quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

REGIÃO NORTE

Região Norte, a mais extensa do país, com mais de 3,8 milhões de quilômetros quadrados de área, correspondendo a aproximadamente 45% do território brasileiro. 
A porção norte é atravessada pela Linha do Equador, ou seja, a região está totalmente localizada na zona tropical do planeta. Ela faz fron teira com Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia. Além disso, uma pequena faixa, ao norte, é banhada pelo Oceano Atlântico. A região é pouco popu losa, com 18 906 962 milhões de habitantes (estimativas do IBGE em 2021), e pouco povoada – são cerca de 4,12 hab./km2. 
Uma das características marcantes da paisagem da Região Norte é o domínio natural, evidenciado pela Floresta Equatorial Amazônica e pela Bacia Hidrográfica Amazônica.

Ocupação da região 

Os primeiros habitantes das áreas que hoje com preendem a Região Norte, assim como de todo o res tante do território brasileiro, foram os povos indígenas. Depois da chegada dos colonizadores, houve uma gradual alteração dos espaços e do modo de vida da população nativa. 
No período da colonização, a partir de meados do século XVII, os bandeirantes chegaram à região em busca de metais preciosos e procuravam indígenas com o objetivo de escravizá-los. Eles não pretendiam ocupar e povoar aquelas terras, pois sua moti vação era econômica. Por conta do trabalho de catequização feito pelos padres jesuítas, mais europeus chegaram à região. 
O propósito dos jesuítas era disse minar os ensinamentos cristãos entre os indígenas, como você pode observar na pintura acima. Aos poucos, os colonizadores portugueses perceberam que as chamadas “drogas do sertão”, que nada mais eram do que os produtos da floresta, como castanha-do-pará, guaraná, louro, canela e cravo, somadas à grande disponibi lidade de madeira da floresta, poderiam atrair a cobiça e o interesse de outras potências europeias da época, como franceses e holandeses. 
Assim, a estratégia adotada foi a construção de fortes, principalmente ao longo do vale do Rio Amazonas. Essas fortificações deram origem a novos núcleos de povoamento.

Povoamento recente 

Os movimentos populacionais mais recentes (final do século XIX e início do século XX) também ocorreram por motivação econômica. Foi o caso do período da extração do látex, entre 1860 e 1910. O látex, utilizado na fabricação de borracha, é um produto extraído da seringueira, árvore nativa da Floresta Amazônica. 
Nessa época, a indústria do automóvel come çava a surgir nos Estados Unidos e na Europa, o que demandava grande produção de pneus. A impor tância da borracha no período atraiu muitos traba lhadores de outras partes do país, principalmente do Nordeste, que contribuíram para o povoamento da região formando comunidades na floresta.
Na segunda metade do século XX, o governo brasileiro entendeu que era preciso adotar algumas iniciativas para estimular o domínio e o controle do território. Assim, passou a estimular a efetiva ocupação da região. 
Foram criados projetos de pesquisa com o objetivo de fazer o levantamento e o mapeamento dos recursos da região e planejar a construção de estradas para acessá-la. Exemplo disso foi a construção da Rodovia Transamazônica na década de 1970, que atravessaria o Brasil de leste a oeste. 
Essa estrada se tornou importante símbolo de integração nacional, promovida pelo governo militar da época. Entretanto, ela não foi concluída – há alguns trechos em fun cionamento. A obra ficou cara demais e as condições naturais impuseram várias dificuldades a seu andamento. 
Como a região é muito úmida, com chuvas diá rias, e a construção da estrada exigia o desmatamento de amplas áreas, o solo, desprotegido, sofreu erosão e foi sendo destruído, o que resultou em grande impacto ambiental.
Outras iniciativas que visavam incentivar a pro dução na Região Norte a partir da segunda metade do século XX foram a criação da Zona Franca de Manaus e de diversos projetos agropecuários e minerais. Esses projetos atraíram tanto habitantes locais quanto de outras regiões do país. Até hoje, os nordestinos continuam sendo o grupo que mais se deslocou para a Região Norte. 
Em todo esse período histórico, antigo e recente, os rios foram um fator natural fundamen tal para a ocupação do Norte. Como se trata de um território extenso, coberto de florestas e inúmeros rios, a hidrovia é um sistema bastante eficiente de deslocamento nessa área. Se, por um lado, algumas investidas coloniais e projetos recentes proporcionaram maior povoa mento e ocupação da Região Norte, por outro, também foram – e são – responsáveis pela ocupa ção irregular das terras indígenas e por parte da devastação da floresta.

