1- Diversidade territorial nordestina
A Região Nordeste apresenta um mosaico de paisagens diferenciadas que se destacam pelos contrastes de regiões de clima chuvoso e com densa vegetação de florestas até regiões de clima seco e com a presença de savanas-estépicas, de grandes metrópoles, com densidades demográficas acima dos 200 habitantes por km² até áreas rurais e reservas naturais com menos de 1 habitante por km².
Diversidade natural
Em relação aos aspectos naturais, os contrastes observados no Nordeste refe
rem-se, sobretudo, às características dos tipos de clima e de vegetação da região.
Na Região Nordeste predominam quase todos os tipos climáticos brasileiros,
à exceção do clima subtropical. O clima tropical úmido é encontrado na faixa
litorânea oriental; o semiárido e o tropical típico na zona interiorana central; e o
equatorial na porção ocidental do estado do Maranhão.
Essa diversidade climática é acompanhada por uma variedade de formas de
vegetação, a qual apresenta áreas dominadas por florestas tropicais (Amazônia
e Mata Atlântica), pela Caatinga, pelo Cerrado e por uma formação de transição
denominada Mata dos Cocais.
População e sub-regiões do Nordeste
No que se refere ao aspecto humano,
há na Região Nordeste um forte contraste
em relação à distribuição populacional. Ela
é caracterizada pela concentração de ha
bitantes em algumas áreas extremamente
urbanizadas do litoral, sobretudo no en
torno das capitais, enquanto áreas do inte
rior, como as sub-regiões do Meio-Norte e
do Sertão, encontram-se pouco povoadas.
Observe o mapa ao lado.
Com base nesses contrastes popu
lacionais e também na diversidade dos
aspectos ambientais, o Nordeste pode
ser dividido em quatro sub-regiões
distintas: a Zona da Mata, o Agreste, o
Meio-Norte e o Sertão.
Sertão nordestino
O Sertão é a mais extensa das sub-regiões nordestinas, compreendendo
aproximadamente 60% do território. Essa imensa área é dominada pelos re
levos de planaltos e de depressões, entremeados por serras e chapadas, com
altitudes médias de cerca de 500 metros.
Nessa sub-região predomina o clima semiárido, que se caracteriza por tem
peraturas elevadas (entre 24 °C e 28 °C) e duas estações bem definidas durante
o ano: uma seca e outra chuvosa.
As chuvas concentram-se em três ou quatro
meses, com uma pluviosidade média de 750 mm anuais. Porém, em algumas
áreas sertanejas, pode chover menos de 500 mm ao ano. Essa característica cli
mática influencia diretamente na disponibilidade de recursos hídricos na sub-re
gião, com a existência de alguns rios permanentes e muitos outros temporários,
ou seja, cursos de água que secam parcial ou totalmente durante as estiagens.
Em interação com essas características climáticas e hídricas, desenvolve-se
no Sertão o bioma da Caatinga.
Nesse ambiente, há o predomínio de uma vege
tação formada por arbustos lenhosos de porte variado e plantas espinhosas, a
exemplo dos cactos, como o mandacaru e o xique-xique. As fotografias a seguir
mostram paisagens da Caatinga em dois momentos durante o ano: na estação
chuvosa e na estação seca.
Fenômeno das secas
Existem ocasiões em que o período de estiagem, ou seja, sem chuvas, pro
longa-se por mais de um ano, dando origem ao chamado fenômeno das secas.
Essa ocorrência natural está presente na vida das populações do interior da
Região Nordeste há séculos.
Os primeiros registros de estiagens extremas datam do século XVI.
Com inter
valos irregulares, longos períodos sem chuva (de até três anos contínuos) atin
gem, sobretudo, a sub-região do Sertão. Essa situação decorre das mudanças
sazonais na circulação geral dos ventos atmosféricos por conta, principalmente,
da atuação do fenômeno chamado El Niño.
Secas, perda da terra e migrações
Durante o século XX, o Sertão foi a sub-região de origem de intensos fluxos
migratórios. Além das fortes secas ocorridas, foram causas das migrações o pro
cesso de perda da terra por milhares de camponeses e o empobrecimento da
população. Tais fatores foram determinantes no desencadeamento de grandes
ondas emigratórias, que acabaram se destacando historicamente na dinâmica
populacional brasileira.
