quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Geração de energia elétrica

As sociedades humanas utilizam a eletricidade de diversas formas. A energia elétrica ilumina, aquece ou resfria ambientes e movimenta os mais variados motores, máquinas e aparelhos. Está presente na vida doméstica, na produção industrial, na irrigação de plantações, nos serviços, nas telecomunicações, nos transportes ferroviários e em muitas outras atividades humanas. No entanto, é importante destacar que, embora a energia elétrica seja imprescindível para as sociedades modernas, milhões de pessoas nos países em desenvolvimento ainda vivem sem ela.
A produção de eletricidade no mundo é muito concentrada em poucos países. Ao observar o grá fico ao lado, que mostra os principais produtores de eletricidade, é possível perceber que apenas dez países são responsáveis por 68,6% da produção mundial de energia elétrica. A energia elétrica pode ser obtida em usinas hi drelétricas, termelétricas, nucleares – como veremos neste capítulo – e de fontes consideradas alternati vas por serem mais limpas, como a eólica e a solar.

Usinas hidrelétricas


Segundo a Agência Internacional de Energia, nas últimas três décadas a pro dução de hidreletricidade aumentou de forma significativa em duas regiões do mundo: na Ásia, graças à ampliação na China para sustentar seu rápido crescimen to econômico, e na América Latina, por causa do crescimento da produção brasileira. O Brasil é um país bastante favorecido pelas condições geográficas para a geração de hidreletricidade, o que se deve a dois fatores principais: a grande quantidade de rios com muito volume de água e os extensos trechos correndo em planaltos.
Segundo o Ministério das Minas e Energia, em julho de 2018 as usinas hidrelétricas eram responsáveis por 63,6% da energia elétrica produzida no país, embora utilizemos apenas cerca de 38% do potencial total disponível nas bacias hidrográficas. Ou seja, ainda há um potencial a ser explorado à medida que o desenvolvimento econômico exigir mais oferta de energia.
Nas usinas hidrelétricas, a força da água movimenta as turbinas, que, por sua vez, acionam os geradores de energia. Para que a água passe com mais potência pelas turbinas, deve haver uma represa em uma área mais alta, com o objetivo de criar uma queda-d’água artificial. Uma barragem de concreto controla a passagem da água. Quanto mais alta for a queda e maior o volume de água armazenado, maiores as turbinas podem ser e, portanto, mais elevada será a produção de energia.
A água represada flui por grandes dutos até uma turbina, localizada na casa de força. A turbina gira e, como está ligada a um gerador, produz uma corren te elétrica. A eletricidade produzida é levada para a subestação elevadora, que a transforma em alta-tensão (corrente elétrica com tensão superior a 1 000 volts), para que seja levada por linhas de transmissão até os centros consumi dores. Quando chega a seu destino, a eletricidade é baixada para voltagens utilizadas em residências, escritórios, indústrias, etc. (110 V e 220 V).
A maior hidrelétrica em operação no mundo é a de Três Gargantas, construída no rio Yang-tse, na China. Ela dispõe de 32 turbinas de 700 MW, o que garante uma capacidade instalada de 22 400 MW. A segunda maior hidrelétrica do mundo é a de Itaipu, construída no rio Paraná, na fronteira do Brasil com o Paraguai. Essa usina, uma sociedade entre esses dois países, opera com 20 turbinas de 700 MW, capazes de produzir 14 mil MW.
A China é o maior produtor de hidreletricidade do mundo, com 28,4% do total mundial; o Brasil é o terceiro produtor, com 9% do total mundial. As taxas mais baixas de aproveitamento desse potencial estão nos países em desenvolvimento e com parque industrial pouco consolidado na África, na Ásia e na América Latina.
Desde a década de 1980, a construção de usinas hidrelétricas de grande porte vem sendo questionada por diversos grupos em defesa do meio ambiente. Isso porque os impactos ambientais decorrentes da construção de represas merecem destaque: vastas áreas de vegetação são inundadas, o ecossistema é completamente alterado, assim como a dinâmica de erosão e sedimentação.
Além disso, os moradores das áreas atingidas são obrigados a se deslocar. Apesar desses aspectos negativos, a hidreletricidade é uma forma de obtenção de energia limpa – não provoca poluição atmosférica nem emite gases responsáveis pela intensificação do efeito estufa, exceto quando há decomposição da vegetação da área inundada e consequente emissão de gás metano – e renovável – porque usa água.
Uma alternativa às grandes usinas hidrelétricas é a construção de pequenas centrais hidrelétricas, usinas com capacidade instalada entre 3 MW e 30 MW, que inundam uma área menor (menos que 3 km²) e cujos gastos com a transmissão da energia gerada são menores porque podem ser construídas mais próximas do mercado consumidor. Em geral são usinas fio d’água e, por isso, podem ficar sem funcionar em períodos de maior estiagem.
Atualmente, também há usinas fio d’água de grande porte, nesse tipo de usina não é necessário que haja reservatório muito grande, por isso não provoca grandes inundações, apenas o suficiente para garantir a regularização diária ou semanal do fluxo de água, causando menos impactos ambientais. As grandes usinas fio d’água são mais apropriadas para regiões de muita chuva, como a Amazônia. No entanto, até mesmo lá, nos meses de estiagem muito prolongada, há o risco de faltar água para seu funcionamento.
Belo Monte, construída no rio Xingu e inaugurada em 2016, é um exemplo de usina fio d’água de grande porte. Sua barragem alagou 512 km², dos quais 228 km² correspondem ao próprio leito do rio Xingu, para uma capacidade instalada final de 11 000 MW. Já a usina de Tucuruí, no rio Tocantins, um projeto mais antigo, inaugurada em 1984, alagou uma área de 2 850 km² para uma capacidade instalada de 8 370 MW. Apesar de ter uma barragem bem menor, isso não quer dizer que sua construção não tenha causado nenhum impacto socioambiental.


Produção de combustíveis fósseis

Energia vem do grego enérgeia e significa ‘trabalho’, portanto, é a capacidade de um corpo ou sistema produzir trabalho ou realizar uma ação, como movimentar ou transformar algo. Por exemplo, um motor que movimenta um automóvel só o faz porque consome energia, seja gasolina, seja óleo diesel ou eletricidade de uma bateria; um aparelho doméstico pode transformar energia elétrica em calor (forno), em frio (ar-condicionado), em movimento (ventilador), em luz (lâmpada), etc. Para obter energia, são usados diferentes tipos de recurso natural, que po dem ser renováveis ou não renováveis.
A energia renovável, como o nome indica, é obtida pela transformação de recursos que se renovam na natureza, como a radiação solar, os ventos e as águas, ou que podem ser cultivados, como os vegetais, por exemplo, a cana-de-açúcar e o milho, chamados biocombustíveis.
Já a energia não renovável é obtida de recursos que se formaram na natureza ao longo de milhões de anos, em camadas profundas do subsolo e que tendem a se esgotar. São os combustíveis fósseis, como o petróleo, o carvão mineral e o gás natural; e o urânio, que é um minério radioativo.

