sábado, 29 de novembro de 2025

Europa: Demografia e conflitos


Questões demográficas


Na maioria dos países europeus, a expectativa de vida é elevada e as taxas de natalidade são inferiores às taxas de mortalidade – a Europa apresenta as mais baixas taxas de natalidade no mundo – ocasionando taxas de crescimento vegetativo negativas e o envelhecimento populacional. Esse processo gera impactos nos gastos da previdência social e, futuramente, poderá afetar a disponibilidade de mão de obra no continente.
Mesmo após a transição do chamado Leste Europeu para o sistema capitalista, a regionalização do continente sição em Europa ocidental e Europa oriental ainda é válida, sobretudo em função dos diferentes padrões de vida.
A crise político-econômica que levou ao fim do modelo socialista no Leste Europeu tem levado à diminuição dos investimentos em serviços públicos. Por isso, na atualidade, comparativamente, a Europa ocidental apresenta índices sociais mais elevados.
De modo geral, a Europa se caracteriza por altas taxas de urbanização e baixas taxas de natalidade. De um lado, os países apresentam proporcionalmente poucas crianças em suas populações; de outro, a alta qualidade de vida aumenta a longevidade. A combinação da alta expectativa de vida com a baixa taxa de fecundidade leva a crescimentos vegetativos baixíssimos. Em alguns países, eles chegam a ser negativos, pois, com uma população envelhecida, a mortalidade supera a natalidade.
Apesar de refletir a boa qualidade de vida, o envelhecimento da população traz problemas para os países europeus, pois a quantidade de pessoas em idade ativa é pequena em relação ao número de aposentados. Assim, muitos países europeus dependem de fluxos de imigrantes para suprir a demanda de mão de obra.
Além da questão relacionada ao baixo crescimento populacional, destacam-se os deslocamentos populacionais. A Europa apresenta alto nível de desenvolvimento socioeconômico e representa uma área de atração, recebendo fluxos migratórios provenientes de outros continentes e regiões do mundo, principal mente da África e do Oriente Médio, onde um número crescente de pessoas tem sido forçado a se deslocar em função de conflitos e perseguições em seus países.


Movimentos populacionais


São bastante conhecidos os deslocamentos da população europeia para outros continentes, como a América, a Ásia, a África e a Oceania. Durante sécu los, os europeus deixaram seu continente à procura de novas perspectivas de emprego e melhores condições de vida ou para fugir de guerras em seus países. Esses movimentos se intensificaram, principalmente, a partir do século XIX.
Após a Segunda Guerra Mundial, a reconstrução da Europa contou com o estímulo à entrada de imigrantes e com melhorias no padrão de vida na maior parte dos países do continente. A situação então se inverteu: a Europa passou a receber imigrantes provenientes do norte da África, do Oriente Médio, da Amé rica Latina e de outras regiões do mundo.
Além das migrações externas, a Europa vivenciou intensas migrações internas após a criação da União Europeia (UE), com destaque para os fluxos provenientes dos países do Leste Europeu em direção aos mais desenvolvidos do continente, como Alemanha e França. A partir de 2004, com a admissão de oito países do Les te Europeu na União Europeia, esse fluxo migratório diminuiu, tendo em vista os investimentos que o Oeste Europeu destinou aos novos ingressantes.
A continuidade dos movimentos populacionais em direção à Europa e o fato de o crescimento demográfico da população imigrante (não europeia) ser su perior ao da população europeia geram uma crescente diversidade cultural nos países do continente.
Na composição étnica, ainda predominam os latinos (povos atlanto-mediterrâneos, exceto os gregos), os germânicos (povos da Europa nórdica, exceto a Finlândia) e os eslavos (povos da Europa oriental, exceto a Romênia e a Hungria) – entre estes, indivíduos que praticam alguma religião professam, principalmente, ocatolicismo, o protestantismo e o judaísmo. No entanto, intensos fluxos migratórios provenientes da Turquia, da África do Norte e do Oriente Médio vêm alterando a configuração étnica em alguns países, principalmente do Oeste Europeu, provocando aumento da proporção de turcos, árabes e norte-africanos adeptos do islamismo.

Espaço Schengen


Um fator que facilita as migrações internas na Europa é a livre circulação de cidadãos de países signatá rios do Espaço Schengen. Esse acordo estabelece uma convenção que institui a abertura de fronteiras entre a maior parte dos países da União Europeia e alguns que não fazem parte do bloco.

