segunda-feira, 25 de setembro de 2023

A Europa Contemporânea

 Rumo à Europa unida

Quando a Segunda Guerra Mundial acabou, um sentimento era comum à maioria dos governos e das sociedades europeias: era preciso encontrar um caminho que assegurasse uma paz duradoura para a reconstrução dos países destruídos. Essa reconstrução exigia um esforço gigantesco dos governos e recursos financeiros em grande escala para reerguer cidades, restabelecer as comunicações e reorganizar a economia.
Os recursos financeiros vieram dos Estados Unidos por meio do Plano Marshall, que transferiu para a Europa cerca de 14 bilhões de dólares entre 1947 e 1952. Em 1948, os líderes dos países europeus que se beneficiaram do Plano Marshall criaram a Organização Europeia de Cooperação Econômica (OECE). O objetivo da OECE era planejar como e onde utilizar os recursos do Plano Marshall nas atividades de reconstrução da Europa. Essa organização ofereceu uma das bases para outras experiências de integração do continente.
Assim, em 1951 os governos da França, Alemanha Ocidental, Bélgica, Itália, Luxemburgo e Países Baixos (Holanda) criaram a Comunidade Europeia dos Carvão e do Aço (CECA). Seis anos depois, em 24 e 25 de março de 1957, representantes desses países assinaram o Tratado de Roma que deu origem à Comunidade Econômica Europeia (CEE), ou Mercado Comum Europeu (MCE). Era o ponto de partida do longo caminho em direção à atual Europeia (EU).
Vejamos agora em que condições estavam as três maiores potências europeias nesse período.

França: guerras coloniais e crise política

Na década de 1950 e no começo dos anos 1960, a vida política na França foi marcada pelas lutas de independência de suas colônias na África e na Ásia. Entre 1945 e 1954, o governo francês enfrentou a Guerra da Indochina, no fim da qual foi obrigado a reconhecer a independência do Vietnã do Norte, do Vietnã do Sul, do Laos e do Camboja. Na África em 1956 o Marrocos e a Tunísia tornam-se independentes. A eles se seguiram, em 1960, o Senegal, Togo, Camarões, Benin, Níger, Burkina Fasso, Costa do Marfim, Chade, Congo, Gabão, Mali, Mauritânia e Madagascar, todos ex-colônias francesas.
Entretanto, a luta de libertação nacional que mais afetou a estabilidade política da França ocorreu na Argélia (norte da África). Nessa região, a guerra de independência teve início em 1954 e só terminou em 1962. Durante o conflito armado, estima-se que morreram cerca de meio milhão de argelinos e centenas de milhares de franceses, entre soldados e colonizadores.

De Gaulle e a Quinta República

Em maio de 1958, as sucessivas derrotas do exército francês na Argélia levaram o general Charles de Gaulle, herói da Segunda Guerra Mundial, a assumir o governo. Dias depois, a Assembleia acional (Parlamento) concedeu-lhe poderes especiais para governar. Nascia assim a chamada Quinta República francesa.
De Gaulle deu início a negociação com a Frente de Libertação Nacional argelina em 1959, contrariando os interesses dos colonialistas que esperavam uma reação militar contra os argelinos. Essas negociações levaram aos acordos de 1962 e ao fim da guerra, com o reconhecimento da independência da Argélia pelos franceses.
Em política externa, De Gaulle procurou se contrapor à hegemonia dos Estados Unidos no mundo ocidental. Assim, em 1966 levou a França a se afastar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Ao mesmo tempo, estimulou as pesquisas que levariam ao controle da bomba atômica pela França.
Em 1968, o apoio popular ao seu governo diminuiu graças a dois acontecimentos: as manifestações estudantis de maio de 1968 e um plebiscito no qual De Gaulle foi derrotado pelo voto. No ano seguinte, De Gaulle renunciou e novas eleições foram realizadas.

Grã-Bretanha: o fim da grande potência

Em 1945, com o fim da Segunda Guerra, o primeiro-ministro da Inglaterra, Winston Churchill, do Partido Conservador, foi derrotado nas eleições por Clemente Atlee, líder do Partido Trabalhista. Atlee realizou amplas reformas sociais e estatizou serviços e empresas estratégicas. Seu governo trabalhista deu origem ao Welfare State (Estado de bem-estar social) na Inglaterra, ou seja, um Estado baseado em programas de assistência aos cidadãos que incluíam educação, saúde, habitação, auxílio-desemprego, aposentadoria, etc.Ao contrário dos franceses e dos alemães, os ingleses não mostraram interesse em participar de acordos como o que criou o Mercado Comum Europeu. O governo e a elite britânica imaginavam que esses acordos limitariam sua política de livre-comércio e diminuiriam suas possibilidades de voltar a ser uma grande potência europeia e mundial. Entretanto, as duas grandes guerras, a ascensão da União Soviética e o ritmo de crescimento dos Estados Unidos não dariam margem para uma nova hegemonia britânica.
Em 1956, uma disputa internacional pelo cana de Suez (no Egito) revelou definitivamente o papel secundário do país diante do poder da União Soviética e dos Estados Unidos.
Sete anos depois, em 1963, a Grã-Bretanha solicitou sua integração à Comunidade Econômica Europeia (CEE), mas o pedido foi vetado pelo presidente De Gaulle. Apenas em 1973 o pedido seria aceito. Entretanto, apesar de fazer parte da União Europeia, o governo britânico mantém reservas quanto à política econômica do bloco. Enquanto quinze países europeus já adotaram o euro como moeda corrente, os ingleses ainda conservam a libra como moeda nacional.

A Europa na década de 1970

Em 1973, além da Grã-Bretanha, passaram a integrar o Mercado Comum Europeu a Irlanda e a Dinamarca. Formou-se assim a chamada Europa dos Nove. Em 1979, a população dos nove países elegeu pela primeira vez os 410 membros do Parlamento Europeu por meio do sufrágio universal.
Em meados dos anos 1970, crises políticas em Portugal e Espanha marcaram o fim das mais longas ditaduras da Europa ocidental. Em Portugal a Revolução dos Cravos, em abril de 1974, sob a liderança de jovens oficiais do exército, provocou a derrubada do governo de Marcelo Caetano, sucessor do ditador Oliveira Salazar. As primeiras eleições livres do país, em 1975, levaram à vitória de Mário Soares, líder do Partido Socialista.
Na Espanha, a morte do general Franco, em 1976, encerrou quatro décadas de ditadura e deu início a um processo de democratização sob a liderança do rei Juan Carlos de Borbón. Um novo governo foi organizado sob a chefia de Adolfo Suárez, um político conservador. Em 1986, a Espanha e Portugal ingressaram na Comunidade Econômica Europeia.

A rebelião de maio de 1968 na França

No início de maio de 1968, estudantes universitários e secundaristas saíram às ruas de Paris para protestar contra as velhas estruturas de ensino e para exigir mais democracia nas escolas e universidades. A repressão policial, sob as ordens do presidente De Gaulle, não foi suficiente para impedir as manifestações. Pelo contrário, provocou a solidariedade dos trabalhadores. Uma greve geral foi decretada e, em alguns dias, cerca de 9 milhões de operários cruzaram os braços, exigindo melhores condições de vida.
Rapidamente, o movimento ganhou novos adeptos das mais diversas classes sociais e assumiu significados mais amplos. No início, era uma forma de criticar a universidade. Com o passar dos dias, os jovens começaram a contestar igualmente os valores tradicionais e conservadores. Também criticavam o apelo ao consumo exagerado das sociedades capitalistas. Eles afirmavam que a família, a escola e o Estado reprimiam os indivíduos, transformando-os em seres infelizes e obedientes.
Em fins de maio o governo assinou um acordo com as organizações dos trabalhadores, aumentando o salário mínimo e ampliando a liberdade sindical. Entretanto, as bases operárias consideraram insuficientes os termos do acordo e mantiveram a greve geral. Em 30 de maio, De Gaulle dissolveu a Assembleia Geral e convocou novas eleições, esperando reconquistar a legitimidade de seu governo. De fato, as eleições legislativas do mês seguinte garantiram ampla maioria para o partido gaulista. A ordem foi restabelecida e o movimento grevista foi pouco a pouco se extinguindo.
Apesar de ao ter alcançado todos os seus objetivos, o maio de 1968 na França marcou profundamente a cultura de grande parte da juventude ocidental, a tal ponto que alguns historiadores se referem a ele como uma revolução cultural.
A partir de Paris, os ideais do Maio Frances se irradiaram para outras grandes cidades do mundo, como a cidade do México, o Rio de Janeiro e São Paulo. Em cada lugar, os estudantes articularam os lemas da rebelião francesa às demandas das sociedades nacionais. No Brasil, por exemplo, as lutas estudantis tornaram-se nitidamente, um foco de contestação ao regime militar.

A reunificação da Alemanha

A divisão da Alemanha em dois países independentes marcou sua história desde fins dos anos 1940. Região estratégica na Guerra Fria, a Alemanha foi palco de disputas ideológicas entre o bloco capitalista e o bloco comunista.
Em 1961, o governo da Alemanha Oriental (comunista) ergueu um muro de aproximadamente 66 km, separando Berlim Ocidental do território comunista. O muro foi construído por ordem do governo soviético para impedir que os alemães do lado comunista fugissem para a área capitalista.
Durante as décadas de 1950 e 1960, as relações entre as duas Alemanhas foram politicamente tensas. Não havia trocas comerciais ou culturais entre elas. A partir do governo socialdemocrata de Willy Brandt, eleito Chanceler (primeiro-ministro) em 1969, a situação começou a mudar. Brandt adotou novas estratégias políticas para se aproximar da Alemanha Oriental e dos demais países do bloco comunista.
A política de Brandt diminuiu as tensões diplomáticas e representou o primeiro passo para a reaproximação dos dois países. Nos aos 1980, a chegada do democrata-cristão Helmuth Kohl ao governo não modificou as negociações com a União Soviética e a Alemanha Oriental.
A queda do muro, em novembro de 1989, acelerou o fim da divisão. Em outubro do ano seguinte, era proclamada a reunificação da Alemanha sob a liderança de Helmuth Kohl. No início, o novo país enfrentou sérias dificuldades, pois as duas regiões haviam passado por experiências muito diferentes.
Enquanto a Alemanha Federal (Capitalista) havia crescido num ritmo acelerado, com intensa industrialização, a Alemanha Democrática (Socialista) tinha sérios problemas econômicos e um baixo nível tecnológico.
Atualmente, um dos grandes desafios do governo alemão ainda continua sendo diminuir as desigualdades entre as duas regiões do país.