Consumo mundial de energia


O elevado consumo de petróleo e de carvão mineral provoca sérios danos ao meio ambiente. A queima desses combustíveis emite enormes quantidades de gases po luentes na atmosfera, como o dióxido de carbono (CO2 ), também conhecido como gás carbônico, principal responsável pela intensificação do efeito estufa.

Produção de petróleo no mundo


O petróleo começou a ser explorado comercialmente nos Estados Unidos no final do século XIX, e inicialmente era usado em lampiões. A grande expansão de sua produ ção se deu a partir do desenvolvimento da indústria auto mobilística no início do século XX, quando seus derivados passaram a ser utilizados em motores a combustão interna para mover veículos terrestres, como é o caso da gasolina e do diesel, e mais tarde para mover veículos aéreos, como é o caso do querosene de aviação. Esse recurso natural também é utilizado como matéria-prima na fabricação de diversos produtos: plásticos, bor rachas sintéticas, tintas, vernizes, adubos químicos, inseti cidas, cosméticos, remédios e muitos outros.
O petróleo motivou grandes mudanças geopolíticas e socioeconômicas no mundo, pois ele é indispensável para o funcionamento da economia de todos os países. Além de ser a fonte de energia mais usada no planeta e importante matéria-prima, é um recurso não renovável e de alto valor econômico.
Um dos atores importantes no mercado internacional de petróleo é a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Essa organização é um cartel de importantes produtores de petróleo do Oriente Médio, da África e da América do Sul. Foi constituída em 1960 por Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait e Venezuela, com o objetivo de estabelecer cotas de produção para os países -membros e estabilizar o preço internacional do petróleo.
Em 2018 era composta de quinze países, com destaque para a Arábia Saudita, maior produtor da Opep e segundo do mundo. Dos doze maiores produtores mundiais de petróleo, sete são membros da Opep. No entanto, a Rússia, o maior produtor de todos em 2017, não é membro da organização, assim como também não o são os Estados Unidos, a China e o México. O Brasil, embora seja o nono produtor mundial, à frente de muitos países da Opep, também não é membro desse cartel internacional dos produtores.

Produção de petróleo no Brasil


Em 2017 o Brasil já era o nono maior produtor mundial de petróleo, com uma produção de 2,6 milhões de barris/dia. Essa produção foi ampliada com a extração de petróleo no pré-sal, uma camada geológica situada na costa brasileira entre 5 e 7 quilômetros abaixo do nível do mar. Entre Santa Catarina e Espírito Santo existe uma grande reserva nessa camada de um tipo de petróleo mais leve, de excelente qualidade e com alto valor comercial.
Segundo a Petrobras, a produção média de petróleo no pré-sal saltou de 41 mil barris por dia, em 2010, para 1,4 milhão de barris diários, em 2017. Ou seja, 54% da produção petrolífera daquele ano veio do pré-sal.
De acordo com algumas previsões, cerca de 100 bilhões de barris de petróleo podem ser extraídos do pré-sal brasileiro – o que elevaria a produção para cerca de 5 milhões de barris por dia e posicionaria o país entre os cinco maiores produtores mundiais. Para explorar bacias em águas profundas são necessários grandes investimentos em pesquisas, desenvolvimento de tecnologia, plataformas, for mação de mão de obra qualificada, etc.
O desenvolvimento dessa alta tecnologia se deu graças ao empenho de técnicos e pesquisadores da Pe trobras, principalmente em seu Centro de Pesqui sa e Desenvolvimento (Cenpes), localizado no Rio de Janeiro (RJ), e a parcerias feitas com universi dades, como a COPPE/UFRJ e a Pontifícia Univer sidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), e com institutos de pesquisas, como o Laboratório Nacional de Nanotecnologia, localizado em Campinas (SP). Como resultado desse esforço, hoje o Brasil é um dos líderes mundiais em tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas.

Produção de carvão mineral no mundo


O carvão mineral é usado comercialmente desde o final do século XVIII. Ele foi a principal fonte de energia da Primei ra Revolução Industrial, iniciada no Reino Unido, quando era muito usado para movimentar máquinas a vapor, trens e barcos. No fim do século XIX, já no contexto da Segunda Revolução Industrial, passou também a ser utilizado para produzir energia elétrica. O carvão mineral é o segundo combustível fóssil mais consumido no mundo.

Hoje em dia, o carvão mineral, sobretudo o de baixa qualidade, é usado principalmente na produção de energia em usinas termelétricas por meio de sua queima. Em segundo lugar, vem o uso em diversos processos industriais que necessitam de calor, como a fabricação de cerâmicas e vidros. O carvão também é muito usado em indústrias siderúrgicas. Nesse caso, o chamado carvão metalúrgico ou coque é mistu rado num alto -forno para fundir o mi nério de ferro e produzir o ferro-gusa, matéria-prima para a produção de aço, que depois será usado na fabricação de carros, geladeiras, edifícios, pontes, máquinas, etc. O carvão mineral também é uma importante matéria-prima para a indústria carboquímica, que produz fertilizantes, lubrificantes, combustíveis líquidos, entre outros produtos.
O Brasil produz carvão mineral, com destaque para os estados do Rio Grande do Sul, com 89% das reservas nacionais (só na jazida de Candiota, município localizado no sul do estado, estão 38% de todo o carvão brasileiro) e Santa Catarina, com 10%. Porém, é um carvão de baixa qualidade (linhito e sub-betuminoso), com muitas impurezas, que só pode ser utilizado em termelétricas locais. Por isso, o Brasil importa cerca de 15 milhões de toneladas de carvão metalúrgico por ano, provenientes de países como Estados Unidos, China e Austrália, que estão entre os maiores produtores do mundo.