Movimentos xenófobos


Diante do aumento do número de deslocados, principalmente na década de 2010, têm crescido os movimentos xenófobos e o sentimento de nacionalismo em alguns países. A xenofobia, caracterizada pelo precon ceito contra estrangeiros, é estimulada por ideologias nacionalistas, pelo racismo e pela intolerância religiosa.
O aumento da aversão aos imigrantes e refugiados por parte de alguns membros da população, entre outros fatores, explica o crescimento dos partidos políticos de extrema direita, que entre suas propostas defendem o estabelecimento de políticas rígidas de combate à imigração e atribuem aos imigrantes a culpa pelo aumento do desemprego e da criminalidade.

Cultura e minorias étnicas


A população do continente europeu sempre abrigou grande diversidade de etnias. Atualmente, algumas têm sido excluídas dos direitos assegurados aos cidadãos da União Europeia, o que fere segurados os acordos e os tratados estabelecidos no âmbito do bloco econômico, como é o caso das dificuldades enfrentadas pela comunidade eslovena na Itália, na Áustria e na Hungria. Por exemplo, a emissora de televisão estatal húngara destina verbas a seus programas. No entanto, em decorrência de uma decisão do governo, o programa Slovenski Utrinki, o único em língua eslovena, passou a receber metade do financiamento dos demais programas da emissora.
Além dos casos de comunidades estrangeiras europeias em outros países do continente, existem situações recorrentes de preconceito contra grupos étnicos minoritários que não possuem Estado próprio, como os ciganos ou românis. Eles são considerados o menor grupo étnico na Europa. Em muitos países, pessoas desse grupo sofrem diversos tipos de agressão e violação, havendo pouca ou quase nenhuma representação no Parlamento para a criação de leis que as proteja.
A criação de leis e a efetividade de políticas de equidade têm sido um importante desafio para o projeto de construção de uma “comunidade europeia” que evite conflitos e que considere a diversidade, respeitando e valorizando as diferenças.

Contrastes sociais


Os índices de pobreza têm aumentado em alguns países da Europa, em função, principalmente, do aumento do desemprego após a crise econômica internacional iniciada em 2008. A partir de meados da década de 2010, as taxas de desemprego começaram a cair, mas em alguns países se mantiveram elevadas – como na Espanha (14,1%), na Grécia (13,4%) e na Itália (9,2%), de acordo com dados do Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat) de 2021.
Diante desse cenário, alguns países europeus buscaram realizar transformações na estrutura de produção e na legislação trabalhista, que terminaram por gerar, em alguns casos, a deterioração das condi ções de trabalho – a qual se traduz em queda dos salários reais, instabilidade no emprego e desemprego dos menos qualificados.
A Europa e os refugiados Desde a década de 2010, o mundo vem observando uma crise de refugiados que já é considerada a maior desde a Segunda Guerra Mundial. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), em 2020 havia cerca de 82 milhões de pessoas no mundo que se deslocaram em razão de conflitos armados, sejam internos ou entre países (guerras), per seguições étnicas ou diversas formas de violência que implicam violações dos direitos humanos. Entre eles, 26,4 milhões são refugiados que, atualmente, se encontram vivendo em um país diferente de seu país de origem.
Do total de refugiados no mundo, cerca de 40% eram crianças e jovens, a maior parte oriunda de países do Oriente Médio – com destaque para Síria, Afe ganistão e Iraque – e da África, que vivenciam profunda situação de instabilida de. Já em relação aos países que recebem mais refugiados.
Na Europa, a Alemanha é o país que recebe o maior número de refugiados. A França, a Suécia, a Noruega e a Finlândia também são bastante procurados. No caso da Alemanha, os deslocados que mais pediam refúgio no início dos anos 2020 tinham como origem, pela ordem, Síria, Afeganistão e Iraque. No entanto, países como Grécia e Itália, e próximos do Oriente Médio e do norte da África, são muitas vezes utilizados como via de acesso à Europa, recebendo grande número de imigrantes irregulares, entre eles, muitos refugiados. A Guerra na Ucrânia, em 2022, gerou muitos refugiados, também.

