A União Europeia atua como um dos principais agentes econômicos e geopolíticos da atualidade. Seu processo de formação remonta ao período posterior à Segunda Guerra Mundial e se baseia na ideia de cooperação entre os membros. No entanto, o bloco tem enfrentado grandes desafios sociais e políticos.
Formação e consolidação
O continente europeu tem um histórico de disputas territoriais internas. Em duas ocasiões, esses conflitos resultaram em guerras mundiais, que trouxeram muitas perdas humanas e materiais.
Após a Segunda Guerra Mundial, os países europeus do Ocidente, ou seja, aqueles sob a esfera de influência capitalista, decidiram celebrar acordos de cooperação comercial com vistas a promover seu fortalecimento econômico e a melhorar as relações diplomáticas.
É importante considerar que, no período em foco, a Europa passava por um momento de perda do protagonismo econômico e geopolítico diante do crescimento dos Estados Unidos e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que desejavam ampliar sua influência sobre o continente europeu.
Nesse sentido, os acordos econômicos realizados entre países europeus do Ocidente serviam a propósitos econômicos particulares ao mesmo tempo que sinalizavam um posicionamento ideológico alinhado ao capitalismo capitaneado pelos Estados Unidos.
Ao longo de décadas, os acordos foram se tornando mais abrangentes e sofisticados, até culminarem na formação da União Europeia, que, é um bloco composto de 27 países que praticam “as quatro liberdades” – livre circulação de bens, capitais, serviços e pessoas – e que adotaram em suas transações internas e externas uma moeda única, o euro.
Esse processo, contudo, só foi possível depois de cumpridas muitas etapas, como veremos a seguir.
Benelux
Criado em 1944, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, o Benelux consistiu em uma aliança entre Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo, em que ficou acordada a circulação de produtos sem tarifas alfandegárias.
Com isso, os três países se fortaleceram para evitar invasões dos dois vizinhos mais poderosos: Alemanha e França. O sucesso do Benelux deu início à organização de blocos econômicos na Europa.
Europa dos Seis
A criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca), em 1951, representou o primeiro passo rumo à integração econômica dos países europeus capitalistas. No âmbito desse acordo, Alemanha, França, Itália, Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo decidiram fazer a gestão conjunta de suas usinas de aço e carvão, de modo que esses países não podem produzir armas sem que os outros sejam consultados.
Além de facilitar a cooperação econômica, esse acordo tinha o intuito de sedimentar a paz entre os países-membros, a fim de evitar o surgimento de novos conflitos.
O sucesso do acordo motivou os membros a expandir a parceria, contemplando outras atividades econômicas, como a geração de energia atômica.
Nesse mesmo período, foi criada a Assembleia Parlamentar Europeia, mais tarde chamada de Parlamento Europeu. Sua função, hoje, é criar leis e assegurar os direitos dos cidadãos europeus.
Nos anos 1960, foi instituída a Política Agrícola Comum (PAC), visando aumentar a produção de alimentos por meio do investimento em tecnologia agrícola, da proteção dos mercados internos de produtos estrangeiros e do subsídio da produção agrícola.
Europa dos Doze
Em 1973, Dinamarca, Irlanda e Reino Unido adotaram o projeto de integração, formando a Europa dos Nove.
Naquele momento, crises na economia global ocasionadas por aumentos abruptos do preço do barril de petróleo estimularam a criação de mecanismos de superação das desigualdades internas. Por meio deles, os países mais ricos da comunidade passaram a investir em projetos de desenvolvimento nos países mais pobres, formando um fundo de desenvolvimento regional europeu.
Na passagem dos anos 1970 para os 1980, Portugal, Espanha e Grécia adotaram regimes democráticos, depois de viverem sob governos autoritários.
Assim, aliaram-se à comunidade europeia, ampliando o número de membros para doze.
UE 27
Em 1992, o Tratado de Maastricht ampliou a integração entre os países -membros, assinalando a possibilidade de adoção de uma moeda única. No ano seguinte, a Comunidade Europeia tornou-se um mercado comum, estabelecendo as já mencionadas quatro liberdades: livre circulação de pessoas, bens, capitais e serviços. Nesse contexto, Áustria, Finlândia, Suécia anunciaram sua adesão ao bloco.
O Acordo de Schengen , firmado em 1995, estabeleceu uma área em que os viajantes podem atravessar fronteiras sem restrições. Esse acordo se expandiu e hoje permite a viagem sem controle de passaporte entre 26 países europeus.
Na passagem para o segundo milênio, ocorreu a introdução do euro, a moeda europeia que substituiu as moedas nacionais, aprofundando a integração econômica entre os países-membros.
A dissolução do bloco soviético e a redução da influência geopolítica das economias socialistas sobre o Leste Europeu permitiram a adesão de novos membros, a saber, países que estavam fazendo a transição do socialismo para o capitalismo. O último país a aderir foi a Croácia, em 2013, totalizando 28 países. Porém, em 2020, o Reino Unido se retirou do bloco, e atualmente há 27 países-membros.
Ao longo do processo de integração, a União Europeia ampliou sua relevância econômica e geopolítica, além de ter promovido melhoras significativas na qualidade de vida de sua população. Porém, ainda há desigualdades econômicas internas, sobretudo quando comparamos as economias mais desenvolvidas do bloco, como a da Alemanha e a da França, a economias de países do Leste Europeu.
Durante as duas últimas décadas, o bloco enfrentou graves crises econômicas globais, a ameaça do terrorismo e o forte aumento das pressões migratórias sobre o continente, com a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, motivada principalmente pela ocorrência de conflitos no Oriente Médio.
Diante desses desafios, intensificam-se as tensões entre alguns países-membros, ocasionando a adesão de parte da população a ideais nacionalistas que defendem o aumento da soberania dos territórios nacionais e, em alguns casos, o abandono do bloco.
Entre a identidade nacional e a regional: o futuro da União Europeia
O que significa ser espanhol ou italiano? Antes da formação dos Estados nacionais europeus, esses adjetivos significavam pouco. dos No entanto, tais identidades, historicamente produzidas, criaram um sentimento de pertencimento dos cidadãos a uma nação controlada por um Estado soberano.
O projeto de integração da União Europeia não visa suprimir as identidades nacionais. Entretanto, com a transferência de algumas atribuições dos países-membros para as autoridades supranacionais do bloco, o papel dos Estados nacionais europeus passou por uma redefinição, entendida por alguns como perda de soberania.
A partir dos anos 2000, a crise econômica se somou à migratória e à ameaça do terrorismo. As soluções criadas pelas instituições da União Europeia desagradaram a uma parte da população, que começou a reivindicar maior autonomia em relação ao bloco, com a defesa, inclusive, da saída de seu país do acordo.
Partidos de extrema direita articularam a insatisfação de parte da população a uma retórica anti-imigração, com forte conteúdo xenofóbico, para defender o isolamento de seu país perante o processo de globalização e uma suposta retomada da soberania e da identidade nacionais.
A saída do Reino Unido da União Europeia, cujas intenções foram manifestadas em 2016, culminou em sua efetiva separação – o Brexit –, o que levantou ameaças de dissolução do bloco econômico e colocou em dúvida o projeto de união, paz e progresso defendido no momento em que o bloco iniciava seu longo e complexo processo de formação.