Região Norte, a mais
extensa do país, com mais de 3,8 milhões de quilômetros quadrados de área,
correspondendo a aproximadamente 45% do território brasileiro.
A porção norte é atravessada pela Linha do Equador, ou seja, a
região está totalmente localizada na zona tropical do planeta. Ela faz fron
teira com Guiana Francesa,
Suriname, Guiana, Venezuela,
Colômbia, Peru e Bolívia.
Além disso, uma pequena
faixa, ao norte, é banhada pelo
Oceano Atlântico.
A região é pouco popu
losa, com 18 906 962 milhões
de habitantes (estimativas
do IBGE em 2021), e pouco
povoada – são cerca de
4,12 hab./km2.
Uma das características
marcantes da paisagem da
Região Norte é o domínio
natural, evidenciado pela Floresta Equatorial Amazônica
e pela Bacia Hidrográfica
Amazônica.
Ocupação da região
Os primeiros habitantes das áreas que hoje com
preendem a Região Norte, assim como de todo o res
tante do território brasileiro, foram os povos indígenas.
Depois da chegada dos colonizadores, houve uma
gradual alteração dos espaços e do modo de vida da
população nativa.
No período da colonização, a partir
de meados do século XVII, os bandeirantes chegaram
à região em busca de metais preciosos e procuravam indígenas com o objetivo de
escravizá-los. Eles não pretendiam ocupar e povoar aquelas terras, pois sua moti
vação era econômica. Por conta do trabalho de catequização feito pelos padres
jesuítas, mais europeus chegaram à região.
O propósito dos jesuítas era disse
minar os ensinamentos cristãos entre os indígenas, como você pode observar na
pintura acima.
Aos poucos, os colonizadores portugueses perceberam que as chamadas
“drogas do sertão”, que nada mais eram do que os produtos da floresta, como
castanha-do-pará, guaraná, louro, canela e cravo, somadas à grande disponibi
lidade de madeira da floresta, poderiam atrair a cobiça e o interesse de outras
potências europeias da época, como franceses e holandeses.
Assim, a estratégia adotada foi a construção de fortes, principalmente ao longo do vale do Rio
Amazonas. Essas fortificações deram origem a novos núcleos de povoamento.
Povoamento recente
Os movimentos populacionais mais recentes
(final do século XIX e início do século XX) também
ocorreram por motivação econômica. Foi o caso do
período da extração do látex, entre 1860 e 1910.
O látex, utilizado na fabricação de borracha, é um
produto extraído da seringueira, árvore nativa da
Floresta Amazônica.
Nessa época, a indústria do automóvel come
çava a surgir nos Estados Unidos e na Europa, o que
demandava grande produção de pneus. A impor
tância da borracha no período atraiu muitos traba
lhadores de outras partes do país, principalmente
do Nordeste, que contribuíram para o povoamento
da região formando comunidades na floresta.
Na segunda metade do século XX, o governo brasileiro entendeu que era
preciso adotar algumas iniciativas para estimular o domínio e o controle do
território. Assim, passou a estimular a efetiva ocupação da região.
Foram criados projetos de pesquisa com o objetivo de fazer o levantamento
e o mapeamento dos recursos da região e planejar a construção de estradas
para acessá-la. Exemplo disso foi a construção da Rodovia Transamazônica
na década de 1970, que atravessaria o Brasil de leste a oeste.
Essa estrada
se tornou importante símbolo de integração nacional, promovida pelo governo
militar da época. Entretanto, ela não foi concluída – há alguns trechos em fun
cionamento. A obra ficou cara demais e as condições naturais impuseram várias
dificuldades a seu andamento.
Como a região é muito úmida, com chuvas diá
rias, e a construção da estrada exigia o desmatamento de amplas áreas, o solo,
desprotegido, sofreu erosão e foi sendo destruído, o que resultou em grande
impacto ambiental.
Outras iniciativas que visavam incentivar a pro
dução na Região Norte a partir da segunda metade
do século XX foram a criação da Zona Franca de
Manaus e de diversos projetos agropecuários e
minerais. Esses projetos atraíram tanto habitantes
locais quanto de outras regiões do país. Até hoje, os
nordestinos continuam sendo o grupo que mais se
deslocou para a Região Norte.