Consequências da queima de combustíveis fósseis: o efeito estufa


Desde a Revolução Industrial, a concentração de dió xido de carbono (CO2 ), também conhecido como gás car bônico, tem aumentado na atmosfera. Isso acontece por que, a maior parte da energia consumida no mundo é proveniente de combustíveis fósseis – altamente poluentes e emissores do dióxido de carbono, com destaque para o carvão mineral, cujo maior produtor mundial é a China.
Perceba que apenas três países são responsáveis por quase 50% da emissão total de gás carbônico no mundo, portanto, são os que mais contribuem para intensificar o efeito estufa em termos absolutos. De acordo com diversos pesquisadores, as toneladas de gases estufa – dióxido de carbono, metano, entre outros – emitidas na atmosfera provocam a intensificação desse fenômeno, elevando a temperatura média da baixa atmos fera do planeta.
A dinâmica natural da atmosfera terrestre funciona da seguinte maneira: parte da radiação solar, quando entra em contato com essa camada gasosa da Terra, é refletida de volta ao espaço. Outra parte dessa radiação atravessa a atmosfera e aquece a superfície terrestre, devolvendo calor para a atmosfera. Por causa do efeito estufa, parte desse calor fica retida e aquece o ar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Comércio internacional

O comércio

Comércio é a troca de um produto por dinheiro ou por outro produto. Essa atividade relaciona o produtor com o consumidor.
Quando o comércio surgiu, era realizado por meio da troca de produtos. Ou seja, cada produtor vendia seu excedente diretamente a outro produtor. Porém, nem todo mundo ficava satisfeito com a troca, porque muitas vezes ela envolvia produtos diferentes, que exigiam mais trabalho que o outro produto aceito em troca.
Para resolver esse problema foi criado um equivalente geral, o dinheiro. Hoje em dia usam-se moedas, notas, cheques, cartões de plástico e meios eletrônicos para fazer um pagamento de uma troca comercial.

Comércio, consumo e desigualdade social


Com o passar do tempo, a atividade comercial cresceu e, atualmente, movimenta muitos recursos para fazer com que um produto saia, muitas vezes, de um país distante até chegar ao consumidor. Mas o comércio necessita expor o produto para que o comprador possa escolher o que deseja. Os pontos de venda têm esse papel.
Existem diferentes tipos de pontos de venda. Desde o pequeno comércio, caracterizado por pequenas lojas que atendem à população local, passando por grandes lojas que fazem parte de grandes redes comerciais, algumas delas internacionais.
A concentração de comércio e prestação de serviços, geralmente, ocorre no espaço urbano, já que nele estão a grande parte dos consumidores e a infraestrutura necessária para que as mercadorias circulem.
Cada vez mais cresce o comércio eletrônico, ou seja, loja “virtual”, representada em uma página da internet ou em aplicativos instalados em celular com informações sobre o produto, na qual o consumidor pode escolher e pagar por meio eletrônico, para depois recebê-lo em sua casa.
No Brasil e em muitos países do mundo, não são todas as pessoas que têm acesso aos produtos comercializados. As diferenças no poder de consumo revelam as desigualdades sociais. Enquanto algumas pessoas podem pagar por produtos de consumo sofisticados e caros, outras não conseguem nem ter acesso a itens básicos para sua sobrevivência, como alimentos, roupas ou um lugar adequado para viver.

Comércio internacional


A atual expansão do capitalismo e a consequente globalização econômica ampliaram diversos tipos de redes mundiais. Uma importante rede da globalização é formada de portos e aeroportos de diversos países dos cinco continentes, por meio da qual circulam mercadorias de todos os tipos. O comércio internacional é um dos principais fluxos da globalização. Portanto, a expansão mundial do comércio depende da ampliação e modernização dos sistemas de transportes que interligam todos os países do mundo.
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a taxa de crescimento das exportações mundiais de mercadorias quase sempre se manteve superior ao crescimento do produto mundial bruto, evidenciando que as economias nacio nais ficaram mais interdependentes, característica da globalização. De acordo com dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), o comércio interna cional de mercadorias cresceu a uma taxa média de 6,2% ao ano entre 1950 e 2007, enquanto o PIB mundial cresceu 3,8% ao ano no mesmo período.
Entretanto, em consequência da crise econômica iniciada em 2008 nos Estados Unidos, o comércio mundial encolheu 12,1% em 2009 e o PIB mundial encolheu 2,1%. Superada a crise, houve uma retomada do crescimento: no período 2010-2017, as trocas internacionais de mercadorias cresceram 3,0% e o PIB mundial, 2,6%. Entre os fatores que contribuíram para o aumento da circulação de merca dorias entre os países, destacam-se:

■ a assinatura de acordos para a redução de barreiras comerciais interna cionais, no âmbito da OMC, ou regionais, com destaque para a União Europeia, o maior bloco comercial do mundo, formado por 28 países;

■ os avanços tecnológicos nos transportes, como a expansão e moderniza ção de portos e aeroportos interligados em rede e a fabricação de navios e aviões mais rápidos, econômicos e com maior capacidade de carga (observe a fotografia abaixo);

■ a expansão das empresas multinacionais, que, como vimos, vêm instalan do filiais em vários países e pressionam para que haja redução das barrei ras à circulação de seus produtos pelo mundo – como vimos, essas em presas são um dos agentes mais importantes da globalização.

Apesar da expansão do comércio mundial, o fluxo de mercadorias ainda é um fenômeno bastante concentrado: 51,5% das exportações internacionais provêm de apenas dez países.

Balança comercial


Para compreender a balança comercial de qualquer país, temos que anali sar os valores de suas exportações e importações. Quando um país exporta mais do que importa, sua balança comercial apresenta superavit, isto é, tem saldo positivo. Por outro lado, se as importações superam as exportações, a balança apresenta deficit, ou seja, tem saldo negativo.
De 2012 para 2013 houve um aumento das importações feitas pelo Brasil. Isso provocou uma redução do superavit na balança comercial, até chegar a um deficit em 2014. Em 2015 e 2016, devido ao agravamento da crise econômica brasileira e à consequente redução do consumo interno, as importações caíram bem mais que as exportações, com isso o superavit aumentou. Perceba que as exporta ções também caíram, mas em ritmo menor que as importações. Em 2017, houve uma recuperação, mas que ainda não alcançou os patamares pré-crise.

A importância do comércio de mercadorias


Os países desenvolvidos exportam predominantemente bens industriali zados, grande parte deles com alto valor agregado. Em alguns países em desenvolvimento, até o final da década de 1970, as exportações eram compos tas quase exclusivamente de produtos primários, o que caracterizava a antiga divisão internacional do trabalho. Conforme o processo de industrialização avançou, a pauta de exportação desses países foi se modificando. Atualmente, como mostra a tabela abaixo, os produtos industrializados têm presença im portante na pauta de exportações de muitos países em desenvolvimento, agora chamados de emergentes, como é o caso do México. O grande destaque como exportador de industrializados, porém, é a China.

Os quatro produtos mais exportados pelo Brasil, responsáveis por receitas no valor de 70,5 bilhões de dólares (32,4% do total das exportações), são commodities de baixo valor agregado, mas na lista dos mais exportados também aparecem, embo ra em menor quantidade, produtos de alto valor agregado, como automóveis e aviões, responsáveis por 10,2 bilhões de dólares (4,7% do total).