Conflitos territoriais, nacionalismos e separatismos


No século XX, ocorreram na Europa as duas grandes guerras que mudaram profundamente a dinâmica geopolítica daram mundial.
Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), grandes impérios, como o Austro-Húngaro e o Otomano, foram derrotados, e surgiram novos países.
Além disso, intensificaram-se ideologias e nacionalismos exacerbados, como o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha.
Esse quadro geopolítico desencadeou a Segunda Guerra Mundial. Com seu término, o mundo foi dividido em duas grandes áreas de influência: a socialista (liderada pela União Soviética) e a capitalista (liderada pelos Estados Unidos), tendo o Muro de Berlim como o grande símbolo dessa separação. Como estudamos anteriormente, esse contexto resultou na Ordem Bipolar ou Velha Ordem Mundial.
Com a crise do sistema socialista, o Muro de Berlim foi derrubado em 1989, marcando o fim da Guerra Fria e da Ordem Bipolar. A reunificação da Alemanha e as intensas mudanças na Europa oriental explicitavam a transição para a Nova Ordem Mundial.
Com o fim da Guerra Fria, os países do Leste Europeu iniciaram um processo de retomada do sistema capitalista em seus regimes políticos.
Esses processos ocorreram de maneiras distintas em cada país. A antiga Tchecoslováquia, por exemplo, dividiu-se por meio de acordo e sem consequências bélicas. Foi a chamada Revolução de Veludo, que deu origem à República Tcheca e à Eslováquia.
Em outros países, porém, o fim do regime político centralizador, característico do modelo socialista, de influência soviética, abriu espaço para ascensões nacionalistas e para a reafirmação de identidades étnicas. Foi o caso da antiga Iugoslávia, onde conflitos prolongados e catastróficos deram origem a sete países: Sérvia, Croácia, Eslovênia, Macedônia do Norte, Bósnia-Hezergovina, Montenegro e Kosovo, sendo que esse último, ainda hoje, não tem sua independência reconhecida por países como a Sérvia e a Rússia.
A dissolução da ex-Iugoslávia ocorreu em meio a sérios conflitos étnicos. O líder sérvio Slobodan Milosevic foi condenado pelo Tribunal de Haia por crime contra a humanidade ao ter instaurado uma guerra que resultou no massacre de indivíduos de etnias não sérvias.
Atualmente, na Europa ocidental, diversos grupos étnicos buscam, por meio dos movimentos separatistas, o reconhecimento territorial e a soberania.
São exemplos os bascos, no norte da Espanha, e a Irlanda do Norte, no Reino Unido. Esses movimentos tornaram-se conhecidos em razão da adoção de práticas terroristas, como o grupo Pátria Basca e Liberdade (ETA, sigla em basco), na Espanha, e o Exército Republicano Irlandês (IRA, sigla em inglês), no Reino Unido.
Um importante motivo para os deslocamentos internacionais tem sido a busca por refúgio, em virtude das consecutivas crises provocadas por guerras, muitas delas resultantes de sucessivas intervenções militares em países do Oriente Médio. Existem também grandes fluxos de refugiados fugindo de graves crises econômicas, que levam a condições de vida precárias. Essas ondas migratórias costumam ser originárias dos continentes africano e asiático, bem como da América Latina.
Muitos migrantes não possuem documentos e, sendo considerados ilegais, enfrentam situações de risco de morte na esperança de conseguir morar em países que ofereçam condições de vida dignas.
Nos últimos anos, o principal destino de migrantes sem documentação foi a Alemanha, embora outros países, como Reino Unido, Espanha e França, também sejam considerados importantes no acolhimento de pessoas nessas condições.
No entanto, nos países europeus em geral, tem sido registrado nos últimos tempos um crescimento significativo de ações xenofóbicas provocadas por grupos neonazistas e outros grupos de extrema-direita, que se identificam como nacionalistas.
Essas ações têm pressionado os governos a violar tratados internacionais assumidos no âmbito das Nações Unidas, causando ainda mais sofrimento a indivíduos que já foram privados de seus direitos fundamentais e gerando grande pressão da comunidade internacional.

Alguns conflitos no continente europeu


Na primeira metade do século XX, a desintegração de impérios (Austro-Húngaro e Turco Otomano) e as duas Grandes Guerras resultaram em focos de tensão no continente europeu. Na segunda metade do século XX, o processo de derrocada do socialismo também modificou os limites entre os Estados-nação no Leste Europeu, gerando grande instabilidade na região dos Bálcãs.