Em todo esse período histórico, antigo e
recente, os rios foram um fator natural fundamen
tal para a ocupação do Norte. Como se trata de um
território extenso, coberto de florestas e inúmeros
rios, a hidrovia é um sistema bastante eficiente de
deslocamento nessa área.
Se, por um lado, algumas investidas coloniais
e projetos recentes proporcionaram maior povoa
mento e ocupação da Região Norte, por outro,
também foram – e são – responsáveis pela ocupa
ção irregular das terras indígenas e por parte da
devastação da floresta.
Amazônia: um bioma complexo
Muitas vezes confunde-se a Região Norte
com a Amazônia. Na verdade, a Região
Norte é apenas parte desse bioma.
Região Norte, compreende os estados do Acre (AC), Amazo
nas (AM), Amapá (AP), Pará (PA), Rondônia
(RO), Roraima (RR) e Tocantins (TO).
A Amazônia, como também pode ser chamado o bioma amazônico, compreende a floresta equatorial amazônica e áreas menores de campos e cerrados, formações vegetais que extrapolam os limites dos sete estados da Região Norte, compondo a chamada Amazônia Legal, delimitação legal estabelecida em 1996 para fins de políticas de Estado (por exemplo,
incentivos fiscais). Compreende os estados da Região Norte, bordas e áreas vizinhas, como o norte de Mato
Grosso e o oeste do Maranhão,
Ao todo, o bioma amazônico ocupa aproximadamente 7,5 milhões de km², estendendo-se também por parte do território de oito países vizinhos ou próximos ao Brasil. É a área da chamada Amazônia Internacional, onde cerca de 4,5 milhões de km² estão em território brasileiro. Com florestas associadas a outros ecossistemas
(mangue, cerrado, campos, várzeas etc.).
Estende-se, também, a outros países da
América do Sul. O bioma Amazônia também coincide, aproximadamente, com
o domínio fitoclimático Amazônico.
Vamos estudar as principais características do bioma amazônico, entendendo, sobretudo, como os
elementos da natureza se inter-relacionam e criam diferentes tipos de paisagens, proporcionando as condições neces
sárias para a existência de uma grande biodiversidade nessa
região do Brasil.
Domínio fitoclimático Amazônico
Predominam nesse
domínio formas de relevo com baixas altitudes (planícies, depressões e baixos
planaltos), clima equatorial, vasta rede hidrográfica e vegetação florestal, asso
ciada a outras coberturas, como cerrado, campos e manguezais. Esse domínio,
o qual estudaremos em detalhes a seguir, abrange a área da Região Norte.
Relevo
Para entender o relevo dessa e das demais
regiões, é importante lembrar que, sobre essas
formas de relevo (planícies, planaltos, serras,
morros, vales etc.), as sociedades constroem o
espaço geográfico, onde ocorrem constantes
interações entre os seres humanos e a natureza.
Para compreender a natureza da Região
Norte, você deve retomar o que aprendeu nos
estudos do relevo do Brasil, ou seja, como as
diferentes formas de relevo estão distribuídas
pelo país. As grandes formas do relevo são: as montanhas, os planaltos, as depressões, os tabuleiros
e planícies.
O relevo da Região Norte é formado, na maior parte, por depressões. As depressões apresentam baixa altitude e formas de relevo com predomínio de colinas,
com pouca irregularidade na morfologia.
Na Região Norte, as depressões se diferenciam em:
• Depressão ou Superfície Norte-amazônica, nos estados de Roraima e do
Amapá e no norte dos estados do Pará e do Amazonas;
• Depressão ou Superfície Sul-amazônica, no estado de Rondônia e no sul
do Pará;
• Depressão da Amazônia Ocidental, no estado do Acre e em boa parte do
estado do Amazonas;
• Depressão do Guaporé, no estado de Roraima;
• Depressão do Araguaia-Tocantins, no estado do Tocantins.
As áreas de planaltos da Região Norte destacam-se, sobretudo, nas bor
das da região: são áreas de nascentes de rios e funcionam como divisores de
águas.
Ao norte encontram-se os Planaltos Residuais Norte-amazônicos, que
apresentam as maiores altitudes da região. Esses planaltos dividem as águas
das bacias hidrográficas do Rio Amazonas e do Rio Orinoco, na Venezuela.