Muitos brasileiros saíram do Nordeste,
sobretudo entre as décadas de 1940 e 1980,
em busca de melhores oportunidades de
trabalho e melhores condições de vida em
outras regiões do Brasil, principalmente a
Amazônia, a Região Sudeste (São Paulo e
Rio de Janeiro) e o Distrito Federal, por oca
sião da construção de Brasília.
Economia sertaneja
A economia do Sertão nordestino baseia-se na agropecuária, atividade que
sofre diretamente com os impactos das condições climáticas, sobretudo na
época das estiagens.
A pecuária bovina é a principal
atividade econômica do Sertão.
Em
geral, essa atividade é praticada na
forma extensiva, em grandes lati
fúndios, mas também em pequenas
propriedades, nas quais o rebanho
é pouco numeroso. Além da bovi
nocultura, destaca-se a criação de
caprinos, que são mais resistentes
ao clima semiárido. Em todo o Nordeste, os caprinos somam cerca de
oito milhões de cabeças, constituin
do o maior rebanho do país.
Em todo o Sertão, desenvolve-se
a agricultura de subsistência, pra
ticada, basicamente, em pequenas
propriedades rurais por meio da
utilização de técnicas tradicionais e de mão de obra familiar. Algumas áreas,
como as encostas das serras e os vales fluviais, apresentam maior umidade,
sendo, portanto, mais favoráveis à prática agrícola.
Nessas áreas, também co
nhecidas como brejos, destacam-se lavouras como as de milho, feijão, arroz e
mandioca. Entre as lavouras comerciais, encontram-se as culturas do algodão
arbóreo, destinado principalmente às indústrias, e da soja irrigada (no oeste da
Bahia), cuja produção atende, sobretudo, ao mercado externo.
2- Nordeste: sub-regiões e desenvolvimento econômico
Vamos analisar as principais características
ambientais e socioeconômicas das demais sub-regiões nordestinas: a Zona da
Mata, o Agreste e o Meio-Norte. Este será o ponto de partida para compreen
dermos que, embora seja uma região com graves problemas sociais, nos últimos anos o Nordeste tem apresentado uma forte tendência de crescimento
econômico e de melhoria da qualidade de vida da população.
Zona da Mata e Agreste
A sub-região da Zona da Mata ocupa a parte leste do Nordeste, área domi
nada pelo clima tropical úmido (quente e chuvoso). A pluviosidade é elevada
(1 800 mm a 2 000 mm anuais), com temperaturas médias anuais altas, varian
do entre 24 °C e 26 °C.
Esse ambiente quente e úmido favoreceu o desenvolvimento da floresta tro
pical, também denominada Mata Atlântica, vegetação exuberante e com grande
diversidade de espécies de fauna e flora. Originalmente, a floresta ocupava gran
de parte dessa sub-região, que, por isso, passou a ser chamada de Zona da Mata.
Contudo, desde a ocupação pelos europeus, há mais de cinco séculos, exten
sas áreas de florestas foram derrubadas, dando lugar a plantações, sobretudo
de cana-de-açúcar e cacau, e a dezenas de cidades. Além disso, atualmente as
queimadas e os desmatamentos ilegais contribuem para a devastação do que
restou dessa floresta.
Partindo do litoral em direção ao interior da Região Nordeste, o clima vai
se tornando mais seco. Essa mudança climática dá origem a uma faixa de
transição denominada Agreste, sub-região que se estende entre a Zona da
Mata e o Sertão. Dessa forma, o Agreste apresenta características naturais
tanto da Zona da Mata como do Sertão, pois em seus trechos mais úmidos
desenvolve-se a Floresta Tropical, enquanto nas áreas mais secas predomina
a caatinga, vegetação típica sertaneja.
Zona da Mata e Agreste: aspectos econômicos
Atualmente, a Zona da Mata é a sub-região economicamente mais impor
tante do Nordeste. Nela, concentram-se diferentes segmentos da atividade
fabril, como indústrias têxteis e alimentícias, agroindústrias (sobretudo usinas
de açúcar e álcool), indústrias extrativas minerais, petroquímicas e, mais recentemente, automobilísticas.