A concentração do comércio mundial


O comércio mundial é muito concentrado. As exportações e as importações dos Estados Unidos, do Canadá, de alguns países da Europa e da China, juntas, representam quase 80% de tudo o que é comercializado no mundo.
Os Estados Unidos, juntamente com o Japão, destacam-se no setor de informática e na indústria automobilística. A Alemanha e a França vendem produtos industrializados. Nos países da América do Sul predominam as exportações de alimentos (Brasil e Argentina) e minerais (Brasil, Chile e Peru).

Redes globais de informações

Além dos fluxos de investimentos de capitais, no atual contexto da globaliza ção o fluxo de informações e conhecimentos é um dos que mais têm se expan dido pelo mundo – fenômeno que está relacionado ao desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação.


A era informacional



Atualmente, os satélites de telecomunicações e os cabos submarinos de fibra óptica permitem a circulação de informações em tempo real e o número de pessoas conectadas à internet é crescente (observe, no mapa abaixo, a rede de cabos submarinos em todo o mundo). Por isso, pesquisadores, como o soció logo espanhol Manuel Castells, chamam esse momento histórico de era infor macional. Para as corporações transnacionais, esse fenômeno facilita a difusão global de hábitos de consumo e de ideias, além do controle de suas filiais es palhadas por diversos países. Alguns canais de notícias de redes internacionais de televisão interligam o planeta transmitindo programas noticiosos em diferentes línguas. Dos três maiores canais, dois são estadunidenses e um é britânico. As principais agências de notícias – entre as quais se destacam uma estadunidense, uma britânica e uma francesa – são responsáveis pela distribuição da maior parte das informa ções que circulam na mídia mundial. É importante destacar que essas grandes redes de telecomunicações estão sediadas em alguns dos países desenvolvidos mais poderosos, veiculam globalmente os pontos de vista de seus acionistas e, embora privadas, muitas vezes difundem a visão de mundo dos governos des ses países.
Entretanto, para se contrapor a essa visão dominante, têm sido criadas redes internacionais de televisão em países emergentes, como Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, que veiculam notícias em árabe, inglês, persa e urdu. Do mesmo modo, foram criadas agências de notícias que ofere cem um ponto de vista diferente, com destaque para a agência de notícias chinesa controlada pelo governo chinês, que em pouco tempo se transformou na maior do mundo.
Mas uma das mudanças mais revolucionárias da era informacional foi o desenvolvimento da internet, que propiciou o explosivo crescimento de em presas de tecnologia. As duas empresas de mídia que mais atraem receitas publicitárias são estadunidenses. Isso dá a essas empresas um poder muito grande na internet e nas redes sociais. No entanto, nesse setor também estão surgindo empresas em países emergentes, com destaque para a China, que sedia a quarta maior empresa de buscas na internet do mundo e se expandiu simultaneamente com o rápido crescimento de usuários de internet na China. Segundo a Internet World Stats (site internacional que apresenta dados esta tísticos do uso da internet no mundo), entre 2000 e 2017 o aumento do número de pessoas conectadas à internet na China foi de 3 330%, enquanto nos Estados Unidos foi de 227%. No entanto, o número relativo de pessoas conectadas ainda é baixo na China e principalmente na Índia, quan do comparado ao dos Estados Unidos ou mesmo ao do Brasil.
O globo terrestre está conectado por um extenso sistema de telecomunicações. Por isso, muitos têm usado a ex pressão “aldeia global” para se referir à globalização da cultura e das informações, querendo dizer com isso que os povos do mundo todo mantêm cada vez mais contato, como se vivessem em um lugar pequeno.

Redes globais de investimentos

Os investimentos de capitais estão entre os principais fluxos da globalização e formam uma rede que atinge em maior ou menor grau praticamente todos os países do mundo. Nessas redes circulam grandes somas de dinheiro, que podem ser alocadas de forma produtiva ou especulativa. A distinção entre capital produtivo e capital especulativo ajuda a compreen der a dinâmica dos fluxos de investimentos no mundo globalizado.
Os investimentos produtivos são os empreendimentos que se materializam na paisagem na forma de edifícios, fábricas, fazendas, estradas, lojas, entre outros, e têm maior potencial de geração de renda e de empregos. E os inves timentos especulativos estão associados a toda prática de compra e venda (mercadorias, ações, moeda estrangeira, imóveis, etc.) com a intenção de obter lucro rápido e elevado, aproveitando as variações de preços. A seguir, vamos conhecer mais detalhadamente as características dos investimentos produtivos e especulativos.


1. Investimentos produtivos



Os investimentos produtivos que empresas de um país fazem em outro – conhecidos também como investimentos externos diretos ou investimentos estrangeiros – vêm crescendo desde a Segunda Guerra Mundial, quando muitas empresas sediadas nos países desenvolvidos começaram a instalar filiais em outros países, inclusive em países em desenvol vimento. A maior expansão desses investimentos ocorreu a partir de 1990, com a aceleração do pro cesso de globalização dos capitais, e sobretudo nos anos 2000, atingindo seu recorde em 2007. A crise econômica que ocorreu entre 2008 e 2009 provocou uma queda nesse fluxo, que até 2017 ainda não tinha recuperado o patamar pré-crise.
Os países empenham-se cada vez mais em atrair investimentos produtivos, uma vez que geram renda, empregos e aumentam a arrecadação de impostos, criando riquezas e estimulando o crescimento econômico. No entanto, a atra ção de capitais produtivos depende de políticas econômicas favoráveis, de investimentos em educação (básica e de formação de mão de obra qualificada) e de boa infraestrutura (transporte, telecomunicações, energia, etc.).
A construção e a melhoria da infraestrutura em diversos países, inclusive no Brasil, têm atraído investimentos produtivos. Ainda assim, a maior parte dos investimentos produtivos mundiais é dire cionada a poucos países, principalmente àqueles que oferecem melhores con dições macroeconômicas e mais segurança jurídica, isto é, que asseguram o respeito às leis e aos contratos firmados. .Os quinze principais receptores de investimentos produtivos em 2017. Juntos, eles abrigaram 71% dos investimentos externos feitos no mundo.


