quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

REGIÃO SUL

Sul: ocupação, economia e urbanização


Curitiba, capital do estado do Paraná, é uma importante metrópole da Região Sul. Ao lado de Florianópolis (SC) e Porto Alegre (RS), as outras duas capitais estaduais da região, a capital paranaense tem grande relevância econômica e cultural nos âmbitos regional e nacional. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Região Sul respondeu em 2019 por 17% de todo o PIB brasileiro, perdendo apenas para o Sudeste.

Ocupação e fluxos migratórios


Originalmente, as terras que hoje formam a Região Sul eram ocupadas por povos indígenas, como os charruas, os kaingangs e os guaranis, sendo estes últimos considerados os primeiros agricultores dessa porção do continente. Parte dessas terras foi, séculos atrás, controla da pela Espanha. Com a assinatura do Tratado de Madri, em 1750, os limites fronteiriços en tre as áreas pertencentes à Coroa espanhola e à Coroa portuguesa foram, então, redefini dos. Assim, o Sul passou a ser governado pelos portugueses, que, objetivando ocupar e domi nar todo o território, estimularam a imigração para essas áreas.
Assim, em meados do século XVIII, houve a primeira política migratória no país, já que Portugal incentivou sobretudo a vinda de famí lias paulistas e de casais açorianos (portugue ses do Arquipélago dos Açores) para ocupar a zona litorânea da região. Para tanto, a Coroa cedia terras, dinheiro, moradia, ferramentas e animais para ser usados no trabalho da lavoura.
Ainda no século XVIII, a mineração em Minas Gerais ajudou no cresci mento das terras que hoje formam a Região Sul, já que algumas de suas áreas se especializaram na pecuária para abastecer as áreas mineiras pro dutoras de ouro e diamantes, que careciam de gêneros alimentícios para a subsistência da população. Assim, nas estâncias (fazendas) do Rio Grande do Sul, criava-se gado para a produção de charque, que era vendido para a população mineira, a qual crescia a cada ano. Esse produto era transpor tado por tropas de mulas que levavam a carga ao lombo. Como a distância era grande, estabeleceram-se pousos para os tropeiros ao longo do tra jeto. Muitos desses locais se transformaram, posteriormente, em cidades importantes dessa região brasileira, como Erechim (RS), Lages (SC) e Ponta Grossa (PR).

Imigração e centros urbanos sulistas


Até a segunda metade do século XIX, a ocupação da Região Sul estava basi camente limitada às áreas litorânea e de planalto próximas à costa. Essa rea lidade mudou com a chegada de grandes levas de imigrantes europeus. Eram famílias de várias nacionalidades, sobretudo alemãs, italianas, polonesas, ucra nianas e espanholas, que se instalaram principalmente em colônias, ou seja, lo calidades compostas de pequenas e médias propriedades rurais, cuja produção agrícola era baseada, sobretudo, na policultura e na criação de aves e de gado leiteiro. Algumas dessas colônias de imigrantes deram origem a importantes centros urbanos da atualidade, como as cidades de Novo Hamburgo e Caxias do Sul (RS) e Blumenau e Joinville (SC).
Mais tarde, já no início do século XX, com a expansão das plantações de café, houve uma nova “onda migratória” do interior de São Paulo em direção ao norte do Paraná. Além dos imigrantes paulistas, essa área re cebeu mineiros, nordestinos, descendentes de europeus e muitos japo neses. Com esse processo de ocupação e a riqueza econô mica gerada pela produção de café, foram fundados importan tes centros urbanos, como as cidades de Londrina e Maringá (PR). Isso tornou a ocupação da região mais homogênea, ainda que existissem áreas pouco po voadas, como o oeste de Santa Catarina e o oeste e sudoeste do Paraná. 