Bálcãs: formação e desintegração da Iugoslávia


Os Bálcãs são uma península situada entre a Europa e a Ásia e entre o Ocidente e o Oriente. Ao longo do tempo, diferentes impérios e/ou Estados-nação existiram na região, que apresenta grande diversidade cultural, linguística e religiosa.
No século XX, a principal entidade política existente na região foi a Iugoslávia, país cuja desintegra ção, nos anos 1990, envolveu um conflito de grandes proporções. Observe a cronologia dos eventos que envolveram a formação e a dissolução da Iugoslávia, assim como as modificações que ocorreram na região entre 1918 e 2008.

Guerra da Bósnia


Até 1991, a Iugoslávia era caracterizada por uma população etnicamente di versa, composta de vários povos (sérvios, croatas, eslovenos, macedônios, al baneses, montenegrinos e bósnios), alguns espalhados em praticamente todas as repúblicas da federação. Sob o regime comunista do marechal Tito (entre o fim da Segunda Guerra Mundial e 1980), o país se manteve unido. No início dos anos 1990, porém, a manu tenção dessa unidade tornou-se inviável. 
Entre 1991 e 1992, quatro repúblicas que integravam a federação iugoslava – Croácia, Eslovênia, Macedônia (atual Macedô nia do Norte) e Bósnia-Herzegovina – autoproclamaram-se países independentes.
O poderio militar da federação iugoslava, controlado na maior parte pelos sérvios, tentou impedir a desintegração dessa entidade política, contando com o apoio dos sérvios que viviam em outras repúblicas. Na Eslovênia, com número reduzido de sérvios, o conflito durou dez dias e terminou com a retirada das forças federais. Na Bósnia-Herzegovina – etnicamente mais heterogênea e divi dida entre 39,5% de bósnios (predominantemente muçulmanos), 32% de sérvios e 18,4% de croatas –, no entanto, uma sequência de eventos daria origem à Guerra da Bósnia (1992-1995).
Marcada por genocídios e perseguições étnico-religiosas, a Guerra da Bós nia provocou mais de 200 mil mortos e envolveu diversos participantes, entre eles, bósnios lutando pela sua independência, sérvios contrários ao separatis mo bósnio e croatas que buscavam tanto assegurar sua independência como conquistar territórios da Bósnia-Herzegovina. Em um dado momento, tropas sérvias cercaram a cidade de Sarajevo (capital da Bósnia) e mataram milhares de bósnios muçulmanos, assim como croatas que viviam na Bósnia, em uma agressão que ficou conhecida como limpeza étnica.

Acordos de paz


Em 1994, um acordo realizado em Washington (D.C.), nos Estados Unidos, resultou na formação da Federação da Bósnia e Herzegovina. Esse acontecimento, somado à internacionalização do conflito por causa da intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), acabou enfraquecendo os sérvios e levando ao término da guerra em 1995. A essa altura, a Guerra da Bósnia já havia produzido cerca de 2 milhões de refugiados (a maioria bósnios muçulmanos).
O conflito foi oficialmente encerrado por meio da conclusão do Acordo de Dayton, em 1995, efetivada em Paris (França), que dividiu a Bósnia em duas partes: a Federação Muçulmano-Croata, que controla 51% do país, e a República Sérvia da Bósnia, que controla 49%. A permanência de povos – como sérvios, croatas e muçulmanos – com diferentes religiões, disputas históricas e ambições territoriais e nacionalistas distintas no mesmo país, somada às dificuldades de uma administração conjunta, torna o futuro do país, de algum modo, incerto, assim como a própria estabilidade da região.

A independência de Montenegro


As repúblicas da Sérvia e de Montenegro permaneceram unidas, ainda sob o nome de Iugoslávia, até 2003, quando o antigo nome foi trocado pela denominação Sérvia e Montenegro.
Em 2006, apesar de já desfrutar de um elevado grau de autonomia, Montenegro declarou sua independência após a realização de um referendo – no qual a maioria da população (cerca de 55%) se mostrou favorável à formação do novo país. Apesar da importância do território de Montenegro para os sérvios, já que este representava a única saída para o mar da Sérvia e Montenegro, a declaração montenegrina foi aceita pelo governo sérvio.