Atuação das empresas multinacionais



Os principais agentes da globalização da produção são as empresas multi nacionais (do inglês multinational enterprises, segundo terminologia da Unctad), isto é, empresas que têm sede em um país e atuam por meio de filiais em outros países. Também são chamadas de empresas transnacionais. Porém, mesmo distribuindo filiais pelo mundo, elas mantêm estreitos vínculos com seu país de origem. Em geral, o controle acionário, as decisões estratégicas, a pesquisa e o desenvolvimento e as estratégias de marketing continuam concentrados na matriz da empresa. Além disso, a maior parte dos lucros obtidos nas filiais do exterior é enviada aos países de origem.
As transnacionais instalaram-se em países desenvolvidos e em desenvolvi mento, principalmente, a partir da Segunda Guerra Mundial, quando intensifi caram sua expansão global. Os principais fatores que as atraíram aos países desenvolvidos foram o amplo mercado consumidor, a qualificação da mão de obra e a disponibilidade de boa infraestrutura, o que permitia a instalação de fábricas mais modernas e produtivas.
Já nos países em desenvolvimento, os principais atrativos eram mão de obra barata, impostos baixos e facilidade para exportação, entre outras vantagens que aumentavam a taxa de lucro. Em geral, nesses países se instalavam indús trias tradicionais, como as do ramo têxtil, de calçados, de eletrônicos baratos, de brinquedos, etc., que empregam grande quantidade de mão de obra e não requerem alta qualificação. Esse processo favoreceu a desconcentração da produção industrial no mundo.
Embora esse fenômeno ainda ocorra, sobretudo nos países mais pobres, hoje em dia há muitas empresas multinacionais de alta tecnologia instaladas em países em desenvolvimento que dispõem de boa infraestrutura e de mão de obra qualificada, porém mais barata do que nos países de origem. Em mui tos desses países, o governo concede facilidades para a exportação e para a remessa de lucros às matrizes das multinacionais.
A China, por exemplo, converteu-se no maior exportador mundial: em 2017, segundo o Banco Mundial, 94% de sua pauta de exportações era composta de bens industrializados, sendo 25% desse total de produtos de alta tecnologia.
A Índia, por sua vez, é um dos maiores exportadores mundiais de software e uma das principais sedes de serviços globais de telemarketing. Esse país abriga grandes empresas multinacionais atuantes nesses setores, principalmen te estadunidenses. Muitas delas estão instaladas no parque tecnológico de Bangalore, onde a maior parte das grandes empresas de tecnologias da informação e comunicação tem filiais.


Investimentos externos no grupo BRICS



Países emergentes muito populosos e com elevado PIB, como os do grupo BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, sobretudo os quatro primeiros, que estão entre as maiores economias do mundo, apresentam a vanta gem de ter um grande mercado consumidor. Isso atrai investimentos externos e contribui para seu elevado crescimento econômico.
A distribuição dos investimentos produtivos no espaço geográfico mundial é bastante desigual. Os cinco países do grupo BRICS recebe ram 26% de todo o investimento produtivo feito no mundo em 2017. Em com pensação, os membros do BRICS ficaram com 55% do montante de investimentos produtivos direcionados aos países em desenvolvimento. O maior beneficiado foi a China, com 36% do total dos investimentos produtivos feitos no grupo de países em desenvolvimento, seguida pelo Brasil, que ficou com 9%.
Os investimentos também ocorrem entre os países do BRICS. A China é o país do grupo que mais tem dinheiro disponível para investir, e o Brasil, sobre tudo depois da crise econômica que ocorreu entre 2014 e 2016, é o que tem menos recursos para fazer investimen tos produtivos, principalmente no se tor de infraestrutura. Não por acaso, empresas chinesas têm aumentado substancialmente seus investimentos no Brasil.


2. Investimentos especulativos



Hoje é relativamente fácil transferir grandes quantias de um lugar para outro, pois o dinheiro tornou-se eletrônico, virtual, e circula pelos computa dores do sistema financeiro globalizado. Com isso, os mercados tornaram-se globais e os investidores ampliaram enormemente as possibilidades de aplicar seus recursos em busca de lucro rápido. As distâncias não são mais rele vantes, pois pode-se aplicar em qualquer país que esteja conectado ao sis tema financeiro global.
Não se sabe ao certo o volume de investimentos especulativos que circulam pelo sistema financeiro mundial. No entanto, se considerarmos as principais bolsas de valores e os maiores bancos, podemos inferir que chega à casa dos trilhões de dólares.
Muitas empresas ou pessoas que dispõem de capital investem em ações, que são negociadas nas bolsas de valores, como as de Nova York, Tóquio ou São Paulo. Ao comprar ações, o investidor adquire uma parcela da empresa que as emitiu, tornando-se acionista. A empresa investe esse dinheiro na produção e, se obtiver lucros, os acionistas recebem parte dele – os dividendos –, de acordo com a quantidade de ações que possuem.
Muitos investidores, porém, não estão interessados em aplicar seu dinheiro de forma produtiva, no longo prazo, e esperar que a empresa produza e seja bem-sucedida para obter dividendos. Preferem lucrar no curto prazo e, para tanto, podem, por exemplo, comprar ações na baixa (quando estão desvalorizadas) e vender na alta (quando se valorizam). Essa estratégia é chamada de especulação.

A especulação financeira


A diferença entre o que foi pago pelas ações e o que se ganhou com a ven da delas, após a valorização, é chamada de lucro financeiro. O lucro obtido pode ser utilizado para a compra de mais ações ou para qualquer outro tipo de inves timento especulativo em qualquer lugar do mundo que ofereça mais vantagens. Desse modo, o investimento em ações tanto pode ser produtivo como especulativo.
Além do mercado acionário, há outras modalidades de inves timento especulativo, como compra e venda de moeda ou de títulos da dívida pública. Uma empresa ou pessoa pode comprar moeda estrangeira ou títulos públicos na baixa e vender na alta, obtendo lucro financeiro com essa operação.
A emissão de títulos da dívida pública pelo governo de um país é uma forma de tomar dinheiro emprestado. Ao comprá-los, o investidor está, na prática, emprestando dinheiro ao Estado, que terá de pagar juros ao comprador.
O capital especulativo gera menos empregos que o capital produtivo e tende a tornar vulnerável a economia dos países que ficam dependentes desse tipo de investimento. Muitas vezes os grandes bancos, os fundos de pensão e outros fundos de investimento retiram o dinheiro desses países ou passam a cobrar juros mais elevados para continuar emprestando, levando-os à inadimplência, como ocorreu na crise argentina em 2001 e na grega em 2011.
Com as facilidades da informática e das telecomunicações, os agentes que comandam a globalização financeira rastreiam diariamente os melhores inves timentos em ações, moedas ou títulos públicos no mundo. Isso lhes dá um poder muito grande, com capacidade de quebrar economicamente empresas e até mesmo países. Os maiores bancos do mundo têm um patrimônio gigantesco, maior que o PIB da maioria dos países.




sábado, 22 de novembro de 2025

O cenário geopolítico atual

As transformações ocorridas no cenário geopolítico internacional têm ocasionado uma constante redefinição das fronteiras entre os países do mundo.
Entre as importantes transformações geopolíticas ocorridas nas últimas décadas, podemos citar a derrocada do socialismo e o fim da União Soviética, no final da déca da de 1980 e início da década de 1990. Tais acontecimentos deflagraram processos de independência que levaram à fragmentação do território soviético e à criação de novos Estados, que mudaram o traçado do mapa político no leste da Europa e na Ásia.
O fim da União Soviética provocou grandes alterações no cenário geopolítico mundial, marcado atualmente pelo predomínio do capitalismo em nível mundial e também pela existência de três principais centros ou polos de poder econômico: Estados Unidos, União Europeia e Japão.
Mais recentemente, contudo, outras potências econômicas regionais também se destacam nesse cenário internacional, entre elas a China, segunda maior economia mundial, e também as chamadas economias emergentes, como o Brasil, a Índia e os Tigres Asiáticos.