Da Europa dos Nove à Europa dos Doze

No início dos anos 1980, importantes acordos foram assinados para fortalecer a cooperação econômica e unidade política entre nove países-membros da Comunidade Europeia.
Em 1986, a Grécia, Portugal e Espanha aderiram aos acordos da Comunidade Europeia. O bloco passava agora a ser chamado de Europa dos Doze. No mesmo ano, a Comunidade Europeia ampliou os poderes do Parlamento Europeu e suprimiu os obstáculos ao livre-comércio.
O fim do bloco socialista, no final dos anos 1980, deu início a tentativas de incorporação dos países do Leste europeu à Comunidade Econômica Europeia. Entretanto, as diferenças econômicas, políticas e culturais entre os países-membros e os futuros integrantes transformaram-se em obstáculos para a integração.

O nascimento da União Europeia

Ainda como Europa dos Doze, em 1992 foi assinado na Holanda o Tratado de Maastricht, que substituiu o nome Comunidade Europeia pelo atual União Europeia (UE). No tratado foram definidas também novas regras para a futura moeda comum, o euro, e para uma política externa conjunta. O tratado avançou ainda na integração e na cooperação entre os países no campo da Justiça e dos assuntos internos.
Em janeiro de 1933, foi estabelecida a livre circulação de mercadorias, serviços, pessoas e capitais entre os países integrantes da união Europeia. Dois anos depois, a Suécia, a Finlândia e Áustria ingressaram na União Europeia, que passou a contar com quinze países-membros. No mesmo ano, os acordos de Schengen aboliram os postos de controle de passaporte nas fronteiras entre sete países: Alemanha, Bélgica, Espanha, Portugal, França, Luxemburgo e Holanda. Mais tarde, outros países foram incluídos nos acordos.
Em 2004, vários países do Leste europeu – Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia, Eslováquia, Estônia, Eslovênia e República Checa – ingressaram o bloco. O mesmo fizeram as ilhas do Mediterrâneo Malta e Chipre. Em 2007, a Bulgária e a Romênia também se integraram, formando uma comunidade de 27 países. Hoje são candidatos a ingressar na União Europeia a Macedônia, a Turquia e a Croácia.
A partir de janeiro de 1999, diversos países-membros adotaram o euro como moeda para transações comerciais e financeiras. Atualmente, o euro é utilizado como moeda única em quinze países que representam dos terços da população da União Europeia.

Uma Constituição para a Europa

No segundo Tratado de Roma, firmado em 2004, foi anunciada uma Constituição assinada pelos chefes de Estado das 25 nações que compunham na época a União Europeia. A carta, entretanto, só poderia ter validade se fosse aprovada pela população dos países membros. Em alguns desses países, a aprovação deveria ser feita pelo Parlamento. Em outros, por intermédio de referendos. Em dois desses últimos países (França e Holanda), o resultado da consulta popular foi negativo: em 2005, franceses e holandeses rejeitaram o projeto de Constituição Europeia.

Desafio: a imigração

Nos aos 1950, o imigrante era recebido na Europa com benefícios do Estado, pois havia necessidade de mão de obra para reconstruir a economia do continente. Hoje, ao contrário, os líderes da União Europeia discutem formas de controle da imigração e procuram fechar os acessos em portos e aeroportos. Novas leis dificultam a permanência de estrangeiros nos países europeus.
Em janeiro de 2006, estimativas da União Europeia indicavam que havia no continente cerca de 18,5 milhões de imigrantes, cerca de 4% da população do bloco. Com o aumento do desemprego e o agravamento da crise social, vários países começaram a responsabilizar o imigrante pelos problemas.
As políticas europeias de imigração diferenciam dois tipos de imigrantes: de um lado, o imigrante pobre, sem qualificação profissional e originário de países subdesenvolvidos; de outro, o imigrante com alto nível de formação profissional, que estudou em boas universidades e tem domínio fluente de mais de um idioma.

Os sem-direitos

Os imigrantes pobres chegam em maior número. Em geral, aceitam condições precárias de vida. Vivem em moradias pequenas e trabalham em empregos ilegais na construção civil, no setor de limpeza doméstica, nos bares e restaurantes ou na agricultura. Inúmeras empresas preferem contratar imigrantes em situação ilegal. Assim, podem pagar salários mais baixos e se livrar de impostos, pois o trabalhador ilegal não tem direitos assegurados.
Em geral, o imigrante pobre é visto como responsável pelo aumento do desemprego e dos índices de violência, pela introdução de costumes estranhos a cultura da região e pelas tensões sociais. Entretanto, muitas dessas pessoas provêm de ex-colônias europeias na África, arrasadas por décadas de exploração colonial e sem condições de oferecer oportunidades de emprego e desenvolvimento humano. A emigração para a Europa é, muitas vezes, a última esperança de encontrar trabalho e melhorar de vida.
Dados oficiais da União Europeia estimam que existem no continente entre 3 e 8 milhões de imigrantes ilegais (pobres) e que, a cada ano, entram ilegalmente de 350 e 500 mil novos estrangeiros. Ainda segundo estimativas da União Europeia, o trabalho dos imigrantes ilegais representa hoje de 7% a 16% do Produto Interno Bruto (PIB) europeu.
Já os imigrantes com boa formação profissional são bem-vistos por governos e sociedades da União Europeia. Eles chegam em número reduzido e ocupam postos de trabalho para os quais não há profissionais suficientes na Europa. Isso porque o número de jovens em relação a população adulta europeia tem diminuído a cada ano. Nas áreas de alta tecnologia não existem jovens suficientes em vários países.

A África contemporânea

 África: pobre ou empobrecida?

A África é o mais pobre todos os continentes. Embora seu subsolo guarde muitas riquezas em recursos naturais, como ouro, diamantes e petróleo, amplos setores de sua população passam fome. Como explicar essa situação? Por que esse continente, berço da humanidade e de onde partiu o Homo sapiens sapiens para ocupar o restante do mundo, vive uma situação tão precária?
A África é um continente mais de três vezes maior que o Brasil, com uma população de quase 900 milhões de pessoas, que falam um terço de todas as línguas existentes no planeta. Um continente, portanto, que abriga uma grande diversidade de culturas, de histórias, de religiões, de tradições, bem como de recursos econômicos, de vegetação e de relevo. No norte, encontram-se países de influência árabe e de maioria muçulmana, como é o caso do Egito, da Líbia e da Argélia.
Ao sul desses países, a África é cortada de leste a oeste pelo deserto do Saara. Ao sul do Saara, encontra-se a África subsaariana, da qual falaremos mais especificamente neste capítulo.

A África depois da descolonização

Após o fim da Segunda Guerra Mundial as antigas colônias africanas foram uma a uma conquistando sua independência.
Todo o continente viveu, até a década de 1980, esse processo de libertação. Os novos governos, não importa qual fosse a sua orientação política, tiveram de enfrentar uma situação muito parecida: possuíam pouca ou nenhuma indústria, viviam da exportação de alguns produtos primários, praticamente não contavam com técnicos – como engenheiros, médicos, administradores competentes – e seus líderes quase não tinham experiência de governo. Essa era a herança que a dominação europeia havia deixado.
Mais todos almejavam o que lhes fora negado durante o domínio colonial: educação para as crianças, atendimento médico, hospitais, água potável em abundância, bons preços para os produtos agrícolas e uma vida digna e minimamente confortável. O problema era: de onde sairiam os recursos para a esperada modernização?
Para promover as mudanças necessárias à superação das precárias condições sociais e econômicas, os novos países africanos precisavam de dinheiro e tecnologia. Já que não havia recursos, o dinheiro (assim como a tecnologia) teria de vir de fora – através de empréstimos ou por meio das exportações de suas riquezas minerais e agrícolas. Isso quer dizer que, ou precisariam se endividar, ou precisariam produzir muito do que os países compradores tinham necessidade.

A dependência econômica

A prioridade era produzir aquilo para o qual havia mercado internacional – especializando a produção agrícola e deixando de lado a cultura de alimentos. Esse movimento continua ainda hoje. Vejamos alguns exemplos. Em 2002, 73% do valor das exportações do Mali provinham do algodão; 55% das exportações do Malauí eram devidas ao tabaco; na Mauritânia, a pesca representava 50% das vendas externas.
Os minérios foram a solução para outro grupo de países. Para a Argélia, Guiné Equatorial, Líbia e Nigéria, o petróleo significa 90% das receitas de exportação. Em Moçambique, 54% do valor das vendas internacionais provêm do alumínio. No Níger, 50% vêm do urânio.
Em contrapartida, os países africanos importam máquinas e bens industrializados, que ainda não conseguem produzir internamente. Esses bens são caros e em geral têm valor maior do que os produtos primários. São, contudo, indispensáveis para o crescimento econômico.

A crise dos anos 1980

No início da década de 1980, a economia dos países industrializados viveu significativas transformações, que resultaram no aumento dos juros dos empréstimos internacionais e na queda dos preços dos produtos primários. No Brasil, esse fenômeno se refletiu na “crise da dívida externa” (em 1987, o governo brasileiro suspendeu o pagamento dos juros da dívida). Para os países africanos não foi diferente, quanto mais pagavam, mais deviam. E não sobravam recursos para investir na sonhada modernização. Muitas vezes, faltavam condições até para importar remédios!
A produção de alimentos já não era suficiente para alimentar a todos. Para fugir da fome nos campos, a população buscava as cidades, mas não tinham empregos para oferecer. Ao mesmo tempo, os programas assistenciais dos governos eram insuficientes.
Sem recursos e endividados, os governos africanos ainda viam o pouco que tinham ser levado pelo pagamento da dívida externa.
Além disso, essa crise essa crise era acompanhada na África por grave instabilidade política e pela corrupção de numerosos governantes. Insatisfeita, a opinião pública de diversos países passou a exigir mudanças. Sem coseguir apresentar resultados positivos em suas administrações, contestados pela oposição e pela opinião pública, recorrendo cada vez mais à repressão política, os governos começaram a perder a confiança da população.
O caso extremo desse tipo de coverno corrupto e autoritário foi o de Idi Amim, ditador de Ruanda entre 1971 e 1979. Mas também em outros países surgiram governos igualmente autoritários e corruptos, como o de Joseph Mobuto, na atual República Democrática do Congo, entre os anos 1960 e 1990. Particularmente autoritário é também o governo de Robert Mugabe, que chegou ao poder no Zimbábue como primeiro-ministro em 1980, elegeu-se presidente em 1987 e, mediante sucessivas reeleições, mantinha-se governando em junho de 2008, quando venceu novas eleições.

