quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

A globalização e a cultura

A globalização tem também transformado o campo cultural. As trocas culturais entre sociedades tão distintas vêm promovendo um processo que alguns sociólogos chamam de transculturação, isto é, quando traços culturais de uma sociedade passam a fazer parte de outra. Assim, elementos culturais de sociedades ocidentais, por exemplo, passam a ser observados em sociedades orientais, africanas ou indígenas. Porém, essas trocas culturais nem sempre acontecem de forma igual.

Os países com maior poder econômico disseminam seus valores, suas ideias e seus costumes de forma muito mais intensa e abrangente que os demais países. Pense, por exemplo, no grande poder de distribuição da indústria cinematográfica estadunidense. Um filme produzido nos estúdios de Hollywood pode ser lançado simultaneamente nos cinco continentes, alcançando um público de milhões de pessoas. O mesmo não ocorre com produções de outras nações que, muitas vezes, mal ultrapassam as fronteiras de seu país de origem.

A internet e as plataformas de streaming de música e de filmes também desempenham importante papel nesse processo, contribuindo para a disseminação de determinados produtos em detrimento de outros, impulsionando uma homogeneização cultural. E isso também pode ser observado em outros hábitos culturais, como na alimentação. Pense no caso das redes de fast-food: um sanduíche comprado em uma lanchonete tipo fast-food em Nova York será bem semelhante a outro sanduíche adquirido em Londres, Tóquio ou Salvador, por exemplo. A globalização e a homogeneização culturais, contudo, não implicam o fim das culturas locais.

A internet, um dos principais símbolos do mundo globalizado, tem sido usada por muitos povos tradicionais para a preservação e a difusão de seus valores culturais. Por isso, estudiosos afirmam que, ao mesmo tempo que vivemos um processo de homogeneização cultural, também atravessamos um processo de heterogeneização cultural, pois a humanidade nunca pôde travar contato com povos e culturas tão diversos quanto agora.

MUNDIALIZAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO

A mundialização se inicia com as Grandes Navegações, nos séculos XV e XVI, período de expansão comercial da Europa e da conquista de territórios na América, principalmente, o primeiro momento desse processo (chamado capitalismo comercial). Sua intensificação se dá com a Revolução Industrial, com as inovações técnicas e com o aumento da produtividade, inaugurando uma nova etapa do capitalismo, o industrial.
Um segundo momento da mundialização estrutura-se nos séculos XIX e XX, com a exploração de recursos e a aplicação de investimentos de países euro peus em muitos locais do mundo, no contexto do imperialismo, formação do capitalismo monopolista ou financeiro. Em seguida, também, intensificam-se os investimentos estadunidenses nos países da Europa, no período do pós-Segun da Guerra Mundial.
A partir dos anos 1970, uma nova etapa se estrutura: a globalização, uma vez que compreende a padronização de hábitos de consumo e a circulação de informações e de capitais de modo instantâneo e em escala global. Consumimos produtos provenientes de vários países. Também temos conhecimento sobre fatos que ocorrem em todo o mundo quase instantaneamente (em tempo real). Muitos problemas econômicos e con flitos que ocorrem em outros países podem influenciar a economia do Brasil e nosso cotidiano rapidamente. 
A economia atual é considerada globalizada porque as atividades produtivas, o consumo de mercadorias e serviços e, portanto, os fluxos ocorrem em escala global.
A globalização tem sido possível graças ao atual estágio do sistema capitalista, em que predomina a lógica das finanças. No capitalismo financeiro, a economia é dirigida, em grande medida, por instituições e entidades monetárias, assim como corporações internacionais e corretoras de investimentos, envolvendo operações de empréstimos, especulações imobiliárias e mercadológica, além da valorização e rentabilidade por meio de juros, com o objetivo de aumentar a lucratividade de empresários e acionistas.
A participação do setor bancário destaca-se, influenciando diretamente o desenvolvimento econômico de um país. Além dos bancos, as empresas transnacionais são pilares no contexto da globalização.