O expansionismo geopolítico da Rússia


Ao longo dos últimos anos, a Rússia vem buscando reafirmar seu papel de grande liderança no cenário geopolítico mundial. Herdeira da grande força militar da extinta União Soviética (dissolvida em 1991), o país dispõe de um poderoso arsenal nuclear em seu território.
Em maio de 2002, a Rússia e a Otan selaram um acordo de cooperação, com a criação do Conselho Otan-Rússia. Até 2014, o país participou das decisões dos países-membros em assuntos de interesse mútuo, como a definição de estratégias político-militares a serem aplicadas no controle da proliferação de armas nucleares e no combate ao terrorismo. Ainda em 2014, no entanto, a Rússia anexou a Crimeia, república autônoma, pertencente à Ucrânia, e, em razão disso, a Otan suspendeu o acordo de cooperação.
Em 2020, a organização e a Rússia romperam relações. Os russos não concordam com o possível ingres so de países limítrofes, sobretudo da Ucrânia, além de não aceitar a presença de armamentos da Otan nos países do Leste Europeu. 
No início de 2022, as relações entre ambas ficaram mais difíceis, com o reconhecimento, por parte do governo russo, da independência de duas regiões separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia: a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk. 
Em contextos como esses, a Rússia conta com o apoio da China, interessada em favorecer a construção de um contraponto à força da aliança Estados Unidos-Europa ocidental e central.
Aproveitando-se da posição de grande potência militar, nos últimos anos, a Rússia passou a adotar uma política externa mais agressiva, envolvendo-se direta e indiretamente em vários conflitos regionais, alguns com grandes repercussões no cenário internacional.

Guerra na Síria 


Em 2011, por exemplo, após a eclosão de uma violenta guerra civil na Síria, país do Oriente Médio, a Rússia deu apoio ao governo sírio do ditador Bashar Al-Assad. A guerra teve início quando as tropas do exército sírio atacaram violentamen te os opositores do governo que se manifestavam nas ruas clamando por liberdade pelo fim do autoritarismo político naquele país.
O apoio militar do governo russo foi decisivo e ajudou o ditador Bashar Al-Assad a permanecer no poder, mesmo contrariando o posicionamento de parte da comunidade internacional, que se posicionou na ONU contra a opressão exercida pelo governo sírio.


Anexação da península da Crimeia 


Em 2014, uma série de protestos contra o governo da Ucrânia eclodiu na península da Crimeia (território ucraniano). Aproveitando-se da instabilidade política na região e, ao mesmo tempo, visando ampliar sua influência militar e estratégica na região, o governo russo autorizou a realização de ataques militares contra os ucranianos. Vitoriosos, os russos anexaram a península da Crimeia ao seu território, passando a controlar importantes portos e bases militares, além de gasodutos e oleodutos existentes na região.

Invasão da Ucrânia


Em fevereiro de 2022, após alguns meses de intensa mobilização de forças militares russas na fronteira com a Ucrânia, o governo de Vladimir Putin (Rússia) declarou guerra à Ucrânia, dando início à ocupação do país vizinho; fazendo uso de mísseis e de um grande arsenal bélico, levando à destruição parcial do vizinho.
O governo da Rússia justificou o uso da força militar como forma de proteger os grupos separatistas pró-Rússia que atuavam nas províncias de Donestk e Luhansk, no leste do território ucraniano. Além disso, a invasão acabaria com os planos da Ucrânia de ingressar na Otan (Organização do Atlântico Norte), aliança militar liderada pelos Estados Unidos.
Na opinião de vários especialistas, no entanto, esses e outros conflitos em que a Rússia tem se envolvido na região mostram claramente o projeto político e estratégico implementado pelo presidente Vladimir Putin, que, há vários anos, governa a Rússia. Esse projeto consiste em reincorporar ao território russo parte dos territórios que, no passado, formavam a antiga União Soviética.
Em represália aos ataques, as maiores potências ocidentais, principalmente os Estados Unidos, a Alemanha, a França e o Reino Unido, passaram a aplicar uma série de sanções econômicas sobre a Rússia. A aplicação dessas sanções, que incluíram o confisco de bens, o congelamento de valores depositados em bancos e a suspensão das importações de produtos russos, como petróleo e gás natural, visava minar a economia russa e, com isso, forçar o país a desistir dos planos de ocupação e anexação de partes do território ucraniano.
O estabelecimento dessas sanções foi a maneira encontrada pelas potências ocidentais de evitar um confronto direto com a Rússia, o que certamente levaria a uma guerra de proporções sem precedentes, inclusive com a utilização de armas nucleares.

Fontes de poder: um breve panorama atual


No contexto de mundialização do capitalismo, quatro potências econômicas se destacam no cenário internacional: Estados Unidos, Japão e União Europeia (UE), liderada pela Alemanha, e a China, que conheceu acelerado crescimento econômico entre as últimas décadas do século XX e início deste século, tornando-se a segunda maior economia do mundo.
Além de deter um dos maiores arsenais nucleares, a China apresenta a maior população do mundo, com pouco mais de 1,4 bilhão de habitantes. Considerando os países – não os blocos econômicos, como a União Europeia –, a China é a maior potência em termos de volume de comércio internacional, à frente dos Estados Unidos.
A Rússia que se destaca, particularmente em termos político-militares, pois detém expressivo arsenal militar e nuclear. Além disso, as crescentes exportações de petróleo, bem como os elevados preços desse produto no mercado internacional, contribuíram para a recuperação econômica do país na primeira década do século XXI.
A Rússia, aliada de países que os Estados Unidos consideram uma ameaça – Irã, particularmente, e Coreia do Norte (que também tem o apoio da China)
–, busca reinserção como grande potência internacional e um papel mais decisivo nos conflitos em diversos continentes, particularmente na Ásia e na Europa, como demonstram as ações na Ucrânia.
No entanto, na virada do século XX para o século XXI, o mundo presenciou uma situação na qual parecia haver apenas um protagonista: os Estados Unidos – chamados de hiperpotência mundial.