Deslocamentos internos e emigração


A partir de 1950, a modernização conservadora da agricultura, ou seja, o processo baseado na expansão do latifúndio, da monocultura e da mecanização do campo, provocou um grande deslocamento populacional dentro da própria Região Sul. Muitas famílias, sobretudo gaúchas, migraram em busca de ter ras mais baratas no oeste de Santa Catarina e no sudoeste e oeste do Paraná, fazendo com que a atividade madeireira e a agricultura se destacassem nessas áreas, o que provocou o desenvolvimento de núcleos urbanos, como Chapecó (SC) e Cascavel (PR).
Contudo, a abertura dessas novas áreas de ocupação não foi suficiente para a fixação da população, o que provocou ondas de emigração, ou seja, a saída de sulistas para ou tras regiões brasileiras. Assim, entre as décadas de 1960 e 1990, grande quantidade de catarinenses, gaúchos e para naenses deslocaram-se em busca de novas terras, princi palmente no interior de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Rondônia, chegando a fixarem-se também em países vizinhos, como o Paraguai e a Bolívia. Destacam-se nesse mo vimento emigratório os deslocamentos provenientes do norte do Paraná e do Rio Grande do Sul, talvez o mais expressivo de todos. Segundo o IBGE, no ano de 2010, aproximadamente 2 mi lhões de gaúchos e paranaenses viviam fora de seu estado de origem. 

Agropecuária sulista 


O processo de ocupação da Região Sul esteve ligado ao desenvolvimento de atividades agropecuárias, baseadas sobretudo na mão de obra familiar, com exceção da pecuária extensiva em grandes pro priedades rurais no Rio Grande do Sul. Contudo, durante a segunda metade do século XX, essa realidade começou a mudar com a expansão da chamada agropecuária comercial. Vamos entender como se desenvolvem na atualidade essas duas modalidades agrícolas na Região Sul.

Agricultura familiar


A produção rural desenvolvida em pequenas e médias propriedades (chácaras e sítios) e com base na mão de obra familiar, em que trabalham quase ex clusivamente apenas famílias de camponeses, é um aspecto marcante da paisa gem da Região Sul do Brasil. De acordo com dados do IBGE (2018), cerca de 600 mil famílias se encontram envolvidas com a modalidade da agricultura familiar nos três estados sulistas. Nessas propriedades rurais, prioriza-se a produção de gêneros alimentícios, como arroz, feijão, milho, mandioca, ovos e leite, e de produtos artesanais, como queijos, farinhas, doces e embutidos.
A partir da década de 1970, verificou-se um processo de modernização de boa parte das pro priedades familiares nessa região, com a introdu ção do chamado sistema integrado de produção. Esse sistema consiste na parceria entre os peque nos e médios proprietários rurais e as chamadas agroindústrias, como frigoríficos, laticínios, vi nícolas e outros tipos de indústrias alimentícias. Estas cedem insumos agrícolas, como sementes, filhotes de aves e assistência técnica (agrônomos e veterinários) aos agricultores familiares, os quais se comprometem em comercializar sua produção exclusivamente com essas empresas.

Agricultura comercial moderna 


O espaço rural da Região Sul passou por profundas transformações a partir da década de 1970. Ao lado da modernização de parte das pe quenas e médias propriedades rurais, houve também um intenso processo de concentração de terras (aumento do número de grandes propriedades rurais), de mecanização das lavouras e do cultivo de produtos voltados à exportação, as chamadas commodities. 
Dessa forma, a área de produção do trigo, do milho, do café e principalmen te da soja foi ampliada na região, resultando, nas décadas seguintes, na expulsão de muitos trabalhadores rurais, obrigados a se deslocar para os centros urbanos próximos – e outras regiões distantes, como vimos na página 157. Atualmente, a agricultura comercial moderna é praticada em grandes propriedades e com alta tecnologia (uso de sementes selecionadas, tratores, colheitadeiras etc.). Destacam-se a produção de soja, cana-de-açúcar, algodão e trigo no estado do Paraná; arroz, soja e trigo no Rio Grande do Sul; e arroz e soja em Santa Catarina. 
Segundo o IBGE, em 2020 o Paraná colheu sozinho, por meio dessa modalidade, aproximadamente 20 milhões de toneladas de soja em grãos e 35 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. No caso do trigo, destacaram-se o Rio Grande do Sul e o Paraná, que são os principais produtores desse grão no país. Além da produção de grãos, destaca-se a monocultura de eucalipto e pínus (silvicultura), que tem avançado em todo o território brasileiro. Na Região Sul, cuja área planta da é de 35% do total nacional, o estado com maior área plantada – a segunda do Brasil – é o Paraná, 1 milhão e meio de hectares, do qual cerca de 53% são de pínus.

