Introdução
Um dos principais blocos econômicos da atualidade teve origem no Mercado Comum Europeu (MCE), criado em 1957 por meio do Tratado de Roma. Inicialmente, apenas seis países faziam parte do bloco. Em 1992, o Tratado de Maastricht substituiu o de Roma, e o antigo MCE passou a se chamar União Europeia (UE), integrando 12 países. Porém, esse número aumentou significativamente, chegando a 27 em meados de 2022. Entre as mudanças propostas pelo Tratado de Maastricht estava a criação de uma União Econômica Monetária, com o objetivo central de criar uma moeda comum para os Estados-membros, o euro, que começou a circular em 2002. Além disso, definiu-se que os cidadãos da União Europeia estão integrados a um mercado unificado e sujeitos a uma política externa e de segurança comum, tendo o direito de circular livremente entre as fronteiras dos países-membros. Desde a origem da União Europeia (UE), em 1944, como uma zona de livre-comércio, até hoje, como um mercado comum e uma união econômica e monetária, muitas foram as etapas, os acordos e os desafios enfrentados pelo bloco. Por um lado, a UE se consolidou como uma potência comercial e geopolítica, desempenhando papel determinante em negociações internacionais, como na Organização Mundial do Comércio (OMC), e posicionando-se em questões socioambientais, como o aquecimento global.
A caminho da União
A União Europeia (UE) é o fruto de uma série de iniciativas destinadas a associar, em um projeto econômico e político comum, os países situados geograficamente na Europa. Esse processo integrador iniciou-se em 1957 com a assinatura do Tratado de Roma, criando-se assim a Comunidade Econômica Europeia (CEE). A integração dos países europeus na comunidade foi feita a partir de seis adesões (1973, 1981, 1986, 1995, 2004 e 2007) e acontecimentos tão decisivos como a assinatura do Ato Único Europeu, em 1986; o Tratado de Maastricht, em 1992; a circulação efetiva da moeda única europeia (euro), em 2002; e o acordo sobre a Constituição Europeia (2004). A União Europeia foi criada em 1992 na cidade de Maastricht (Países Baixos). É um organismo supranacional que substituiu juridicamente a Comunidade Europeia, esta originada da Comunidade Econômica Europeia (CEE).
As primeiras instituições europeias
A atual União Europeia deve ser contextualizada em um processo de criação de organizações internacionais regionais da Europa ocidental, iniciado depois da Segunda Guerra Mundial.
Assim, em 1949, nasceu em Londres o Conselho da Europa, formado por 10 países democráticos da Europa ocidental (Noruega, Suécia, Dinamarca, Reino Unido, Irlanda, Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, França e Itália). Essa organização tinha como objetivo defender os princípios da democracia e fomentar a cooperação econômica, cultural, científica e jurídica entre os Estados-membros.
O primeiro organismo comum que permitiu aos Estados europeus o desenvolvimento de uma cooperação estreita e eficaz foi a Organização Europeia de Cooperação Econômica (OECE), criada em Paris em 1948 com o objetivo de distribuir as ajudas do plano Marshall. Posteriormente, em 1960, essa organização deu lugar à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), na qual, progressivamente, foram sendo integrados os países industrializados do mundo ocidental.
A criação do Benelux, união formada pelos Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo, entrou em vigor em 1948, tornando-se essa a primeira união alfandegária estável da Europa no séc. XX.
Do Mercado Comum Europeu à União Europeia
Em 9 de maio de 1950, Robert Schuman, ministro das Relações Exteriores da França, tornou público um plano de construção de uma Europa unida, elaborado junto com Jean Monnet. O plano concebia a unificação europeia como um processo lento, baseado em ações específicas que deveriam ser iniciadas na política econômica.
O plano Schuman, acolhido favoravelmente pela Alemanha, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo, materializou-se em maio de 1953 com a assinatura do Tratado de Paris, por meio do qual se constituiu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) entre esses cinco países e a França.
Três anos mais tarde, os ministros das Relações Exteriores dos seis Estados-membros da CECA decidiram estender a experiência no setor do carvão e do aço ao resto das atividades econômicas e à energia nuclear. Desse modo, em 25 de março de 1957, criaram-se, mediante a assinatura do Tratado de Roma, a Comunidade Econômica Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia da Energia Atômica (CEEA ou Euratom). Ambas entraram em funcionamento em 1 de janeiro de 1958.