Globalização, pobreza e desigualdade


O processo de globalização tem se caracterizado pelo aumento crescente das desigualdades no mundo. De acordo com levantamentos da ONU e do Banco Mundial, dos mais de 7,5 bilhões de habitantes do nosso planeta, 1,8 bilhão de pessoas vive atualmente com uma renda inferior a 3,20 dólares por dia, enquanto 677 milhões de pessoas sobrevivem com menos de 1,90 dólar por dia.
Os números da pobreza são ainda mais alarmantes em alguns países da América Latina, da África e da Ásia, nos quais milhões de pessoas são privadas de seus direitos básicos, como o de ter uma alimentação equilibrada, uma moradia adequada, ter acesso aos serviços de saúde e educação etc.
A globalização trouxe benefícios a uns poucos países, principalmente aos mais ricos e desenvolvidos, que se mantêm na dianteira econômica e tecnológica, como Estados Unidos, Alemanha e Japão. Porém, para a grande maioria dos países, sobretudo para os mais pobres, a globalização não trouxe os benefícios econômicos esperados. Em muitos desses países, ao contrário, o padrão de vida e os indi cadores socioeconômicos pioraram muito nas últimas décadas, com o aumento das taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo, a diminuição da expectativa de vida e a queda da renda per capita. Como produto da atual fase do desenvolvimento do capitalismo, a globalização vem acirrando as divergências e ampliando as desigualdades entre os países.

Distribuição da riqueza 



Uma das características do mundo globalizado é o aprofundamentodas desigualdades econômicas entre os países. O mundo globalizado é desigual, sobretudo em relação à distribuição da riqueza.
Analisando os dados do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, pode-se observar, de modo geral, a concentração da riqueza nos países desenvolvidos. 
O PIB corresponde à soma de todos os bens e serviços produzidos em um país no período de um ano. A divisão do PIB pela população total resulta no PIB per capita, que mostra a relação entre a quantidade de riqueza que um país produz e a parcela dessa riqueza que caberia a cada habitante, caso ela fosse dividida de forma igualitária.
Países considerados desenvolvidos, em geral, apresentam PIB per capita elevado. Muitos deles foram pioneiros no processo de industrialização e preservaram sua importância na economia global.
Alguns países desenvolvidos constituíram um forte aparato de proteção social, garantindo a seus cidadãos amplo acesso à educação, saúde, moradia e alimentação de qualidade.
Entretanto, a maior parte da população mundial vive em países de renda média ou baixa. Neles, o desenvolvimento econômico não é capaz de produzir ganhos financeiros elevados. Alguns deles, com efeito, apresentam baixo PIB per capita.
Em regiões como a África subsaariana, o Sudeste Asiático e a América Latina, há Estados com pouca capacidade de garantir boas condições de vida à maioria da população. Geram-se, assim, grandes desigualdades internas quanto ao acesso a direitos básicos, com reduzida infraestrutura e serviços precários para a maior parte da sociedade.
Considerando as desigualdades socioeconômicas entre os países, a ONU criou o IDH com o objetivo de avaliar as condições de vida da população e oferecer dados aos governos e a outras instituições para que possam planejar ações visando à redução das disparidades. A comparação dos indicadores que compõem o IDH é uma importante ferramenta para revelar as desigualdades no mundo globalizado. 
No geral, os países desenvolvidos apresentam excelentes indicadores socioeconômicos, como alta renda per capita, baixíssimos índices de analfabetismo e expectativa de vida elevada. Já os países emergentes e os países subdesenvolvidos apresentam, em geral, indicadores socioeconômicos inferiores aos dos países desenvolvidos. Vale lembrar que as generalizações nos dão apenas uma ideia sobre a situação de um país ou região. Países como Brasil, México, Índia e China, considerados emergentes, apresentaram significativas melhorias nas condições de vida da população nas últimas décadas, mas possuem níveis de desenvolvimento distintos.

Concentração de renda


A concentração de renda é outro indicador importante na avaliação das condições de vida da população de um país. Ela é determinada pelo Índice de Gini, que combina aspectos econômicos e sociais, pois mede a distribuição de renda em determinada população. Ele varia de 0 a 100, sendo mais desigual quanto mais próximo de 100.
A concentração de renda é mais alta em países subdesenvolvidos e emergentes. O Brasil e a África do Sul, por exemplo, estão entre os mais desiguais do mundo. Isso não significa que nos outros países a renda seja distribuída igualmente. Porém, há menores disparidades entre ricos e pobres.

A pobreza no mundo atual


A pobreza envolve um conjunto de fatores, como renda, condições de alimenta ção e acesso a serviços de saúde e educação, condições de habitação e exclusão social. Assim, ela é multidimensional, ou seja, abrange vários aspectos.
Para avaliar se uma família se encontra em situação de pobreza multidimensional, a ONU criou, em parceria com institutos de pesquisa, o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM), em 2010. O IPM identifica a sobreposição de pri vações sofridas pelas famílias por meio da análise de dez indicadores, incluindo nutrição, mortalidade infantil, bens domésticos, acesso a serviços básicos, como saneamento básico e eletricidade, entre outros. 
Ainda que a globalização aumente as disparidades entre os países, os seus efeitos em relação à pobreza variam de uma região para outra.
Ao longo das últimas duas décadas, o contingente de pobres aumentou significativamente em certas regiões do mundo, como na América Latina, na África Subsaariana e no sul da Ásia. Fatores como a estagnação econômica, o endividamento externo, a escassez de investimentos ou, ainda, o desvio dos recursos públicos por governos corruptos ou para a compra de armamentos contribuíram para o aumento da pobreza nessas regiões.
Nesse mesmo período, porém, o número de pobres no leste da Ásia diminuiu consideravelmente. Essa redução da pobreza foi ocasionada por fatores diversos, como o grande investimento em educação, ciência e tecnologia e o crescimento econômico, impulsionado pela liberalização do comércio e pelo aumento dos investimentos estrangeiros nessa região.
Embora a pobreza venha sendo globalmente reduzida nas últimas três décadas, existem regiões no mundo onde milhares de pessoas ainda vivem com menos de 1,90 dólar por dia. Vale destacar que a pobreza coloca em risco a segurança alimentar. Em 2021, a fome atingia 1,3 bilhão de pessoas. 
A fome está relacionada à falta de acesso a terras produtivas e à baixa renda. As conse quências são muito graves, principalmente para crianças e jovens, cujo desenvolvimento físico e intelectual é comprometido pela subnutrição. De acordo com a ONU, a segurança alimentar deve ser uma das metas prioritárias de investimento nos países. 

