenvolvimento de ações de prevenção e de medidas para retirar essa população da situação em que se encontra.

▪ A organização do espaço urbano 

Para ordenar a ocupação e o uso do espaço urbano por residências, estabelecimentos comerciais, indústrias, escritórios, parques públicos etc., os poderes Executivo e Legislativo do município, geralmente com participação de seus moradores, têm procurado criar um conjunto de princípios e regras que orientam a ação humana no espaço da cidade. No Brasil, esses princípios e leis recebem o nome de Plano Diretor, cuja elaboração está prevista na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Cidade (Lei no 10257/2001). É fundamental que haja a participação da população ao longo das etapas de elaboração do Plano Diretor, cujo objetivo é orientar as ações do poder público a fim de promover a ordenação dos espaços do município, a urbanização e a sustentabilidade, garantindo o direito à cidade e à cidadania de forma mais justa e a qualidade de vida à população local, tornando possível o desenvolvimento das funções sociais urbanas em sua plenitude, bem como de cada propriedade em particular.

Aterramento marítimo 

Em algumas cidades do mundo, em virtude de limitações impostas pelo meio físico – relevo montanhoso, rede hidrográfica e solo –, para a cidade crescer e ganhar espaço para acomodar suas construções, entre elas indústrias, vias de tráfego, parques públicos etc., as administrações das cidades – prefeituras, no caso do Brasil – usam técnicas de engenharia que possibilitam ocupar terras inundadas por pântanos ou mares. Isso ocorre principalmente naquelas muito povoadas, localizadas junto ao mar e com restrições de território para se expandir, construindo-se o aterramento marítimo ou aterro marítimo. Trata-se de um processo de depositar areia ou terra em áreas ocupadas pela água do mar, com uso de tecnologia, transformando-as em terras emersas para a agropecuária e para construções residenciais, comerciais, industriais e, até mesmo, para aeroportos, como é o caso do Aeroporto Haneda, no Japão.

O recurso do aterro marítimo para ampliar o espaço urbano e as áreas de agricultura tornou-se uma prática realizada por vários países, incluindo o Brasil. Ele foi implantado nos Países Baixos, Emirados Árabes, Coreia do Sul, Cingapura, Nova Zelândia, China, Estados Unidos e outros. No Brasil, destaca-se o Aterro do Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro, que permitiu ampliar consideravelmente a faixa de terra litorânea, facilitando a implantação de vias de circulação de veículos e dificultando a invasão das águas do mar por ocasião das ressacas. É nesse aterro que se situa o Parque do Flamengo, importante área de lazer ao ar livre.

Problemas urbanos 

Em maior ou menor intensidade, as cidades brasileiras, como também as de muitos outros países, enfrentam vários problemas. Entre eles, os de saneamento básico, violência, condições precárias de moradia, má qualidade dos transportes urbanos, congestionamentos de trânsito, poluição atmosférica, sonora, dos rios e de aquíferos, serviços públicos deficientes – limpeza urbana, conservação de vias públicas, falta de escolas e hospitais –, além de outros. Todos esses problemas precisam ser resolvidos, pois comprometem a qualidade de vida dos moradores e geram inseguranças, como é o caso, principalmente, da violência urbana. Quanto ao saneamento básico ou ambiental, está estritamente relacionado à saúde da população. A sua falta ou cobertura incompleta é responsável pela ocorrência de várias doenças: febre tifoide, cólera, leptospirose, disenteria bacteriana etc.


Urbanização e capital financeiro 


O recente processo de urbanização se confunde com a história da industrialização e da formação do capital financeiro – o capital representado por títulos e papéis negociá veis que podem ser convertidos em dinheiro. Os bancos ou instituições financeiras, fru tos do desenvolvimento do capitalismo, tiveram e têm função importante na produção e na circulação de mercadorias em todo o mundo.

Essas empresas passaram a financiar as atividades produtivas e o consumo. Hoje, o capital financeiro está presente em quase todas as transações comerciais – a maioria das empresas e das pessoas dependem de empréstimos para adquirir imóveis, máqui nas, matérias-primas etc.