O Tratado de Roma criou mecanismos de tomada de decisão que permitiram defender tanto os interesses nacionais como a visão comunitária. De 1958 a 1970, a abolição dos direitos alfandegários teve repercussões surpreendentes: o comércio intracomunitário foi multiplicado por seis, ao passo que as trocas comerciais da CEE com o resto do mundo triplicaram. No mesmo período, o produto nacional bruto médio da CEE aumentou 70 %.
A renúncia dos Estados-membros a uma parte da sua soberania a favor da Comunidade Europeia, dotada de competências próprias e de poder normativo independente, constituiu uma ordem jurídica própria com a primazia sobre o direito interno de cada Estado.
As adesões à Comunidade Europeia
O Reino Unido recusou-se a aderir ao Tratado de Roma para manter íntegra a sua soberania em matéria econômica. Além disso, formou com a Dinamarca, Noruega, Suécia, Suíça, Áustria e Portugal a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), que estabeleceu uma zona de livre comércio entre os países-membros, mas sem incluir nenhum acordo quanto a suas políticas econômicas.
O rápido desenvolvimento econômico da CEE levou o Reino Unido a mudar de atitude, e em 1961 o país pediu sua incorporação à organização. De Gaulle, presidente da França, desconfiado das pretensões britânicas, vetou o pedido. Quando, em 1969, De Gaulle deixou o poder, as conversações foram retomadas. Em 1972 o Reino Unido, a Irlanda e a Dinamarca integraram-se ao Mercado Comum Europeu (MCE).
Durante a década de 1980, a CE expandiu-se com a incorporação da Grécia (1981), Portugal e Espanha (1986). Em 1990, a unificação da Alemanha implicou a ampliação da CE com o território da antiga República Democrática Alemã (RDA). Em janeiro de 1995, a Suécia, a Áustria e a Finlândia passaram também a fazer parte da UE.
Em 2002, a Turquia teve reconhecido o seu estatuto de candidato oficial, mas continua sem preencher todos os requisitos para a adesão. Sua incorporação levanta uma forte polêmica entre os outros Estados-membros.
Em 1 de maio de 2004 celebrou-se em Dublin a maior de todas as expansões da UE, com a adesão de 10 novos membros, 8 deles pertencentes aos países da Europa central e oriental (Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia e República Tcheca) e duas pequenas ilhas do Mediterrâneo (Chipre, sendo excluído o território turco do norte da ilha, e Malta).
Em 2007 Bulgária e Romênia (antigos membros do Pacto de Varsóvia) passaram também a fazer parte da UE.
A criação da União Europeia
Os tratados fundadores (CECA, CEE e Euratom) foram objeto de três profundas reformas, originando importantes modificações institucionais. Esses tratados são: o Ato Único Europeu (assinado em Luxemburgo e em Haia em 1986, em vigor desde 1987), o Tratado da União Europeia (assinado em Maastricht em 1992, em vigor desde 1993), o Tratado de Amsterdam (assinado em 1996, em vigor desde 1999) e, finalmente, o Tratado de Nice (2001).
O Ato Único Europeu (1986) estabeleceu o Mercado Único Europeu através da eliminação das barreiras que impediam a total liberdade de circulação de pessoas, produtos e capitais. Por outro lado, a CEE assumiu novas competências (meio ambiente, pesquisa, etc.), foram atribuídos mais poderes ao Parlamento Europeu e iniciou-se a cooperação política europeia. Para promover o desenvolvimento dos países comunitários do sul, recorreu-se à política dos fundos estruturais.
A refundação da CEE culminou em 7 de fevereiro de 1992 com a assinatura do Tratado da União Europeia, em Maastricht. Esse acontecimento teve como resultado um salto qualitativo no processo de integração europeu, pois modificou e aprofundou os acordos do Tratado de Roma de 1957 e transformou a CEE na atual União Europeia.
A concretização do Tratado de Maastricht enfrentou enormes dificuldades. Em 1996, foi assinado em Amsterdam o Novo Tratado para a Europa, que fixou como critério fundamental o aprofundamento do processo de uma Europa social e políticamente unida estabelecido em Maastricht. No âmbito da política externa, estabeleceu-se a figura do secretário-geral do Conselho de Ministros.
