domingo, 16 de novembro de 2025

Multiplicidade cultural

A multiplicidade cultural, ou multiculturalismo, refere-se à diversidade de manifestações, pensamentos, costumes, organizações familiares, linguagens, rituais, tradições, etnias, entre outros aspectos, que caracterizam grupos que habitam um mesmo território. A cultura, por sua vez, é o conjunto de símbolos, hábitos e capacidades espirituais, materiais, não materiais, intelec tuais e afetivos adquiridos pelos membros de uma sociedade e passados de geração em geração. Envolve conhecimento, moral, crenças, leis, modos de vida, visões de mundo, entre outros elementos. A cultura é uma criação humana, pois é próprio do ser humano atribuir sentidos a suas ações, con cretas ou simbólicas. Cada cultura tem características que a diferem de outras. Esse conjunto de características, conhecido como identidade cultural, confere a cada indivíduo o sentimento de pertencimento a um grupo, o que se expressa por um conjunto de modos de agir, pensar, vestir-se, alimentar--se, lidar com o poder, com o sagrado, entre outras coisas. Porém, com a globalização, são raras as culturas que conse guem se manter totalmente isoladas.

Um bom exemplo vem da gastronomia. Em toda grande cidade são encon trados restaurantes com pratos das mais variadas nacionalidades: japoneses, italianos, mexicanos, portugueses, ou com sabores e tradições comuns a mais de uma cultura. As culturas acabam influenciando umas às outras. Muitas vezes, é difícil saber a origem de um prato típico, bem como de um costume, de um idioma ou de um vestuário. Isso se deve, atualmente, à influência cada vez mais presente da facilidade de deslocamento e do acesso à informação, propiciados pela evolução dos meios de transporte e comunicação.

Diversidade cultural: patrimônio da humanidade


A cultura e sua diversidade são tão importantes para as comunidades huma nas que, em 2001, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) elaborou a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, com o objetivo de reafirmar a preocupação dos países-membros com a preserva ção e o respeito universal à diversidade cultural dos povos e das nações. Essa declaração estabelece que a diversidade cultural é um patrimônio da humanidade, manifestando-se na originalidade e na pluralidade de identidades características de grupos e sociedades. Com a diversificação cada vez maior da sociedade, é indispensável garantir uma interação harmoniosa com as pessoas, os grupos e suas identidades cul turais, pois ela é uma das fontes do desenvolvimento humano e um meio para uma existência afetiva, moral, intelectual e espiritual satisfatória. O respeito à diversidade cultural, portanto, é parte indissociável dos direi tos humanos e deve assegurar a livre expressão, o pluralismo de ideias e a igualdade de participação política e de acesso ao conhecimento científico, tecnológico e artístico.

Minorias


Quando tratamos de grupos sociais, “minoria” não significa quantidade menor de indivíduos. Muitas vezes, é de uma maioria que estamos falando. Os afrodescendentes, por exemplo, são considerados uma minoria, embora formem mais da metade da população brasileira. Quando se diz que um grupo é minoritário, isso se refere aos direitos que lhe são negligenciados, tornando-o, por questões históricas, uma parcela mais vulnerável da socie dade. Esses grupos costumam ser discriminados pelo grupo dominante em razão da cor da pele, gênero, religião, origem geográfica, orientação sexual, etnia ou situação econômica – e, em alguns casos, por mais de um desses fatores. Outro exemplo de minoria no Brasil são os povos indígenas. A maioria das etnias indígenas foi removida de suas terras originárias, que habitaram por milhares de anos, sendo deslocada para reservas que, muitas vezes, desvir tuam seus modos de vida.

Os quilombolas formam outra minoria. São grupos étnicos que descendem dos negros trazidos à força da África e escravizados no Brasil e que ocupam determi nada porção de terra. Essa terra pode ter sido comprada pelos próprios indivíduos, doada a eles, obtida como troca por prestação de serviços ou ocupada como forma de resistência à escravidão. Existem comunidades remanescentes de quilombos em praticamente todos os estados brasileiros. As maiores concentrações estão nas regiões Nordeste e Sudeste. Conforme os dados levantados pela Funda ção Palmares, publicados na Portaria no 34/2019, no Brasil há 3 271 comunidades quilombolas certificadas. Apesar da existência de um número expressivo, apenas 174 comunidades receberam o título de suas terras. A Constituição Federal de 1988 assegura, no artigo 68, o direito dos quilombolas à terra.