A questão de Kosovo


A região autônoma de Kosovo é considerada, para muitos sérvios, o berço de sua identidade nacional – pois lá estão os mosteiros ortodoxos antigos e os sítios de batalhas históricas contra os turcos otomanos, no século XIV. No en tanto, sua população é formada predominantemente por muçulmanos albane ses que, desde a década de 1990, organizam-se em um movimento separatista.
Nesse contexto, em 1999, um conflito armado eclodiu entre forças sérvias e o Exército de Libertação do Kosovo (ELK). Diante dos casos de violações de direitos humanos, a Otan realizou uma intervenção na Iugoslávia, levando à re tirada das forças sérvias de Kosovo. Na ocasião, foi estabelecido um acordo no qual Kosovo passou a ser um território autônomo da Sérvia, sob administração temporária da ONU.
Em 2008, porém, os kosovares declaram sua independência de forma unilateral – sem negociação ou consentimento da Sérvia, que não reconheceu Kosovo como Estado independente –, gerando um impasse com repercussões internacionais.
Para ser reconhecida, a independência de Kosovo precisaria ser aprovada pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e por, pelo menos, mais quatro membros rotativos. A Rússia e a China, que têm poder de veto no Conselho, recusaram-se a aprová-la.
A Rússia, além de ser uma aliada histórica da Sérvia, não aprova a inde pendência de Kosovo, pois, tendo fo cos separatistas em seu território, não quer sinalizar que é favorável a movi mentos pró-independência. O mesmo acontece com a China e outros países que en fren tam o separatismo den tro de suas fron teiras ou movimentos nacionalistas fortes, como a Espanha (caso das regiões do País Basco e da Catalunha).
Também em relação a Kosovo, al guns analistas apontam a incoerência dos Estados Unidos em sua política ex terna, pois, em 1997, os rebeldes albane ses – que lutavam pela independência da região autônoma – eram considera dos terroristas pelos estadunidenses.

Conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte


O Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, ou simplesmente Reino Unido, constitui um Estado formado por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Essa entidade política abrange toda a ilha da Grã-Bretanha, onde se situam a Inglaterra, a Escócia e o País de Gales, assim como parte da ilha da Irlanda, onde se localizam a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, que se tornou um Estado livre em 1921 e uma República em 1949.
Enquanto na Irlanda cerca de 93% da população é católica, a Irlanda do Norte é dividida entre pro testantes (cerca de 51% da população) e católicos (cerca de 38% da população). Os católicos, que são republicanos e em geral pertencem às camadas não privilegiadas da população, querem a independência em relação ao Reino Unido e defendem a integração com a Irlanda. Os protestantes, que em sua maioria pertencem às camadas mais privilegiadas da sociedade, querem permanecer ligados ao Reino Unido – e por isso são chamados de unionistas.
A situação agravou-se de fato em 1969, quando o exército inglês passou a intervir no conflito. Desde en tão, milhares de pessoas já morreram e diversos atentados terroristas a bomba foram feitos pelo Exército Republicano Irlandês (IRA), que lutava pela independência da Irlanda do Norte. Desde 1994, acordos foram feitos e o Sinn Féin, formado inicialmente como braço político do IRA, agora atua como partido indepen dente (republicano), buscando atingir seus objetivos pela via política.
A saída do Reino Unido da União Europeia, em 2020, reacendeu tensões na região e levou a protestos na Irlanda do Norte, onde parte da população era favorável à permanência no bloco. Vale ressaltar que as implicações desse evento foram grandes na Irlanda do Norte, economicamente integrada à Irlanda, país--membro da União Europeia. Para amenizar essa questão, foi criado o Protocolo da Irlanda do Norte, que, dessa forma, permaneceu integrada ao mercado único europeu.