No entanto, o Tratado de Amsterdam fracassou no seu objetivo mais ambicioso: a reforma das instituições comunitárias, necessária para uma futura expansão da UE. O mesmo aconteceu com o Tratado de Nice (2001), que não conseguiu eliminar o direito de veto dos Estados-membros. A declaração de Laeken (Bruxelas), celebrada no mesmo ano, pôs em funcionamento a Convenção Europeia, em que os integrantes tinham de apresentar propostas para a definição das competências dos Estados e da União, a redação de uma Constituição europeia e a reformulação das instituições comunitárias.
Em 1 de janeiro de 2002 teve início a circulação efetiva da moeda única europeia, o euro, em 12 dos Estados-membros.
Finalmente, e após longas negociações, em 18 de junho de 2004, o Conselho Europeu anunciou a Constituição europeia, que para se tornar efetiva necessita da ratificação de todos os países da UE. O objetivo da Constituição é agilizar o funcionamento e procedimentos da União e evitar a superposição de tratados e protocolos assinados pelos vários Estados-membros.
Os princípios fundamentais da União Europeia
A construção de uma Europa unida e, por conseguinte, forte fundamenta-se em princípios com os quais os Estados devem se sentir identificados e comprometidos e cuja aplicação é controlada pelas instituições da Comunidade Europeia.
Porém, a UE não substitui as várias comunidades europeias. É apenas uma estrutura jurídica complexa integrada pelas três organizações internacionais (CEE, CECA e CEEA) e por um sistema institucionalizado de cooperação entre os seus membros.
Essa estrutura foi definida graficamente pelos três pilares, sobre os quais se assenta a União: a Comunidade Europeia, a política externa e de segurança comum (PESC) e a cooperação policial e judiciária.
No que se refere à Comunidade Europeia, as instituições comunitárias podem estabelecer normas de direito nos âmbitos políticos cuja competência tenha sido transferida. Esse direito é aplicável diretamente aos Estados-membros com primazia sobre as legislações nacionais. No núcleo da CE encontra-se o mercado interno, com as suas liberdades fundamentais e o seu regime em matéria de competência.
O segundo pilar é a cooperação no domínio da Política Externa e da Segurança Comum (PESC). Esse pilar pretende expressar a identidade da União no âmbito internacional mediante a realização de uma política de defesa comum.
O terceiro pilar é a cooperação policial e judiciária, que está diretamente relacionada à materialização da liberdade de circulação das pessoas e bens dentro do território da União. Nesse sentido, os Estados-membros consideram de interesse comum cooperar na prevenção e luta contra a delinquência, o racismo e a xenofobia. Por esse motivo, foi criada a Europol, a Unidade Europeia de Polícia. Na área da cooperação judiciária, tenta-se facilitar e acelerar a cooperação nos procedimentos judiciais e na execução das sentenças, agilizar os mecanismos de extradição e estabelecer disposições mínimas comuns sobre as infrações penais.
A UE é uma organização internacional sui generis cuja particularidade essencial reside na sua estrutura. Por um lado, a CE é uma entidade autônoma de poder com direitos de soberania próprios e um ordenamento jurídico independente dos Estados-membros, a que estão submetidos tanto os países quanto os seus cidadãos nas competências transferidas à CE. Por outro lado, essa estrutura se completa com a cooperação entre os Estados-membros nos terceiro e quarto pilares.
As instituições comunitárias
Os Estados-membros aceitaram transferir uma parte da sua soberania para instituições independentes que representam os interesses comunitários, nacionais e dos cidadãos. A Comissão Europeia defende tradicionalmente os interesses comunitários, todos os governos nacionais estão representados no Conselho da União e os seus cidadãos elegem diretamente o Parlamento Europeu.
As responsabilidades da União foram aumentando progressivamente durante os últimos anos, motivo pelo qual as instituições comunitárias cresceram e são mais numerosas. A esse "triângulo institucional" acrescentam-se outras três instituições básicas (o Tribunal de Justiça, o Tribunal de Contas e o Conselho Europeu) e cinco órgãos comunitários.
• Parlamento Europeu
O Parlamento Europeu, com sede em Estrasburgo, é eleito de cinco em cinco anos por sufrágio universal direto (desde 1979). Nesse organismo estão representadas as grandes tendências políticas existentes nos países-membros, uma vez que o Parlamento está organizado em sete grupos políticos e não por blocos nacionais.
As principais funções do Parlamento Europeu são as seguintes:
· — Análise e adoção da legislação europeia, que é partilhada com o Conselho da União Europeia.