É nele também, na Serra do Imeri, localizada no norte do estado do Amazonas,
que fica o ponto mais alto do Brasil: o Pico da Neblina, com 2 995 metros de
altitude.
Ao longo do Rio Amazonas e de suas áreas de influência direta encontra-se a planície mais extensa da região, um terreno plano e baixo – a Planície do
Rio Amazonas. É nela que se concentra a maior parte da população da Região
Norte, com destaque para os povos ribeirinhos, que vivem às margens dos rios.
Hidrografia
O território brasileiro é cortado por muitos rios. Segundo a Agência Nacional
de Águas (ANA), o país tem, em suas diversas bacias hidrográficas, 13% da
água doce disponível no planeta.
Apenas a Região Norte concentra, aproximadamente, 68% de todos os
recursos hídricos do país. É nela que está a maior bacia hidrográfica do mundo:
a Bacia Amazônica. Formada pelo Rio Amazonas e por seus inúmeros afluentes
e subafluentes, ela estende-se por áreas do Brasil e de países vizinhos.
No leste da região há ainda a Bacia do Tocantins-Araguaia e a do Atlântico
Nordeste Ocidental, de menor extensão.
O maior e mais importante rio da região é o Rio Amazonas, cuja nascente está
na Cordilheira dos Andes, no Peru, e origina-se do degelo da neve das montanhas.
Ao entrar no Brasil é chamado de Rio Solimões e, depois da confluência
com o Rio Negro (próximo à cidade de Manaus), passa a se chamar Rio Amazo
nas, até a foz, no Oceano Atlântico, ao nordeste do Pará.
Os rios da Região Norte são a principal via de transporte local.
Como há
poucas estradas, por causa dos limites impostos pela Floresta Amazônica, o Rio
Amazonas e seus afluentes são utilizados como hidrovias, que funcionam como
se fossem as estradas da região. Em época de cheia dos rios, a vida da população
ribeirinha sofre limitações, principalmente em relação ao plantio de subsistência.
A navegação é favorecida pelo fato de a Região Norte se estender em um
terreno de baixa altitude (planícies e depressões), que forma uma imensa área
navegável. Como alguns rios da Bacia Amazônica – Xingu e Tapajós, por exem
plo – percorrem longos trechos de áreas planálticas, formam quedas-d’água que
têm grande potencial hidráulico.
O potencial elétrico de aproveitamento da energia hidráulica do Brasil está
entre os cinco maiores do mundo. Desse potencial, cerca de 40,5% estão loca
lizados na Bacia Hidrográfica do Amazonas. No total, a Região Norte detém
aproximadamente 60% de todo o potencial hidrelétrico do país, mas boa parte
tem restrições ambientais para exploração.
Na Região Norte também se
encontra o maior volume de água
subterrânea do mundo, o Sistema
Aquífero Grande Amazônia (Saga),
localizado principalmente no sub
solo dos estados do Amazonas, Pará
e Amapá. Várias cidades da região
utilizam suas águas para consumo
humano, com destaque para Manaus.
Estudos feitos por pesquisadores
brasileiros, principalmente por cien
tistas da região amazônica, avaliam
que o Saga é quatro vezes maior que
o Aquífero Guarani (que se estende
por parte do território do Brasil,
Paraguai, Uruguai e Argentina).
Clima
A Região Norte registra constantemente altas temperaturas e grande
quantidade de chuvas.
Isso ocorre principalmente em
razão da baixa latitude, ou seja, do
fato de essa região se localizar nas
proximidades da Linha do Equador.
A zona tropical ou intertropical é a
que recebe mais intensamente a inci
dência de raios solares. A região tam
bém apresenta baixas altitudes, com
maior pressão atmosférica e retenção
de calor.
Como você pôde constatar na leitura do
mapa da página anterior, na Região Norte pre
domina o clima equatorial. Esse tipo climático
caracteriza-se por apresentar altas tempera
turas e chuvas muito intensas (elevada pluviosidade) durante todo o ano.
