O Afeganistão tem uma história colonial distinta das outras regiões asiáticas. Durante o
imperialismo do fim do século XIX, o país chegou a ser invadido por tropas britânicas, mas não foi
efetivamente colonizado, pois era um “Estado-tampão” que separava o Império Russo e domínios
coloniais do Império Britânico. Se por um lado o país evitou, assim, a exploração colonial, por
outro teve seu desenvolvimento econômico muito reduzido.
Durante o século XX, o Afeganistão foi um país independente, mas que passou por diversas
mudanças de regimes e golpes de estado.
Em 1978, no contexto da Guerra Fria, partidos de
orientação comunista apoiados pela União Soviética tomaram o poder no país, o que também
deu início à insurgência de grupos armados oposicionistas. Em 1979, tropas soviéticas invadiram o
Afeganistão, dando início a uma ocupação que duraria até 1989. Durante esse período, o exército
soviético lutou contra os mujahidins, combatentes islâmicos que foram apoiados por diversos
países, sobretudo pelos Estados Unidos. A guerra vitimou aproximadamente 15 mil soviéticos e,
estima-se, mais de 1 milhão de afegãos.
O Afeganistão ganhou a atenção mundial ao derrotar as tropas da União Soviética em 1989, após 10 anos de uma ocupação comparável à Guerra Fria. Mergulhado alguns anos na guerra civil, o Afeganistão novamente despertou a atenção da comunidade internacional quando, em 1996, a facção islâmica fundamentalista denominada Talibã tomou o poder. Instalou-se então no país uma ditadura, cuja principal característica é a manutenção radical das tradições religiosas e culturais do Islã.
Após a retirada das tropas soviéticas, o Afeganistão mergulhou em uma guerra civil que
resultou na tomada do poder pelo grupo extremista islâmico Talibã, uma das principais facções
do conflito e que recebeu forte apoio do serviço secreto paquistanês.
Esse cenário político-religioso favoreceu a aliança do país com grupos terroristas que combatiam a ocidentalização dos costumes nas sociedades árabes, representada, principalmente, pela influência política, econômica e cultural estadunidense nos países muçulmanos. Em setembro de 2001, o mundo assistiu a uma violenta demonstração desses impasses. Em ações planejadas, terroristas atacaram as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, em Washington, causando a morte de aproximada - mente 3 mil pessoas.
O impacto das cenas transmitidas em tempo real causou comoção, angústia e incerteza. Boa parte do mundo se solidarizou com o povo estadunidense. Ao mesmo tempo, buscava-se entender as razões históricas da tragédia, lançando novos olhares sobre a geopolítica dos Estados Unidos em relação às nações do Oriente Médio e da Ásia central. O governo estadunidense, após investigação, atribuiu a autoria dos atentados à rede terrorista Al Qaeda, liderada pelo árabe saudita Osama Bin Laden.
Em poucas semanas, o presidente estadunidense, George W. Bush, que estava em seu primeiro ano de mandato, adotou uma política militarista: organizou uma coalizão internacional contra o terrorismo e iniciou uma caçada contra Bin Laden, chegando a oferecer vultosa recompensa para quem o capturasse.
Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, uma coalizão internacional liderada
pelos Estados Unidos invadiu o Afeganistão, no contexto da guerra contra o terrorismo interna
cional, derrubou o governo talibã e iniciou uma ocupação militar do país que duraria quase 20
anos. Durante esse período, o novo governo e seus aliados (Estados Unidos, Reino Unido, Canadá,
entre outros) lutaram contra diversos grupos insurgentes, entre eles o próprio Talibã.
A ironia do fato é que, na década de 1980, Bin Laden trabalhara para a CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, que, durante a Guerra Fria, realizava serviços de espionagem internacional e treinava guerrilheiros pró-capitalistas.
Da invasão à retirada das tropas estadunidenses Em outubro de 2001, a fim de capturar Bin Laden, os Estados Unidos declararam guerra ao Afeganistão, país que supostamente acolhera o terrorista. O fracasso na captura de Osama Bin Laden fez crescer a preocupação estadunidense com a segurança nacional e diminuir a popularidade de George W. Bush. Mesmo assim, Bush foi reeleito em 2004 e, em sua política externa, priorizou o combate ao terrorismo e aos países que representavam ameaças aos interesses dos Estados Unidos.
Em 2009, após ser eleito presidente dos Estados Unidos, Barack Obama prosseguiu a busca por Bin Laden, que foi capturado e morto em maio de 2011, no Paquistão, por soldados estadunidenses. Porém, isso não significou o fim dos conflitos no Afeganistão. O Talibã continuou lutando para recuperar o controle do Estado e derrubar o governo apoiado pelos Estados Unidos. No início de 2018, as forças do Talibã agiam em grande parte do país, e o governo afegão tentou iniciar negociações de paz para reconhecer o grupo como um ator político legítimo.
A partir de 2011, as tropas internacionais começaram a se retirar gradualmente do país e o
ambiente de segurança se deteriorou ainda mais com a escalada de ataques de grupos insurgentes.
Durante o governo de Donald Trump (2017-2021), iniciaram-se as tratativas para a retirada das tropas estadunidenses do Afeganistão, na expectativa de que forças políticas afegãs reassumissem o controle do país.
Em 2020, os Estados Unidos firmaram um
acordo com o Talibã para a retirada de suas tropas
do Afeganistão. Em contrapartida, o grupo afegão
se comprometeu a cortar laços com o grupo terrorista Al-Qaeda.
A retirada dos estadunidenses consumou-se em agosto de 2021, durante o governo de Joe Biden, que havia tomado posse em janeiro afirmando que encerraria a mais longa guerra em que o país se envolvera. No ano de 2021, o último soldado estadunidense deixou o solo afegão.
No entanto, o governo afegão, reconhecido internacionalmente, não possuía força militar para contrapor os insurgentes talibãs, e a retirada esta dunidense ocorreu às pressas em meio aos rápidos avanços militares do grupo fundamentalista.
A
comunidade internacional criticou duramente a
forma como se deu a retirada das tropas, que ficou
marcada por tumultos, com milhares de afegãos
que haviam colaborado com a presença estadunidense tentando escapar do país por medo de
represálias por parte do Talibã.
Com a retirada do exército dos Estados Unidos
do Afeganistão, o Talibã - ao contrário do que se esperava derrubou rapidamente
o governo e retomou o controle central do país e ocupou rapidamente as principais cidades do país.
Agora no poder, o grupo tem adotado medidas
restritivas em relação à liberdade das mulheres e
imposto uma interpretação mais estrita da lei islâ
mica a toda a população.
Embora tenha tomado
o controle do país, o Talibã tem sido contestado
interna e externamente. O grupo vem sofrendo
críticas por parte de outros países e de organis
mos internacionais por não respeitar os direitos
humanos.