Amazônia: um bioma complexo

Muitas vezes confunde-se a Região Norte com a Amazônia. Na verdade, a Região Norte é apenas parte desse bioma.
Região Norte, compreende os estados do Acre (AC), Amazo nas (AM), Amapá (AP), Pará (PA), Rondônia (RO), Roraima (RR) e Tocantins (TO).
A Amazônia, como também pode ser chamado o bioma amazônico, compreende a floresta equatorial amazônica e áreas menores de campos e cerrados, formações vegetais que extrapolam os limites dos sete estados da Região Norte, compondo a chamada Amazônia Legal, delimitação legal estabelecida em 1996 para fins de políticas de Estado (por exemplo, incentivos fiscais). Compreende os estados da Região Norte, bordas e áreas vizinhas, como o norte de Mato Grosso e o oeste do Maranhão,
Ao todo, o bioma amazônico ocupa aproximadamente 7,5 milhões de km², estendendo-se também por parte do território de oito países vizinhos ou próximos ao Brasil. É a área da chamada Amazônia Internacional, onde cerca de 4,5 milhões de km² estão em território brasileiro. Com florestas associadas a outros ecossistemas (mangue, cerrado, campos, várzeas etc.). Estende-se, também, a outros países da América do Sul. O bioma Amazônia também coincide, aproximadamente, com o domínio fitoclimático Amazônico.
Vamos estudar as principais características do bioma amazônico, entendendo, sobretudo, como os elementos da natureza se inter-relacionam e criam diferentes tipos de paisagens, proporcionando as condições neces sárias para a existência de uma grande biodiversidade nessa região do Brasil.

Domínio fitoclimático Amazônico

Predominam nesse domínio formas de relevo com baixas altitudes (planícies, depressões e baixos planaltos), clima equatorial, vasta rede hidrográfica e vegetação florestal, asso ciada a outras coberturas, como cerrado, campos e manguezais. Esse domínio, o qual estudaremos em detalhes a seguir, abrange a área da Região Norte.

Relevo 

Para entender o relevo dessa e das demais regiões, é importante lembrar que, sobre essas formas de relevo (planícies, planaltos, serras, morros, vales etc.), as sociedades constroem o espaço geográfico, onde ocorrem constantes interações entre os seres humanos e a natureza. Para compreender a natureza da Região Norte, você deve retomar o que aprendeu nos estudos do relevo do Brasil, ou seja, como as diferentes formas de relevo estão distribuídas pelo país. As grandes formas do relevo são: as montanhas, os planaltos, as depressões, os tabuleiros e planícies.
O relevo da Região Norte é formado, na maior parte, por depressões. As depressões apresentam baixa altitude e formas de relevo com predomínio de colinas, com pouca irregularidade na morfologia. Na Região Norte, as depressões se diferenciam em: 
• Depressão ou Superfície Norte-amazônica, nos estados de Roraima e do Amapá e no norte dos estados do Pará e do Amazonas; 
• Depressão ou Superfície Sul-amazônica, no estado de Rondônia e no sul do Pará; 
• Depressão da Amazônia Ocidental, no estado do Acre e em boa parte do estado do Amazonas; 
• Depressão do Guaporé, no estado de Roraima; 
• Depressão do Araguaia-Tocantins, no estado do Tocantins. As áreas de planaltos da Região Norte destacam-se, sobretudo, nas bor das da região: são áreas de nascentes de rios e funcionam como divisores de águas. 
Ao norte encontram-se os Planaltos Residuais Norte-amazônicos, que apresentam as maiores altitudes da região. Esses planaltos dividem as águas das bacias hidrográficas do Rio Amazonas e do Rio Orinoco, na Venezuela. 
É nele também, na Serra do Imeri, localizada no norte do estado do Amazonas, que fica o ponto mais alto do Brasil: o Pico da Neblina, com 2 995 metros de altitude.
Ao longo do Rio Amazonas e de suas áreas de influência direta encontra-se a planície mais extensa da região, um terreno plano e baixo – a Planície do Rio Amazonas. É nela que se concentra a maior parte da população da Região Norte, com destaque para os povos ribeirinhos, que vivem às margens dos rios.