A formação de
chuvas também é influenciada pela exuberante
cobertura vegetal, cuja água decorrente da
transpiração evapora e se condensa, contri
buindo para a formação das nuvens. As médias térmicas variam entre 25 °C e
28 °C, o que indica baixa amplitude térmica anual, e o índice de chuvas varia de
1 500 mm a 2 500 mm anuais. Em razão dessas características, o clima equato
rial configura-se como quente e muito úmido.
Além da evapotranspiração, a evaporação das águas dos rios da Bacia
Amazônica também contribui para o elevado nível de chuvas da região. Essa
umidade é transportada pelos ventos a outras partes do país.
Na Região Norte, apesar de o clima ser predominantemente quente e
úmido, pode ocorrer um fenômeno denominado friagem, caracterizado por uma
queda brusca de temperatura. Esse fenômeno se deve à atuação da Massa Polar
Atlântica (mPa), que entra pelo sul do Brasil. Quando chega com muita inten
sidade, atinge a porção ocidental da Região Norte, especificamente no sul do
Amazonas, no Acre e em Rondônia.
Em um trecho do norte da região, em uma pequena parte do sudeste do
Pará e no estado do Tocantins, o tipo climático é o tropical, que se caracteriza
pelas altas temperaturas durante todo o ano, com estações bem definidas: uma
estação seca e outra chuvosa.
Vegetação
O território brasileiro é amplo, e em razão de sua extensão latitudinal, apresenta diversos tipos
climáticos. Essa condição está associada à
variedade de tipos de vegetação.
A Floresta Amazônica abrange, ape
nas no território brasileiro, uma área
de aproximadamente 4,2 milhões de
quilômetros quadrados. Nessa imensa área
há muitos ecossistemas, os quais abrigam
uma rica fauna e flora – a maior biodiversi
dade do planeta.
Na Região Norte também
são encontrados, em pequenas áreas, o
cerrado, os campos e a vegetação litorânea, em especial os manguezais. Grande
parte da diversidade e das características biológicas da região é ainda bastante
desconhecida.
Nessa floresta distinguem-se quatro níveis de vegetação, decorrentes
de pequenas variações do relevo, do tipo de solo e da proximidade dos rios.
1. Mata periodicamente
inundável sobre diques
marginais fluviais;
2. Mata e gramíneas em
várzea – terras inundadas
(Caa-igapó);
3. Mata de terra firme sobre
terraços fluviais;
4. Mata de terra firme sobre
colinas.
Conjuntos florestais da Amazônia
Muitas vezes, quando falamos na Amazônia, logo vem à mente a imagem de
uma imensa floresta verde, com extensão a “perder de vista”. De fato, a Floresta
Amazônica é a principal formação vegetal do bioma amazônico. Sua vegetação
é composta de grandes árvores, cujas copas proporcionam certo aspecto homogêneo à paisagem da região.
Entretanto, é importante entender que esse bioma tem características de relevo, solos, cursos de água, clima e de espécies de fauna e flora que dão origem
a quatro tipos principais de conjuntos florestais diferentes: as matas de igapó,
as matas de várzea, a floresta de terra firme e a floresta semiúmida.
Campos e cerrados amazônicos
Além das áreas florestais, há dois tipos de formações vegetais que se desta
cam na área de domínio do bioma amazônico: os campos e os cerrados.
Os campos amazônicos, também chamados de
campinaramas, ocorrem sobretudo no norte do Amazonas e no sul de Roraima. Em geral, são formações
abertas, compostas de gramíneas, palmeiras e peque
nos arbustos.
Os cerrados se desenvolvem no sul do Pará, em Roraima e, sobretudo, no Tocantins, expandindo-se também para o centro do Mato Grosso. Além de gramíneas,
nos cerrados há muitos arbustos de médio porte dis
tribuídos de forma esparsa pela paisagem.
Inter-relações entre elementos
naturais na Amazônia
A existência de diferentes paisagens naturais, com formações florestais,
cerrados e campos, deve-se a uma complexa inter-relação entre os elemen
tos da natureza, sobretudo entre clima, relevo, hidrografia, solos, fauna e
flora locais.
Inter-relações de clima, vegetação e hidrografia
O tipo de clima predominante na Região Norte é o equatorial. Contudo, para
entender melhor as dinâmicas naturais da Amazônia brasileira, é necessário de
talhar os aspectos dos climas que atuam nessa região.