Impactos socioambientais no espaço rural 


É possível afirmar que o processo de modernização das atividades agrícolas aumentou a produtividade das lavouras e das criações, gerando riquezas mo netárias para a Região Sul e para o Brasil. Por outro lado, é importante enten dermos que a agricultura e a pecuária comercial moderna também têm causa do graves impactos ecológicos e sociais, que derivam de suas práticas. 
Entre esses impactos estão: a contaminação do solo e da água decorrente do uso excessivo de fertilizantes e agrotóxicos, o aumento do desmatamento das vegetações nativas e, consequentemente, a diminuição da biodiversidade e o aumento da erosão e da perda de fertilidade natural dos solos.
Do ponto de vista social, verificam-se alguns impactos negativos, como a concentração de terras e a expulsão de milhares de famílias camponesas. Na maioria das vezes, estas acabam tendo de atuar como trabalhadores rurais volantes ou migrar para as áreas urbanas da região ou para outras partes do país em busca de melhores condições de vida. Além disso, nas últimas décadas cresceu grandemente a dependência do produtor rural em relação às grandes empresas do setor, que exercem controle sobre a distribuição de sementes e de outros itens da produção agropecuária.

Impactos causados por hidrelétricas


Além da concentração de terras, outro fato que tem expulsado centenas de famílias sulistas de suas propriedades rurais é a construção de barragens de usinas hidrelétricas, pois elas inundam centenas de quilômetros quadrados de terras a fim de formar seus lagos artificiais. Calcula-se que, nas últimas décadas, milhares de famílias tiveram de deixar suas terras em razão da construção de hidrelétricas no Sul do Brasil, e boa parte delas, até hoje, não recebeu a devida indenização pela perda das propriedades. 
O relevo da Região Sul é composto de extensas áreas de planaltos, com terrenos acidentados e muitas serras (veja o mapa ao lado). Essa caracte rística proporciona elevado potencial para a explração de energia hidrelétrica, sobretudo, por meio da construção de barragens em rios de planalto, que cortam os vales bem encaixados à região. É o que ocorre nos vales tanto dos rios Paraná e Iguaçu, no Paraná, como nos rios Uruguai e Pelo tas, na divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Calcula-se que o Sul gere aproximada mente 25% de toda a energia elétrica consumida no Brasil. Por outro lado, os lagos formados pelas barragens dessas hidrelétricas cobriram milhares de hectares de terras produtivas.

Urbanização e indústria 


A origem de várias cidades da Região Sul está relacio nada aos fluxos migratórios e ao desenvolvimento de atividades econômicas ligadas à agropecuária. Até os anos 1970, o processo de urbanização sulista foi bastante vagaroso, com exceção das capitais Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR). De maneira geral, enquanto o Sudeste apresentava, naquela década, uma urba nização mais acelerada, já com taxas acima de 70%, no Sul elas encontravam-se em torno de 40%. 
Na década de 1990, a taxa de urbanização dessa região chegou a 74% e, em 2010, atingiu 85%. Esse salto no processo de urbanização sulista é decorrente do intenso êxodo rural ocorrido no período, quando milhares de famílias que viviam no campo se dirigiram às cidades, devido, como vimos, à modernização das lavouras, à concentração de terras ou à desapropriação para construção de barragens de usinas hidrelétricas. 
Além desses aspectos, deve-se ressaltar que, nesse mesmo período, a re gião passou por um acelerado desenvolvimento industrial e uma ampliação de seu sistema de transportes (rodovias, portos e aeroportos) e de comunicações, o que atraiu ainda mais pessoas para os centros urbanos. Atualmente, o parque industrial sulista é o segundo maior do Brasil – perde apenas para o Sudeste –, apresentando grande abrangência de setores.

Densa rede de cidades 


Porto Alegre e Curitiba são as principais metrópoles do Sul e exercem grande influência sobre outros centros urbanos. Ao analisarmos a rede urbana da re gião, verificamos que Curitiba, por exemplo, influencia cidades como Londrina, Ponta Grossa e Cascavel, no Paraná. Porém, essa ação ultrapassa os limites do estado, atingindo Florianópolis, Blumenau e Chapecó, em Santa Catarina. Por sua vez, Porto Alegre influencia todas as cidades do Rio Grande do Sul. Além das duas metrópoles regionais, outras cidades se destacam na rede urbana sulista. 