Avanços democráticos

Entretanto, se as pressões populares e os conflitos aumentam, por outro lado também começam a surgir mudanças positivas, como governos mais representativos e democráticos. Hoje, diversos países africanos já podem ser classificados sem reservas como democráticos ou semidemocráticos. Cabo Verde, África do Sul, São Tomé e Príncipe, Botsuana, Gana, Mali, Angola, Moçambique e Namíbia estão entre eles. Em outros, a pressão para que se amplie a efetiva participação da sociedade na condução da política e da economia nacional tem crescido de forma considerável.

Alguns desafios

A permanência prolongada da pobreza, da fome e das dificuldades econômicas traz ainda outras complicações. Epidemias, guerras entre etnias diferentes, violência, desertificação, e má utilização dos recursos naturais são algumas delas.
Um dos maiores problemas da África atualmente é o flagelo da Aids: de cada três infectados pelo HIV no planeta, dois vivem no continente africano. Em 2006, havia cerca de 25 milhões de africanos com Aids. Somente naquele ano, 930 mil pessoas morreram na África vitimadas pela doença. Os órfãos deixados chegam a 11 milhões. Países como Zimbábue convivem com índices de contaminação de mais de 30% da população.
Nem o país mais rico, a África do Sul, que marcou a história da medicina ao realizar em 1967 o primeiro transplante de coração no mundo, foi poupado da epidemia. Em pouco mais de uma década, são 2,9 milhões de casos, deixando um rastro de 360 mil mortos. Um entre cada dez portadores do vírus no mundo é sul-africano. A Aids atinge principalmente a população pobre, e traz graves prejuízos para a economia do continente. A falta de recursos dificulta as campanhas de prevenção e o tratamento dos doentes.
A desertificação, que é hoje uma ameaça a todo o mundo, assume na África proporções ainda mais dramáticas.
Quer por causas naturais, quer pelo uso abusivo do solo, várias regiões do mundo vêm se tornando impróprias para o cultivo. O Mali, país localizado no oeste da África e que já foi o maior exportador de algodão do continente, é um exemplo extremo dos efeitos da desertificação. Cerca de 70% de sua população, não conseguindo sobreviver no país, encontra-se hoje em outras regiões africana ou na Europa.
Assim como a população do Mali, 65% dos habitantes da África vivem em áreas afetadas pela degradação do solo. Para um continente no qual a maioria das pessoas sobrevive da agricultura, a desertificação significa aumento da miséria e crescimento das favelas, nas grandes cidades. Em Nairóbi, capital do Quênia, por exemplo, a favela de Kibera registrava, em 2005, 1 milhão de habitantes, o equivalente a quase um terço da população total da cidade.

O drama dos refugiados

As guerras, as perseguições políticas, os desastres naturais e a fome produziram outro tipo de drama: o dos refugiados, ou seja, daqueles que se veem forçados a deixar para trás as terras de seus ancestrais e com as quais mantêm laços afetivos e até religiosos. São milhões de crianças, mulheres e homens de todas as idades impedidos de viver nos seus países, que esperam uma chance de sobrevivência em outras regiões.
Os países que mais produziram refugiados foram, até 2008, a África do Sul, Gana, Quênia, Chade, Angola, Ruanda, Burundi, Moçambique, Etiópia, Somália e Sudão.
São mais de 5 milhões de refugiados africanos reconhecidos pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Esse número se elevaria para mais de 10 milhões se incluíssemos aqueles que, sem serem oficialmente reconhecidos, vivem em campos de refugiados.
Nos campos de refugiados a vida é extremamente precária, pois faltam água, comida, condições sanitárias mínimas, médicos e, em muitos casos, até mesmo o auxílio internacional e a solidariedade.

Tolerância religiosa

A esperança que se faz e refaz no dia a dia tem na religiosidade dos povos africanos um grande aliado. Essa religiosidade se manifesta através de várias crenças: ao lado das ancestrais religiões africanas, o cristianismo, o islamismo, o hinduísmo, o budismo e o judaísmo também são praticados. Longe de ser intolerante, a sociedade africana cultiva o contato e a convivência com as diferentes crenças.

Contando histórias

Uma das figuras mais interessantes da vida cotidiana na África é a dos contadores, ou contadoras de histórias. Figuras tradicionais nas sociedades africanas, são responsáveis pela transmissão de ensinamentos e de conhecimentos de geração em geração. Desde os tempos pré-coloniais, contam as origens das aldeias, dos clãs e das famílias, os acontecimentos que interviram na história dessas famílias e aldeias, a forma pela qual devem ser praticados os rituais religiosos e as regas a serem observadas na vida.
Em países africanos de fala francesa, como Gana, Mali e Senegal, o contador de história é chamado de griot (griô). Tanto nessa região quanto no restante da África, a função do contador de histórias é altamente valorizada pela sociedade. Atualmente, aliás, está havendo um renascer da função de griot, sobretudo por meio da gravação de CDs e da divulgação de sua arte pelos meios de comunicação.
A arte de contar histórias literalmente elaboradas já resultou em quatro prêmios Nobel de Literatura conquistado por africanos: Naguib Mahfouz (Egito), Wole Soyinka (Nigéria), Nadine Gordimer e J. M. Coetzee (ambos da África do Sul). Vários e importantes autores do continente escrevem em português. Entre eles, os angolanos Agostinho Neto, Luandino Vieira e José Eduardo Agualusa e o Moçambique Mia Couto. Nas páginas de seus livros podemos conhecer um pouco mais da realidade africana e, ao mesmo tempo, perceber a grande proximidade entre a África e o Brasil.

O papel da mulher

Se as tradições religiosas e culturais vêm possibilitando aos povos africanos resistir aos inúmeros problemas que os afetam, as mulheres são, sem dúvida, os principais agentes dessa resistência.
Apesar de serem vítimas de ações resultantes de uma sociedade que as consideravam inferiores – violência sexual, falta de acesso à educação e aos postos formais de trabalho –, as mulheres da África são hoje responsáveis pela manutenção da maioria das famílias pobres. É com seu trabalho que se desenvolve a agricultura de subsistência, e são elas que permanecem criando os filhos quando os homens partem em busca de trabalho ou são requisitados pelas guerras.
Programas como o Cinturão Verde, por exemplo – criado pela queniana Wangari Maathai, ganhadora do prêmio Nobel da Paz em 2004, que paga por muda de árvore plantada por mulheres –, baseia-se na atuação e na solidariedade das mulheres para gerara renda e reflorestar parte da África.
É sobre elas também que se apoia a tarefa de conter a epidemia de Aids na maior parte dos programas de prevenção que estão sendo desenvolvidos.
Rompendo séculos de opressão e domínios dos homens, as mulheres também começaram a se tornar líderes políticas em seus países, como Ellen Johnson-Sirleaf, presidente da Libéria, que venceu as eleições de novembro de 2005. Na campanha eleitoral ela afirmava: “Todos os homens falharam na Libéria, deixemos que seja uma mulher a tentar”.
Ou ainda a combativa Wangari Maathai, vice-ministra do Meio Ambiente do Quênia, que hoje comanda a luta continental pelo crescimento econômico sustentável e pelo fim da opressão feminina.
Se não são poucos os problemas que atingem o continente, também não são poucos os sinais de que é possível pensar-se em construir uma nova África. Pois, como disse Wangari Maathai, a “África não é um continente pobre; e sim, um continente empobrecido”.

A força da Ásia Contemporânea

 O país do Sol nascente

Assim como outras regiões do Oriente, a partir do século VXI o Japão atraiu o interesse de muitos ocidentais por ser considerado o dono de uma cultura “exótica”. Essa forma de ver o mundo esteve centrada na ideia de que todos os que são diferentes dos valores ocidentais são “incivilizados” ou “bárbaros”, como pessoas ou regiões que precisam ser “civilizadas”, ou seja, submetidas à cultura das potências ocidentais.
Com esse discurso, os europeus colonizaram e massacraram milhões de nativos americanos desde o final de século XV. De forma idêntica, ocuparam boa parte da Ásia e oprimiram sua população a partir da metade do século XIX. O interesse pelo cultura do “outro” andava de mãos dadas com os interesses nas riquezas do “outro”.
Fechado para o Ocidente, o Japão não chegou a ser colonizado, como ocorreu com a Índia, por exemplo. De fato, em 1637, seus governantes proibiram o comércio externo e expulsaram os missionários cristãos vindos da Europa. Esse isolamento permitiram mais tarde aos japoneses apropriar-se de valores ocidentais em seu próprio benefício.
Em 1853, no contexto do imperialismo, o governo dos Estados Unidos enviou ao Japão três navios de guerra para tentar forçar o governo japonês a mudar sua política e permitir relações comerciais com outras nações. Os japoneses tiveram de ceder. Na sequência, governos de países europeus assinaram com o Japão contratos semelhantes. Assim, o comércio e as relações diplomáticas entre o Japão e o Ocidente se intensificaram. Teve início então o processo de ocidentalização do arquipélago japonês.

A Era Meiji

Em 1868, assumiu o governo o imperador Mutsuhito (1852-1912). Seu reinado recebeu o nome de Era Meiji, ou Era das Luzes. A palavra meiji significa, além de iluminação, renovação, regeneração e é comumente traduzida por restauração. Isso porque durante esse período o poder centrado o imperador foi restaurado, depois de um logo tempo de governo dos xoguns – chefes militares que tinham o poder de fato no Japão, antes de 1868.
Entre as reformas mais importantes de Mutsuhito estava o fim da servidão, a mudança da capital de Quioto para Edo (rebatizado de Tóquio), a adoção do iene como moeda, a reestruturação do exército, a procura de tecnologia no Ocidente e um forte investimento em setores estruturais da economia para o desenvolvimento industrial no Japão. A reestruturação do exercito pôs fim ao poder dos samurais.
Em pouco tempo, o Japão se tornou uma potência militar e econômica internacional. Entre 1904 e 1905, disputas por territórios levaram o Japão e a Rússia a um conflito armado do qual os japoneses saíram vencedores. Isso contribuiu para que o Japão consolidasse o controle sobre a província chinesa da Manchúria e sobre a Coreia, que, em 1910, foi transformada em colônia. Dessa forma, além de não ser colonizado pelas forças ocidentais, o Japão se tornou, ele próprio, um agente colonizador.