Hidrografia 

O território brasileiro é cortado por muitos rios. Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), o país tem, em suas diversas bacias hidrográficas, 13% da água doce disponível no planeta. 
Apenas a Região Norte concentra, aproximadamente, 68% de todos os recursos hídricos do país. É nela que está a maior bacia hidrográfica do mundo: a Bacia Amazônica. Formada pelo Rio Amazonas e por seus inúmeros afluentes e subafluentes, ela estende-se por áreas do Brasil e de países vizinhos. No leste da região há ainda a Bacia do Tocantins-Araguaia e a do Atlântico Nordeste Ocidental, de menor extensão.
O maior e mais importante rio da região é o Rio Amazonas, cuja nascente está na Cordilheira dos Andes, no Peru, e origina-se do degelo da neve das montanhas. 
Ao entrar no Brasil é chamado de Rio Solimões e, depois da confluência com o Rio Negro (próximo à cidade de Manaus), passa a se chamar Rio Amazo nas, até a foz, no Oceano Atlântico, ao nordeste do Pará. Os rios da Região Norte são a principal via de transporte local. 
Como há poucas estradas, por causa dos limites impostos pela Floresta Amazônica, o Rio Amazonas e seus afluentes são utilizados como hidrovias, que funcionam como se fossem as estradas da região. Em época de cheia dos rios, a vida da população ribeirinha sofre limitações, principalmente em relação ao plantio de subsistência. 
A navegação é favorecida pelo fato de a Região Norte se estender em um terreno de baixa altitude (planícies e depressões), que forma uma imensa área navegável. Como alguns rios da Bacia Amazônica – Xingu e Tapajós, por exem plo – percorrem longos trechos de áreas planálticas, formam quedas-d’água que têm grande potencial hidráulico. 
O potencial elétrico de aproveitamento da energia hidráulica do Brasil está entre os cinco maiores do mundo. Desse potencial, cerca de 40,5% estão loca lizados na Bacia Hidrográfica do Amazonas. No total, a Região Norte detém aproximadamente 60% de todo o potencial hidrelétrico do país, mas boa parte tem restrições ambientais para exploração.
Na Região Norte também se encontra o maior volume de água subterrânea do mundo, o Sistema Aquífero Grande Amazônia (Saga), localizado principalmente no sub solo dos estados do Amazonas, Pará e Amapá. Várias cidades da região utilizam suas águas para consumo humano, com destaque para Manaus. 
Estudos feitos por pesquisadores brasileiros, principalmente por cien tistas da região amazônica, avaliam que o Saga é quatro vezes maior que o Aquífero Guarani (que se estende por parte do território do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina).