Os costumes e modos de vida nas comunidades remanescentes de quilom bos foram fortemente influenciados pela cultura negra, indígena e cristã, com festividades, cantos e evocações próprios. Existem também minorias formadas por povos nômades, como os ciganos, os banjaras (ciganos da Índia), os beduínos e tuaregues (Oriente Médio e Norte da África), os fulânis (da costa atlântica do Senegal à densa selva centro-afri cana), os bosquímanos (sul da África), os aborígenes australianos e parte dos mongóis (Mongólia). Algumas minorias são definidas pela religião que seguem. É o caso da comunidade amish, um grupo cristão derivado do protestantismo alemão e suíço que vive no Canadá e nos Estados Unidos. Os amish são conhecidos por seus costumes conservadores e por manter distância da sociedade moderna, não fazendo uso de energia elétrica, aparelhos eletrônicos ou automóveis. Segundo eles, essas modernidades os afastariam do verdadeiro propósito cristão de retidão e de humildade.

 Globalização e diversidade cultural

Apesar de não ter surgido com a globalização, o multiculturalismo e a diver sidade cultural se acentuaram com ela. As migrações em busca de oportuni dades levaram para outros países culturas diferentes, que lá foram absorvidas total ou parcialmente. 
Os haitianos e os venezuelanos são dois exemplos de migrantes, que, fugindo da crise política e econômica em seu país, optaram por entrar em terri tórios estrangeiros, incluindo o Brasil, em busca de oportunidades. Para alguns, no entanto, a globalização moderna põe em risco a preservação de sua identidade e da diversidade cultural. Atrelada ao capitalismo, que visa principalmente ao lucro, essa diversidade vem sendo alvo, muitas vezes, de apropriação cultural, que desvirtua o sentido original da cultura local, podendo levar ao seu desaparecimento e até à sua completa assimilação por outra sociedade. A história registra vários casos de nações que invadiram territórios e con tinentes e impuseram seus costumes e modos de vida, muitas vezes por meio de violência, como no caso da colonização de alguns países da América Latina pelos conquistadores espanhóis, que resultou no quase desaparecimento das culturas inca, maia e asteca.

Etnocídio 

Quando uma cultura é destruída por outra, ocorre o que se denomina etnocídio. Os membros da cultura dominada são forçados a deixar suas tradi ções e a aceitar a dos invasores. Muitas vezes, seus costumes e modos de vida são vistos como inferiores pelos dominadores, e assim sua prática aos poucos é desestimulada. Em geral, o idioma é o primeiro a ser anulado, principalmente quando o povo dominado faz uso de transmissão oral, ou seja, não conta com um sistema de escrita. A perda do idioma de um povo significa o esquecimento gradativo de sua história.


O PROTAGONISMO FEMININO E O MULTICULTURALISMO

As diferentes formas de organização social e cultural influenciam a condição das mulheres nas sociedades de acordo com os valores e os papéis sociais a elas atribuídos. Nas organizações sociais tradicionais, era papel da mulher prover toda a comunidade. Apenas com o estabelecimento de agrupamentos sociais mais hierarquizados e a influência do cristianismo é que as mulheres passaram a desempenhar apenas o papel de cuidadora da casa e dos filhos, instituindo um modelo de sociedade patriarcal em que o homem é detentor dos direitos de trabalho, liberdade e participação política, entre outros. Com a necessidade de aumento da produção para atender às demandas da sociedade, as mulheres passaram a ser contratadas nas fábricas, recebendo menores salários e sem direitos trabalhistas. Foi somente após os movimentos sufragistas, no início do século XX, que as mulheres conquistaram o direito ao voto. Desde então, a luta das mulheres em busca de igualdade salarial, direitos, segurança e liberdade ganhou mais força. Tais movimentos acontecem de maneira distinta em cada cultura. Por exemplo, atualmente mulheres mulçumanas têm se posicionado cada vez mais contra a intolerância religiosa sofrida quando são vistas de hijab, vestimenta tradicional da religião. 
Os países do Oriente têm se destacado nos últimos anos em razão de seus avanços científicos e tecnológicos. Com isso, diversas pessoas com influências midiáticas têm trabalhado para expor a realidade de culturas, como forma de quebrar os estereótipos criados pela cultura ocidental. No infográfico a seguir, podemos analisar alguns exemplos de protagonismo feminino em diversas áreas. Esses exemplos do infográfico mostram importantes avanços de mulheres que não estão inseridas em contextos culturais ocidentais, colocados como padrão dominante.