O Japão no século XX

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os militares ampliaram sua participação no governo japonês. No início da década de 1930, eles praticamente assumiram o poder. O país tornou-se uma potência militarizada, com uma política voltada para a conquista e a ocupação de territórios vizinhos. Em 1931, os Japoneses ocuparam a Manchúria e a partir de 1937 deram início a invasão de outras regiões da China.
Com a derrota na Segunda Guerra Mundial, o Japão foi ocupado por tropas norte-americanas comandadas pelo general Douglas McArthur. Durante o período de ocupação, o governo norte-americano implantou políticas que incentivaram o crescimento industrial no Japão. MacArthur foi o executor dessas medidas que modernizaram o país.
Foi elaborada uma Constituição semelhante às dos países ocidentais e adotado o sistema parlamentarista do governo. O imperador continuava com seu papel simbólico. As mulheres ganharam direito de voto. A educação gratuita garantida a todos, com ênfase no ensino de ciências e tecnologia. Foi feita também uma reforma agrária, com a divisão das grandes propriedades, que passaram a ser exploradas de maneira intensiva por pequenos proprietários.
Apesar da destruição provocada pela Segunda Guerra Mundial, o Japão reergueu-se economicamente com o auxílio financeiro dos Estados Unidos, cujo governo procurava garantir seus interesses o Extremo Oriente.

A arrancada econômica

A partir de 1954, teve início no Japão um processo de grande crescimento econômico. Adotou-se então, uma prática que teve papel decisivo no desenvolvimento japonês. Seus técnicos passaram a copiar e aperfeiçoar produtos de todos os tipos, produzindo-os de acordo com suas necessidades e com o gosto do consumidos japonês. Os setores que mais se desenvolveram foram o da indústria eletroeletrônica, automobilística, naval, de aço e de máquinas.
Além de atender ao mercado interno, os japoneses começaram a exportar seus produtos. Pouco a pouco, o mundo foi invadido por mercadorias made in Japan: rádios portáteis, televisores, videocassetes, toca-fitas, walkmans, aparelhos de som, gravadores, telefones, máquinas fotográficas, etc. depois vieram os automóveis e as motocicletas. As exportações tornaram-se o principal recurso da economia japonesa.

O Japão nos nossos dias

Dono do Segundo maior Produto Interno Bruto (PIB), só atrás dos Estados Unidos (e sem contar a União Europeia), o Japão está entre as nações mais desenvolvidas do mudo. Sua renda per capita chegava, em 2007, a 30 mil dólares. A expectativa de vida da população japonesa é a mais alta do mundo: 78 anos para os homens e 85 para as mulheres.
Nas últimas décadas do século XX, numerosas empresas japonesas passaram a transferir fábricas para outros países da Ásia, como China, Indonésia, Tailândia, e Malásia. Com isso, os custos de produtos puderam ser reduzidos, já que a mão de obra nesses países asiáticos é mais barata e os impostos cobrados, menores. No final da década de 1980, o crescimento econômico japonês chegou a ameaçar a hegemonia estadunidense, competindo até mesmo no mercado norte-americano.
Apesar disso, a partir da segunda metade dos anos 1990 o Japão enfrenta uma profunda crise econômica, que tem resultado em alguns momentos de recessão, com aumento no número de desempregados e paralisação do mercado imobiliário.

A emergência da China

Após a morte de Mao Tse-Tung, em 1976, a China passou por um profundo processo de mudanças. Dirigentes moderados assumiram a condição do governo, entre eles Deng Xiaoping, afastado do governo durante a Revolução Cultural. Sob sua liderança, o governo deu início a um programa de reformas econômicas cujo objetivo era alcançar o desenvolvimento do Ocidente, do qual a China estava ainda muito longe.

O socialismo de mercado

Deng Xiaoping pensava em um modelo diferente de socialismo e também no papel que a China deveria desempenhar no cenário internacional. Para ele, a inserção chinesa no mundo como uma força competitiva ocorreria apenas fazendo concessões à economia de mercado.
Assim, a iniciativa privada voltou a ser permitida e as cooperativas agrícolas e comunas populares foram aos poucos desaparecendo. Ao mesmo tempo, as empresas estrangeiras ganharam permissão para investir no país. Essas reformas provocaram uma reviravolta na sociedade chinesa. A economia passou a crescer, com base em empreendimentos de todo o tipo, originados de capital japonês, norte-americano, coreano, etc.
Contundo, a abertura se restringiu apenas ao campo econômico. No plano político, o Partido Comunista continuou monopolizando o poder e manteve-se como partido único. Em 1989, um amplo movimento de estudantes e intelectuais reivindicou mudanças democráticas, levando milhares de pessoas a gigantescas manifestações. A resposta do governo foi extremamente violenta, colocando nas ruas o exército com tanques e carros blindados, que avançavam sobre os manifestantes concentrados na praça Tiananmen (praça da Paz Celestial). A onda de manifestações, denominada Primavera de Pequim, acabava em repressão total. A impressa calculou mais de 2 mil mortos.

A quarta economia mundial

Após a morte de Deng Xiaoping, em 1997, as reformas na economia prosseguiram. A prosperidade econômica, contudo, gerou os problemas típicos dos países capitalistas desenvolvidos, como desigualdade social, prostituição, contrabando, tráfico de drogas e aumento considerável da poluição nas cidades mais industrializadas.
Nos primeiros anos do século XXI, a China aparece como um dos mais fortes polos da economia mundial. Tornou-se grande exportadora de produtos industrializados: tecidos, calçados, roupas, brinquedos, etc. desde os anos 1980, o país cresce a taxas anuais em torno de 9% ou 10%.
Em 2006, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês chegou a 10,7%. Em 2007, foram 11,9% de expansão. Em valores absolutos, o PIB chinês foi de 3,6 trilhões de dólares em 2007. Isso coloca a economia chinesa em quarto lugar no mundo, atrás do Estado Unidos, Japão e Alemanha. Suas exportações de produtos industrializados passaram de 4 bilhões de dólares em fins dos anos 1970 para mais de 250 bilhões em 2004. Calcula-se que em 2030 o PIB chinês será maior do que o dos Estados Unidos.

Liberdade para o Tibete!

A liberalização econômica, como vimos, não foi acompanhada de uma abertura política que fizesse da China um país mais democrático. Em março de 2008, por exemplo, a opinião pública internacional foi surpreendida pela repressão chinesa contra manifestações populares no Tibete que reivindicavam a independência da região, hoje uma província da China. (O Tibete foi ocupado militarmente pelos chineses em 1950. A invasão obrigou o dalai-lama, chefe espiritual dos tibetanos, a fugir para a Índia. Desde então seus sucessores passaram a viver no exílio.).
As manifestações ocorreram em um memento particularmente delicado para o governo chinês. Isso porque em 2008 se realizou as Olimpíadas de Pequim (capital da China) e, por razões de propaganda, os líderes chineses tem todo interesse em transmitir uma imagem positiva de seu próprio regime. Esse dilema revela que não há modernização possível sem liberdade de pensamento e de expressão, sem pluralismo político e sem respeito pelos direitos humanos.
Em maio de 2008, cedendo a pressão internacional para que dialogasse como o dalai-lama, o governo chinês aceitou receber uma delegação de tibetanos para negociar uma solução pacífica para a crise.

A Índia contemporânea

A Índia se tornou independente em 1947. Seu primeiro governante, já como república autônoma, foi Jawaharlal Nehru (1947-1964), um discípulo de Mahatma Gandhi. Nerhu manteve a Índia em uma posição de neutralidade em relação aos Estados Unidos e a União Soviética, integrando-a ao bloco de países não-alinhados.
Até 1966, sua filha Indira Gandhi assumiu o poder. Indira seria a primeira-ministra em duas oportunidades: entre 1966 e 1977 e entre 1980 e 1984. Durante seu governo, cresceram as tensões étnicas e religiosas. Para enfrenta-las, Indira suspendeu as liberdades constitucionais e reprimiu a oposição. Em 1971, apoiou os separatistas bengalis do Paquistão Oriental, que queriam se desligar do Paquistão Ocidental. Esse ato provocou uma guerra entre a Índia e o Paquistão. E Índia venceu o conflito e o governo paquistanês reconheceu a independência do Paquistão Oriental, que passou a se chamar Bangladesh.
Em 1984, o exército indiano invadiu o templo de uma minoria étnica e religiosa – os sikhs – e matou 400 fiéis. A resposta dos sikhs foi o assassinato de Indira em outubro de 1984. Em 1991, o filho e sucessor de Indira, Rajiv Gandhi, também seria assassinado. Os autores do atentado, porém seriam separatistas tâmes do Sri Lanka.

Ricos e pobres

Com a população de 1,1 bilhão de habitantes a Índia está hoje entre os países de maior crescimento econômico do mundo, logo atrás da China. Em 2006, seu Produto Interno Bruto (PIB) chegou a 911 bilhões de dólares. Entretanto, a sociedade indiana continua a ser uma das mais desiguais do mudo. Por um lado, o país vem se tornando um centro de produção de tecnologia na área de informática e que se destaca também na indústria farmacêutica e de biotecnologia. Por outro lado existem na Índia 380 milhões de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia. Essas pessoas estão abaixo da linha de pobreza.
Essa extrema desigualdade levou o primeiro-ministro Manmohan Singh a afirmar, durante as comemorações dos 60 anos de independência da Índia, em agosto de 2007: “o sonho de Mahatma Gandhi de uma Índia livre só estará totalmente completo quando erradicarmos a pobreza”.
Apesar da pequenez territorial, a expansão econômica dessas três regiões foi tão rápida que elas passaram a ser chamadas, juntamente com a coreia do Sul, de Tigres Asiáticos.

A Coreia do Sul e Taiwan

Produzindo automóveis, tecidos sintéticos, aparelhos eletroeletrônicos e outros produtos similares, nos anos 1980 a Coreia do Sul deixou de ser considerada pelos organismos internacionais um país em desenvolvimento (como hoje são o Brasil e China), passando a ser um país desenvolvido, ao lado da Inglaterra, Alemanha, Japão, etc. seu maior problema consiste hoje na aproximação com a Coreia do Norte, de regime comunista.
Taiwan, também conhecida como Formosa, abrigou o governo que dirigia a China antes da Revolução Comunista de 1949. Historicamente, pertenceu à China. Seguindo a política de produzir para exportar, também Taiwan conseguiu enorme crescimento econômico, basicamente com a mesma linha de produtos fabricados pelo Japão e pela Coreia do Sul na primeira etapa de seu desenvolvimento. Atualmente, a indústria desse país domina o mercado de diversos produtos da áreas de informática.