Ciganos: um povo perseguido na Europa


Estima-se que há cerca de 20 milhões de ciganos espalhados pelo mundo, dos quais grande parte vive na Europa (aproximadamente 8 milhões). A origem des se povo é incerta, mas alguns pesquisadores acreditam que eles tenham vindo do norte da Índia, cerca de mil anos atrás, migrando para a parte oriental da Europa no século XIV e para a parte ocidental após a Segunda Guerra Mundial.
Uma característica importante desse grupo é o nomadismo, apesar de, nos últimos anos, muitos terem procurado se fixar em algum lugar. De modo geral, dedicam-se a atividades tradicionais, como o comércio, o artesanato, a música e a dança (observe a fotografia). Em razão da discriminação que sofrem e do declínio de algumas dessas atividades, milhões de ciganos vivem em situação de pobreza.
É grande também o número de analfabetos entre os ciganos. Calcula-se que cerca de 70% deles não saiba ler nem escrever. Além disso, ao contrário do que ocorre com a população europeia, as taxas de natalidade do povo cigano são bastante altas.
Nos últimos anos, diferentes países europeus têm discutido e realizado ações para a integração desse grupo na sociedade, reduzindo o isolamento, a discrimi nação e a sua situação de vulnerabilidade. No entanto, assim como fazem com os turcos e os norte-africanos, jovens neonazistas têm promovido atentados a moradias ciganas na Alemanha, na Espanha, na Polônia, na Hungria e na Romê nia. Na República Tcheca, até mesmo a entrada de ciganos em alguns bares e restaurantes é proibida.

União Europeia (UE)


A União Europeia (UE) é o bloco econômico com maior nível de integração em todo o mundo. Sua origem, no entanto, remonta à década de 1940, quando Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo firma ram um acordo para a criação de uma zona de livre--comércio, o Benelux (1944).
Em 1952, um novo passo foi dado por meio da formação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca), um mercado comum para produ tos e matérias-primas ligados à indústria siderúrgi ca e que reunia os países do Benelux, a Alemanha, a França e a Itália.
Em 1957, os membros dessa comunidade cria ram, pelo Tratado de Roma, a Comunidade Econô mica Europeia (CEE), também chamada Mercado Comum Europeu (MCE). Mais tarde, no decorrer dos anos 1970 e 1980, uma série de países foi incorpora da à CEE.

Em busca da integração


Em um primeiro momento, a CEE buscava coordenar políticas relacionadas às indústrias de carvão e aço, à produção agrícola e à questão energética. Gra dualmente, porém, foi estabelecido como objetivo futuro a livre circulação de mercadorias, capitais, pessoas e serviços entre os países-membros.
Esses objetivos foram parcialmente atingidos em 1993, quando entrou em vigor o Tratado de Maastricht e a CEE passou a se chamar União Europeia. Além do estabelecimento de uma política externa comum entre os países-membros, o Tratado de Maastricht estabeleceu as bases para a criação de um mercado comum e de uma união econômica e monetária.
Em 1998, a união econômica foi atingida por meio da criação do Banco Central Europeu. A união monetária foi implementada em 2002, com a criação de uma moeda única, o euro, que entrou em circulação em doze países: Alema nha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxem burgo, Países Baixos e Portugal. Dessa forma, os negócios antes feitos em dólar passaram a ser realizados em euro, contribuindo para reduzir a supremacia da moeda estadunidense no mundo. Alguns integrantes do bloco na época – Reino Unido, Dinamarca e Suécia – optaram por não adotar o euro, mas este passou a servir de referência em suas relações comerciais.
Para o funcionamento do bloco, destacam-se o Parlamento Europeu, órgão legislativo da UE (responsável pelos acordos internacionais do bloco e o ingres so de novos membros) composto de deputados eleitos democraticamente; o Conselho da União Europeia, órgão deliberativo da UE no qual os representan tes se reúnem para tratar de temas relevantes como questões sociais, transpor tes, emprego, agricultura e meio ambiente; e a Comissão Europeia, que representa o órgão executivo do bloco.