De maneira geral, predominam na Amazônia os climas quentes,
ou seja, com altas temperaturas médias (em torno de 25 °C), e bastante
chuvosos, variando entre 1 500 mm e 3 300 mm anuais de pluviosidade.
Há, contudo, algumas diferenças entre esses tipos climáticos que devem ser
consideradas: na porção oeste ou ocidental da região, por exemplo, existe uma
distribuição mais regular de chuvas entre os meses; já em sua porção central e
oriental, há uma estação mais seca e outra mais chuvosa durante o ano.
Deve-se destacar também que existe uma diferença nos períodos do ano
em que ocorrem as estações seca e chuvosa entre a porção norte e sul da
Amazônia. Verifique que a estação chuvosa em Boa Vista (RR), localizada na
porção norte, ocorre entre abril e setembro, e a seca, de outubro a março;
em Porto Velho (RO), por sua vez, a estação chuvosa vai de outubro a março,
e a seca, de abril a setembro. Portanto, é a alternância entre estações secas e
chuvosas que influencia diretamente as épocas de cheias e de vazantes dos
rios da região.
Ainda que se observem diferenças climáticas na Amazônia, um aspecto im
portante é que a abundância de chuvas e as altas temperaturas em toda a re
gião criam condições favoráveis para o desenvolvimento de formações vegetais
exuberantes, com inúmeras espécies vegetais, assim como uma gigantesca diversidade de espécies animais.
Inter-relações dos solos, rios e vegetação
Além do clima, há aspectos dos solos e da hidrografia da Amazônia que tam
bém influenciam as características da floresta. De acordo com estudos realiza
dos por especialistas, cerca de 90% dos solos da região amazônica são predo
minantemente arenosos e pobres em nutrientes. No entanto, sobre esse solo
existe uma camada de matéria orgânica, composta de fezes de animais, folhas,
frutos, galhos e troncos em decomposição, entre outros.
É dessa camada rica
em húmus, denominada serrapilheira (ou serapilheira), que praticamente to
das as plantas da Floresta Amazônica extraem os nutrientes necessários para
sua sobrevivência.
De maneira geral, os solos mais férteis da Amazônia encontram-se nas ma
tas de igapó e de várzea. Essas áreas recebem, sobretudo na época das cheias,
uma grande quantidade de sedimentos e de matéria orgânica trazida pelos cur
sos de água e que se deposita sobre os solos. Assim, rios e igarapés têm um
papel fundamental na manutenção da vida no bioma amazônico.
As águas dos rios alcançam largas faixas de terras nas matas de igapó, já
que na Bacia Amazônica predomina o relevo relativamente plano. Com mais
de sete mil cursos de água principais, a bacia hidrográfica amazônica é a maior
do mundo. No leito de seus rios e outros corpos de água corre cerca de 20%
de toda a água doce superficial existente na Terra.
No centro da bacia, está
o Amazonas, o maior rio em extensão e em volume de água do planeta, com
aproximadamente sete mil quilômetros de extensão.
Na maior parte da bacia hidrográfica amazônica, em razão do relevo pre
dominantemente plano, os rios são caudalosos e repletos de meandros. Esses
cursos de água são as principais vias de comunicação e, consequentemente, o
transporte hidroviário é o principal meio de deslocamento da população e de
mercadorias na região.
Biodiversidade da Amazônia
Além da inter-relação dos elementos físico-naturais, como nos exemplos es
tudados nas páginas anteriores, outra particularidade que se destaca no bioma
amazônico, sobretudo na Região Norte do Brasil, é sua grande biodiversidade.
Aqui se entende por biodiversidade ou diversidade biológica a variedade
de espécies da fauna, flora e microrganismos e suas respectivas funções em
um ecossistema. Até o momento, os especialistas conhecem cerca de 150 mil
espécies de seres vivos na Amazônia. Contudo, acredita-se que esse número
não representa nem a metade das espécies existentes, havendo muitas outras
ainda desconhecidas e não catalogadas pela ciência.