Clima

A Região Norte registra constantemente altas temperaturas e grande quantidade de chuvas. Isso ocorre principalmente em razão da baixa latitude, ou seja, do fato de essa região se localizar nas proximidades da Linha do Equador. 
A zona tropical ou intertropical é a que recebe mais intensamente a inci dência de raios solares. A região tam bém apresenta baixas altitudes, com maior pressão atmosférica e retenção de calor.
Como você pôde constatar na leitura do mapa da página anterior, na Região Norte pre domina o clima equatorial. Esse tipo climático caracteriza-se por apresentar altas tempera turas e chuvas muito intensas (elevada pluviosidade) durante todo o ano. 
A formação de chuvas também é influenciada pela exuberante cobertura vegetal, cuja água decorrente da transpiração evapora e se condensa, contri buindo para a formação das nuvens. As médias térmicas variam entre 25 °C e 28 °C, o que indica baixa amplitude térmica anual, e o índice de chuvas varia de 1 500 mm a 2 500 mm anuais. Em razão dessas características, o clima equato rial configura-se como quente e muito úmido.
Além da evapotranspiração, a evaporação das águas dos rios da Bacia Amazônica também contribui para o elevado nível de chuvas da região. Essa umidade é transportada pelos ventos a outras partes do país. 
Na Região Norte, apesar de o clima ser predominantemente quente e úmido, pode ocorrer um fenômeno denominado friagem, caracterizado por uma queda brusca de temperatura. Esse fenômeno se deve à atuação da Massa Polar Atlântica (mPa), que entra pelo sul do Brasil. Quando chega com muita inten sidade, atinge a porção ocidental da Região Norte, especificamente no sul do Amazonas, no Acre e em Rondônia. 
Em um trecho do norte da região, em uma pequena parte do sudeste do Pará e no estado do Tocantins, o tipo climático é o tropical, que se caracteriza pelas altas temperaturas durante todo o ano, com estações bem definidas: uma estação seca e outra chuvosa.

Vegetação

O território brasileiro é amplo, e em razão de sua extensão latitudinal, apresenta diversos tipos climáticos. Essa condição está associada à variedade de tipos de vegetação.
A Floresta Amazônica abrange, ape nas no território brasileiro, uma área de aproximadamente 4,2 milhões de quilômetros quadrados. Nessa imensa área há muitos ecossistemas, os quais abrigam uma rica fauna e flora – a maior biodiversi dade do planeta. 
Na Região Norte também são encontrados, em pequenas áreas, o cerrado, os campos e a vegetação litorânea, em especial os manguezais. Grande parte da diversidade e das características biológicas da região é ainda bastante desconhecida.

Nessa floresta distinguem-se quatro níveis de vegetação, decorrentes de pequenas variações do relevo, do tipo de solo e da proximidade dos rios. 

1. Mata periodicamente inundável sobre diques marginais fluviais;
2. Mata e gramíneas em várzea – terras inundadas (Caa-igapó);
3. Mata de terra firme sobre terraços fluviais;
4. Mata de terra firme sobre colinas.

Conjuntos florestais da Amazônia

Muitas vezes, quando falamos na Amazônia, logo vem à mente a imagem de uma imensa floresta verde, com extensão a “perder de vista”. De fato, a Floresta Amazônica é a principal formação vegetal do bioma amazônico. Sua vegetação é composta de grandes árvores, cujas copas proporcionam certo aspecto homogêneo à paisagem da região.
Entretanto, é importante entender que esse bioma tem características de relevo, solos, cursos de água, clima e de espécies de fauna e flora que dão origem a quatro tipos principais de conjuntos florestais diferentes: as matas de igapó, as matas de várzea, a floresta de terra firme e a floresta semiúmida.

Campos e cerrados amazônicos

Além das áreas florestais, há dois tipos de formações vegetais que se desta cam na área de domínio do bioma amazônico: os campos e os cerrados. Os campos amazônicos, também chamados de campinaramas, ocorrem sobretudo no norte do Amazonas e no sul de Roraima. Em geral, são formações abertas, compostas de gramíneas, palmeiras e peque nos arbustos.  
Os cerrados se desenvolvem no sul do Pará, em Roraima e, sobretudo, no Tocantins, expandindo-se também para o centro do Mato Grosso. Além de gramíneas, nos cerrados há muitos arbustos de médio porte dis tribuídos de forma esparsa pela paisagem. 

Inter-relações entre elementos naturais na Amazônia 

A existência de diferentes paisagens naturais, com formações florestais, cerrados e campos, deve-se a uma complexa inter-relação entre os elemen tos da natureza, sobretudo entre clima, relevo, hidrografia, solos, fauna e flora locais. 