As indústrias extrativas são responsá
veis pela exploração de cobre, chumbo,
tungstênio e cloreto de sódio (sal de
cozinha). Também ocorre a extração
de petróleo, recurso energético fóssil
cuja exploração favoreceu a instalação
de grandes indústrias petroquímicas,
principalmente na área do Recôncavo
Baiano, próxima a Salvador, no estado
da Bahia.
A existência de um grande mercado
consumidor, formado pela população
dos principais centros urbanos do Nor
deste, contribui de maneira significativa
para o desenvolvimento industrial dessa
área.
Outro fator que favorece a atividade industrial na Zona da Mata é sua rede
de transportes (rodovias, ferrovias, portos e aeroportos), mais bem estruturada
do que a das outras sub-regiões, o que facilita o deslocamento de matérias-pri
mas e de produtos industrializados para as demais áreas do país e o exterior.
Além das atividades industriais, na Zona da Mata desenvolvem-se impor
tantes atividades econômicas ligadas ao meio rural, predominando os latifúndios monocultores de cana-de-açúcar, fumo e cacau, que atendem ao consumo
industrial e ao comércio exterior. Outras culturas importantes são as de frutas
tropicais, como manga, mamão, coco--da-baía e caju.
Grande parte dos gêneros alimentí
cios básicos que abastecem os grandes
centros urbanos da Zona da Mata vem
do Agreste. Nessa sub-região, desta
cam-se pequenas e médias propriedades rurais policultoras, que produzem
principalmente mandioca, feijão, milho
e hortaliças, além de criarem gado para
o fornecimento de leite e derivados.
O desenvolvimento das atividades agropecuárias no Agreste contribuiu para
o crescimento de cidades como Campina Grande (PB), Caruaru e Garanhuns (PE),
Arapiraca (AL) e Feira de Santana (BA), que se tornaram polos de comercializa
ção e de distribuição de produtos agrícolas. Atualmente, essas cidades também
são importantes centros regionais de comércio e de prestação de serviços.
Meio-Norte
A sub-região do Meio-Norte corresponde a uma área de transição entre o
clima semiárido do Sertão e o clima equatorial da Floresta Amazônica, abran
gendo o estado do Maranhão e parte do Piauí.
Economia do Meio-Norte
As atividades econômicas predominantes no Meio-Norte são ligadas ao
campo. A atividade extrativa vegetal é praticada em grande parte dessa região,
sobretudo na Mata dos Cocais, onde são exploradas duas espécies de palmei
ras: o babaçu e a carnaúba. Com base em técnicas de exploração tradicionais,
essa coleta constitui a principal fonte de renda para muitos trabalhadores. Na região da Mata dos Cocais, também é comum a
criação extensiva de gado bovino.
Nas margens dos principais rios do Meio-Norte, onde os solos são mais
úmidos, desenvolvem-se grandes plantações de arroz de várzea, no Piauí e no
Maranhão, sendo este último estado um dos maiores produtores do país. Nas
áreas mais secas, são cultivadas lavouras de mandioca, milho e algodão.
Além dessas lavouras, há cerca de três décadas a cultura de soja vem sendo
praticada em diversos municípios localizados no Meio-Norte, sobretudo nas
áreas de Cerrado, como no sul do Maranhão e em parte do Piauí e no sertão
baiano. Essa região foi recentemente denominada pela sigla Matopiba, como
veremos mais adiante.
A criação do Complexo Portuário e Industrial de São Luís, no Maranhão, que
congrega os portos do Itaqui e da Madeira, também tem colaborado para im
pulsionar o crescimento dessa sub-região nordestina. Esses portos são funda
mentais para as exportações agrícolas e o embarque de minério de ferro, cobre
e manganês extraídos da Serra dos Carajás, no Pará.
Desigualdades sociais e crescimento econômico nordestino
Ainda que o Nordeste apresente alguns dos índices de qualidade de vida
mais baixos do país, sobretudo nas áreas rurais, verifica-se nos últimos anos
um ritmo de crescimento da economia mais intenso nessa região do que nas
demais, como apontam as notícias acima.
Isso tem se refletido na melhoria de alguns indicadores socioeconômicos
importantes, como o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM).