Entre os seres vivos conhecidos, há aproximadamente 40 mil espécies de
vegetais, 1 300 de aves, 1 400 de peixes e 300 de mamíferos, sem contar as
dezenas de milhares de espécies de insetos e microrganismos. Calcula-se que
80% desses seres vivos sejam endêmicos, ou seja, vivem exclusivamente nesse
bioma e em nenhuma outra parte do planeta.
Muitos cientistas têm alertado para o fato de que podemos acabar não conhe
cendo toda a riqueza do bioma amazônico em virtude do intenso processo de ocupação e de destruição desse ambiente, observado sobretudo nas últimas décadas.
Região Norte: última
fronteira econômica
Até os anos 1950, a circulação de pessoas
e de mercadorias na Região Norte era feita,
integralmente, por meio de sua ampla rede
hidrográfica. Com a instalação do governo
militar no Brasil (1964-1985), foi colocado em
prática um plano de incorporação efetiva que
pretendia transformar a Amazônia em uma
região economicamente produtiva integrada
ao restante do país. Para tanto, foi estabeleci
do o chamado Plano de Integração Nacional
(PIN), que visava, entre outros pontos:
- à construção de rodovias que interligas
sem o Norte às demais regiões, principalmente ao Sul e ao Sudeste;
- à implantação de projetos de colonização agrícola, com a distribuição ou a
venda a baixo custo de pequenas, médias e grandes propriedades rurais;
- à criação de polos de desenvolvimen
to industrial e de extração mineral em
meio à floresta.
Para executar o PIN, o governo federal criou a Superintendência para o
Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Esse órgão governamental foi res
ponsável por viabilizar a implantação dos projetos de colonização e exploração
agropecuária e mineral e dos polos de desenvolvimento da Amazônia, como a
Zona Franca de Manaus, local para onde a instalação de empresas nacionais
e estrangeiras era estimulada devido à isenção de impostos, na periferia da
capital amazonense, em plena Floresta Amazônica.
Além disso, linhas de crédito foram aprovadas pelo governo por meio do
Banco da Amazônia, com baixas taxas de juros, para financiar obras públicas
e o estabelecimento de empresas na Região Norte.
Norte: integração pelas rodovias
A construção de rodovias foi uma das
primeiras ações do governo federal, que
buscava integrar o Norte às demais regiões
brasileiras. Entre as décadas de 1960
e 1980, foram construídas as rodovias
Cuiabá-Porto Velho e Cuiabá-Santarém e
reestruturada a Belém-Brasília (iniciada
nos anos 1950), exemplos dos chamados
eixos de integração no sentido sul-norte.
O governo também projetou vias
de penetração no sentido leste-oeste,
como as rodovias Transamazônica e
Perimetral Norte, que percorreriam, respectivamente, as margens direita e es
querda do Rio Amazonas. Contudo, destas últimas, somente a Transamazônica
foi parcialmente concluída, ligando o Maranhão ao estado do Amazonas.
Avanço das atividades florestais e agropecuárias
A fim de promover o desenvolvimento das atividades florestais e agro
pecuárias na região amazônica, além da Sudam, o governo federal criou o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para estabe
lecer as diferentes modalidades de ocupação. A maioria delas iniciou-se na
década de 1970, sendo implantadas próximas aos grandes eixos rodoviários
que rasgavam a floresta. As três principais modalidades de ocupação são:
- agrovilas, núcleos urbano-rurais criados para assentar famílias de migran
tes, sobretudo nordestinos, nos estados do Amazonas, Pará e Rondônia.
Cada família recebia uma casa e uma pequena área de terra onde plantava
produtos de subsistência (milho, mandioca, feijão etc.);
- propriedades médias rurais, áreas de terras vendidas para empresas de co
lonização que visavam, prioritariamente, atrair migrantes sulistas, como paulis
tas, paranaenses, gaúchos e catarinenses. As principais áreas de implantação
se localizavam nos estados de Rondônia, Tocantins e no norte de Mato Grosso;
Agrovilas:
- grandes propriedades empresariais, imensas extensões de terras públicas vendidas a baixíssimos preços para empresas nacionais e estrangeiras,
que buscavam desenvolver atividades ligadas principalmente à extração de
madeira nativa e de reflorestamento e à pecuária extensiva.