Cingapura e Hong Kong

Cidade-Estado, como vimos, Cingapura é sede de grandes bancos e empresas de exportação. O nível de vida de sua população é dos mais altos do mundo. Já Hong Kong fez parte da China ate 1958. A partir desse ano, que marcou a derrota chinesa para os ingleses na Guerra do Ópio (1839-1858), passou à condição de colônia da Inglaterra. Em 1977, contudo, voltou a pertencer à China. Nem por isso perdeu algumas de suas características de cidade-Estado, embora sem autonomia própria.

Os novos Tigres

A partir da década de 1990, outros países do Sudeste Asiático passaram a apresentar ritmos de crescimento semelhantes aos dos Tigres Asiáticos. São eles: Malásia, Tailândia e Indonésia, chamados de Tigres Asiáticos se segunda geração.
A Indonésia é o país de maior população muçulmana do mudo, com mais de 230 milhões de habitantes e até pouco tempo atrás dominava o Timor Leste, região na qual se fala português. Timor Leste tornou-se independente em 2002.

Crise e recuperação

A partir de 1977, tanto os Tigres Asiáticos quanto os Tigres de segunda geração entraram em crise quando suas economias sofreram ataques especulativos. A crise teve início na Tailândia e atingiu inicialmente Hong Kong, Cingapura, a Indonésia e Malásia. Mas logo chegou à Coreia do sul.
Nesses países, as exportações caíram, a produção industrial diminuiu, as taxas de desemprego elevaram-se. Em alguns deles, a moeda foi desvalorizada. A recessão durou até 1999, mas em 2002 a maioria deles, principalmente a Coreia do Sul, apresentava um bom nível de recuperação.

Terrorismo e focos de tensão

Sempre que ouvimos falar em terrorismo, lembramos logo dos atentados a bomba, dos sequestros de avião e de outras ações violentas praticadas por extremistas. E pensamos nas vítimas, em geral pessoas inocentes, muitas vezes mulheres e crianças, que apenas estavam no lugar errado na hora errada. O método básico do terrorismo é a destruição da vida humana, em nome de certos princípios ideológicos, políticos ou religiosos.

O terrorismo não surgiu em nosso século, mas seu auge aconteceu durante os anos da Guerra Fria, depois da Segunda Guerra Mundial. Não foi por acaso. A Guerra Fria pode ser descrita como um sistema de equilíbrio entre dois blocos inimigos que se baseava no terror. Afinal, o poder de destruição nuclear dos Estados Unidos e da União Soviética era tão grande que ninguém poderia iniciar uma guerra total. Seria o fim da espécie humana.
Essa mentalidade consagrou o terror como forma de relacionamento entre Estados. Nesse sentido, a chamada "cultura da Guerra Fria" foi o grande estímulo à multiplicação de grupos terroristas.

O que é terrorismo?

Formalmente, terrorismo é o uso da violência sistemática, com objetivos políticos, contra civis ou militares que não estão em operação de guerra. Existem muitas formas de terrorismo. Os terroristas religiosos praticam atentados em nome de Deus; já os mercenários recebem dinheiro por suas ações; os nacionalistas agem movidos por um ideal patriótico. Há ainda os ideólogos, que armam bombas motivados por uma determinada visão de mundo. E, muitas vezes, o que se vê é uma mistura de tudo isso com desespero e ódio.
Por outro lado, houve no século XX o crescimento do terrorismo de Estado, em que é adotada a política de eliminação física de minorias étnicas ou de adversários de um regime. Um exemplo é o regime racista da África do Sul, responsável por ações terroristas contra a maioria negra do país até o fim do apartheid, no início dos anos 90. Na América Latina, as ditaduras militares dos anos 60 e 70 promoveram o terrorismo de Estado contra seus opositores, torturando e matando milhares de pessoas. No Oriente Médio, os palestinos de cidadania israelense e os habitantes dos territórios de Gaza e Cisjordânia foram segregados e sofreram ataques das forças armadas de Israel, entre 1967 e 1993. O terrorismo de extremistas muçulmanos contra judeus de Israel, por sua vez, também aterrorizou e matou pessoas inocentes, principalmente a partir da década de 80.
Muitos historiadores e intelectuais avaliam que as bombas atômicas jogadas pelos Estados Unidos sobre o Japão, em agosto de 45, foram o maior atentado terrorista já praticado até hoje. Mais de 170 mil civis perderam a vida num ataque que não tinha como objetivo vencer a guerra, mas fazer uma demonstração de força para a União Soviética.

O RETORNO DO TERRORISMO

Na segunda metade do século XX, depois da Segunda Guerra Mundial, movimentos terroristas surgiram em territórios coloniais, com duplo propósito: o primeiro era pressionar a potência colonial a se retirar, e o segundo, mais sutil, era impressionar a população para apoiar determinados grupos no período pós-colonial, na formação dos estados independentes. Em alguns lugares tiveram sucesso, e não em outros, como na Índia e a Malásia.
O terrorismo não terminou com o final dos impérios europeus nos anos de 1950-1960, quando as colônias africanas e asiáticas se tornaram independentes. Continuou existindo na Europa, na Ásia, no Oriente Médio e na América Latina, em resposta a circunstâncias diversas. As causas defendidas podiam e podem ser revolucionárias, socialistas, nacionalistas e religiosas. Mesmo nos Estados Unidos, existem grupos contra o governo, que formam as chamadas “milícias”, que eventualmente praticam atos terroristas.
Existem nos Estados Unidos diversos grupos que são contrários às atitudes do governo (em todas as instâncias: local, regional, estadual e federal), como: a obrigação de educação mista (racial e sexual) nas escolas públicas; a proibição de comprar armas de grosso calibre, tanques e bazucas, como armas de uso pessoal; a proibição de rezar no início das aulas em respeito às diferenças religiosas; a igualdade das raças (branca, negra e amarela) perante a lei; o sistema de quotas e ações afirmativas para os grupos étnicos minoritários (negros, asiáticos, latino-americanos); o sistema público de saúde e a vacinação obrigatória (contra as doenças epidêmicas, especialmente as infantis) etc.
A partir de 1970, no Oriente Médio, as ações terroristas foram se ampliando, no conflito israelense-palestino, com crescente grau de violência. Segundo especialistas, um novo componente foi somado: o extremismo religioso. Depois de 1990, um novo tipo de terrorismo surgiu liderado por Osama Bin Laden, que inclui o extremismo religioso, o desprezo pelos regimes existentes nos países árabes, a hostilidade aos Estados Unidos e a insensibilidade diante dos efeitos dos atos terroristas. É um tipo diferente de terrorismo, pois possui uma causa, uma rede de apoio, mas não está localizado em nenhum estado. Seus membros não se importam em cometer suicídio.
Os progressos tecnológicos e a difusão dos conhecimentos técnicos possibilitam a realização de atos terroristas com o uso de armas químicas, bacteriológicas ou biológicas, que podem disseminar a morte ou a contaminação de doenças em massa nos grandes centros urbanos de qualquer país. As razões ideológicas aparentemente deram lugar ao fanatismo religioso, especialmente dos seguidores de líderes messiânicos que divulgam idéias apocalípticas ou salvacionistas radicais.
Existem dificuldades políticas e legais para o estabelecimento de uma legislação comum contra o terrorismo. Muitas vezes, o título foi empregado contra grupos de oposição política, que recorrem a atos de violência para manifestação de suas posições: o ETA na Espanha, o IRA na Irlanda do Norte, o VietCong no Vietnã etc. Ou mesmo quando não a praticam sistematicamente: foi o que ocorreu em 1987, quando o Partido do Congresso Africano da África do Sul foi classificado com terrorista pelo governo sul-africano, pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos.

11 de setembro: Atentado terrorista aos Estados Unidos

No dia 11 de setembro de 2001, os dois maiores edifícios comerciais de Nova York (as torres gêmeas do World Trade Center) foram destruídos por aviões civis. De acordo com o governo dos Estados Unidos, esses aviões estavam lotados de passageiros e foram pilotados até o alvo por terroristas que os sequestraram em pleno voo. O impacto dos aviões contra os edifícios provocou a morte de quase 3 mil pessoas. No mesmo dia, o edifício do Pentágono, em Washington, também foi atacado por um avião causando estragos ao prédio e a morte de cerca de oitenta pessoas.
Segundo o governo dos Estados Unidos, os autores dos ataques foram os integrantes da Al Qaeda, organização liderada por Osama Bin Laden.
Como a Al Qaeda tinha seus campos de treinamento no Afeganistão cujo governo apoiava, o governo dos Estados Unidos atacou o Afeganistão e derrubou o governo daquele país.

O World Trade Center

O complexo do World Trade Center tinha 7 torres. Começou a ser construído em 1970, por iniciativa do governo estadual, visando valorizar a área sul da ilha de Manhattam, dominada então por bancos e corretoras.
Era o prédio mais alto de Nova York, tinha 417 metros de altura, 38 mil metros quadrados de lojas e duas torres, de 110 andares. Além das duas torres que desabaram, o complexo do World Trade Center abrigava outros cinco prédios, um de 47 andares, outro de 22, dois de nove e um último de oito, um shopping center, uma creche e uma estação de trens.
Era o quinto edifício mais alto do mundo e o segundo dos EUA (só perde para a Sears Tower, de Chicago, com 443 metros). O conjunto abrigava escritórios de quase 400 empresas de 25 países pelo menos. 50.000 pessoas trabalhavam na torre norte e sul, estima-se que na hora do atentado pelo menos 10.000 pessoas entre visitantes e funcionários se encontravam no local.
O World Trade acabou por se transformar em um ponto turístico e chegou a ser palco de vários suicídios no início de sua existência. De seus dois terraços, era possível enxergar a Estátua da Liberdade ao sul, o bairro do Brooklin a oeste e a cidade de Nova Jersey a leste.
O prejuízo estimado com o ataque as torres foi de mais de 20 bilhões de dólares. Cinco outras construções nas proximidades do WTC e quatro estações subterrâneas de metrô foram destruídas ou seriamente danificadas. No total, foram 25 prédios danificados em Manhattan. Em Arlington, uma parte do Pentágono foi seriamente danificada pelo fogo e outra parte acabou desmoronando.