A interligação econômica em escala global


Com o desenvolvimento do capitalismo industrial e financeiro, houve necessidade de nova circulação de matérias-primas e mercadorias, de especialização da mão de obra e de ampliação do mercado consumidor. O crescimento das grandes empresas levou à formação de gigantescos complexos industriais – as multinacionais e transnacionais –, que se espalharam pelo mundo.
Uma das características marcantes do mundo atual é a aceleração das comunicações e dos transportes. Informações, produtos industriais e culturais (estilos de vida, músicas, filmes ou apresentações de artistas transmitidas ao vivo), e mobilizações sociais (em torno de causas como o feminismo e o antirracismo, por exemplo) chegam rapidamente a quase todos os lugares do mundo. 
Atualmente, quase todos os países estão profundamente ligados. As fronteiras que separavam as economias e as culturas dos diversos povos tornaram-se praticamente inexistentes. Esse processo é conhecido como globalização. Na economia, ele tornou possível encontrar fontes de matérias-primas mais acessíveis em qualquer lugar do mundo, transportar essas matérias-primas de um lugar para outro e fabricar produtos cada vez mais sofisticados em pouco tempo.
A partir de então, o termo globalização passou a ser usado para se referir ao crescimento da interdependência entre países, governos, empresas e povos do mundo, sugerindo uma ideia de unificação mundial. 
Para alguns pesquisadores, a globalização corresponde à etapa atual do processo de mundialização da economia, iniciado no período das Grandes Navegações (século XV) e ampliado progressivamente pelos crescentes fluxos internacionais de informações, mercadorias, pessoas, serviços e capitais.
O crescimento desses fluxos ocorreu principalmente pela evolução tecnológica dos meios de comunicação e transporte, que passam a sensação de que o mundo está cada vez menor. Esse aspecto caracteriza a chamada aldeia global, termo sugerido pelo pesquisador canadense Marshall McLuhan (1911-1980). O uso do termo vem do fato de o mundo ganhar um sentido de lugar pequeno, conhecido por todos, onde as relações entre as pessoas são mais próximas. Embora muitas vezes usados como sinônimos, globalização e mundialização são conceitos distintos, porém relacionados. 
O conceito de mundialização é empregado para se referir ao contexto da expansão e do desenvolvimento dos mercados e fluxos de capitais no mundo. As bolsas de valores, instituições onde ocorrem as transações de compra e venda de ações e títulos de empresas do mundo todo, são um símbolo desse processo.
Já a globalização refere-se à integração do espaço geográ fico mundial, pois, além dos aspectos econômicos, envolve certa padronização de costumes, com ação predominante dos meios de comunicação. Os efeitos da globalização podem ser percebidos em aspec tos diversos da sociedade, desde a homogeneização de hábitos alimentares até a velocidade da propagação de doenças conta giosas, experienciada com a recente pandemia de covid-19. Por ser um fenômeno atual, podemos dizer que a globalização ainda é um processo em construção.
Na sociedade, ele tem expandido a chamada cultura de massa. Assim, com a globalização, tornou-se possível o desenvolvimento de uma economia transnacional. A sede de uma empresa transnacional, por exemplo, pode estar em um país que oferece benefícios fiscais (como isenção de impostos), enquanto a equipe que projeta seus produtos pode localizar-se em outro país, geralmente em centros de inovação e alta tecnologia. A matéria-prima utilizada por essa empresa, por sua vez, é extraída em países economicamente pobres, onde é mais barata.
Às vezes, os componentes de um único produto são fabricados em países diferentes e, depois, reunidos para serem montados em fábricas instaladas em regiões pobres, onde os salários são mais baixos. Por fim, a venda do produto ao consumidor final pode ser feita em lugares do mundo que ofereçam margens de lucro mais atraentes para a empresa transnacional. Essa oferta muitas vezes tem abrangência global, o que faz com que consumidores de lados opostos do globo tenham acesso às mesmas mercadorias.
A globalização econômica, caracterizada pela crescente abertura econômica e comercial entre os países e pela adoção do chamado Estado mínimo (menor participação do Estado na economia), está atrelada às ideias neoliberais implementadas entre o fim da década de 1970 e o início dos anos 1980 na Inglaterra e nos Estados Unidos. Todos esses fatores, acrescidos das atribuições promovidas pela Revolu ção Técnico-Científico-Informacional, alteraram de forma mais intensa e com grande rapidez o panorama produtivo mundial.
Com a modernização dos meios de comunicação e dos sistemas de trans porte, houve também aumento crescente do comércio internacional, com o incremento de importações e exportações de produtos e mercadorias. As últimas décadas do século XX caracterizaram-se pela expansão capitalista no mundo e pela aceleração do processo de globalização da economia, o que intensificou o fluxo internacional de comércio e de capitais que se mantém até hoje.