Inter-relações de clima, vegetação e hidrografia 

O tipo de clima predominante na Região Norte é o equatorial. Contudo, para entender melhor as dinâmicas naturais da Amazônia brasileira, é necessário de talhar os aspectos dos climas que atuam nessa região.
De maneira geral, predominam na Amazônia os climas quentes, ou seja, com altas temperaturas médias (em torno de 25 °C), e bastante chuvosos, variando entre 1 500 mm e 3 300 mm anuais de pluviosidade. Há, contudo, algumas diferenças entre esses tipos climáticos que devem ser consideradas: na porção oeste ou ocidental da região, por exemplo, existe uma distribuição mais regular de chuvas entre os meses; já em sua porção central e oriental, há uma estação mais seca e outra mais chuvosa durante o ano. 
Deve-se destacar também que existe uma diferença nos períodos do ano em que ocorrem as estações seca e chuvosa entre a porção norte e sul da Amazônia. Verifique que a estação chuvosa em Boa Vista (RR), localizada na porção norte, ocorre entre abril e setembro, e a seca, de outubro a março; em Porto Velho (RO), por sua vez, a estação chuvosa vai de outubro a março, e a seca, de abril a setembro. Portanto, é a alternância entre estações secas e chuvosas que influencia diretamente as épocas de cheias e de vazantes dos rios da região.
Ainda que se observem diferenças climáticas na Amazônia, um aspecto im portante é que a abundância de chuvas e as altas temperaturas em toda a re gião criam condições favoráveis para o desenvolvimento de formações vegetais exuberantes, com inúmeras espécies vegetais, assim como uma gigantesca diversidade de espécies animais.

Inter-relações dos solos, rios e vegetação 

Além do clima, há aspectos dos solos e da hidrografia da Amazônia que tam bém influenciam as características da floresta. De acordo com estudos realiza dos por especialistas, cerca de 90% dos solos da região amazônica são predo minantemente arenosos e pobres em nutrientes. No entanto, sobre esse solo existe uma camada de matéria orgânica, composta de fezes de animais, folhas, frutos, galhos e troncos em decomposição, entre outros. 
É dessa camada rica em húmus, denominada serrapilheira (ou serapilheira), que praticamente to das as plantas da Floresta Amazônica extraem os nutrientes necessários para sua sobrevivência. De maneira geral, os solos mais férteis da Amazônia encontram-se nas ma tas de igapó e de várzea. Essas áreas recebem, sobretudo na época das cheias, uma grande quantidade de sedimentos e de matéria orgânica trazida pelos cur sos de água e que se deposita sobre os solos. Assim, rios e igarapés têm um papel fundamental na manutenção da vida no bioma amazônico. 
As águas dos rios alcançam largas faixas de terras nas matas de igapó, já que na Bacia Amazônica predomina o relevo relativamente plano. Com mais de sete mil cursos de água principais, a bacia hidrográfica amazônica é a maior do mundo. No leito de seus rios e outros corpos de água corre cerca de 20% de toda a água doce superficial existente na Terra.
 No centro da bacia, está o Amazonas, o maior rio em extensão e em volume de água do planeta, com aproximadamente sete mil quilômetros de extensão. Na maior parte da bacia hidrográfica amazônica, em razão do relevo pre dominantemente plano, os rios são caudalosos e repletos de meandros. Esses cursos de água são as principais vias de comunicação e, consequentemente, o transporte hidroviário é o principal meio de deslocamento da população e de mercadorias na região.

Biodiversidade da Amazônia

Além da inter-relação dos elementos físico-naturais, como nos exemplos es tudados nas páginas anteriores, outra particularidade que se destaca no bioma amazônico, sobretudo na Região Norte do Brasil, é sua grande biodiversidade. 
Aqui se entende por biodiversidade ou diversidade biológica a variedade de espécies da fauna, flora e microrganismos e suas respectivas funções em um ecossistema. Até o momento, os especialistas conhecem cerca de 150 mil espécies de seres vivos na Amazônia. Contudo, acredita-se que esse número não representa nem a metade das espécies existentes, havendo muitas outras ainda desconhecidas e não catalogadas pela ciência. 
Entre os seres vivos conhecidos, há aproximadamente 40 mil espécies de vegetais, 1 300 de aves, 1 400 de peixes e 300 de mamíferos, sem contar as dezenas de milhares de espécies de insetos e microrganismos. Calcula-se que 80% desses seres vivos sejam endêmicos, ou seja, vivem exclusivamente nesse bioma e em nenhuma outra parte do planeta. 
Muitos cientistas têm alertado para o fato de que podemos acabar não conhe cendo toda a riqueza do bioma amazônico em virtude do intenso processo de ocupação e de destruição desse ambiente, observado sobretudo nas últimas décadas. 