O Ataque ao Pentágono

O Pentágono possui 5 prédios um dentro do outro. Cada um com 5 andares. Reúne comandos de 14 agências do governo e forças armadas. O Jato atingiu a ala sudoeste. Mais de 800 funcionários trabalhavam no local no momento do ataque e pelo menos 110 pessoas já foram encontradas mortas entre os escombros.

Al-Qaeda (a Base)

Al-Qaeda é um grupo de apoio multinacional que funda e orquestra as atividades de militantes islâmicos mundialmente. Cresceu fora da guerra afegã contra os soviéticos, e seus sócios de caroço consistem em veteranos de guerra afegãos de por toda parte o mundo muçulmano. Al-Qaeda era ao redor estabelecido 1988 pelo Osama Laden. Fundado dentro de Afeganistão, Laden usa uma rede internacional extensa para manter uma conexão solta entre extremistas muçulmanos em países diversos. Trabalhando durante meios de alta tecnologia, como fac-símiles, satélite telefona, e o internet, ele está por toda parte em contato com um número desconhecido de seguidores o mundo árabe, como também na Europa, Ásia, os Estados Unidos e Canadá.
A meta primária da organização é a subversão do que vê como os governos corruptos e heréticos de estados muçulmanos, e a substituição deles/delas com a regra de Sharia (lei islâmica). Al-Qaeda é intensamente anti-ocidental, e visões os Estados Unidos em particular como o inimigo principal de Islã. Laden emitiu para três "fatwahs" ou decisões religiosas que chamam os muçulmanos para levar braços contra os Estados Unidos.

À beira da guerra

Em outubro de 1999, o Conselho de Segurança da ONU exortou o Talibã a entregar Osama bin Laden, líder da organização terrorista al-Qaeda ("A base"), apontado pelo governo americano como mentor dos atentados contra as embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia em 1998. Após ser expulso do Sudão, em 1996, bin Laden passou a viver no Afeganistão.
Os atentados de 11 de setembro, que destruíram o WTC (Centro Mundial de Comércio), em Nova York, e parte do Pentágono, em Washington, criaram uma nova situação internacional.

Invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos

Logo após os atentados, os Estados Unidos obtiveram informações de que os terroristas estavam ligados a Osama bin Laden. O Afeganistão, que o abriga bem como à sua organização, al-Qaeda, recusou-se a entregá-lo à justiça norte-americana. Em consequência disto, os Estados Unidos classificaram o Afeganistão como um estado que abriga terroristas. Em retaliação ao atentado terrorista, os Estados Unidos presentemente lançam uma ofensiva militar contra o Afeganistão. O alvo norte-americano são o regime Talibã e as bases de treinamento para terroristas, no país. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos lançam comida e medicamentos à população afegã que sofre com a miséria e o regime totalitário do país.
Em grande parte, o mundo ocidental apoia a iniciativa norte-americana. Os Estados Unidos e a Europa insistem em que esta é uma guerra contra o terrorismo, e não contra o Islã ou mesmo o Afeganistão. O objetivo norte-americano é derrubar o regime Talibã e punir Osama bin Laden e os membros de sua organização terrorista.
E então o Afeganistão, acusado de apoiar o saudita, tornou-se o alvo número um das tropas norte-americanas. Assim tem início a chamada Guerra ao Terror, instaurada pelo Presidente George Bush.
O Congresso implanta várias leis para proteger o país e aprova a decisão do Presidente de invadir o Afeganistão, como uma represália ao atentado cometido em território americano. Assim, no dia 07 de outubro de 2001, tropas norte-americanas, apoiadas pela Aliança do Norte, revoltosos afegãos que apoiaram os EUA contra os terroristas da Al Qaeda e os Taliban, invadiram este país, aliadas também a forças internacionais do Reino Unido, do Canadá e da Austrália.
A investida contra o governo foi vitoriosa, pois lograram expulsar os Taliban do poder. Mas lutas incessantes prosseguem entre a coalizão que substituiu o antigo governo e facções rivais. Durante os combates, os norte-americanos conseguiram atingir alvos estratégicos, obtendo êxito ao prender supostos terroristas no Afeganistão, que foram presos na base militar de Guantánamo, em Cuba. Bush não lhes concedeu os direitos de prisioneiros de guerra, pois ele os considerou soldados ilegítimos. Consequentemente, estes rebeldes não tiveram direitos básicos resguardados, e fala-se hoje de abusos e torturas inomináveis que teriam ocorrido neste local.

A Guerra No Iraque

O Que Levou a Guerra...

As origens do conflito entre o Estados Unidos e o Iraque iniciaram seu conflito em agosto de 1990, quando Saddam Hussein ordenou às tropas de seu país a invasão do Kuwait. Os americanos desaprovaram a ação iraquiana, montaram uma coalizão militar com países aliados e expulsaram os soldados de Saddam do Kuwait. A guerra, porém, jamais terminou de fato - desde então, dezenas de ataques foram lançados no Golfo Pérsico.
Em abril de 1991, com as tropas iraquianas já derrotadas pelos americanos, uma resolução da ONU determinou uma trégua no conflito e ordenou o desarmamento de Saddam Hussein. Desde então, o líder iraquiano resistiu às ordens externas, impôs obstáculos aos inspetores estrangeiros, evitou desmontar seu arsenal e desafiou os americanos. Foram onze resoluções da ONU, todas ignoradas.
Ataques - Entre 1991 e 1998, três grandes operações militares atingiram o Iraque como retaliação à postura de Saddam. Em 1993, aviões americanos, ingleses e franceses atacaram o país; em 1996, os EUA lideraram a operação Ataque no Deserto; em 1998, os americanos lançaram outra operação, Raposa do Deserto. Além disso, vários ataques aéreos esporádicos atingiram alvos dos iraquianos.
Entre 1998 e 2001, a ONU tentou retomar as inspeções de armas no Iraque, mas fracassou. O tema só retornou à pauta prioritária dos americanos em 11 de setembro de 2001, depois do maior atentado terrorista da história. A posição do governo George W. Bush diante das ameaças externas mudou. Em 2002, Bush anunciou oficialmente que a doutrina de seu país será de atacar antes de ser atacado.
Justificativa - O Iraque é o primeiro alvo da política americana de ataques preventivos em função do histórico de conflito com o país e dos fortes indícios de que tem armas de destruição em massa. De acordo com os americanos, as armas químicas, biológicas e nucleares supostamente mantidas por Saddam poderão ser usadas contra vizinhos árabes ou até contra alvos americanos dentro e fora do país.
Os atentados em Nova York, em 11 de setembro de 2001, desviaram a atenção dos Estados Unidos para uma nova ameaça: o terrorismo, "personificado" na figura de Osama Bin Laden. A guerra contra o Afeganistão conseguiu derrubar o regime do Talibã, mas passou longe de desmantelar a rede mundial de terrorismo. Mesmo com essa "missão" ainda pendente, o governo do presidente norte-americano George W. Bush volta suas atenções novamente para o Iraque. Os bombardeios recomeçaram e, mesmo sem apoio internacional, os Estados Unidos prometem uma nova e intensa ofensiva. Por que isso?

E a guerra começa

Por causa dos apoios recebidos na época da Guerra Irã - Iraque, o exército iraquiano é um dos mais bem aparelhados do mundo árabe. Diferentemente do que aconteceu em 1990 – quando o Iraque havia invadido o Kuwait –, não existe "motivo" concreto para uma nova ação militar. As alegações dos norte-americanos, de que o governo iraquiano está produzindo armas de destruição em massa (especialmente químicas e biológicas), não chegaram a ser provadas pelos inspetores da ONU. Apesar disso - e contra a opinião da maior parte da comunidade internacional e da própria ONU - os Estados Unidos atacaram Bagdá na manhã do dia 20 de março de 2003. Começa uma nova guerra.

Um pouco de análise

Segundo alguns analistas, o interesse norte-americano é garantir suas tropas no Oriente Médio. Enquanto o Iraque significar uma ameaça, os Estados Unidos têm como justificar a presença de um grande efetivo militar na região - a mais rica do planeta em petróleo. Outro motivo citado é a tendência do presidente George W. Bush – filho do Bush que comandou a Guerra do Golfo – de investir contra "inimigos". E finalmente, uma terceira – e talvez mais "poderosa" – razão: depois de quase uma década de crescimento econômico constante, os Estados Unidos dão mostras de entrar em uma crise. O "aquecimento" da indústria bélica – a maior do mundo – poderia também significar um aquecimento da economia em geral.
Em pouco tempo as tropas anglo-saxônicas chegaram a Bagdá. Saddam Husseim desapareceu e, por um breve momento, a coalisão comandada pelos Estados Unidos achou que a guerra fora ganha.
O Presidente George W. Bush, que em junho de 2003, segundo a BBC, alegou seguir os desígnios divinos ao invadir o Afeganistão e, logo depois, o Iraque, caracterizando assim um certo fundamentalismo cristão, não teve poderes extraordinários para devolver ao Afeganistão a paz tão desejada, perdida desde a invasão da União Soviética.