Mundialização do capitalismo e expansão das multinacionais


A principal força da globalização são as empresas transnacionais. Elas controlam boa parte da produção mundial, são responsáveis pela maior fatia do comércio internacional e, sobretudo, pelo desenvolvimento das novas tecnologias. A capacidade financeira dessas empresas é superior aos recursos de diversos países e seus investimentos podem afetar de maneira favorável ou negativa a economia e a sociedade de diferentes regiões do mundo.
A mundialização do capitalismo e a economia globalizada levaram a uma nova distribuição espacial das indústrias e provocaram grandes mudanças na organização produtiva dos países. Isso foi possível por causa da expansão das multinacionais, empresas que têm matriz em um país e desenvolvem atividades em diversas outras nações por meio de filiais. 
A partir de meados do século XX, a fabricação de mercadorias passou a ser feita em diferentes países, de acordo com as vantagens que cada um oferecia. Isso causou uma significativa expansão de capitais, provenientes das nações mais ricas e industrializadas (como Estados Unidos, Japão e países da Europa ocidental), para as mais pobres, que ofereciam vantagens lucrativas, como mão de obra barata, oferta de matérias-primas e recursos naturais, menor carga tributária etc. 

As corporações transnacionais


Na atual fase da globalização, essas empresas também ampliaram seus mercados com a negociação de produtos em praticamente todos os países, aumentaram o número de filiais em todo o planeta e compraram muitas outras empresas, principalmente nos países em desenvolvimento, assumindo papel de comando na economia mundial. Algumas delas têm forte poder de decisão sobre aspectos das políticas econômicas dos países onde estão instaladas. 
As empresas do setor financeiro são as que apresentam maiores lucros e cresceram enormemente com a consolidação do capitalismo monopolista/financeiro.
Essas empresas estruturam redes ou cadeias globais de produção nas quais as unidades produtivas estão espalhadas por diversos países. Seus centros de pesquisa e de inovação também não estão situados em um país somente. Apro veitando a mão de obra qualificada, a concentração de cientistas e pesquisa dores e o nível de especialização de determinados setores industriais em alguns países desenvolvidos, esses centros estão estrategicamente localizados onde as pesquisas podem ser otimizadas. 
Apesar de as transnacionais estarem presentes no mundo todo, o destino de boa parte dos lucros transferidos pelas filiais, as grandes decisões sobre investimentos e os centros de pesquisas para desenvolvimento de tecnologia permanecem concentrados em suas sedes (matrizes), principalmente nos países desenvolvidos.
A interferência das grandes corporações na economia dos países também contribuiu para mudanças nos padrões de consumo e em outros hábitos da população. Atualmente, as multinacionais são responsáveis pelo vertiginoso crescimento do comércio em âmbito mundial. Algumas dessas empresas chegam a ter um faturamento maior do que o Produto Interno Bruto (PIB) de um único país. 
A globalização econômica foi decisiva para o surgimento da Nova Divisão Internacional do Trabalho (NDIT), na qual países que produziam exclusiva mente gêneros primários (commodities) passaram a receber indústrias e, consequentemente, produzir em larga escala e exportar bens manufaturados.
A partir de 1960, a NDIT possibilitou o aparecimento de uma nova categoria de países, os Novos Países Industrializados, que receberam investimentos estrangeiros para promover a industrialização. Brasil, México, Coreia do Sul e Singapura são alguns exemplos.
Novas potências econômicas e industriais emergiram no século XXI e suas economias têm se desenvolvido em um ritmo acelerado e constante, como resultado da internacionalização de suas empresas e do aporte de capital. A China, por exemplo, abriu sua economia para os moldes capitalistas; outros países emergentes, como a Índia, o Brasil e a África do Sul também se destacam nesse cenário. 
A China é considerada o “dragão industrial” da atualidade e tem feito gran des investimentos em países da África. Além de dispenderem recursos no setor de infraestrutura, os chineses dedicam-se à extração de minérios e buscam fon tes que satisfaçam sua demanda por petróleo. Há empresas chinesas instaladas na Ásia e na Europa; as indianas se fixaram na Europa e nos Estados Unidos; e as brasileiras têm expandido seus negócios pela América Latina e pela África.