O IDHM é um indicador que avalia com maior fidelidade as condições em que
vivem os habitantes de um município. Para calcular o IDHM são utilizados os
seguintes índices em relação à população do município:
- a expectativa de vida, ou seja, o número de anos que os habitantes po
derão viver, levando-se em consideração as taxas de mortalidade locais;
- o nível de escolaridade, que se refere ao número médio de anos de
estudo da população adulta;
- a renda média dos trabalhadores, que possibilita determinado nível de
consumo de bens e serviços.
Frentes do crescimento nordestino: indústria e geração de energia
É possível afirmar que a melhoria do IDHM em boa parte do Nordeste se deve
às significativas modificações ocorridas nos últimos anos em sua economia. De
maneira geral, nas primeiras décadas do século XXI, a região destacava-se no
panorama financeiro nacional, apresentando crescimento econômico acima
da média brasileira. Sua população tinha alto potencial de consumo, apesar da
forte concentração de renda.
Por isso, o Nordeste tem sido chamado por alguns
especialistas de “China brasileira”, em uma comparação às atuais características
socioeconômicas da potência econômica asiática.
Durante a década de 2010, foram feitos grandes investimentos em diversos
setores da economia nordestina. No setor industrial, além do crescimento
das próprias empresas, muitas fábricas de outras partes do país, sobretudo
do Sul-Sudeste, estão mudando para a região ou abrindo filiais no Nordeste.
Estão sendo atraídas indústrias dos mais diversos setores, como alimentício,
calçadista, de vestuário e até mesmo automobilístico e de informática. Essas
empresas são estimuladas, principalmente, pelo menor custo da mão de obra
e pelos benefícios que vários governos estaduais estão concedendo, como a
redução e até mesmo a isenção de impostos. Outro estímulo para a instalação
de empresas é a posição geográfica do Nordeste em relação a alguns merca
dos de exportação.
Potencial turístico do Nordeste
Outro setor que demonstra grande potencial de desenvolvimento na região
é o turismo, que cresceu consideravelmente nos últimos anos e apresenta pers
pectivas promissoras para a economia nordestina.
A grande quantidade de cidades
litorâneas com belas praias e o inves
timento da maioria dos estados na
construção de complexos hoteleiros,
parques aquáticos e polos de ecotu
rismo contribuem de maneira deci-
siva para o desenvolvimento do
setor. Esse crescimento, entretanto,
favorece também a especulação imo
biliária, que, em muitos casos, ame
aça a preservação de importantes
ecossistemas da região.
Além das belezas naturais, a cultura nordestina atrai muitos turistas, tanto
brasileiros como estrangeiros. Em cada estado há danças, canções e ritmos pró
prios, hábitos seculares preservados, artesanatos e comidas tradicionais, entre
outros aspectos, que fascinam visitantes de várias partes do Brasil e do mundo.
As Festas Juninas em Campina Grande (PB) e em Caruaru (PE), por exemplo,
são as mais populares do país, e o Carnaval é o evento que mais atrai turistas,
principalmente para Salvador (BA), Recife (PE) e Olinda (PE). Cada uma
dessas cidades chega a receber mais
de 1 milhão de turistas durante a folia carnavalesca.
Matopiba: nova fronteira agrícola
No espaço rural nordestino, merece destaque o crescimento agrícola ocor
rido em áreas do Sertão. A introdução de projetos de irrigação viabilizou o
avanço de uma moderna agricultura fruticultora para exportação, proporcio
nando a obtenção de elevados índices de produtividade. Atualmente, estão
sendo colhidas grandes safras, sobretudo de cebola, tomate, frutas tropicais
(maracujá, manga, melão) e uva.
Além disso, na última década, extensas áreas, como o oeste da Bahia e
o sul do Maranhão e do Piauí, junto com o norte do Tocantins, estão sendo
ocupadas por plantações de soja, algodão e milho, mediante a correção dos
solos do Cerrado. É a região agrícola chamada pelo Ministério da Agricultura
de Matopiba, sigla que utiliza as sílabas iniciais de cada um dos estados onde
está localizada.
Números do Matopiba
Essa região, que se configura
como uma das últimas fronteiras agrícolas do mundo, é constituída por:
• 337 municípios dos quatro
estados;
• 5,9 milhões de habitantes;
• 73 milhões de hectares ao todo;
• 13 milhões de hectares so
mente no oeste baiano.
Além disso, a previsão da safra de
2024 é de 24 milhões de toneladas.