Região Norte: última fronteira econômica

Até os anos 1950, a circulação de pessoas e de mercadorias na Região Norte era feita, integralmente, por meio de sua ampla rede hidrográfica. Com a instalação do governo militar no Brasil (1964-1985), foi colocado em prática um plano de incorporação efetiva que pretendia transformar a Amazônia em uma região economicamente produtiva integrada ao restante do país. Para tanto, foi estabeleci do o chamado Plano de Integração Nacional (PIN), que visava, entre outros pontos:
- à construção de rodovias que interligas sem o Norte às demais regiões, principalmente ao Sul e ao Sudeste; 
- à implantação de projetos de colonização agrícola, com a distribuição ou a venda a baixo custo de pequenas, médias e grandes propriedades rurais; 
- à criação de polos de desenvolvimen to industrial e de extração mineral em meio à floresta. 

Para executar o PIN, o governo federal criou a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Esse órgão governamental foi res ponsável por viabilizar a implantação dos projetos de colonização e exploração agropecuária e mineral e dos polos de desenvolvimento da Amazônia, como a Zona Franca de Manaus, local para onde a instalação de empresas nacionais e estrangeiras era estimulada devido à isenção de impostos, na periferia da capital amazonense, em plena Floresta Amazônica. Além disso, linhas de crédito foram aprovadas pelo governo por meio do Banco da Amazônia, com baixas taxas de juros, para financiar obras públicas e o estabelecimento de empresas na Região Norte.

Norte: integração pelas rodovias 

A construção de rodovias foi uma das primeiras ações do governo federal, que buscava integrar o Norte às demais regiões brasileiras. Entre as décadas de 1960 e 1980, foram construídas as rodovias Cuiabá-Porto Velho e Cuiabá-Santarém e reestruturada a Belém-Brasília (iniciada nos anos 1950), exemplos dos chamados eixos de integração no sentido sul-norte. 
O governo também projetou vias de penetração no sentido leste-oeste, como as rodovias Transamazônica e Perimetral Norte, que percorreriam, respectivamente, as margens direita e es querda do Rio Amazonas. Contudo, destas últimas, somente a Transamazônica foi parcialmente concluída, ligando o Maranhão ao estado do Amazonas. 

Avanço das atividades florestais e agropecuárias 

A fim de promover o desenvolvimento das atividades florestais e agro pecuárias na região amazônica, além da Sudam, o governo federal criou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para estabe lecer as diferentes modalidades de ocupação. A maioria delas iniciou-se na década de 1970, sendo implantadas próximas aos grandes eixos rodoviários que rasgavam a floresta. As três principais modalidades de ocupação são:

- agrovilas, núcleos urbano-rurais criados para assentar famílias de migran tes, sobretudo nordestinos, nos estados do Amazonas, Pará e Rondônia. Cada família recebia uma casa e uma pequena área de terra onde plantava produtos de subsistência (milho, mandioca, feijão etc.); 
- propriedades médias rurais, áreas de terras vendidas para empresas de co lonização que visavam, prioritariamente, atrair migrantes sulistas, como paulis tas, paranaenses, gaúchos e catarinenses. As principais áreas de implantação se localizavam nos estados de Rondônia, Tocantins e no norte de Mato Grosso; Agrovilas: 
- grandes propriedades empresariais, imensas extensões de terras públicas vendidas a baixíssimos preços para empresas nacionais e estrangeiras, que buscavam desenvolver atividades ligadas principalmente à extração de madeira nativa e de reflorestamento e à pecuária extensiva.