A desigualdade econômica interna dos países


Além do aumento das disparidades em nível mundial, com a ampliação da distância entre os países ricos e os pobres, a globalização tem aumentado as desigualdades no interior dos próprios países. Esse fenômeno tornase ainda mais grave nos países subdesenvolvidos, como ocorre, no Brasil, onde o número de excluídos é bastante elevado, com milhões de pessoas vivendo em condições precárias. Todavia, a pobreza também vem aumentando mesmo nos países ricos e desenvolvidos, principalmente em razão do desemprego crescente, da redução dos benefícios assistenciais (cortes nos gastos previdenciários) e da diminuição das verbas destina das às questões sociais (habitação, educação, saúde etc.).
Estimase que, nos países mais ricos do mundo, como os Estados Unidos, 8,7% da população esteja vivendo na pobreza, ainda que em condições de vida melhores se comparadas às dos pobres que vivem em países como Brasil, México ou Índia, e muito melhores em relação à população pobre que vive em países da África, como Níger, Burundi e Chade. Isso ocorre porque a assistência social e os serviços de saúde, por exemplo, são mais acessíveis à população dos países ricos, enquanto essas outras áreas são extremamente deficientes nos países mais pobres.

Saúde e educação


A baixa renda dos países considerados subdesenvolvidos é refletida em muitos indicadores socioeconômicos, como a expectativa de vida. Isso resulta da escassez de investimentos em sistemas públicos de saúde, saneamento básico e campanhas de vacinação, o que aumenta o risco da proliferação de doenças, reduzindo a esperança de vida ao nascer. Além disso, nesses países, muitas pessoas não conseguem ter uma alimentação saudável por falta de recursos financeiros.
Países com grande desigualdade social ou com rendas mais baixas costumeiramente apresentam problemas de acesso à educação. Muitas vezes, a educação básica não é gratuita e há casos em que as crianças precisam se deslocar por longas distâncias até a escola. Os rendimentos insuficientes das famílias são outro fator que afeta negativamente a educação, pois levam as crianças a trabalhar para contribuir com o sustento familiar.
O acesso de meninas à educação é particularmente afetado em regiões onde tradições e leis desestimulam as mulheres a avançar em sua formação acadêmica. Em certos casos, a segurança das meninas é colocada em risco caso elas decidam estudar.

Pesquisa e desenvolvimento


Na atualidade, um dos principais fatores que diferenciam o desempenho econômico entre os países é a criação e o domínio de tecnologias avançadas.
Produtos de alta tecnologia têm alto valor agregado, isto é, são mais valiosos do que produtos menos elaborados, como as matérias-primas e produtos primários em geral.
Os líderes globais em desenvolvimento tecnológico investem grandes somas em pesquisa e desenvolvimento, estimulando a inovação e aumentando seu grau de competitividade na economia global. Esses investimentos podem ser públicos, ou seja, realizados pelo Estado, ou privados, feitos por empresas.
À medida que os países desenvolvidos criam novas tecnologias, a distância entre os países produtores e os países consumidores desses bens aumenta e cria-se uma relação de dependência entre eles.
Alguns países, como a China, combinam altos investimentos em pesquisa e tecnologia com forte capacidade de produção industrial. Assim, rendimentos financeiros elevados são obtidos em suas exportações.

Acesso à internet


Nos países mais pobres, o acesso à internet e às novas tecnologias restringe-se a uma pequena parcela da população. Neles não há infraestrutura básica e, como resultado, parte da população sofre com a chamada exclusão digital.
Sem internet, os excluídos digitais têm o acesso à informação e à comunicação limitados, o que traz impactos negativos para seu desenvolvimento pessoal, acadêmico e profissional.

Globalização, trabalho e desemprego


Se, por um lado, os avanços tecnológicos foram essenciais para impulsionar o atual processo de globalização; por outro, as novas tecnologias tiveram um impacto direto sobre o emprego. A onda de inovações, apoiada nas tecnologias da informação, da microeletrônica e da robótica, sobretudo a partir da década de 1970, foi cada vez mais incorporada ao processo produtivo, principalmente nas linhas de produção e montagem das indús trias, eliminando milhares de postos de trabalho, como ocorreu nas indústrias auto mobilísticas, com a substituição dos trabalhadores por máquinas.
Nas últimas décadas, as novas tecnologias da informação também alcançaram outros setores de atividades econômicas, sobretudo o de serviços, promovendo a infor matização em bancos, escritórios, companhias telefônicas, empresas de transporte, redes de supermercados, lojas de departamentos etc. A expansão dessas novas tecnologias nos diversos setores da economia faz parte da própria lógica capitalista, na qual as empresas se modernizam para aumentar a produtividade e os lucros, ao mesmo tempo que buscam reduzir os custos da pro dução, como mão de obra (gastos com salários, encargos trabalhistas e benefícios sociais), energia, transporte, entre outros.
A tecnologia e o desemprego Uma das consequências da expansão de novas tecnologias nos diversos setores da economia é que muitos postos de trabalho acabam sendo fechados, agravando a ten dência de aumento da taxa de desemprego entre a população economicamente ativa (PEA). A PEA compreende o conjunto de pessoas que desenvolve alguma atividade econômica, recebendo uma remuneração (salário) pelo trabalho realizado. Compre ende também os trabalhadores que se encontram temporariamente desempregados. A tabela a seguir apresenta as taxas de desemprego de alguns países desenvolvi dos e de alguns subdesenvolvidos.
Nos países ricos, o processo de inovação tecnológica é rápido e intenso, e as novas tecnologias reduzem, drastica mente, a utilização da mão de obra. O que essas inovações tecnológicas criam são novos postos de trabalho em áreas de alta tecnologia, como informática, computação e robó tica. Ainda que em menor número, esses postos requisitam mão de obra altamente qualificada. Por meio do autoconhecimento somos capazes de conhecermos nossas capacidades, habilidades, limitações, ou seja, conhecimentos importantes para definirmos nossa vida profissional. No entanto, em geral, a incorporação de novas tecnologias no sistema produtivo tem efeito negativo sobre o número de empregos. Isso acontece porque o aumento do número de desempregados não é compensado pela abertura de novos postos de trabalho em outros setores de atividades, já que a economia não cresce tão rapida mente como seria necessário para absorver a mão de obra disponível.
Nos países pobres, os desempregados também enfrentam mais dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, e, por isso, muitos deles passam a engrossar o contingente de trabalhadores do mercado informal. Inúmeros trabalhadores que ingressam na economia informal são pouco qualificados e mal remunerados. Além disso, não têm vínculo empregatício, ou seja, não têm acesso aos direitos trabalhistas, como, no caso do Brasil, férias remuneradas, 13º salário, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, licença maternidade etc.




As regiões polares

O planeta Terra possui duas regiões polares, assim chamadas por abrangerem áreas ao redor dos polos geográficos Norte e Sul do planeta. A re...