Globalização e desigualdades 


Embora caminhe paralelamente à expansão do mercado mundial, a globalização afeta o mundo de modo desigual. Algumas regiões estão muito mais integradas do que outras a esse processo, o que acentua as diferenças entre as economias dos países. Com isso, intensificaram-se as tensões entre os interesses dos países desenvolvidos e os chamados “emergentes”. Muitos países de economia primária que se industrializaram nas últimas décadas ainda apresentam diferenças em relação às nações mais ricas. 
Nos países menos desenvolvidos, com a escala globalizada de produção, apenas uma minoria da população é privilegiada, enquanto a maior parte não usufrui dos bens e das riquezas produzidos. Embora a globalização tenha integrado o mundo e encurtado distâncias, criando a denominada “aldeia global”, o que fez as pessoas se aproximarem cada vez mais, os benefícios não chegam a todos os indivíduos. Apenas uma pequena parte da população tem acesso a tudo o que a internet oferece. 
Para muitos estudiosos, a globalização e o desenvolvimento tecnológico não estão atendendo às aspirações das pessoas por uma vida melhor, sobre tudo no campo profissional. Atribui-se à automação nas empresas a causa desse cenário, cujos efeitos já são sentidos em muitas áreas industriais e de serviços, nas quais as máquinas substituem o trabalho humano.

A NOVA ORDEM MUNDIAL

Conflitos na Velha Ordem Mundial e o mundo bipolar

 
Ao longo do século XX, alguns países decidiram implementar o socialismo como sistema administrativo de estruturas políticas e econômicas internas. O primeiro deles foi a Rússia.
A Revolução de 1917 foi inicialmente marcada pela derrubada da monarquia czarista – que dominou o país durante séculos – e, em seguida, por uma guerra civil que perdurou nos anos seguintes. Essa guerra foi resultado das disputas entre grupos revolucionários (exército vermelho) e grupos contrarrevolucionários (exército branco).
Com a vitória do exército vermelho, os bolcheviques, liderados por Vladimir Lenin (1880-1924), passaram a implementar uma série de medidas socialistas, que transformaram as estruturas políticas, sociais e econômicas do país.
A partir de 1922, a Rússia passou a implantar o socialismo e a agregar outros países do Leste Europeu e da Ásia, formando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Entre 1947 e 1989, o período em que a Guerra Fria perdurou, a disputa política, econômica e militar travada pelas duas superpotências estabeleceu uma ordem mundial caracterizada pela bipolaridade, isto é, pela presença de dois grandes blocos: o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco socialista, liderado pela União Soviética.
Também chamado de Velha Ordem Mundial ou Ordem Mundial Bipolar, esse período demonstrou que a disputa entre as superpotências era, sobretudo, uma questão ideológica, já que não houve confronto militar direto entre elas. Por isso, recebeu a denominação Guerra Fria.
Tanto a URSS como os Estados Unidos utilizaram diversos meios para aumentar suas áreas de influência, tais como a corrida armamentista, a aeroespacial, das artes, do esporte, etc.
A partir da década de 1970, os primeiros sinais de enfraquecimento da União Soviética começaram a aparecer, decorrentes de divergências políticas internas, crises econômicas, fome, desemprego, violação dos di reitos humanos, entre outros aspectos. 
Esse panorama culminou no colapso do bloco socialista e no fim da Guerra Fria, representado pela queda do Muro de Berlim, em 1989, e pela dissolução da União Soviética, em 1991. 
A década de 1990 foi marcada pelo surgimento de uma Nova Ordem Mundial, com a emergência de novos polos de poder econômico e político, do estabelecimento de suas zonas de influência e do aumento da integração entre eles.


