Introdução
Em 1859, portugueses e holandeses, que disputavam o controle do comércio de especiarias no Sudeste Asiático, dividiram a Ilha do Timor. A parte leste da ilha sob domínio de Portugal recebeu o nome de Timor Português, enquanto a parte oeste foi chamada de Timor Ocidental Holandês. Os portugueses exerceram autoridade indireta sobre o Timor Leste, aliando-se à elite local. Com a Revolução dos Cravos, em 1974, o governador do Timor formou uma coligação entre a União Democrática Timorense (UDT) e a Frente Revolucionária de Timor Leste Independente (Fretilin) a fim de discutir os caminhos para a independência da região. Em novembro de 1975, a Fretilin rompeu a coligação e declarou a independência do Timor Leste, mas no mês seguinte o país foi invadido pela Indonésia. O violento conflito durou até 1999, quando foi realizada uma consulta popular que decidiu pela independência do Timor Leste. Até 2002, a ONU permaneceu no país para assegurar a transição para um governo democraticamente eleito.
A época colonial
A ilha foi colonizada, desde o III milênio a.C., por grupos papuas e outras etnias melanésias, como os belu, que estabeleceram uma sociedade estruturada em cinco grandes categorias: os liuari (chefes e reis), os dato (nobres guerreiros), os ema-reino (plebeus livres), os ata (escravos) e os lutum (pastores nômades). Timor era conhecida de chineses e árabes que comerciavam com os autóctones as madeiras preciosas da ilha. Com a chegada dos portugueses, em 1520, iniciaram-se cinco séculos de ocupação colonial, com a resistência dos timorenses, que protagonizaram grandes rebeliões (1719, 1895, 1959), duramente reprimidas pelo poder colonial. Em 1640, Portugal e os Países Baixos, que tinham expulsado os portugueses de Malaca, assinaram um tratado que repartia a ilha entre as duas potências coloniais: os Países Baixos recebiam a parte ocidental de Timor (cedida à Indonésia em 1946) e Portugal mantinha o controle da região oriental. A exploração desmedida dos bosques provocou um verdadeiro desastre ecológico. O desflorestamento tornou a cultura do café a principal atividade econômica da ilha.
O fim do domínio português
Em meados da década de 1960, a oposição independentista de Timor-Leste começou a organizar-se e, em 1974, a luta pela independência estava espalhada por todo o território. O 25 de abril de 1974 teve consequências para o Timor, tendo sido legalizada a oposição independentista, que, em setembro, se unificou na Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin). Apesar das promessas do novo governo português, a administração colonial promoveu a criação da União Democrática de Timor (UDT), partidária de uma federação com Portugal e da manutenção do estatuto colonial. Por seu lado, a Indonésia fez o mesmo com a Associação Popular Democrática de Timor (Apodeti) para favorecer a integração do território na Indonésia. Em agosto de 1975, a UDT promoveu um golpe de Estado. Perante a situação, a Fretilin iniciou uma insurreição geral armada, controlando o país, e em 28 de novembro proclamou a independência criando a República Democrática de Timor-Leste, que não foi reconhecida por Portugal. Em 7 de dezembro, tropas indonésias invadiram o território, que foi anexado à Indonésia (1976) com a aprovação da Assembleia do Povo, formada por membros da UDT e da Apodeti. A anexação não foi reconhecida pela ONU, mas sim pela Austrália (1977).
