Os investimentos de capitais estão entre os principais fluxos da globalização e formam uma rede que atinge em maior ou menor grau praticamente todos os países do mundo. Nessas redes circulam grandes somas de dinheiro, que podem ser alocadas de forma produtiva ou especulativa. A distinção entre capital produtivo e capital especulativo ajuda a compreen der a dinâmica dos fluxos de investimentos no mundo globalizado.
Os investimentos produtivos são os empreendimentos que se materializam na paisagem na forma de edifícios, fábricas, fazendas, estradas, lojas, entre outros, e têm maior potencial de geração de renda e de empregos. E os inves timentos especulativos estão associados a toda prática de compra e venda (mercadorias, ações, moeda estrangeira, imóveis, etc.) com a intenção de obter lucro rápido e elevado, aproveitando as variações de preços. A seguir, vamos conhecer mais detalhadamente as características dos investimentos produtivos e especulativos.
1. Investimentos produtivos
Os investimentos produtivos que empresas de um país fazem em outro – conhecidos também como investimentos externos diretos ou investimentos estrangeiros – vêm crescendo desde a Segunda Guerra Mundial, quando muitas empresas sediadas nos países desenvolvidos começaram a instalar filiais em outros países, inclusive em países em desenvol vimento. A maior expansão desses investimentos ocorreu a partir de 1990, com a aceleração do pro cesso de globalização dos capitais, e sobretudo nos anos 2000, atingindo seu recorde em 2007. A crise econômica que ocorreu entre 2008 e 2009 provocou uma queda nesse fluxo, que até 2017 ainda não tinha recuperado o patamar pré-crise.
Os países empenham-se cada vez mais em atrair investimentos produtivos, uma vez que geram renda, empregos e aumentam a arrecadação de impostos, criando riquezas e estimulando o crescimento econômico. No entanto, a atra ção de capitais produtivos depende de políticas econômicas favoráveis, de investimentos em educação (básica e de formação de mão de obra qualificada) e de boa infraestrutura (transporte, telecomunicações, energia, etc.).
A construção e a melhoria da infraestrutura em diversos países, inclusive no Brasil, têm atraído investimentos produtivos. Ainda assim, a maior parte dos investimentos produtivos mundiais é dire cionada a poucos países, principalmente àqueles que oferecem melhores con dições macroeconômicas e mais segurança jurídica, isto é, que asseguram o respeito às leis e aos contratos firmados. .Os quinze principais receptores de investimentos produtivos em 2017. Juntos, eles abrigaram 71% dos investimentos externos feitos no mundo.
Atuação das empresas multinacionais
Os principais agentes da globalização da produção são as empresas multi nacionais (do inglês multinational enterprises, segundo terminologia da Unctad), isto é, empresas que têm sede em um país e atuam por meio de filiais em outros países. Também são chamadas de empresas transnacionais. Porém, mesmo distribuindo filiais pelo mundo, elas mantêm estreitos vínculos com seu país de origem. Em geral, o controle acionário, as decisões estratégicas, a pesquisa e o desenvolvimento e as estratégias de marketing continuam concentrados na matriz da empresa. Além disso, a maior parte dos lucros obtidos nas filiais do exterior é enviada aos países de origem.
As transnacionais instalaram-se em países desenvolvidos e em desenvolvi mento, principalmente, a partir da Segunda Guerra Mundial, quando intensifi caram sua expansão global. Os principais fatores que as atraíram aos países desenvolvidos foram o amplo mercado consumidor, a qualificação da mão de obra e a disponibilidade de boa infraestrutura, o que permitia a instalação de fábricas mais modernas e produtivas.
Já nos países em desenvolvimento, os principais atrativos eram mão de obra barata, impostos baixos e facilidade para exportação, entre outras vantagens que aumentavam a taxa de lucro. Em geral, nesses países se instalavam indús trias tradicionais, como as do ramo têxtil, de calçados, de eletrônicos baratos, de brinquedos, etc., que empregam grande quantidade de mão de obra e não requerem alta qualificação. Esse processo favoreceu a desconcentração da produção industrial no mundo.
Embora esse fenômeno ainda ocorra, sobretudo nos países mais pobres, hoje em dia há muitas empresas multinacionais de alta tecnologia instaladas em países em desenvolvimento que dispõem de boa infraestrutura e de mão de obra qualificada, porém mais barata do que nos países de origem. Em mui tos desses países, o governo concede facilidades para a exportação e para a remessa de lucros às matrizes das multinacionais.
A China, por exemplo, converteu-se no maior exportador mundial: em 2017, segundo o Banco Mundial, 94% de sua pauta de exportações era composta de bens industrializados, sendo 25% desse total de produtos de alta tecnologia.