As cidades globais

 

As metrópoles que sediam as bolsas de valores mais importantes do mundo tam bém concentram as sedes administrativas ou filiais das grandes multinacionais, os maio res bancos e instituições financeiras, entre outros. Assim, elas funcionam como centros para onde converge e propaga-se a maior parte dos fluxos gerados pela globalização e, por isso, são chamadas cidades globais ou metrópoles mundiais. 

Daí se explica a concentração espacial da atividade financeira em grandes cidades como Nova York, Londres, Paris, São Paulo, entre outras, o que, contemporaneamente, permitiu a formação das chamadas cidades globais. 

As cidades globais configuram-se como centros de poder e comando das decisões econômicas e financeiras mundiais. Também formam os polos de uma rede mundial, que se articulam por meio de uma infraestrutura que possibilita a circulação dos fluxos da globalização. Desse modo, o espaço geográfico das cidades globais destaca-se por abrigar:

• os mais altos e modernos edifícios, nos quais se encontram as sedes das maiores corporações empresariais, dos grandes bancos, das bolsas de valores e das com panhias financeiras, que movimentam os fluxos de capitais; 

• as grandes redes de telecomunicações (emissoras de televisão e rádio, agências de notícias e empresas de telefonia e provedores de internet), que possibilita a circulação dos fluxos de informações; 

• as melhores infraestruturas de transportes (rede rodoviária, ferroviária e aero portuária), pelas quais circulam os fluxos de pessoas e de mercadorias.

As cidades globais se destacam pela importância econômica e por concentrarem atividades e infraestruturas indispensáveis na economia globalizada: bolsas de valores, aeroportos internacionais, amplos serviços de hotelaria, grandes centros de eventos, extensas redes de telecomunicação, muitos hospitais, diversos equipamentos culturais etc.

Embora algumas cidades globais também estejam localizadas em países subdesenvolvidos, devemos ressaltar que a distribuição dos fluxos é bastante desigual entre países ricos e pobres.

As megacidades 


As megacidades são metrópoles muito populosas, com mais de 10 milhões de habitantes, comuns, sobretudo, em países menos desenvolvidos. Essas megacidades resultaram de um intenso e rápido processo de urbanização, cuja infraestrutura, muitas vezes, é insuficiente para atender às necessidades da população. De modo geral, as megacidades exercem um papel secundário na economia mundial e na articulação dos fluxos globais devido à sua menor importância financeira, comercial, política etc.


Indústria e impactos ambientais

A necessidade cada vez maior de matérias-primas minerais, vegetais e animais, decorrente das revoluções industriais, do crescimento da população mundial e do modo de vida com base na sociedade de consumo (ou do desperdício), intensificou a exploração dos recursos naturais. Esse processo, que já dura cerca de 250 anos, causou profundas alterações no meio ambiente. Se, por um lado, a industrialização proporcionou inúmeros benefícios, por outro, causou e ainda causa, geralmente, danos ambientais.

Exploração dos recursos naturais e desmatamento 

Para atender ao crescimento populacional e ao intenso consumo e desperdício de produtos, principalmente pelas sociedades dos países desenvolvidos e classes abastadas dos países menos desenvolvidos, tem havido grande exploração de recursos naturais (para a fabricação desses produtos), com ameaça de esgotamento de alguns deles. Tomando como exemplo o desmatamento, observamos que ele tem ocorrido não somente pela expansão da agropecuária, mas também pela atividade industrial. Muitas indústrias, por exemplo, ainda empregam o carvão vegetal como fonte de energia. Entretanto, algumas empresas siderúrgicas exploram florestas plantadas para a produção de carvão vegetal, minimizando o desmatamento.

Mudanças climáticas

Não são apenas os automóveis, os caminhões e as queimadas os fatores responsáveis pela emissão de gases capazes de provocar alterações climáticas. O uso de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural) em atividades industriais e as usinas termelétricas, por exemplo, também colaboram para a emissão de gases de efeito estufa, poluindo a atmosfera.

▪ Poluição do solo e das águas

A atividade industrial pode gerar diversos detritos. Ao escoar com a água da chuva, esses detritos podem se infiltrar no solo e provocar a contaminação de lençóis de água subterrâneos; se são transportados pelas enxurradas, acabam poluindo rios, lagos e mares. Em alguns casos, há indústrias que despejam os resíduos diretamente em córregos ou rios, o que é proibido pela legislação ambiental em muitos países.