A ocupação indonésia
A Fretilin, obrigada a abandonar as cidades, continuou a luta armada, apoiada por Portugal e por países socialistas. Em 1978, Nicolau dos Reis Lobato, presidente da República e líder da Fretilin, foi morto em combate. Para acabar com a resistência, a Indonésia aplicou uma brutal política de genocídio que custou a vida a um terço dos timorenses, apesar das solicitações da ONU (1982) para que abandonasse o território. Em 1988, a aliança entre a Fretilin e a UDT levou à formação da Convergência Nacionalista. Em 1989, uma rebelião estudantil provocou graves incidentes em Dili, onde foram destruídas as casas dos oficiais do exército indonésio. A colocação de um cartaz favorável à Fretilin durante a celebração de uma grande missa, rezada em Dili pelo papa João Paulo II, causou uma brutal repressão. O tetum, a língua nacional, foi proibido. Procedeu-se à esterilização forçada de milhares de mulheres timorenses e houve numerosas carnificinas. Por outro lado, foi levada a cabo uma intensa política de transmigração que pretendeu tornar os timorenses uma minoria. Em 1991, durante o enterro pacífico de um estudante assassinado, o exército disparou indiscriminadamente contra a multidão, provocando dezenas de mortos. Organizações internacionais de defesa dos Direitos Humanos acusaram os governos dos EUA, Reino Unido, Austrália, Países Baixos e Japão, cujas empresas detinham participação importante na exploração das jazidas petrolíferas do mar de Timor, de não concederem importância a este genocídio. A Convergência Democrática solicitou ao governo português que intercedesse perante a UE para pôr fim à relação comercial preferencial que mantinha com a Indonésia, no seio da ASEAN. Em novembro de 1992, o líder timorense Xanana Gusmão foi detido. Em 1993, a ONU chamou a atenção para a violação constante dos direitos humanos em Timor-Leste. Três anos depois, José Ramos Horta, um ativista timorense exilado, e o bispo católico D. Ximenes Belo receberam o prêmio Nobel da Paz, apesar dos protestos da Indonésia. Em fevereiro de 1999, o ministro da Informação da Indonésia manifestou a disposição do seu Governo em considerar a independência do Timor se a sua população não aceitasse o projeto de autonomia.
A independência
Em maio de 1999, representantes dos governos de Lisboa e Jacarta acordavam os pormenores do referendo no qual os timorenses deviam decidir entre as duas opções. Semanas antes do referendo, grupos paramilitares pró-indonésios iniciaram uma campanha de terror contra os militantes independentistas que produziu centenas de mortos e a deslocação de milhares de refugiados em direção à parte ocidental da ilha. Finalmente, o presidente indonésio, Habibie, anunciou a libertação de Xanana Gusmão e comprometeu-se em aceitar o resultado do referendo, que ocorreu em 30 de agosto de 1999. Com 98 % de participação, o sim à independência obteve 78 % dos votos. Os paramilitares reiniciaram então as ações terroristas. Duas semanas depois, chegava a Dili uma força de interposição da ONU (Interfet) que travou os paramilitares e tomou posições ao longo da fronteira. Em 25 de outubro foi proclamada a soberania de Timor, com Sérgio Vieira de Melo como presidente da Autoridade de Transição para o Timor. Xanana Gusmão começou por fazer parte do Conselho Consultivo. Em fevereiro de 2000, Vieira de Melo tomou o comando da Interfet. Porém, a atuação dos paramilitares continuou a impedir a chegada de ajuda humanitária aos milhares de refugiados que ainda se encontravam na parte oeste da ilha. Em maio de 2002, Xanana Gusmão foi eleito presidente. Em fevereiro de 2002 o Timor Oriental incorporou-se ao Movimento de Países não-Alinhados (NOAL) e em setembro do mesmo ano a Assembleia Geral da ONU aceitou a adesão do Timor Oriental que foi convertido no Estado-membro 191 das Nações Unidas. Em maio de 2005, Indonésia e Timor Oriental criaram a Comissão para a Verdade e a Amizade, destinada a investigar os crimes e abusos cometidos no país asiático durante o período de ocupação (1976-1999) pelo exército e as milícias paramilitares indonésias. As eleições presidenciais de 2007 deram como vencedor ao primeiro ministro José Ramos-Horta, um dos principais líderes da independência. Depois de tomar posse do cargo, nomeou Gusmão como primeiro ministro. Em 11 de fevereiro de 2008, houve uma tentativa de golpe de Estado liderada por Alfredo Reinado. Os soldados rebeldes, em vários atentados, dispararam contra o primeiro ministro, Xanana Gusmão, que saiu ileso do ataque, e contra o presidente Ramos Horta, que ficou gravemente ferido. Reinado morreu no enfrentamento com o exército e Ramos Horta, gravemente ferido, foi trasladado a um hospital da Austrália, saindo do coma apenas dez dias depois para iniciar recuperação.