A Índia, por sua vez, é um dos maiores exportadores mundiais de software e uma das principais sedes de serviços globais de telemarketing. Esse país abriga grandes empresas multinacionais atuantes nesses setores, principalmen te estadunidenses. Muitas delas estão instaladas no parque tecnológico de Bangalore, onde a maior parte das grandes empresas de tecnologias da informação e comunicação tem filiais.
Investimentos externos no grupo BRICS
Países emergentes muito populosos e com elevado PIB, como os do grupo BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, sobretudo os quatro primeiros, que estão entre as maiores economias do mundo, apresentam a vanta gem de ter um grande mercado consumidor. Isso atrai investimentos externos e contribui para seu elevado crescimento econômico.
A distribuição dos investimentos produtivos no espaço geográfico mundial é bastante desigual. Os cinco países do grupo BRICS recebe ram 26% de todo o investimento produtivo feito no mundo em 2017. Em com pensação, os membros do BRICS ficaram com 55% do montante de investimentos produtivos direcionados aos países em desenvolvimento. O maior beneficiado foi a China, com 36% do total dos investimentos produtivos feitos no grupo de países em desenvolvimento, seguida pelo Brasil, que ficou com 9%.
Os investimentos também ocorrem entre os países do BRICS. A China é o país do grupo que mais tem dinheiro disponível para investir, e o Brasil, sobre tudo depois da crise econômica que ocorreu entre 2014 e 2016, é o que tem menos recursos para fazer investimen tos produtivos, principalmente no se tor de infraestrutura. Não por acaso, empresas chinesas têm aumentado substancialmente seus investimentos no Brasil.
2. Investimentos especulativos
Hoje é relativamente fácil transferir grandes quantias de um lugar para outro, pois o dinheiro tornou-se eletrônico, virtual, e circula pelos computa dores do sistema financeiro globalizado. Com isso, os mercados tornaram-se globais e os investidores
ampliaram enormemente as possibilidades de aplicar seus recursos em busca de
lucro rápido. As distâncias não são mais rele
vantes, pois pode-se aplicar em qualquer país que esteja conectado ao sis
tema financeiro global.
Não se sabe ao certo o volume de investimentos especulativos que circulam pelo sistema financeiro mundial. No entanto, se considerarmos as principais bolsas de valores e os maiores bancos, podemos inferir que chega à casa dos trilhões de dólares.
Muitas empresas ou pessoas que dispõem de capital investem em ações, que são negociadas nas bolsas de valores, como as de Nova York, Tóquio ou São Paulo. Ao comprar ações, o investidor adquire uma parcela da empresa que as emitiu, tornando-se acionista. A empresa investe esse dinheiro na produção e, se obtiver lucros, os acionistas recebem parte dele – os dividendos –, de acordo com a quantidade de ações que possuem.
Muitos investidores, porém, não estão interessados em aplicar seu dinheiro de forma produtiva, no longo prazo, e esperar que a empresa produza e seja bem-sucedida para obter dividendos. Preferem lucrar no curto prazo e, para tanto, podem, por exemplo, comprar ações na baixa (quando estão desvalorizadas) e vender na alta (quando se valorizam). Essa estratégia é chamada de especulação.
A especulação financeira
A diferença entre o que foi pago pelas ações e o que se ganhou com a ven da delas, após a valorização, é chamada de lucro financeiro. O lucro obtido pode ser utilizado para a compra de mais ações ou para qualquer outro tipo de inves timento especulativo em qualquer lugar do mundo que ofereça mais vantagens. Desse modo, o investimento em ações tanto pode ser produtivo como especulativo.
Além do mercado acionário, há outras modalidades de inves timento especulativo, como compra e venda de moeda ou de títulos da dívida pública. Uma empresa ou pessoa pode comprar moeda estrangeira ou títulos públicos na baixa e vender na alta, obtendo lucro financeiro com essa operação.
A emissão de títulos da dívida pública pelo governo de um país é uma forma de tomar dinheiro emprestado. Ao comprá-los, o investidor está, na prática, emprestando dinheiro ao Estado, que terá de pagar juros ao comprador.
O capital especulativo gera menos empregos que o capital produtivo e tende a tornar vulnerável a economia dos países que ficam dependentes desse tipo de investimento. Muitas vezes os grandes bancos, os fundos de pensão e outros fundos de investimento retiram o dinheiro desses países ou passam a cobrar juros mais elevados para continuar emprestando, levando-os à inadimplência, como ocorreu na crise argentina em 2001 e na grega em 2011.
Com as facilidades da informática e das telecomunicações, os agentes que comandam a globalização financeira rastreiam diariamente os melhores inves timentos em ações, moedas ou títulos públicos no mundo. Isso lhes dá um poder muito grande, com capacidade de quebrar economicamente empresas e até mesmo países. Os maiores bancos do mundo têm um patrimônio gigantesco, maior que o PIB da maioria dos países.
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