Emergência de novas potências e a Nova Ordem Mundial



A Nova Ordem Mundial iniciou-se em 1991, com a dissolução da União Soviética e a adoção do sistema capitalista por ex-repúblicas soviéticas e por países do Leste Europeu. Os sinais das transformações globais já vinham aparecendo nas décadas anteriores, com a recuperação de alguns países que foram arrasados durante a Segunda Guerra Mundial.
Em 1991, com a queda da maior parte dos regimes comunistas do planeta e a desintegração da União Soviética, a divisão do mundo em dois blocos opostos – um dos marcos do século XX – chegou ao fim. Essa nova configuração provocou uma importante reorganização das relações internacionais em um processo marcado por rupturas e permanências.
O fim da União Soviética e a emergência de novos centros de poder econômico, representados por Japão, China, Tigres Asiáticos e países da Europa Ocidental, resultaram em um sistema internacional caracterizado pela “multipolaridade” ou “unimultipolaridade”, como propôs na época o pesquisador estadunidense Samuel Huntington (1927-2008).
Para esse teórico, o mundo tornou-se multipolar do ponto de vista econômico, e unipolar dos pontos de vista militar, ideológico e cultural, considerando a hegemonia dos Estados Unidos nesses aspectos.
Diferentemente da Velha Ordem Mundial, cuja correlação de forças entre as duas superpotências era pautada no poder político e militar, na Nova Ordem Mundial os países passaram também a disputar a hegemonia econômica, comercial e tecnológica.
Os países do Norte, na década de 1990, apresentavam alto grau de industrialização, boas condições socioeconômicas e um elevado Produto Interno Bruto (PIB).
Os países do Sul eram considerados pobres em razão dos graves problemas que enfrentavam, como desigualdade social, fome, elevadas taxas de mortalidade infantil e violência, além de menor grau de industrialização, vulnerabilidade econômica e baixo Produto Interno Bruto.
É nesse contexto regional que o Brasil estava inserido no início da década de 1990. Os dados socioeconômicos levantados naquela época demonstravam que o país enfrentava elevados níveis de concentração de renda e desigualdade social.
De um lado, novas formas de organização de blocos de países ganharam força, especialmente os chamados blocos econômicos. Por outro lado, o fim das disputas entre os Estados Unidos e a União Soviética não afastou o perigo de um conflito nuclear. 
Atualmente, muitos países produzem armas nucleares, como a bomba atômica. Isso representa um sério perigo para a paz mundial, pois entre alguns desses países há rivalidades e disputas que podem levar a uma nova guerra. Ao mesmo tempo, Estados Unidos e China, as duas maiores potências econômicas da atualidade, vivem um período de rivalidade. 
De acordo com analistas internacionais, o principal motivo é a disputa sobre quem assumirá o protagonismo da economia global nas próximas décadas. Segundo essas análises, o governo estadunidense teme que a China ocupe um papel de liderança em muitas áreas, principalmente a tecnológica, onde o país asiático vem apresentando grande desenvolvimento nos últimos tempos. 
Aliada a essa situação, a Rússia, detentora de grande arsenal nuclear, busca exercer supremacia na região da antiga URSS. Tudo isso evidencia as permanências históricas do contexto da Guerra Fria nas relações internacionais na passagem do século XX para o XXI. 
Entretanto, não restam dúvidas de que o ano de 1991 marcou o fim de certas características do mundo contemporâneo e o começo de novos processos históricos.

O fim da Guerra Fria

Com o clima de liberdade, as manifestações contrárias ao regime intensificaram-se na União Soviética. Diante dessas manifestações, em 1991, alguns militares e dirigentes comunistas que não concordavam com as mudanças tentaram dar um golpe de Estado a fim de afastar Gorbachev do poder, barrar as mudanças e fazer o país retornar a um regime autoritário. Entretanto, o golpe não recebeu apoio de parte da população e foi rapidamente derrotado. Gorbachev manteve-se no poder, e o processo de mudanças prosseguiu. Mas a estrutura do Estado soviético era tão rígida que não suportou essa política de reformas. Assim, no fim de 1991, Gorbachev renunciou à presidência, e foi declarado o fim da União Soviética. A URSS desintegrou-se com a independência das repúblicas que formavam o país. A grande diversidade étnica do imenso território da URSS contribuiria para o surgimento de lutas de caráter nacionalista e separatista, algumas das quais permanecem até hoje. Um dos países criados nesse processo é a Federação Russa (mais comumente chamada de Rússia), que reúne algumas repúblicas e regiões autônomas da extinta União Soviética, e mantém grande parte do antigo território soviético. A desintegração da União Soviética significou também o fim da Guerra Fria.