▪ Poluição sonora

O ruído provocado por máquinas de algumas indústrias pode incomodar os moradores vizinhos. Quando o barulho ou a poluição sonora ultrapassa determinado limite, é capaz de provocar danos ao aparelho auditivo, distúrbios nervosos e insônia.

ONGs e meio ambiente

A partir dos anos 1960 e 1970, a degradação ambiental passou a preocupar um número cada vez maior de pessoas em todo o mundo. Com isso, surgiram movimentos sociais em prol do meio ambiente – os chamados movimentos ambientalistas. Muitos desses movimentos deram origem a organizações não governamentais (ONGs), das quais várias pessoas participam voluntariamente em defesa do meio ambiente. Hoje, existem ONGs que lutam por muitas outras causas: justiça social, igualdade de gênero, combate à pobreza, cuidados de saúde a vítimas de crise humanitária, respeito aos direitos humanos, direitos dos portadores de necessidades especiais, entre outras. Entre as ONGs que lutam pela defesa do meio ambiente destaca-se o Greenpeace (do inglês green, verde; e peace, paz), com atuação em muitos países. Quando o meio ambiente é agredido ou ameaçado pela ação inadequada de empresas (sejam elas industriais, sejam comerciais ou de serviços), os ativistas dessas ONGs protestam publicamente para que a população tome conhecimento dos desastres ambientais que podem ocorrer. Além disso, essas organizações pressionam os órgãos públicos, como o Ministério do Meio Ambiente, no caso do Brasil, e outras entidades governamentais, para que tomem providências, movendo, até mesmo, ações na justiça contra os agressores.
Graças às pressões das ONGs, leis têm sido elaboradas para a defesa do meio ambiente, visando à proteção de matas, rios, oceanos, mares e da atmosfera, estabelecendo, por exemplo, regras sobre a destinação adequada do lixo. No entanto, mesmo com medidas desse tipo, muito ainda precisa ser feito para evitar os impactos ambientais, a começar pela atitude individual. O respeito ao meio ambiente e os esforços para não destruí-lo devem ser um compromisso de todos para que as gerações futuras recebam um planeta saudável e reconheçam nas nossas atitudes um exemplo do que devem continuar fazendo.

Indústria: transformações sociais e econômicas

As mudanças na sociedade e na paisagem

As revoluções industriais provocaram grandes transformações nas sociedades, nos espaços geográficos e nas paisagens da Terra. Agora, você vai conhecer algumas dessas transformações.

▪ Formação de novas classes sociais

O nascimento da indústria moderna deu origem a duas classes sociais distintas: a burguesia industrial, proprietária das indústrias, que passou a competir com a burguesia comercial pelo poder político e econômico; e o proletariado ou operariado, formado por trabalhadores assalariados.

▪ Fortalecimento do trabalho assalariado e do capitalismo

Na manufatura, por exemplo, o oficial era um trabalhador assalariado, mas o aprendiz recebia, como pagamento pelo seu trabalho, apenas alimentação, vestuário e alojamento na casa do mestre de ofício. Com a Revolução Industrial, as relações assalariadas de trabalho se generalizaram e fortaleceram o capitalismo.

▪ Intensa urbanização

Urbanização é o processo em que o crescimento numérico da população urbana é maior que o da população rural. Nos países em que ocorreram as revoluções industriais, houve um grande processo de urbanização. Isso aconteceu porque, geralmente, as indústrias se instalam em cidades e, dessa forma, atraem populações em busca de emprego, provenientes das zonas rurais e de outras cidades. Devemos considerar também que, em alguns casos, a implantação de indústrias fora das cidades ocorre por causa da necessidade de proximidade de matérias-primas (minério de ferro e outras), fonte de energia (por exemplo, carvão mineral) e vias de transporte (rios e ferrovias). Além disso, a implantação de indústrias na zona rural deu origem à formação de novas cidades. E a mão de obra dessas indústrias recém- -implantadas provinha do próprio campo, pois as precárias condições de vida do camponês o levavam a se transformar em operário com a esperança de ter vida melhor.