Agrovilas: um projeto que não prosperou

Entre os objetivos do Plano de Integração Nacional (PIN) esteve o programa de coloniza ção da Região Norte, o qual promoveu a vinda de migrantes do Nordeste e demais regiões brasileiras. Especificamente no trecho da ro dovia Transamazônica, entre os municípios de Altamira e Itaituba, no Pará, foram estabeleci das as chamadas agrovilas. Em áreas de apro ximadamente 100 hectares, eram implantados entre 48 e 64 lotes urbanos para abrigar os colonos assentados. Estes também recebiam lotes rurais, para terem criação e lavoura. 
Além das residências, cada agrovila deveria contar com escolas, posto médico, centro de lazer, entre outros. Ainda que bem elaborado, o pla no governamental não prosperou, pois muitas famílias não se adaptaram a vida em meio à floresta e ao isolamento, deixando posterior mente a região. A primeira agrovila, batizada de Medicilândia (PA), é um dos poucos centros ur banos existentes na região atualmente.

Implantação das atividades mineradoras e industriais 

Na década de 1970, foram descobertas na Região Norte importantes jazidas minerais de ferro, cobre, manganês, ouro, cassiterita, entre outros. Com isso, a Sudam estimulou a implantação de projetos de extração em escala industrial, como o Projeto Grande Carajás, na Serra dos Carajás, no Pará. Esse projeto envolveu a construção da infraestrutura necessária para a exploração da maior jazida de minério de ferro do mundo: rodovias de acesso, alojamentos de ope rários, hidrelétrica para o fornecimento de energia e ferrovia para o escoamen to da produção.
Além da extração, a Sudam passou a financiar a construção de indústrias de transformação de minérios, por exemplo, o polo siderúrgico da Albras/Alunorte no município de Barcarena, tam bém no Pará, que transforma a bauxita extraída na região em alumínio, matéria-prima exporta da para todo o país e o exterior. A implantação de atividades mineradoras como essa na Região Norte transformou o Brasil em um dos maiores produto res mundiais de ferro, bauxita e ouro. Entre os grandes compra dores da maior parte desses mi nérios estão, ainda hoje, países da Europa, os Estados Unidos, a China e o Japão. 
Outra ação de destaque da Sudam foi a criação do Polo In dustrial de Manaus (PIM), área fabril localizada na periferia da capital amazonense. Em pleno “coração” da Floresta Amazônica, foram instaladas dezenas de em presas nacionais e multinacio nais que produzem desde artigos eletroeletrônicos e motocicletas até insumos químicos. No ano de 2020, o PIM reunia cerca de 500 empresas e gerava aproximada mente meio milhão de empregos diretos e indiretos.

Urbanização da Região Norte 

O Norte é a região geográfica brasileira com as menores densidades demográficas. Entretanto, cabe res saltar que, nas últimas décadas, tem ocorrido um acelerado crescimento de sua população: enquanto a média de crescimento populacional brasilei ro foi, no início da década de 2020, de 0,8% ao ano, o índice do Norte foi de aproximadamente 1,6% ao ano, o maior entre as regiões brasileiras. 
Outro recorde de crescimento da região está relacionado à taxa de urba nização, que saltou de 35%, no final da década de 1960, para os atuais 77%. Contudo, diferentemente do que vem ocorrendo com as demais regiões geográficas – em que há concentração da população em cidades de médio e grande porte (com população entre 100 mil e 1 milhão de habitantes ou mais) –, na Região Norte as taxas de urbanização são maiores nas cidades pequenas, com até 50 mil habitantes. As exceções são alguns centros urbanos regionais, na maioria capitais de estado, como Porto Velho, em
Rondônia (cerca de 500 mil habitantes), e Palmas, no Tocantins (cerca de 300 mil habitantes). Existem ainda as duas grandes metrópoles da Amazô nia, Belém (Pará) e Manaus (Amazonas), cidades que abrigam, respectivamente, 1,5 milhão e 2 milhões de habitantes aproximadamente.