A DESINTEGRAÇÃO DA URSS

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) chegou aos anos 1980 como a maior nação do mundo. Mas, diferentemente de outros países, a URSS era uma reunião de 15 diferentes repúblicas, onde viviam cerca de 270 milhões de pessoas de grupos étnicos distintos. Seu governo era composto de dirigentes do Partido Comunista, o único partido autorizado a funcionar no país, cabendo a ele controlar toda a produção industrial e a agrícola. O governo soviético assegurava à população recursos básicos como assistência à saúde e à educação básica, mas atravessava crises políticas e econômicas sucessivas. Como destinava a maior parte do orçamento para as Forças Armadas, a população da URSS carecia de artigos de primeira necessidade, como roupas, alimentos ou eletrodomésticos. Essa situação estimulou a formação de um mercado paralelo, no qual era possível adquirir produtos contrabandeados a preços muito altos. Isso incitava o descontentamento da população com o regime comunista, além de dificultar ainda mais a expansão econômica do país.

Do ponto de vista político, as relações da URSS com os chamados países satélites eram tensas, principalmente a relação com a Polônia. Ali, no começo dos anos 1980, ganhou força um movimento sindical independente que fazia críticas ao comunismo e à repressão do governo soviético. Além disso, a URSS sofria frequentes sanções da comunidade internacional. Os Jogos Olímpicos de 1980, ocorridos em Moscou, foram marcados pelo boicote dos Estados Unidos e de parte de seus aliados, que se recusaram a enviar atletas à competição. Todas essas dificuldades obrigaram o governo soviético a adotar medidas reformistas e iniciar uma abertura política e econômica. Essas mudanças ganharam força a partir de 1985, quando Mikhail Gorbachev (1931-2022) assumiu a liderança da União Soviética.

A perestroika e a glasnost O governo de Gorbachev propôs um conjunto de reformas para modificar as estruturas políticas e econômicas do país. Essas medidas se baseavam em dois princípios: a perestroika (que significa ”reconstrução”) e a glasnost (”transparência”). Com a perestroika, Gorbachev buscava acabar com os monopólios estatais; autorizar o investimento privado e a entrada de empresas estrangeiras no país; e garantir a liberdade dos empresários na economia.

O objetivo era aumentar a produtividade da economia soviética, além de combater a corrupção de funcionários do governo. Ao mesmo tempo, promoveu cortes nos gastos militares e retirou as tropas soviéticas do Afeganistão, país que ocupara em 1979. A proposta da glasnost era garantir a abertura política no país, acabar com a perseguição aos opositores do regime, libertar os presos políticos, abolir a censura e possibilitar a criação de novos partidos. Com essas medidas, permitiram-se a liberdade de imprensa e a livre circulação de livros e jornais. O desejo de se libertar do domínio da URSS fez com que manifestações contrárias ao regime comunista se tornassem cada vez mais constantes no Leste Europeu, no bloco de nações influenciadas pela União Soviética.

Entre 1988 e 1990, um após o outro, esses países conseguiram romper com o regime comunista. Em geral, o processo de abertura foi pacífico. Seu marco principal foi a queda do muro de Berlim, em 1989. No ano seguinte, a Alemanha, dividida em dois países desde o fim da Segunda Guerra Mundial, se reunificou sob o sistema capitalista. Um dos poucos regimes comunistas que caíram de forma violenta foi o da Romênia, onde, em dezembro de 1989, a população prendeu e executou o ditador Nicolae Ceausescu.