Expressiva ampliação do bloco


Em 1o de maio de 2004, a entrada de dez novos países na UE – Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, República Checa e Polônia –, oito deles oriundos do antigo bloco socialis ta, colocou fim à tradicional divisão do continente entre Europa ocidental e Europa oriental – esta última formada pelos países que, durante a Guerra Fria, estiveram sob o espectro de influência da União Soviética. Romênia e Bulgária ingressaram em 2007 e a Croácia, em 2013, quando a UE passou a ser formada por 28 países – na ocasião, a Eslovênia também adotou o euro.
Posteriormente, outros países também entra ram para a Zona do Euro, como: Malta, Chipre, Eslováquia, Estônia, Letônia e Lituânia. Em 2016, o Reino Unido realizou um plebiscito no qual a maioria dos britânicos decidiu que o Estado deveria se retirar da UE. Oficialmente, a saída ocorreu em 31 de janeiro de 2020, reduzindo o número de integrantes do bloco para 27.
De modo geral, os novos países-membros da UE (ingresso a partir de 2004) apresentam um nível de desenvolvimento inferior ao dos demais, infraestrutura defasada e atraso tecnológico em comparação às principais potências do bloco. Comparativamente, sua contribuição ao bloco é menor do que os investi mentos que devem receber.
No entanto, esses países também obtêm menos benefícios do que os ofere cidos aos que entraram anteriormente, como subsídios agrícolas e ajuda econômica ao desenvolvimento. Equilibrar esses interesses e possibilidades dos antigos e dos novos membros é um dos grandes desafios para a União Europeia.
Desde a origem da União Europeia (UE), em 1944, como uma zona de livre-comércio, até hoje, como um mercado comum e uma união econômica e monetária, muitas foram as etapas, os acordos e os desafios enfrentados pelo bloco.
Por um lado, a UE se consolidou como uma potência comercial e geopolítica, desempenhando papel determinante em negociações internacionais, como na Organização Mundial do Comércio (OMC), e posi cionando-se em questões socioambientais, como o aquecimento global.
No entanto, a crise econômica defla grada em 2008 e intensificada em 2011, que afetou principalmente Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália, demons trou também como a existência de uma moeda única pode gerar entraves para a solução de problemas financeiros em alguns países, afinal as decisões toma das afetam todos os integrantes da união monetária.

Rússia: potência geopolítica


Após a dissolução da União Soviética em 1991 e a transição para o capitalismo, em razão de suas carac terísticas econômicas (parque industrial e produção agrícola), além de extensa área territorial, ampla dis ponibilidade de recursos naturais e considerável poderio militar, a Rússia passou a ser um país emergente.

Rússia na Comunidade dos Estados Independentes (CEI)


Em 1991, algumas repúblicas que pertenciam à antiga União Soviética se uniram para formar a Comuni dade dos Estados Independentes (CEI), um bloco destinado principalmente à integração econômica. Atualmente, fazem parte da organização nove membros plenos (Armênia, Azerbaijão, Belarus, Cazaquis tão, Rússia, Moldávia, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão) e um associado (Turcomenistão). A Ucrânia chegou a integrar o bloco, mas se retirou da organização após a degradação das relações entre o país e a Rússia, com a anexação da Crimeia em 2014.
A estrutura da CEI é frágil devido a problemas econômicos, conflitos e disputas étnicas no território de seus países-membros, que constituem um grande foco de instabilidade política e social. A questão do nacionalismo é outro fator relevante, além do receio causado pela supremacia e política externa da Rússia na região, que busca absorver os países da antiga União Soviética para sua área de influência de forma agressiva, como aconteceu com a Ucrânia, em 2022.
Entre outros empecilhos à concretização da cooperação entre os países do bloco, estão o baixo nível de desenvolvimento socioeconômico de alguns países, o número reduzido de regimes democráticos de gover no e a preocupação da Rússia em conter o avanço do fundamentalismo islâmico na região da Ásia Central e da Otan no Leste Europeu.
A grande extensão territorial da Rússia A extensão do território da Rússia é de aproximadamente 17 milhões de km2. Cerca de um terço da Rússia faz parte do continente europeu; o restante es tende-se pela Ásia. A linha divisória entre os dois continentes é representada pelos Montes Urais, que contêm importantes jazidas minerais e também recursos energéticos, principalmente petróleo.
A oeste dos Montes Urais, encontra-se a planície Russa, em que se destaca a presença do solo tchernoziom, bastante fértil. Também se destacam no oeste da Rússia a cordilheira do Cáucaso, que abrange as maiores elevações do país, e a depressão caspiana, porção de menor altitude do território russo. A leste dos Urais, estende-se a planície da Sibéria – cortada por extensos rios.
A leste da planície da Sibéria, localizam-se o planalto Central Siberiano e diversas cadeias montanhosas; e, ao sul desse planalto, o lago Baikal, o mais profundo do mundo. A maior parte da Rússia está localizada ao norte do paralelo de 45° N, proporcionando um clima bastante rigoroso, com médias térmicas abaixo de 0 °C no inverno, especialmente no norte e no leste.
Os principais tipos de vegetação são a Tundra – ao norte do círculo polar Ártico –, a Floresta Boreal (Taiga) – localizada ao sul da Tundra, ao longo de uma vasta faixa no sentido oeste-leste –, as Estepes e Pradarias – localizadas na faixa ao sul do paralelo de 53° – e a Floresta Temperada, na porção oeste do território, entre a Taiga e as Pradarias. As florestas de Taiga, que cobrem grande parte do território da Rússia, des tacam-se pela sua importância como fonte de energia (lenha), principalmente no período do inverno, nos locais onde há dificuldade para o abastecimento de gás.