Problemas urbanos da Região Norte 

O rápido crescimento da população urbana na Região Norte deve-se, em grande parte, aos seguintes fatores:  
- fracasso dos projetos voltados ao assentamento de agricultores em pequenas propriedades rurais; 
- desapropriação de extensas áreas de terras do governo federal para a implantação de grandes projetos e obras de infraestrutura, como estradas e hidrelétricas;  
- expansão das grandes fazendas, da grilagem de terras e de áreas de garimpo, levando à expulsão das populações tradicionais, como posseiros, ribeirinhos e indígenas de seus lugares de origem, obrigando-as a migrar para os centros urbanos. 
Ao chegarem às cidades, a maioria desses migrantes acaba indo morar em locais sem infraestrutura adequada para abrigá-los, por exemplo, ruas sem calçamento e bairros sem sistema de distribuição de água ou de coleta de esgoto. Além disso, nessas cidades não existem moradias e empregos suficientes, o que contribui enormemente para a expansão da miséria e da existência de bairros carentes.

Impactos na Amazônia e na biosfera

Nas últimas décadas, o processo de ocupação da Região Norte, e mais amplamente da Amazônia, foi baseado na implantação de diversos projetos econômicos que visavam à exploração de recursos naturais e à colonização de terras. Esse processo tem provocado, desde então, o desmatamento ou desflorestamento de extensas áreas para a extração de madeira da floresta nativa e a formação de pastos para a criação de gado bovino e o estabelecimento de lavouras, sobretudo de soja. 
O desflorestamento e a introdução de áreas de pastos e de plantações têm impactado diretamente nas atividades extrativas tradicionais no interior, por exemplo, dos territórios indígenas, bem como nos seringais e castanhais, já que destroem os ecossistemas da região. Além disso, o avanço das grandes proprie dades com atividades agropecuárias e madeireiras sobre áreas indígenas e o processo de grilagem de terras têm desestruturado as formas de subsistência e a cultura de centenas de comunidades tradicionais da Amazônia. Tal fato provocou, nas últimas décadas, um intenso movimento migratório para os centros urbanos da Região Norte.

Comunidades tradicionais da Amazônia 

Além dos povos indígenas originários, a Região Norte recebeu, entre a se gunda metade do século XIX e início do século XX, intensos fluxos migratórios de camponeses provenientes, sobretudo, da Região Nordeste. 
Assim, há mais de um século, convivem em meio ao bioma amazônico co munidades indígenas, de ribeirinhos e de quilombolas, que trabalham, por exemplo, como seringueiros, castanheiros e açaizeiros. Esses habitantes desenvolvem, além do extrativismo vegetal, a caça, a pesca e uma pequena agricultura de roçado, gerando recursos para milhares de famílias, com um baixo impacto no meio ambiente regional. 
Outro grupo que se constituiu com a chegada de trabalhadores nordestinos foram os posseiros, agricultores que se instalaram em terras sem uso do governo federal ou mesmo em fazendas improdutivas, desenvolvendo uma agricultura de subsistência, ou seja, produzindo basicamente alimentos para suas famílias. 
Calcula-se que existam atualmente milhares de famílias de pos seiros em toda a Região Norte e na Amazônia de maneira geral, vivendo e pro duzindo sem ter a propriedade da terra.
 
Saberes tradicionais em risco 

Como resultado do processo de ocupação do Norte e da Amazônia, é possível afirmar que existe na região uma grande diversidade sociocultural. Nela convivem cerca de 180 povos indígenas, totalizando aproximadamente 250 mil pessoas, 357 comunidades quilombolas e milhares de comunidades de seringueiros, ribeirinhos, castanheiros, açaizeiros, babaçueiros etc. 
Todos esses povos e comunidades detêm um amplo conhecimento dos fenômenos naturais e da biodiversidade existente nesse bioma. Contudo, os projetos econômicos de ocupação vêm ameaçando o domínio dessas comunidades sobre esses saberes. 
Isso ocorre porque, além de suas terras serem ameaçadas por madeireiros, garimpeiros e fazendeiros, esses povos têm sido vítimas de outra forma de fraude: o roubo de seus conhecimentos práticos a respeito da fauna e da flora amazônicas por universidades e empresas, sobre tudo aquelas dos ramos químico e farmacêutico. Essa prática é conhecida como biopirataria.

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