· — Aprovação do orçamento da União Europeia.
· — Controle democrático sobre a Comissão e o conjunto de todas as instituições. Aprovação da nomeação dos seus membros e a possibilidade de censurar essa nomeação.
• Conselho da União Europeia
O Conselho da União Europeia (anteriormente denominado Conselho de Ministros) constitui o principal órgão legislativo e de decisão da UE, e nele estão representados os governos dos Estados-membros. O Conselho de Assuntos Gerais agrupa os ministros das Relações Exteriores de todos os Estados-membros. Assim, o Conselho Europeu é a designação atribuída às reuniões regulares dos chefes de Estado ou de Governo dos países da União Europeia. Criado em 1974 e institucionalizado em 1986 pelo Ato Único Europeu, esse órgão se reúne pelo menos quatro vezes por ano. O seu objetivo é atribuir à União Europeia o impulso necessário para o seu desenvolvimento e, assim, poder definir a orientação política geral.
Os membros são indicados pelos ministros das Relações Exteriores dos Estados-membros e por um elemento da Comissão. O Conselho Europeu reúne-se pelo menos uma vez por semestre, sob a presidência do chefe de Estado ou de governo que preside ao Conselho da União, uma presidência que é rotativa por semestre.
A presidência da União Europeia é ocupada rotativamente por cada Estado-membro por períodos de seis meses, e a ordem é decidida pelo Conselho por unanimidade. A troca de presidência dá-se em 1.º de janeiro e em 1.º de julho de cada ano.
• A Comissão Europeia
A Comissão Europeia personifica e defende o interesse geral da União. O presidente e os membros da Comissão (comissários responsáveis por áreas específicas) são nomeados pelos Estados-membros, com a prévia aprovação do Parlamento Europeu. Atuam, teoricamente, com total independência em relação aos seus governos. Desde a adesão da Áustria, da Finlândia e da Suécia, a Comissão passou a ser formada por 20 comissários (Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha têm dois e os outros Estados têm apenas um). Esse número será alterado para 25 com a expansão de 2004 e com a entrada de 10 novos membros.
A Comissão é o motor do sistema institucional comunitário e o seu objetivo é o de redigir as propostas apresentadas para nova legislação europeia. Além disso, a Comissão garante que as decisões da União sejam implementadas e exerce o controle da forma como os fundos são aplicados. Também observa o correto cumprimento dos tratados e da legislação europeia.
• O Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias
O Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias (TJCE) garante o respeito e a uniformidade da interpretação do direito comunitário. É de sua competência a resolução de litígios em que as partes em questão são os Estados-membros, as instituições comunitárias, as empresas ou particulares.
É composto de 27 juízes, sendo designado um por cada Estado-membro. O cidadão particular também pode abrir processos relacionados com as instituições europeias.
• O Tribunal de Contas Europeu
Cabe ao Tribunal de Contas Europeu controlar a legalidade e a regularidade da entrada do dinheiro e dos gastos da União Europeia, assim como assegurar a gestão financeira do Orçamento europeu.
• O Conselho Europeu
O Conselho Europeu (ratificado pelo Tratado de Maastricht) é composto dos chefes de Estado ou de governo dos Estados-membros e do presidente da Comissão. Reúne-se pelo menos duas vezes por ano e encarrega-se de fixar as diretrizes políticas para a integração europeia, que adotam o formato de mandatos para os trabalhos do Conselho da União Europeia e da Comissão Europeia.
• Outros órgãos comunitários
· — Banco Central Europeu (BCE): estabelece e aplica a política monetária europeia, dirige as operações de câmbio e garante o bom funcionamento dos sistemas de pagamento.
· — Comitê Econômico e Social: é o representante perante a Comissão, o Conselho e o Parlamento Europeu dos pontos de vista e interesses da sociedade civil organizada.
· — Comitê das Regiões: zela pelo respeito da identidade e pelas prerrogativas regionais e locais.
· — Banco Europeu de Investimento: é a instituição financeira da União Europeia. Financia projetos de investimento e contribui para um desenvolvimento equilibrado da União.
· — Provedor da Justiça: tem amplas funções de investigação, de tal modo que pode ser consultado por qualquer pessoa física (cidadãos) ou jurídica (instituições ou empresas) que resida na União e se considere vítima de um ato de "má administração" por parte das instituições ou órgãos comunitários.