A população russa


Na Rússia, há cerca de 145,8 milhões de habitantes (2019), dos quais aproxi madamente 74% vivem em áreas urbanas. A densidade demográfica do país é baixa, de aproximadamente 8 hab./km2, mas a distribuição não é homogênea e é bastante influenciada por fatores naturais.
A cidade mais importante – que concentra praticamente 20% do Produto Interno Bruto (PIB) russo – é Moscou, capital do país, com mais de 10 milhões de habitantes. Depois dela, destaca-se São Petersburgo, importante centro indus trial (indústrias têxteis e metalúrgicas), com uma população de quase 5 milhões de habitantes. Observe no mapa a densidade demográfica da Rússia e a locali zação das principais cidades do país.

Questões étnicas e a Guerra na Ucrânia


A Federação Russa apresenta grande diversidade étnica e o desejo de inde pendência em algumas repúblicas tem provocado tensões. Um exemplo é a região do Cáucaso, onde se localiza a república da Chechê nia, atravessada por oleodutos, rica em petróleo e estratégica para Moscou. Na década de 1990, separatistas da Chechênia travaram uma guerra contra o exér cito russo, conquistando autonomia para seu território, sem, no entanto, atingir seus objetivos separatistas. Desde então, o governo russo tem reprimido com violência as lutas por independência.
De outro lado, ações para expansão territorial e de área de influência pas saram a ocorrer sob o governo de Vladimir Putin. Em 2014, a Rússia anexou a Crimeia, uma península banhada pelo mar Negro que pertencia à Ucrânia, mas onde a maioria de população é etnicamente russa. Na ocasião, trechos das re giões de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia, também foram ocupados por separatistas russos apoiados por Moscou.
A partir de 2021, Putin passou a questionar a aproximação da Ucrânia com o Ocidente, inclusive se manifestando contrariamente à adesão desse país à Otan. Essa postura do governo russo se insere em um contexto mais amplo, em que Putin procura fortalecer e enfatizar o papel de grande potência geopolítica da Rússia e assegurar áreas de influência no leste europeu.
Em fevereiro de 2022, as tropas russas lançaram ataques ao território ucra niano, iniciando a Guerra na Ucrânia. Putin tinha o objetivo de destituir o go verno de Volodymyr Zelensky e anunciou também que as regiões de Donetsk e Luhansk declararam-se independentes. A reação das potências ocidentais, inclu sive da Otan, foi de não intervir diretamente na guerra, o que poderia levar a um conflito nuclear. No entanto, foram impostas à Rússia diversas sanções econô micas e financeiras, impedindo, por exemplo, o acesso de instituições privadas e de governo russas ao sistema financeiro internacional. Por outro lado, em mea dos de 2022, a Europa era impactada com a redução do fornecimento de gás natural da Rússia, sobretudo a Alemanha; os preços de diversas commodities ex portadas pelos russos, como petróleo, fertilizantes e trigo subiram, e a porções leste (região do Donbass) e sul da Ucrânia encontravam-se sob domínio russo.

O espaço socioeconômico


A Rússia apresentou intenso crescimento econômico na década de 2000, seguido por uma recessão em meados da década de 2010, em função de fatores como gastos elevados com a previdência social – provocados pelo envelhecimento da população – e sanções econômicas praticadas pelos Estados Unidos em resposta à intervenção militar russa na Ucrânia. Internacionalmente, o principal parceiro comercial da Rússia é a China, país com o qual os russos tam bém vêm estreitando relações geopolíticas, intensificadas com as sanções do Ocidente no contexto da Guerra na Ucrânia.
Os dois países, além de Brasil, Índia e África do Sul, fazem parte do Brics. Em 2022, devido à invasão na Ucrânia, a Rússia foi atingida por sanções ainda mais severas do que em 2014, o que gerou um forte impacto negativo em sua economia.

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