A REVOLUÇÃO IRANIANA

De 1941 a 1979, o Irã foi governado pelo xá (rei) Mohamed Reza Pahlevi. Ele procurou modernizar o país por meio da industrialização e de reformas educacionais e políticas. Entretanto, a modernização beneficiava apenas uma pequena parcela da população, formada pela burguesia e pelos grandes proprietários de terras. A maioria da população vivia em condições de pobreza. 
Além disso, Reza Pahlevi governava de maneira autoritária, como em uma ditadura, sem deixar espaço para os opositores. Tudo isso provocava descontentamento cada vez maior nas camadas pobres e médias da população.
Até 1979, o Irã foi um dos principais aliados dos Estados Unidos entre os países do Oriente Médio. Em 1953, o governo estadunidense apoiou o golpe de Estado promovido pelo xá Reza Pahlevi. Com Reza Pahlevi, o Irã constituiu uma política econômica e social apoiada no modelo ocidental. Do ponto de vista econômico, foi um período de desenvolvimento industrial e de crescimento. Apesar disso, ocorreu um profundo questionamento das correntes mais radicais do islamismo. Líderes religiosos foram perseguidos e alguns foram expulsos do país.
A importância que o petróleo adquiriu ao longo do século XX, o fato de o Irã deter a segunda maior reserva mundial do combustível e as ótimas relações do xá com o Ocidente favoreceram o estilo tirano de Reza Pahlavi, que transformou o país em um dos mais desiguais em todo o Oriente Médio: o palácio não tinha o menor pudor em contrastar a luxúria imperial com a pobreza da população; o xá era conhecido por suas estravagâncias. Esse regime autárquico era amplamente apoiado pelos Estados Unidos; vinha daí, em grande parte, o ódio que as camadas populares nutriam por essa potência. Essa camada popular era, igualmente a mais arraigada aos valores tradicionais do xiismo.
Era nos líderes religiosos e nos comunistas que esse déspota via a maior ameaça ao seu poder e não hesitou em persegui-los. comunistas, liberais e religiosos foram presos. O líder espiritual dos xiitas, o aiatolá Ruhollah Khomeini, exilou-le na França, depois de uma tentativa frustada de se refugiar no Iraque, que, como o Irã, é um pais de maioria xiita.
Em 1978, a insatisfação popular chegou ao limite e os protestos saíram do controle do governo. O principal líder da oposição era um religioso muçulmano, o aiatolá Ruhollah Khomeini, que nessa época se encontrava refugiado em Paris. Em janeiro de 1979, acuado pelas manifestações populares contrárias a seu governo, o xá foi obrigado a fugir do Irã. Khomeini retornou ao país, assumiu o poder, proclamou a República Islâmica do Irã e organizou um governo com base nos ensinamentos muçulmanos. Esse movimento ficou conhecido como Revolução Iraniana.
Surgiu a República Islâmica do Irã, ou seja, desde 1979, apresenta um regime teocrático. Igualmente, desde a revolução, o Irã adotou uma postura antiocidental e antiestadunidense, com quem tem sérios problemas diplomáticos até os dias atuais.
Apoiado por amplos setores da população, o líder religioso passou a combater os costumes ocidentais. A divulgação de música secular (não religiosa) foi proibida, e as mulheres foram obrigadas a usar véu para esconder os cabelos em lugares públicos. O uso de roupas consideradas impróprias também foi proibido.
A partir de 1980, o Irã rompeu relações com os Estados Unidos e passou a ser controlado pelos chefes religiosos (aiatolás), que estabeleceram normas sociais rígidas, de acordo com os princípios do islamismo, formalizando um Estado teocrático (o atual governo do Irã, apesar de civil, está submetido ao poder dos aiatolás). 
O clero xiita sagrou-se vitorioso, e o xá refugiou-se no Egito, onde morreu em 1980, depois de um tratamento contra um câncer. Esse episódio é considerado um marco do fundamentalismo islãmico, pois a ortodoxia xiita adotada serviu de inspiração para muitos outros movimentos islãmicos, xiitas e sunitas. Também significou uma grande ameaça aos demais regimes do oriente Médio, sobretudo na região do golfo Pérsico.
Apesar do rígido controle do governo do Irã, nos últimos anos vêm ocorrendo mudanças de comportamento por parte de alguns iranianos, especialmente dos jovens, que têm buscado acesso à informação e à cultura ocidental, por meio de filmes, músicas e internet. 
Atualmente, o Irã é, entre os países islâmicos, aquele que exerce maior influência no Oriente Médio e tem mantido relações estáveis com praticamente todos os países vizinhos. É o maior opositor à existência do Estado de Israel. O atual governo mantém fortes relações com a China e a Rússia. Essas relações incluem cooperação técnica, associação para a exploração de petróleo em subsolo iraniano e venda de armas e de combustível para as usinas termonucleares. 
Outro motivo de enfrentamento entre o Irã e o Ocidente é o desenvolvimento de um programa nuclear. Os Estados Unidos sempre alertaram que o governo iraniano teria a ambição de produzir armas de destruição em massa e que o país estaria próximo de conquistar a tecnologia necessária para alcançar tal objetivo.
Alemanha, França e Reino Unido apoiavam os argumentos estadunidenses sobre a ameaça que o programa nuclear representaria para o Oriente Médio e outras regiões do mundo. 
Em 2013, o Irã, que sempre defendeu que seu programa nuclear teria objetivo exclusivamente pacífico e energético, firmou um acordo visando a uma redução desse programa, em troca da diminuição de sanções econômicas que sofria por parte da comunidade internacional. No mesmo ano, com a eleição de Hassan Rohani, um governante moderado, o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, teve, por telefone, uma conversa histórica com o presidente iraniano, sinalizando uma reaproximação diplomática. 
Em 2015, foi assinado um acordo nuclear entre o Irã e o grupo de países do P5+1 (formado pelos 5 países-membros do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha), após mais de uma década de negociações, visando restringir a possibilidade de os iranianos desenvolverem a bomba atômica.
No entanto, em 2018, os Estados Unidos saíram do acordo e uma das alegações utilizadas pelo então presidente Trump, que restabeleceu as sanções econômicas ao país, foi a de que o governo iraniano apoiaria grupos terroristas e milícias, como o Hezbollah, o Hamas, a Al-Qaeda e o Taleban.