A União Econômica e Monetária
A criação de um espaço onde circulem livremente mercadorias, serviços, trabalhadores e capitais foi o núcleo central da Comunidade Econômica Europeia, atualmente conhecida por Mercado Comum Europeu. O processo de eliminação dos contingentes e das taxas alfandegárias para o comércio entre os países comunitários culminou no dia 1 de julho de 1968. No entanto, 17 anos mais tarde, o Livro Branco da Comissão constatava a existência de importantes obstáculos físicos (entre eles, as formalidades aduaneiras e os controles nas fronteiras) e técnicos (como algumas especificações técnicas exigidas dos produtos).
O Ato Único Europeu, cujo objetivo era concluir a criação do mercado interno único, impulsionou a eliminação dos controles nas fronteiras, o reconhecimento mútuo das regulamentações técnicas e a harmonização das legislações, com o objetivo de alcançar um verdadeiro mercado interno único em 1 de janeiro de 1993.
O avanço progressivo do processo de integração permitiu o desenvolvimento de uma série de políticas comuns. Em termos financeiros, as duas políticas comunitárias que representam os maiores gastos são: a Política Agrícola Comum, com pouco menos da metade do gasto do orçamento comunitário, e a política de coesão econômica e social, com pouco mais de um terço do gasto.
A existência de uma Política Agrícola Comum (PAC) reside no fato de o setor agrícola dos seis países fundadores da Comunidade Econômica Europeia se encontrar fortemente controlado pelas suas próprias leis internas. A livre circulação de produtos agrícolas entre os seis países requeria a unificação das políticas agrícolas, processo que se desenvolveu mediante a passagem para as instituições da União Europeia dos mecanismos que estabelecem os preços, controlam as produções e regulamentam o comércio agrícola externo.
Um fundo financeiro, o Fundo Europeu de Orientação e de Garantia Agrícola (FEOGA), foi criado para financiar as intervenções no setor. A política de mercados e preços completa-se com a política socioestrutural, cujo objetivo é a modernização das estruturas agrícolas por meio de incentivos aos investimentos nas explorações, da formação dos agricultores e da incorporação de jovens ao setor agropecuário.
Além disso, o processo de integração europeu encaminhou-se no sentido de reduzir as disparidades de rendimento entre os territórios e fomentar a igualdade de oportunidades para todos os cidadãos.
A UE concede ajuda financeira, por meio dos fundos estruturais, para programas plurianuais de desenvolvimento regional e rural, reconversão territorial e luta contra o desemprego. Esses fundos são os seguintes:
· — Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER): financia as infraestruturas, investimentos produtivos para criar emprego, projetos de desenvolvimento local e ajudas a pequenas e médias empresas nas regiões menos desenvolvidas e nas regiões em reconversão.
· — Fundo Social Europeu (FSE): tem como objetivo a adaptação da população ativa às mudanças do mercado de trabalho, assim como a inserção profissional dos desempregados e dos grupos desfavorecidos, mediante o financiamento de ações de formação e de sistemas de ajuda à contratação.
· — Fundo Europeu de Orientação e de Garantia Agrícola (FEOGA): financia ações no âmbito do desenvolvimento rural.
· — Fundo de Coesão: tem como finalidade financiar os projetos relacionados com o meio ambiente e com o aperfeiçoamento das redes de transporte nos Estados-membros menos desenvolvidos.
A estabilidade dos câmbios entre as moedas europeias foi sempre um dos principais objetivos da Comunidade Europeia para o pleno desenvolvimento das trocas comerciais.
A tentativa mais consistente para estabelecer um sistema de câmbios fixo entre as moedas europeias foi o Sistema Monetário Europeu (SME), que começou a funcionar em março de 1979 com uma margem de oscilação estabelecida inicialmente em 2,25 % para algumas moedas e em 6 % para outras. O SME complementou-se com a ECU (European currency unit ou unidade monetária europeia), constituída por percentagens específicas de cada moeda comunitária. A ECU passou a ser a unidade de valor com que se estabeleceram os orçamentos comunitários.