Agrovilas: um projeto que não prosperou
Entre os objetivos do Plano de Integração
Nacional (PIN) esteve o programa de coloniza
ção da Região Norte, o qual promoveu a vinda
de migrantes do Nordeste e demais regiões
brasileiras. Especificamente no trecho da ro
dovia Transamazônica, entre os municípios de
Altamira e Itaituba, no Pará, foram estabeleci
das as chamadas agrovilas. Em áreas de apro
ximadamente 100 hectares, eram implantados
entre 48 e 64 lotes urbanos para abrigar os
colonos assentados. Estes também recebiam
lotes rurais, para terem criação e lavoura.
Além
das residências, cada agrovila deveria contar
com escolas, posto médico, centro de lazer,
entre outros. Ainda que bem elaborado, o pla
no governamental não prosperou, pois muitas
famílias não se adaptaram a vida em meio à
floresta e ao isolamento, deixando posterior
mente a região. A primeira agrovila, batizada de
Medicilândia (PA), é um dos poucos centros ur
banos existentes na região atualmente.
Implantação das atividades mineradoras e
industriais
Na década de 1970, foram descobertas na Região Norte importantes jazidas
minerais de ferro, cobre, manganês, ouro, cassiterita, entre outros. Com isso, a
Sudam estimulou a implantação de projetos de extração em escala industrial,
como o Projeto Grande Carajás, na Serra dos Carajás, no Pará. Esse projeto
envolveu a construção da infraestrutura necessária para a exploração da maior
jazida de minério de ferro do mundo: rodovias de acesso, alojamentos de ope
rários, hidrelétrica para o fornecimento de energia e ferrovia para o escoamen
to da produção.
Além da extração, a Sudam
passou a financiar a construção
de indústrias de transformação
de minérios, por exemplo, o polo
siderúrgico da Albras/Alunorte
no município de Barcarena, tam
bém no Pará, que transforma a
bauxita extraída na região em
alumínio, matéria-prima exporta
da para todo o país e o exterior.
A implantação de atividades
mineradoras como essa na Região Norte transformou o Brasil
em um dos maiores produto
res mundiais de ferro, bauxita e
ouro. Entre os grandes compra
dores da maior parte desses mi
nérios estão, ainda hoje, países
da Europa, os Estados Unidos, a
China e o Japão.
Outra ação de destaque da
Sudam foi a criação do Polo In
dustrial de Manaus (PIM), área
fabril localizada na periferia da
capital amazonense. Em pleno
“coração” da Floresta Amazônica,
foram instaladas dezenas de em
presas nacionais e multinacio
nais que produzem desde artigos
eletroeletrônicos e motocicletas
até insumos químicos. No ano de
2020, o PIM reunia cerca de 500
empresas e gerava aproximada
mente meio milhão de empregos
diretos e indiretos.
Urbanização da Região Norte
O Norte é a região geográfica brasileira com as menores densidades
demográficas. Entretanto, cabe res
saltar que, nas últimas décadas, tem
ocorrido um acelerado crescimento
de sua população: enquanto a média
de crescimento populacional brasilei
ro foi, no início da década de 2020,
de 0,8% ao ano, o índice do Norte foi
de aproximadamente 1,6% ao ano, o
maior entre as regiões brasileiras.
Outro recorde de crescimento da
região está relacionado à taxa de urba
nização, que saltou de 35%, no final da
década de 1960, para os atuais 77%.
Contudo, diferentemente do que vem
ocorrendo com as demais regiões geográficas – em que há concentração da
população em cidades de médio e grande porte (com população entre 100 mil
e 1 milhão de habitantes ou mais) –, na Região Norte as taxas de urbanização
são maiores nas cidades pequenas, com até 50 mil habitantes. As exceções são
alguns centros urbanos regionais, na maioria capitais de estado, como Porto
Velho, em
Rondônia (cerca de 500 mil habitantes), e Palmas, no Tocantins (cerca
de 300 mil habitantes). Existem ainda as duas grandes metrópoles da Amazô
nia, Belém (Pará) e Manaus (Amazonas), cidades que abrigam, respectivamente,
1,5 milhão e 2 milhões de habitantes aproximadamente.