A VOLTA DA DEMOCRACIA NO BRASIL E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

Tancredo Neves venceu a eleição indireta. Sua posse estava marcada para 15 de março de 1985, mas, na véspera, adoeceu e foi internado em um hospital de Brasília (DF), onde passou por cirurgias. Fragilizado, não resistiu às sucessivas operações e faleceu no dia 21 de abril. Com isso, José Sarney assumiu a presidência. Começava uma nova fase política, de transição para a democracia, que só se estabeleceria definitivamente com a promulgação da nova Constituição Federal Brasileira, em 1988, e com a primeira eleição direta para a Presidência da República, em 1989.

A posse de José Sarney como presidente da República, em março de 1985, representou o fim da ditadura civil-militar. Entretanto, para que a democracia no Brasil se efetivasse, ainda seriam necessárias a eleição direta para a Presidência da República e a promulgação de uma nova constituição. Assim, logo após a posse de Sarney, foi convocada uma Assembleia Nacional Constituinte para elaborar e aprovar a nova Constituição do Brasil. A Assembleia instalou-se em março de 1987 e, em outubro do ano seguinte, era promulgada a Constituição, contendo 250 artigos. Por apresentar avanços nos direitos civis, políticos e sociais, a nova Carta foi chamada de Constituição Cidadã.

Esta foi a primeira Carta Constitucional brasileira a aceitar emendas populares. Durante o período em que os constituintes se encontraram reunidos no Congresso, discutindo a elaboração da nova legislação, grupos à direita e à esquerda do campo político brasileiro articularam-se e coletaram assinaturas com o objetivo de propor cláusulas a serem votadas pelos parlamentares.

A Constituição Cidadã

A promulgação da Constituição Federal de 1988 inaugurou uma nova etapa na construção da democracia no Brasil. Em seus 250 artigos, foram introduzidos princípios e direitos importantes em relação ao período anterior, com destaque para leis que permitiram a eliminação definitiva de marcas políticas da ditadura. Exemplos disso são a proibição da censura prévia a manifestações culturais, a condenação da prática de tortura e o direito do cidadão de acessar quaisquer informações que os órgãos públicos tenham a seu respeito (habeas data).

Além disso, a Constituição Federal trouxe avanços muito importantes do ponto de vista dos direitos sociais, como a garantia do acesso a serviços de saúde, previdência social, assistência social, educação, cultura e desportos a todos os cidadãos brasileiros. Outro elemento central na atual constituição está relacionado ao reconhecimento das culturas dos diferentes povos e etnias do território brasileiro e à proteção das manifestações socioculturais indígenas, afro-brasileiras e de outros grupos. A prática de racismo, até então considerada contravenção penal, passou a ser considerada crime inafiançável, o que contribuiu para o enfrentamento de um grave problema social e o resgate da cidadania da população negra do país.

A Constituição também trouxe avanços importantes em relação à questão da ocupação de terras por comunidades tradicionais. Os povos indígenas tiveram reconhecidos seus direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam e sobre os recursos nelas disponíveis. Já os remanescentes das comunidades de quilombos conquistaram a propriedade definitiva sobre as terras em que vivem e que lhes foram deixadas por seus antepassados.

A Organização Mundial do Comércio (OMC)

A Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma instituição internacional que tem a função de regulamentar as bases jurídicas do comércio entr...