As crises que o SME atravessou no biênio 1992-1993, saldado com notáveis desvalorizações, o abandono pela libra esterlina do mecanismo do câmbio fixo e a ampliação das oscilações na ordem de 15 % não impediram o prosseguimento do projeto da União Econômica e Monetária (UEM). Em 1 de janeiro de 1994 iniciava-se a segunda fase do processo, com a criação do Instituto Monetário Europeu, que preparou a política monetária da UEM e a sua aplicação pelo Banco Central Europeu (BCE), o que sucedeu efetivamente em 1 de junho de 1998. Nessa fase foi estabelecido o nome de euro para a moeda única criada com base na ECU.
A terceira e última fase do Sistema Monetário Europeu iniciou-se em 1 de janeiro de 1999 com a fixação irreversível dos tipos de câmbios entre as moedas participantes na UEM e terminou em 1 de janeiro de 2002 quando foram postas em circulação as notas e as moedas do euro em 12 Estados da UE (15 em 2008). Não participaram da Zona do Euro o Reino Unido, a Suécia e a Dinamarca.
A União Europeia exige que os países da Zona do Euro mantenham o déficit público abaixo de 3 % do Produto Interno Bruto (PIB), que a taxa de inflação não supere em 1,5 ponto percentual a média da taxa dos três países com melhor taxa de inflação e que a dívida pública não ultrapasse 60 % do PIB (critérios definidos no Tratado de Maastricht). Além disso, os países candidatos à Zona do Euro devem deixar flutuar as suas moedas em uma determinada margem contra o euro e respeitar os limites previstos para as taxas de juros.
Seis dos novos Estados-membros (Lituânia, Estônia, Eslovênia, Eslováquia, Malta e Chipre) aderiram ao euro entre 2006 e 2009.
O Brexit
O Reino Unido aderiu à Comunidade Europeia em 1973, mas, desde o início, permaneceu fora da zona do euro. Em junho de 2016, os britânicos foram convocados a participar de um referendo para decidir a permanência do Reino Unido na União Europeia. A maioria (51,9%) votou pela saída dos britânicos do bloco econômico, em um processo que ficou conhecido por Brexit, termo formado pela junção das abreviações das palavras Britan (Grã-Bretanha) e exit (saída).
O resultado do referendo tem explicações econômicas, políticas e sociais. Entre elas estão o desejo popular de resgatar a soberania do governo britânico sobre as leis do Parlamento Europeu, a expectativa de que as contribuições do Reino Unido que iam para a União Europeia sejam destinadas aos setores internos, principalmente à saúde, e, para alguns, o fortalecimento do discurso nacionalista e o aumento da hostilidade contra imigrantes.
Em 2015, cerca de 630 mil estrangeiros entraram no Reino Unido. Diante desse quadro, os defensores do Brexit atacaram o alto custo da imigração, que prejudicaria a prestação dos serviços essenciais à comunidade do país. No sudeste do Reino Unido, por exemplo, onde muitos trabalhadores estavam desempregados ou viviam de trabalhos precários, o discurso contra a imigração e pela saída da União Europeia teve mais adesão. A saída dos britânicos da União Europeia deu novo ânimo aos movimentos separatistas na Escócia e na Irlanda do Norte, que preferem fazer parte da União Europeia a integrar o Reino Unido. Na Holanda, na França e na Itália, grupos de ultradireita passaram a defender a realização de uma consulta popular para decidir a permanência ou não desses países no bloco europeu. Segundo analistas e políticos, esses movimentos representariam uma reação em cadeia motivada pelo Brexit.
A crise na União Europeia
A crise econômica mundial de 2008 também abalou vários países da zona do euro. Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha foram os mais afetados. Isso aconteceu porque esses países não tinham mecanismos de defesa para evitar a queda da atividade econômica e a fuga de investidores e, ao mesmo tempo, manter as metas estabelecidas pelo Tratado de Maastricht. Conforme o tratado, a dívida pública e o déficit do orçamento não poderiam ultrapassar, respectivamente, 60% e 3% do PIB. Todos os países citados superaram os dois tetos. Se não fizessem parte da zona do euro, eles poderiam tentar recuperar a economia usando como estratégia a desvalorização de suas moedas nacionais. Mas como a moeda é única, se isso fosse feito, em última análise, teria início a dissolução da União Europeia.
No entanto, a crise econômica deflagrada em 2008 e intensificada em 2011, que afetou principalmente Grécia, Por tugal, Espanha, Irlanda e Itália, demonstrou também como a existência de uma moeda única pode gerar entraves para a solução de problemas financeiros em alguns países, afinal as decisões toma das afetam todos os integrantes da união monetária.