Os centros da moda no mundo

As conexões estabelecidas a partir das trocas comerciais interferiram em todas as esferas da vida social, inclusive no comércio de tecidos, roupas e tapeçarias. Os processos relacionados à produção de vestimentas estão inseridos em uma teia de relações que envolve desde a fragmentação da produção, em que os modelos são projetados em um país e produzidos em outros, até na forma de se vestir, em que pessoas se identificam com diferentes características identitárias e culturais. Com a Segunda Revolução Industrial e com o desenvolvimento da indústria têxtil por toda a Europa, padrões de design e qualidade de alfaiataria começaram a ser desenvolvidos, dando origem às principais grifes da moda. A representação do gosto das elites pelas produções de cidades como Milão (Itália), Paris (França), Londres (Inglaterra) e Nova York (Estados Unidos) criou uma indústria seletiva de consumo direcionada aos grupos sociais mais ricos e sendo desejo de outros grupos sociais menos favorecidos. No entanto, as escolas da moda têm se descentralizado da Europa em cidades como Tóquio (Japão), Seul (Coreia do Sul), Toronto (Canadá) e Mumbai (Índia). Esses locais se destacam em suas criações e passaram a ter influência na forma de vestir em todos os países do mundo.

Além dessas cidades globais da moda, existem outras no mundo que têm influência em determinados seguimen tos, como é o caso de São Paulo e Rio de Janeiro, no Brasil. O Brasil ocupa o 5o lugar do ranking produtivo de calçados em razão das atividades relacionadas ao setor pecuário, como a disponibilização de couro. Analise o gráfico a seguir. A indústria da moda tem uma cadeia produtiva com plexa e articula diferentes setores: agropecuário, químico, design, publicidade, propaganda e mídia especializada que se utiliza de técnicas, tecnologias e pesquisa científica para analisar tecidos e couros. A Divisão Internacional do Trabalho estabelece os lugares onde serão realizadas cada uma das etapas da produção: matéria-prima, planejamento, estraté gia, venda, entre outras, o que resulta em distintos valores de custos da produção.

AS TROCAS CULTURAIS NA GLOBALIZAÇÃO


O começo do processo de mundialização se dá a partir do momento em que diversos locais do mundo passaram a ser conhecidos em escala global. Esse processo ocorreu a partir dos séculos XV e XVII e é marcado pela expansão das redes econômicas dos impérios europeus e asiáticos para a África, a América e a Oceania em busca de novos produtos para comercialização e expansão territorial. Além da comercialização das mercadorias e da disputa pela predominância econômica, o contato entre os diferentes povos, por meio das invasões de novos territórios, resultou na impo sição da cultura dos colonizadores. Os mosaicos formados pelos azulejos mouriscos, por exemplo, foram importados por Portugal durante o século XV, uma das heranças adquiridas após as Conquistas Árabes (VIII-XII). Praticamente todo o território espanhol e português foi tomado pelos árabes, e, por centenas de anos, a cultura moura influenciou os padrões arquitetônicos e outros aspectos culturais. Esses aspectos foram incorporados pela cultura portuguesa e nos países onde houve processo de colonização, que estão evidentes em algumas construções em países como Brasil e Moçambique, por exemplo.

A globalização é o fenômeno que resulta dessa intensa integração entre os aspectos eco nômicos, sociais e culturais dos diferentes lugares do mundo, o que possibilita reduzir distâncias entre eles. As trocas culturais ficaram cada vez mais intensas em decorrência dos avanços das tecnologias de transporte e comunicação, assim como o aumento dos fluxos financeiros. As transformações nas tecnologias de comunicação, por exemplo, permitem-nos enviar e receber mensagens em tempo real, de qualquer lugar do mundo. Além disso, possibilitam a disse minação de produções artísticas, como filmes, séries e músicas, de diferentes países, contribuindo para a difusão de características culturais e modos de vida nos diferentes lugares do mundo. Analise a imagem a seguir. Os cabos submarinos permitem a troca de informações e energia e conectam territórios como Estados Unidos, China e o continente europeu, onde há a expansão dos grandes empreendimentos finan ceiros e tecnológicos. Outra importante caracterís tica da globalização é a organização espacial produtiva. Atualmente, as multinacionais possuem unidades em diferentes lugares do mundo, com o objetivo de diminuir os custos de produção e aumentar os lucros. Assim, as empresas passam a ter influência não apenas em seu país de origem, expandindo seu fluxo de produtos e capitais em escala global.

Na Divisão Internacional do Trabalho, há países que produzem matéria-prima e há outros que são industrializados e fornecem produtos manufaturados. O Brasil, por exemplo, exporta majo ritariamente produtos agrícolas e minérios e importa tecnologia de outros países. Assim, embora a globalização possibilite a intensificação das trocas culturais e tecnológicas, também contribui para o aumento das desigualdades entre os países, tendo em vista que eles apresentam diferentes níveis de influência econômica, política, militar e cultural em escala global. A seguir, vamos conhecer alguns exemplos de trocas culturais na globalização.