Problemas urbanos da Região Norte
O rápido crescimento da população urbana na Região Norte deve-se, em grande parte, aos seguintes fatores:
- fracasso dos projetos voltados ao assentamento de agricultores em pequenas propriedades rurais;
- desapropriação de extensas áreas de terras do governo federal para a implantação de grandes projetos e
obras de infraestrutura, como estradas e hidrelétricas;
- expansão das grandes fazendas, da grilagem de terras e
de áreas de garimpo, levando à expulsão das populações
tradicionais, como posseiros, ribeirinhos e indígenas de
seus lugares de origem, obrigando-as a migrar para os
centros urbanos.
Ao chegarem às cidades, a maioria desses migrantes
acaba indo morar em locais sem infraestrutura adequada
para abrigá-los, por exemplo, ruas sem calçamento e
bairros sem sistema de distribuição de água ou de coleta de
esgoto. Além disso, nessas cidades não existem moradias e
empregos suficientes, o que contribui enormemente para a
expansão da miséria e da existência de bairros carentes.
Impactos na Amazônia e na biosfera
Nas últimas décadas, o processo de ocupação da Região Norte, e mais
amplamente da Amazônia, foi baseado na implantação de diversos projetos
econômicos que visavam à exploração de recursos naturais e à colonização
de terras. Esse processo tem provocado, desde então, o desmatamento ou
desflorestamento de extensas áreas para a extração de madeira da floresta
nativa e a formação de pastos para a criação de gado bovino e o estabelecimento de lavouras, sobretudo de soja.
O desflorestamento e a introdução de áreas de pastos e de plantações têm
impactado diretamente nas atividades extrativas tradicionais no interior, por
exemplo, dos territórios indígenas, bem como nos seringais e castanhais, já que
destroem os ecossistemas da região. Além disso, o avanço das grandes proprie
dades com atividades agropecuárias e madeireiras sobre áreas indígenas e o
processo de grilagem de terras têm desestruturado as formas de subsistência
e a cultura de centenas de comunidades tradicionais da Amazônia. Tal fato provocou, nas últimas décadas, um intenso movimento migratório para os centros
urbanos da Região Norte.
Comunidades tradicionais da
Amazônia
Além dos povos indígenas originários, a Região Norte recebeu, entre a se
gunda metade do século XIX e início do século XX, intensos fluxos migratórios
de camponeses provenientes, sobretudo, da Região Nordeste.
Assim, há mais de um século, convivem em meio ao bioma amazônico co
munidades indígenas, de ribeirinhos e de quilombolas, que trabalham, por
exemplo, como seringueiros, castanheiros e açaizeiros. Esses habitantes
desenvolvem, além do extrativismo vegetal, a caça, a pesca e uma pequena
agricultura de roçado, gerando recursos para milhares de famílias, com um
baixo impacto no meio ambiente regional.
Outro grupo que se constituiu com a chegada de trabalhadores nordestinos foram os posseiros, agricultores que se instalaram em terras sem uso do
governo federal ou mesmo em fazendas improdutivas, desenvolvendo uma
agricultura de subsistência, ou seja, produzindo basicamente alimentos para
suas famílias.
Calcula-se que existam atualmente milhares de famílias de pos
seiros em toda a Região Norte e na Amazônia de maneira geral, vivendo e pro
duzindo sem ter a propriedade da terra.
Saberes tradicionais em risco
Como resultado do processo de ocupação do Norte e da Amazônia, é possível afirmar que existe na região uma grande diversidade sociocultural. Nela
convivem cerca de 180 povos indígenas, totalizando aproximadamente 250 mil
pessoas, 357 comunidades quilombolas e milhares de comunidades de seringueiros, ribeirinhos, castanheiros, açaizeiros, babaçueiros etc.
Todos esses povos e comunidades detêm um amplo conhecimento dos fenômenos naturais e
da biodiversidade existente nesse bioma.
Contudo, os projetos econômicos de ocupação vêm ameaçando o domínio
dessas comunidades sobre esses saberes.
Isso ocorre porque, além de suas terras
serem ameaçadas por madeireiros, garimpeiros e fazendeiros, esses povos têm
sido vítimas de outra forma de fraude: o roubo de seus conhecimentos práticos
a respeito da fauna e da flora amazônicas por universidades e empresas, sobre
tudo aquelas dos ramos químico e farmacêutico. Essa prática é conhecida como
biopirataria.
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