ENTRE GOLPES E PROTESTOS: OS ANOS 60 E 70 DO SÉCULO XX

O poder da juventude

Nas décadas de 60 e 70 as manchetes de jornais de vários países do planeta abordavam a escalada da juventude na sociedade, os jovens, inconformados com os valores e instituições, ideias e tabus existentes na sociedade, buscavam construir, pacífica ou violentamente, um novo mundo. Queriam romper com tudo que consideravam tradicional, conservador e ultrapassado. A palavra de ordem era a contestação.
E contestando o que consideravam “velho”, foram construindo e assumindo novos valores e comportamentos e ousadas formas de fazer política, arte, religião, etc. nos países socialistas, lutaram pela liberdade política, nos países capitalistas industrializados criticavam a sociedade de consumo e os valores e tabus conservadores e nos países de terceiro mundo, lutaram contra as ditaduras e contra o imperialismo.
Nem sempre com sucesso, nem sempre com derrotas. As lutas e a rebeldia da juventude nos anos 60 e 70 mudaram o mundo. Não exatamente como eles queriam, mas com certeza imprimiram na sociedade sua digital: abalaram estruturas e mentalidades, modificaram os modos e a moda, diversificaram e pluralizaram as opiniões, os comportamentos, os estilos e os conceitos. Opondo-se à a moda comportada e sofisticada das décadas anteriores, os estilos de roupas, de cabelos, de maquiagem, os ídolos, os estilos musicais e a forma de ver e viver passaram por uma verdadeira revolução.
Nos anos 60, a moda deixou de ser única e a forma de se vestir tornou-se cada vez mais ligada ao comportamento. Num cenário de afirmação da juventude e de contestação, a moda passou a ter várias propostas e tendências, mas as grandes vedetes da época eram: a minissaia, os shortinhos, os vestidos feitos em linha reta (os famosos tubinhos), as calças masculinas cada vez mais justas, com cintura baixa e barra larga (a famosa boca de sino). Alguns modismos surgiram a partir da cópia dos modelos usados por ídolos e celebridades da época: os terninhos dos Beatles, os óculos de Jackie Onassis, os cabelos curtíssimos e os cílios postiços e delineados da magérrima Twiggy (apelido da inglesa Lesley Hornby, que foi de 1966 a 1969 a modelo símbolo da época e a primeira top model do mundo), os ternos estilo Mao Tsé-tung, as camisas com o rosto de Che Guevara, entre outros.
Os avanços da ciência, as viagens espaciais, a revolução na arte e no design – especialmente a Pop Art, movimento artístico que usava a irreverência e a ironia para contextualizar e contestar a sociedade de consumo – também influenciavam a moda e eram retratados nos modelos, estampas e tecidos. Os desenhos de Andy Warhol, um dos criadores da Pop Art, tais com as latas de sopa Campbell, Elvis Presley e Marilyn Monroe, viraram estampas de tecidos usados para confeccionar vestidos e camisetas. Os tecidos sintéticos com estampas futuristas e geométricas também eram hits nos anos 60 e 70, expressão de uma época que buscava a mudança, a modernidade, o futuro.
Nos anos 60 Londres era o reduto jovem mundial, mas já no final dessa década foi substituída pela cidade de São Francisco nos Estados Unidos, berço dos movimentos de contestação e de lutas das “minorias”: o flower Power, poder da flor (slogan dos hippies que pregavam a paz e o amor; o Black Power (slogan do movimento negro norte-americano), o gay Power e womens’s lib (movimento pela libertação das mulheres). Essas palavras de ordem ecoaram em grande parte do planeta e se tornaram slogans da juventude mundial e base de suas manifestações e lutas.
No final dos anos 60 e início da década de 70, a busca de novos valores, de um outro tipo de vida, a negação da sociedade de consumo, dos preconceitos e das hierarquias, a valorização das classes operárias e camponesas, a busca de uma vida mais espiritualizada, a aproximação com o misticismo oriental promoveram uma nova reviravolta na moda e no comportamento. O movimento hippie, originalmente um estilo de vida que negava a sociedade consumista, competitiva e belicosa, acabou se transformando num modismo e milhares de pessoas passaram a adotar o seu visual: cabelos longos, túnicas batique (indiana), jeans surrados e enfeitados, camisetas com estampas florais e com símbolos de paz e do zodíaco, pantalonas e saias longas estilo cigana, bolsas de couro, carmuças e crochê com franjas e alças e tiracolo, sapatos plataforma e bijuterias viraram verdadeiras manias mundiais.
Nessas décadas, a criatividade e a originalidade estavam a todo vapor e a produção cultural foi extremamente rica e variada. Na música destacaram-se as bandas de rock-and-roll, especialmente Os Beatles, um verdadeiro fenômeno mundial: entre 1962 e 1969 venderam 220 milhões de discos e um de seus integrantes, Jonh Lenon chegou a declarar: “Somos mais populares que Jesus Cristo”. Segundo vários especialistas, os Beatles conseguiram transformar em música a rebeldia e os sonhos dos jovens dos anos 60, registrando em sons a história de uma época.
No final dos anos 60 e início dos 70, outras bandas de rock se destacaram no cenário mundial fazendo um som mais pesado e estridente: Rolling Stones, Led Zeppelin, Black Sabath e os roqueiros Janis Joplin, Jimi Hendrix, Rod Stewart, David Bowie, entre outros. Surgiu nessa época também o chamado “rock progressivo”, cujos maiores representantes foram os grupos Yes, Pink Floyd e Queen. No final dos anos 70, surgiram novos estilos como o disco ou dance music, inaugurando a era das discotecas, e o punk rock.

Jovens, mulheres e negros querem mudar o mundo

· Década de rebeldia e contestação

A década de 60 foi realmente explosiva. Em várias partes do mundo ocorreram movimentos populares que exigiam mudanças sociais e políticas tanto nos regimes socialistas como nos países capitalistas. Havia um forte sentimento de recusa e toda forma de opressão, discriminação e autoritarismo.
Nos países capitalistas, a luta era por ampliação dos direitos civis dos negros e das mulheres, pela reforma do sistema educacional arcaico e tradicional e pelo fim das guerras. Para exigir seus direitos, os estudantes, os negros e as mulheres foram às ruas, criando formas alternativas de organização e manifestação. Apesar do caráter pacífico da maioria desses movimentos, eles foram enfrentados pelo poder instituído com violência e repressão, demonstrando a resistência em relação às mudanças. Em geral, os manifestantes eram acusados de subversivos, baderneiros e imorais.
Além dos métodos tradicionais de luta, como as greves, passeatas, barricadas, a geração jovem dos anos 60 e 70 criou fórmulas alternativas de protestar contra o modelo social vigente: o movimento hippie e a contracultura.
Nos países socialistas, o aparato repressor do Estado não conseguiu impedir a explosão da insatisfação de vários segmentos da população com o autoritarismo do regime e a ausência de liberdade e de participação popular. Esses movimentos contra-revolucionários, traidores e inimigos do povo.
Como podemos observar, tanto no socialismo como no capitalismo, as diferenças não eram respeitadas e aceitas, ao contrário, eram inferiorizadas e discriminadas.
Apesar disso, o movimento estudantil, o movimento feminista e o movimento negro mantiveram suas lutas (com períodos de avanços e de refluxo) e ao longo dos anos foram conquistando espaço voz na sociedade, contribuindo direta ou indiretamente para as grandes mudanças políticas, sociais e culturais pela quais o mundo passou a partir dos anos 60 até hoje.
O estopim das lutas ocorreu em 1968. Nunca um ano provocou tantos movimentos e protestos populares: na França, a “revolta de maio”; na Tchecoslováquia, o “massacre da Primavera de Praga”; na Polônia, as manifestações contra o regime burocrático; na América Latina, o apogeu do movimento estudantil contra as ditaduras militares.

· Pela igualdade racial

A partir de meados dos anos 50, começou nos Estados Unidos um vigoroso movimento pelos direitos civis dos negros liderados pelo pastor Martin Luther King (1929-1968). O método pacifista defendido por Martin para combater o racismo e a violência contra os negros era a desobediência civil, ou seja, não obedecer as proibições e limitações legais a que eram submetidos. Sua filosofia de não-violência era baseada nas ideias e lutas do líder indiano Mahatma Gandhi e nos princípios cristãos.
A luta de Luther King pelos direitos civis dos negros nos EUA começou em 1955, quando ele liderou um boicote ao transporte coletivo em protesto a um ato discriminatório a uma passageira negra. O movimento, que durou 381 dias, provocou reações violentas e King teve sua casa bombardeada.
Em 1957, ajudou a fundar a Conferência da Liderança Cristã no Sul (SCLC), uma organização de igrejas e sacerdotes negros, que tinha como objetivo acabar com as leis de segregação por meio de manifestações e boicotes pacíficos. Em 1960, como resultado de uma série de protestos contra a segregação racial em hotéis, restaurantes, escolas, etc., o movimento negro liderado por King conseguiu aprovar uma lei concedendo livre acesso dos negros aos lugares públicos.
No ano de 1963, Martin L. King liderou várias passeatas, marchas e protestos em prol dos direitos civis de todos os cidadãos dos Estados Unidos, contando sempre com a adesão de milhares de participantes. Mas, apesar dos métodos de não-violência e resistência passiva, milhares de manifestantes foram presos durante as marchas e protestos e até mesmo Luther King foi preso várias vezes, acusado de perturbar a ordem pública.
Apesar da resistência de uma grande parcela da sociedade branca norte-americana, a luta dos negros americanos passou a ter ressonância internacional, especialmente após a passeata em Washington (28 de agosto de 1963), onde Luther King proferiu seu famoso discurso “I have a dream” (“Eu tenho um sonho”). A partir daí, a luta sem violência contra a discriminação e intolerância racial ganhou força. Foram organizados grandes comícios e passeatas reunindo milhares de negros nas grandes cidades norte-americana, principalmente em Memphis, berço do movimento.
Em dois de julho de 1964, os negros conseguiram sua primeira vitória, com a aprovação da Lei dos Direitos Civis, que tornou ilegal a discriminação racial no registro de eleitores e em estabelecimentos públicos – restaurantes, postos de gasolina, hotéis, etc. – e estabeleceu punições para escolas e hospitais que recusassem atendimento por preconceitos raciais.
Apesar do grande avanço, essa lei limitava o direito de cidadania aos negros, pois exigia uma escolaridade mínima (algo equivalente à nossa escolaridade primária) como requisito ao direito de voto. Como grande parte dos negros não tinha acesso às escolas até então, milhares deles ficaram sem registro eleitoral. Novos protestos levaram o governo a aprovar a Lei dos Direitos de Voto, em seis de agosto de 1965, garantindo a igualdade desse direito para brancos e negros.
Apesar desses avanços, a situação dos negros norte-americanos estava longe da igualdade pretendida. A superioridade branca ainda era bastante visível e controlava o poder político e econômico no país. Para combater o “o poder branco”, surgiu um novo movimento negro nos EUA, chamado de Black Power (Poder Negro), que a partir de 1967 passou a promover saques, incêndios e protestos violentos para atingir seus objetivos.
Liderados por Stokely Carmichael e Malcolm X, esses movimentos negros eram contrários à integração da comunidade negra com os brancos e defendiam a valorização da cultura negra. Seus métodos radicais espalharam uma onda de violência racial que se aprofundou ainda mais em 1968 após o assassinato de Martin Luther King, em quatro de abril, e de Bob Kennedy, em cinco de junho, este candidato à presidência identificado com a causa negra.
A explosão da luta racial nos EUA fez acelerar a aprovação de uma série de novas leis a favor dos direitos civis negros. Apesar disso, ainda hoje, persiste uma mentalidade racista violenta, que provoca continuamente nos e explosivos conflitos.