Divisão social do trabalho

Com a industrialização e a consequente urbanização, a divisão social do trabalho tornou-se mais diversificada, mais complexa. Algumas pessoas passaram a trabalhar nos sistemas de abastecimento de água, na construção de redes de esgoto, na coleta de lixo, nos transportes urbanos, na pavimentação de ruas; outras, no comércio, nos bancos, em hospitais e escolas, por exemplo. Além disso, na própria indústria, a divisão do trabalho se acentuou. Cada operário tornou-se responsável por parte do processo de fabricação de um produto, com o objetivo de elevar a produção e, com isso, gerar maiores lucros para a indústria.

▪ Alterações na paisagem urbana

A industrialização alterou o espaço geográfico e a paisagem urbana. O crescimento das cidades provocou desmatamento, ocupação de vales fluviais, desvios e canalização de rios. Foram construídas edificações industriais (galpões e fábricas), estações ferroviárias, surgiram bairros nobres e operários, centros comerciais etc. Algumas ruas foram abertas e outras foram alargadas para permitir a passagem de automóveis, bondes e outros meios de transporte, alterando profundamente a paisagem urbana que existia até então. Durante a Primeira Revolução Industrial – aproximadamente entre 1750 e 1840, na Europa –, as condições higiênicas das cidades eram deploráveis: faltavam redes de água e esgoto, coleta de lixo, as moradias de operários eram geralmente pequenas e insalubres e a sujeira nas ruas de terra e lama favorecia a ocorrência de surtos de cólera.
Essas condições urbanas passaram a atingir os mais ricos e impulsionaram a aprovação de leis sanitárias na segunda metade do século XIX. Iniciou-se, então, a implantação de redes de água e esgoto, a coleta de lixo, a pavimentação de ruas, entre outras melhorias urbanas. O crescimento dos bairros centrais das cidades, que concentravam o comércio e grande circulação de pessoas, carruagens e, depois, automóveis e caminhões, resultou no deslocamento das residências de famílias ricas para bairros periféricos construídos para tal fim, com infraestrutura de água, esgoto etc.

▪ As cidades e a interação humana com a natureza

Com a intensa urbanização e a diversificação da divisão social do trabalho, a interação humana com a natureza alterou-se profundamente. Se antes o ser humano se relacionava diretamente com ela, obtendo da terra o seu sustento, a vida urbana o levou a uma nova situação, marcada por certo distanciamento em relação à natureza, por mudanças nos hábitos e no modo de vida. Em verdade, campo e cidade se complementam: o campo fornece alimentos e matérias-primas; e as cidades oferecem serviços – saúde, comércio, bancos etc. –, além de serem, geralmente, local da instalação de indústrias, que fabricam as mercadorias de que tanto os habitantes do campo como os das cidades necessitam.

▪ Capitalismo e cidade

Com a consolidação do sistema capitalista por meio das revoluções industriais, o espaço geográfico das cidades – formado por lotes, casas etc. – foi transformado em mercadoria de compra e venda. Pessoas ou famílias que não possuíam recursos financeiros suficientes para comprar ou alugar melhores parcelas do espaço urbano para morar passaram a buscar casas precárias ou em áreas periféricas das cidades, onde havia pouca infraestrutura urbana. Como resultado, muitas cidades observaram um grande crescimento de suas manchas urbanas. Até os dias atuais, a influência do valor da terra sobre a ocupação do espaço urbano pode ser percebida. De modo geral, as áreas mais centrais das cidades são mais valorizadas, pois há coleta regular de lixo, redes de água e esgoto, rede elétrica e iluminação e equipamentos de lazer, como praças, parques, cinemas e teatros. Enquanto isso, nas áreas menos valorizadas das cidades, como periferias e áreas de risco, os serviços e a infraestrutura urbana são insuficientes e não atendem satisfatoriamente à população.

▪ Concentração do poder econômico, financeiro e político

Desde o fim do século XIX, com a Segunda Revolução Industrial, formaram-se grandes e poderosas empresas industriais, comerciais e financeiras (bancos) nos países que primeiramente se industrializaram. Ao longo do século XX, outras importantes empresas se desenvolveram. Muitas delas montaram filiais em diferentes países, incluindo o Brasil. Essas empresas, que têm a sede (matriz) em um país e operam em outros, recebem o nome de transnacionais ou multinacionais. Com muito poder e recursos econômicos, tecnologia e conhecimento científico, elas exercem forte influência econômica e política no mundo.

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