Clima subtropical e biomas sulinos


O clima tropical típico atua somente na parte norte do estado do Paraná. No restante do Sul, que é a maior parte, atua o clima subtropical, caracterizado por boa distribuição de chuvas durante o ano e por médias térmicas anuais inferiores às das demais regiões brasileiras. Sobretudo no inverno, as tem peraturas são bem baixas em comparação com outros lugares do Brasil. Isso ocorre em razão da influência da massa polar atlântica (mPa), uma massa fria que ocasiona geadas e até neve nas áreas de pla nalto com maiores altitudes. Essa massa de ar é responsável tam bém pela geração de minuano, um vento frio que adentra a Região Sul no outono e no inverno, atuando predominantemente no Rio Grande do Sul. Durante o verão, as tempe raturas aumentam, já que há a pre dominância de atuação da massa tropical atlântica (mTa) e da massa tropical continental (mTc).

Biomas sulinos 


As características climáticas e suas inter-relações com outros aspectos natu rais, como o relevo e a hidrografia, criam as condições necessárias à existência dos seguintes biomas na Região Sul: a Mata de Araucárias, a Mata Atlântica, a Vegetação Litorânea e os Pampas ou Campos Sulinos. Observe a distribuição espacial desses biomas pela região no mapa ao lado. Em seguida, vamos conhe cer as características de cada um deles.

Mata de Araucárias 


A Mata de Araucárias, também denominada Mata de Pinhais, ocorre em conjunto com áreas do bioma da Mata Atlântica. Essa formação vegetal desenvolve-se, princi palmente, nas regiões de planaltos de maiores altitudes (como na fotografia da página 166), onde as temperaturas são mais baixas, desde o sul do estado de São Paulo, até o norte do Rio Grande do Sul. Entre as espécies predominan tes destaca-se a Araucaria angustifolia, um pinheiro (conífera) com folhas pontiagudas. São árvores de grande porte, que podem chegar a mais de 30 metros de altura. Entre tanto, na mata, verifica-se a presença de outras espécies, como o cedro, a canela, jacarandá e a guabiroba. A Mata de Araucárias foi intensamente degradada des de a ocupação inicial da Região Sul, tanto pelo desmatamento para a implantação de projetos agropecuários – como o plantio de erva-mate e a criação de gado – quanto pela exploração da madeira para a produção de móveis, por exemplo.

Mata Atlântica e Vegetação Litorânea 


Na Região Sul, bem como em outros locais do territó rio brasileiro, a Mata Atlântica predomina nas áreas de clima mais quente e com maior frequência de chuvas. Esse bioma tem aspecto muito exuberante nas regiões mais próximas ao litoral, como na Serra do Mar, no Paraná e em Santa Catarina, assim como em partes do interior dos três estados sulinos. 
A Mata Atlântica encontra-se bastante degradada na Região Sul, devido à explora ção das áreas ocupadas na época colonial,  e à implantação das monoculturas – como a do café, no norte do Paraná – na primeira me tade do século XX. 
Além das atividades agrícolas, os proces sos de urbanização e industrialização con tribuíram para acelerar essa degradação do bioma, reduzindo drasticamente sua área.

Pampas


O bioma de Pampas, também chamado de Campos Sulinos, ocupa quase a metade do território do estado do Rio Grande do Sul, além de partes do ter ritório dos países vizinhos Uruguai e Argentina. É um bioma caracterizado pela presença de gramíneas e vegetação arbus tiva bem esparsa. O solo é considerado fértil, porém bastante arenoso, muito propenso à erosão.
Desde o Período Colonial, há cerca de 300 anos, os Campos Sulinos são utilizadoscomo pastagens naturais para a criação de gado bovino e ovino. Além da atividade pecuária, mais recentemente, nas últimas décadas, os Pampas também têm sido ocupados pelas lavouras de grãos, em especial de soja. Esse processo de exploração trouxe a essa região sul-rio-grandense gra ves impactos ambientais, como o fenômeno de arenização dos solos.



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