· Pela igualdade entre os sexos

Nos anos 60, influenciado pelas lutas dos negros americanos e pelos movimentos contra a guerra do Vietnã, ressurgiu com força o movimento. Foi decisiva a influência de Simone de Beauvoir (que publicou, em 1949, o livro O segundo sexo) e de Betty Friedam (que publicou o livro A mística feminina) – escritoras que analisavam a condição da mulher na sociedade e denunciavam o machismo. Nessa década ocorrem centenas de passeatas e protestos das mulheres em diversas partes do mundo, principalmente nos EUA, França, Inglaterra e Itália.
Defendendo a bandeira da igualdade entre os sexos e combatendo a discriminação das mulheres no mercado de trabalho, o movimento feminista procurava conscientizar as mulheres dos seus direitos, ao mesmo tempo que exigia das autoridades avanços nas leis contra a discriminação da mulher na sociedade. Em consequência desse movimento e do surgimento da pílula anticoncepcional, o mundo conheceu uma verdadeira revolução sexual: tabus e preconceitos como a virgindade, o casamento eterno (mesmo que infeliz), o papel social da mulher como “rainha do lar” e sua submissão e passividade em relação ao marido, entre outros, foram aos poucos sendo destruídos.
Tradicionalmente ensinadas a se realizar (e acomodar-se) por meio do casamento e da maternidade, as mulheres passaram a lutar por espaços na vida pública (direitos iguais, oportunidades no mercado de trabalho, acesso à educação formal e à profissionalização, etc.) e liberdade e domínio sobre sua vida e seu corpo na vida privada.
A partir das lutas das mulheres nos anos 60 e 70, o comportamento e a mentalidade das mulheres, especialmente as ocidentais, passaram por um profundo processo de mudanças. Cenas raras até a década de 50 foram tornando-se cada vez mais comuns: mulheres com dupla jornada de trabalho (no lar e no mercado), frequentando lugares públicos sem acompanhantes masculino, mulheres divorciadas (embora em muitos países fossem ainda alvo de discriminação) mulheres fumando (o cigarro nessa época foi para muitas mulheres um símbolos ou uma forma de liberdade) e mulheres participando ativamente de movimentos políticos, sociais e culturais.
Na década de 70, o movimento feminista diversificou suas reivindicações e a luta das mulheres teve como eixos centrais a denúncia contra a violência no lar e a defesa da descriminalização do aborto. Um dos momentos marcantes do movimento foi em 1975, instituído pela ONU como o Ano Internacional da Mulher.

Lutas e conquistas no Brasil

No Brasil, a luta das mulheres contra a violência, cujo lema era “Quem ama não mata”, conquistou importantes vitórias com a criação do SOS – Mulher no final da década de 70 e com a aprovação da lei do divórcio em 1977. Em 1985, surgiu a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher – DEAM, em São Paulo e, logo depois outras Deçegacias da Mulher foram implantadas em vários Estados brasileiros.
Em 1985, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 7353, que criou o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Nas eleições de 1986, 26 mulheres se elegeram deputadas constituintes que conseguiram aprovar, através do “Lobby do Batom” uma emenda na Constituição Federal, garantindo igualdade a todos os brasileiros perante a lei, sem distinção de qualquer natureza e assegurado que homens e mulheres tenham direitos iguais no Brasil.
Nos anos 90, vários seminários e conferências mundiais importantes – tais como Planeta Fêmea, Agenda 21, ECO 92 – tiveram expressiva participação de mulheres brasileiras. Em 1996, o Congresso Nacional incluiu o sistema de cotas na Legislação Eleitoral, obrigando os partidos políticos a inscreverem, no mínimo, 20% de mulheres em suas chapas proporcionais (Lei nº 9.100/95 - § 3º, art. 11).

· 1968: explode a revolta estudantil

O movimento de contestação dos anos 60 atingiu seu ponto máximo em 1968, quando a agitação estudantil iniciada em Paris espalhou-se por várias universidades e ruas das grandes cidades nos EUA, Inglaterra, Brasil, Tchecoslováquia, Polônia, China, Japão, etc.
A revolta estudantil em Paris começou no dia três de maio, quando universitários organizaram uma passeata exigindo do governo francês reformas nas leis e instituições educacionais dos países. Eles protestavam contra a queda do nível de ensino e a rigidez da disciplina acadêmica. A inabilidade do governo detonou a crise: mandou reprimir com violência o protesto estudantil, estimulando, assim, a radicalização do movimento.
Na semana de seis a 13 de maio, o protesto estudantil se transformou em rebelião. Os estudantes ocuparam o Quartier Lati,onde organizaram barricadas e enfrentaram a polícia com os paralelepípedos das ruas. A violência policial fez crescer o apoio da opinião pública aos estudantes.
No dia 13, uma manifestação de 800 mil pessoas em Paris apoiava os estudantes e condenava a violência da repressão policial. No dia 22 deste mesmo mês um movimento de greve e ocupação operária espalhou-se pela França: quase dez milhões de operários pararam de trabalhar.
Apesar disso, centenas de estudantes foram presos e a Universidade Sorbonne, principal fortaleza do movimento estudantil, foi desocupada. Além dos mais de 400 feridos, os dias de confronto deixaram como saldo de destruição dezenas de lojas, ruas e carros destruídos.
O protesto estudantil, apesar de desmantelado pela repressão policial, acendeu a chama da participação estudantil não só na França, mas em diversos pontos do mundo que, inspirados neste episódio, passaram a protestar e participar politicamente em seus países.
Na Tchecoslováquia, um dos países socialistas no Leste Europeu, os protestos estudantis começaram em 1967, exigindo a democratização do regime socialista.
Em outubro, ocorreram várias passeatas de estudantes e dos operários em greve pelas rua capital, Praga, que foram brutalmente reprimidas pela polícia. Entretanto, alguns membros Ca cúpula do Partido Comunista Tcheco começavam a reconhecer o direito dos estudantes e dos demais cidadãos de participarem e protestarem publicamente, dando origem, em abril de 68, a um forte movimento de mudanças na estrutura do regime socialista, conhecido como “Primavera de Praga”.
Essa decisão contrariava os interesses da União Soviética na região. Os russos temiam que a abertura política tcheca servisse de exemplo aos demais regimes socialistas do Leste Europeu.
No dia 19 de agosto de 1968, centenas de tanques e tropas russos iniciaram a invasão da Tchecoslováquia, ocupando todos os pontos estratégicos do país (a sede do governo, a Assembleia Nacional e a Sede do Partido Comunista) e prendendo todos os líderes tchecos. A violência da invasão russa foi ainda maior com os populares que protestavam e tentavam resistir à dominação soviética: diversos jovens foram brutalmente assassinados, o que transformou a invasão num verdadeiro massacre.
Apesar da vitória soviética, os estudantes e a população das cidades tchecas continuaram uma resistência passiva: não falavam e não vendiam nada aos soldados russos, desprezavam sua presença e ignoravam suas ordens. Essa resistência muito contribuiu para expor ao mundo a política repressora dos soviéticos, desgastando ainda mais sua imagem e contribuindo para o aprofundamento da crise do “socialismo real”, burocrático e autoritário, que, a partir dos anos 80 do século XX, tornou-se irreversível.

· “faça amor, não faça a guerra”

Os Estados Unidos também viveram um período de efervescência cultural nos anos 60. Os conflitos e as contradições de uma economia capitalista avançada provocavam uma séria crise de valores na sociedade americana.
O consumismo e o excessivo materialismo, típicos do modo de vida americano, passaram a ser contestados. Concepções e valores conservadores em relação à estrutura familiar, como o casamento, monogamia, repressão sexual, machismo, também eram questionados por uma parcela considerável da juventude americana que ansiava criar uma nova sociedade, diferente, alternativa.
A participação norte-americana na Guerra do Vietnã contribuiu para o aprofundamento dos questionamentos da juventude, que acusava sua sociedade de desumana e repressora.
As cenas de horror da guerra, pela primeira vez transmitidas pela televisão, chocavam a opinião pública norte-americana, reforçando sua posição contrária ao conflito. A brutalidade da intervenção armada dos EUA e sobretudo sua inutilidade provocaram o surgimento de campanhas, passeatas e movimentos organizados para que o governo retirasse suas tropas do Vietnã.
Os reflexos dessa realidade foram o surgimento de atitudes críticas e desafiadoras como o movimento da contracultura e de movimentos de total negação da ordem social como o movimento hippie.
Formado por jovens de classe média que estavam desacreditados com o sistema capitalista, os hippies passaram a organizar modelos d comunidades alternativas, livres e integradas à natureza. Movidos pelo lema “paz e amor”, defendiam o amor e sexo livre, o espírito comunitário, a libertação dos costumes, a não-violência e a tolerância com as diferenças.
Nessas comunidades, praticamente tudo que era necessário à sobrevivência era produzido pelos integrantes do grupo. A alimentação desses jovens era naturalista (comida integral, sem agrotóxicos e vegetariana), as roupas eram artesanais e coloridas, usavam cabelos compridos e muita bijuteria. A educação dos filhos era comunitária e totalmente liberal. As drogas chamadas naturais, como a maconha, eram livres e seu uso, além das “viagens”, funcionava como negação do tempo e da produção capitalista.
Os hippies chocavam tanto a sociedade conservadora, que os considerava vagabundos, como os militantes de esquerda, que os acusavam de alienados e omissos. Apesar disso, a influência dos hippies norte-americanos atravessou fronteiras e seu estilo comunitário e alternativo foi seguido por jovens de vários países, inclusive o Brasil.
Na música, o estilo livre e ousado dos hippies e a influência da contracultura fizeram surgir os grandes festivais de rock-and-roll, onde se destacaram Bob Dylan, Rolling Stones, além dos ídolos rebeldes Janis Joplin, Jimi Hendrix e The Doors.

“Sexo, drogas e rock-and-roll”

No dia 17 de agosto de 1969, começou o Festival de Woodstock, na cidade de Bethel, estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos, o maior evento de música e arte de todos os tempos.
Aproximadamente 500 mil jovens participaram dos três dias de festival cantando, dançando, nadando nus e “enlouquecendo” ao som das encantadas e estridentes guitarras dos conjuntos de rock. Nem os engarrafamentos, a falta de água e comida e nem as chuvas tiraram o ânimo dos participantes que usavam e abusavam das drogas e praticavam sexo livre e casual.
O lema do festival poderia ser resumido em “paz, amor e liberdade” e entre as estrelas presentes estavam Jimi Hendrix e Janis Joplin. Segundo dados oficiais, durante o Festival nasceram dois bebês, morreram três pessoas e cinco mil foram hospitalizados por abusos de drogas.


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