O Banco Central Europeu, o FMI e o Banco Mundial, então, iniciaram uma ação para renegociar a dívida externa de Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha. A liberação de novos empréstimos, porém, foi condicionada ao cumprimento de rigorosas metas de controle dos gastos públicos.
Com o objetivo de cumprir essas obrigações, os governos desses países congelaram salários e aposentadorias e cortaram gastos, especialmente nos setores sociais, gerando fortes protestos populares. A queda do padrão de vida e o aumento do desemprego, principalmente entre os jovens, estão entre as consequências dessa crise.
A União Europeia no século XXI
A União Europeia, assim como os Estados Unidos e o Japão, constitui uma das
principais potências do cenário econômico mundial. A posição de destaque em
que se encontra o bloco europeu decorre, principalmente, do fato de seu PIB se
equiparar ao dos Estados Unidos e de seu comércio representar cerca de 17% do
total mundial.
Essa expressividade econômica alcançada pela União Europeia demonstra
que a integração dos países-membros desse bloco obteve grande sucesso.
Além de levar a Europa à condição de destaque no quadro econômico mundial,
a consolidação da União Europeia é responsável pela nova configuração do
panorama geopolítico.
O fortalecimento do bloco, associado ao fim da Guerra Fria, vem contribuindo
para o estreitamento dos laços políticos entre os países-membros, condição
fundamental para evitar o surgimento de conflitos no continente europeu.
A
inclusão de antigos países socialistas do Leste Europeu, como Polônia, Hungria
e República Tcheca, indica que o bloco se fortalecerá ainda mais num futuro
próximo. Assim, é possível que cicatrizes ideológicas, deixadas por décadas de
isolamento entre os países da Europa Ocidental (capitalista) e da Oriental
(socialista), possam ser eliminadas do continente.
A reunificação das antigas Alemanha Ocidental (capitalista) e
Alemanha Oriental (socialista), no final da década de 1980, fez
surgir a maior potência econômica da União Europeia
e a quarta economia do mundo, atrás apenas dos
Estados Unidos, da China e do Japão.
Atualmente,
a Alemanha abriga importantes centros
financeiros, como Berlim (capital do país),
Bonn e Frankfurt. Reúne também as mais
importantes aglomerações industriais da
Europa, como as dos vales dos rios Reno e
Ruhr e das cidades de Colônia e Hamburgo.
Os novos rumos da União Europeia deverão focar as principais questões que têm atingido o bloco
nos últimos anos. O desemprego, a desigualdade
econômica entre os novos e os antigos membros, as
questões demográficas, a atuação de grupos terroristas, a xenofobia e as grandes correntes migratórias
de refugiados para o continente são alguns dos
principais desafios.
Por causa dessas tensões internas, questiona-se
a eficiência do bloco em manter o projeto de integração dos países europeus. Movimentos nacionalistas
estão emergindo e buscando o distanciamento e até
mesmo a saída da União Europeia, caso do Brexit.
O Brexit refere-se à saída do Reino Unido do bloco
europeu aprovada pela população em referendo realizado em junho de 2016.
Esse processo é inédito e inaugura um momento histórico para o bloco.
As consequências do Brexit foram imediatas, embora a saída do Reino Unido
tenha ocorrido somente após um período de quatro anos, em 31 de janeiro
de 2020.
Desafios econômicos, políticos e sociais
Embora seja o mais antigo e bem-sucedido projeto de integração econômica em
nível mundial, a União Europeia apresenta alguns problemas que colocam em risco
o fortalecimento do bloco e a manutenção de sua hegemonia econômica e política.
Um desses problemas está ligado à disparidade econômica entre os países-membros. No bloco europeu, estão reunidas desde economias altamente indus
trializadas e avançadas tecnologicamente, como Alemanha e França, a países com
economias modestas, apoiadas basicamente em atividades primárias e terciárias,
como Grécia e Portugal.
Os contrastes regionais também são acentuados, sobretudo entre os países ocidentais do bloco, onde as condições socioeconômicas de suas populações são melhores que as dos países orientais do continente.