A influência cultural estadunidense


Os Estados Unidos, além de serem uma potência política, econômica e bélica, são também uma potência cultural da indústria do entretenimento. Os Estados Unidos não apenas influenciam, mas fazem escola no cinema, nas histórias em quadrinhos, nos pro gramas de televisão, entre outros. A partir da segunda metade do século XX, os Estados Unidos têm ampliado sua influência impe rialista, tanto no campo da política e da economia, quanto na cultura. Eles foram responsáveis pelos empréstimos para reestruturação econômica dos países europeus pós Segunda Guerra Mundial, dolarizando a economia mundial. Assim, os Estados Unidos passaram a exercer influência nos costumes, hábitos e estilos de vida, principalmente por meio da indústria cinematográfica e televisiva. Um exemplo são as constantes propagandas sobre o modo de vida estadunidense, conhecido como American Way of Life. A indústria cinematográfica foi o principal meio de propaganda dos aspectos culturais estadunidenses, passando uma imagem idealizada de suas condições de vida. A presença da cultura estadunidense no mundo pode ser percebida de diversas formas, como a adoção de palavras e expressões da língua inglesa, os hábitos de consumo e a organização pro dutiva em vários países. Esses valores foram aos poucos sendo consolidados nos países da América Latina e em outros no mundo. Na imagem podemos observar pessoas em Dubai, consumindo em um restaurante fast-food, uma característica da cultura estadunidense mais difundida no mundo.

Atualmente, a preocupação dos Estados Unidos em manter seu status de maior potência bélica e econômica mundial é intensificada com a bipolarização causada pelo crescimento econômico e bélico da China, colocando-a como nova potência mundial.

A globalização e o rap


Com a globalização, o rap se disseminou por vários lugares do mundo, incorporando, em seu estilo, características locais. A desterritorialização das culturas faz com que, mesmo estando espacialmente separados, os jovens de vários lugares do mundo criem novas identificações. Um dos exemplos dessas novas identificações pode ser localizado no movimento hip hop como um todo e mais especificamente no rap. Os meios de comunicação, a indústria fonográfica, a televisão a cabo e a internet, especialmente, tornaram-se os canais de “reunificação” das identidades culturais que se formam sem que o território da nação seja sua referência exclusiva. Com isso, outras identidades se sobrepõem de maneira cada vez mais contundente: a negra, a jovem, a excluída, a periférica. O movimento hip hop pode ser considerado exemplo desse processo de globalização das culturas que tem como corolário a ideia de desterritorialização e a reunião daquilo que está ter ritorialmente separado através da comunicação. O rap surgiu como uma música dos jovens negros dos bairros periféricos dos Estados Unidos, no final da década de 1970, e logo foi apropriado por jovens negros, mestiços e excluídos das periferias de todo o mundo. “Periferia é periferia em qual quer lugar” é o título de uma canção do grupo de rap brasileiro Racionais MC’s e resume a ideia de que em qualquer periferia, qualquer jovem negro e/ou excluído está submetido às mesmas e precárias condições de vida.

No caso do Brasil, em particular, forma e conteúdo se adaptam à realidade cul tural brasileira, onde os sons do samba, baião, embolada e outros gêneros musicais produzidos pelos grupos negros e mestiços são incorporados ao som do rap, seja na batida – como base para os scratching ou nos samplers – seja nas letras, com a presença de elementos da cultura negra nacional, como Zumbi dos Palmares.

Hallyu: a onda cultural sul-coreana


A partir dos anos 2000, com a expansão do acesso à internet e às redes sociais, o consumo dos k-dramas (séries coreanas) e do k-pop (gênero musical produzido no país) vem aumentando exponencialmente em diversos países. Essa divulgação da cultura coreana é chamada de Hallyu, a “onda coreana”. É possível notar, por exemplo, a maior presença dessas produções em grandes plataformas de streaming do mundo todo.

Além do cinema e da música, outros produtos como cosméticos, jogos de vídeo game, roupas e alimentos, por exemplo, também sofreram um aumento das impor tações em decorrência da Hallyu. No gráfico a seguir, podemos analisar os produtos culturais da Coreia do Sul que são mais consu midos em outros países.

A xenofobia contra as produções sul-coreanas


Com a difusão do cinema sul-coreano, houve o aumento de discursos de ódio e xenofobia contra várias produções do país asiático. Assim como no cinema, grupos famosos de k-pop presenciam e relatam situações em que sofrem com tal violência. Nas adaptações feitas pela indústria cinematográfica de Hollywood, muitas vezes as características culturais de outros países são apagadas em detrimento da cultura estadunidense. No entanto, o mesmo não acontece quando a indústria cinematográfica da Coreia do Sul produz seus remakes de grandes produções de outros países.

China: política e desenvolvimento econômico

A China abriga a maior população do mundo. É um país predominantemente rural que se tornou uma das maiores economias mundiais da atualidade ...