Alguns desses problemas, são desafios que precisam ser
resolvidos para que a União Europeia continue se consolidando como um megabloco de países. Conheça alguns
dos desafios atuais:
■Desigualdades econômicas entre os países-membros: enquanto alguns países, como a Alemanha, a Bélgica e a França, são altamente industrializados e servidos por moderna rede de transporte, outros, como
Portugal, Grécia e os recentes integrantes ex-socialistas do Leste Europeu,
são menos articulados à rede viária europeia e mantêm nas atividades
primárias e terciárias suas maiores fontes de divisas.
■ Problemas políticos e sociais: no cenário político, a atuação de grupos ter
roristas separatistas e a ascensão ao poder de partidos xenófobos têm posto
em risco a democracia em alguns países da União Europeia. Em relação aos
problemas sociais, as taxas de desemprego e o crescente índice de pobre
za nos países-membros vêm gerando sérias preocupações. Calcula-se que,
hoje, a taxa média de desemprego na União Europeia seja de 6,4% do total
da PEA, o que representa aproximadamente 16 milhões de desempregados.
■Retração do mercado de trabalho: a modernização dos setores indus
trial e de serviços e a transferência de empresas europeias para os países
subdesenvolvidos contribuíram para a diminuição dos postos de trabalho
e dos valores dos salários. Consequentemente, os governos dos países--membros são obrigados a destinar mais recursos para assistir à população mais pobre, que cresce gradativamente.
■ Diminuição dos subsídios agrícolas: o fim do protecionismo para as
atividades agropecuárias e a liberação da entrada de produtos agríco
las mais baratos no mercado europeu, por exemplo, vêm contrariando
os interesses dos produtores rurais de vários países-membros. Esses
produtores se sentem lesados pela diminuição do apoio financeiro ofe
recido pelo governo e pela abertura do mercado interno à concorrência
estrangeira.
■Cortes nos gastos públicos: os governos dos países-membros devem
adotar uma série de medidas econômicas com o objetivo de reduzir o
déficit público. Entre essas medidas estão: cortes nos gastos com servi
ços sociais, como educação e saúde; redução do quadro de funcionários
públicos; ampliação do tempo de serviço dos trabalhadores, aumentando
a idade mínima para se aposentar. Isso significa a perda de benefícios
sociais conquistados sobretudo nas últimas cinco décadas pelos traba
lhadores desses países.
■Saída do Reino Unido do bloco: em junho de 2016, os cidadãos do Reino
Unido votaram a favor da saída da União Europeia. Esse movimento ficou
conhecido na imprensa mundial como Brexit, contração das palavras em
inglês Britain e exit. Várias são as consequências da saída do Reino Unido
para a comunidade europeia; contudo, talvez a mais importante seja
na área econômica, com diminuição das transações comerciais entre os
ingleses e os demais europeus e vice-versa, resultando em perda do PIB
para a comunidade e para o Reino Unido.
O aumento do desemprego é um outro grave problema que atinge os países da
UE. A escassez de trabalho tem gerado um crescente número de pessoas em condi
ções de pobreza em países do bloco. A inserção cada vez maior de tecnologias no
sistema produtivo das indústrias, reduzindo o número de postos de trabalho, o au
mento crescente de imigrantes e a retração da economia mundial ocorrida ao longo
dos últimos anos são fatores que contribuem para o aumento do desemprego em
vários países europeus.
A crise dos refugiados na União Europeia
Nos últimos anos, a União Europeia recebeu um grande número de imigrantes
refugiados vindos, principalmente, de países do Oriente Médio e da África. Os países
mais desenvolvidos do bloco, por oferecerem melhores condições de vida e opor
tunidades de trabalho, têm sido o destino mais procurado. São milhares de pessoas
que, por motivos de guerras, conflitos e perseguições políticas e religiosas, deixam
seus países de origem em busca de abrigo.
As principais rotas de entrada ao continente europeu, percorridas pelos refugia
dos, acontecem pelos países banhados pelo Mar Mediterrâneo, como Espanha, Grécia
e Itália, e também pelo leste europeu.
As autoridades europeias têm procurado adotar medidas para controlar o intenso
fluxo de refugiados, entre elas o combate aos grupos de agenciadores (pessoas que
conduzem imigrantes ilegais na travessia de áreas de fronteiras mediante pagamento)
e o estabelecimento de cotas de imigrantes que podem embarcar em trens rumo ao
interior do continente.
No entanto, tais medidas ainda não atingiram soluções eficazes. A inexistência de
uma política comum entre os países europeus que trate da questão é um dos entra
ves que dificulta o combate à crise de refugiados no continente.