quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Leste Europeu e CEI

Há poucas décadas, o conjunto de países que conhecemos como Leste Europeu estava sob a zona de influência do socialismo soviético.
Por isso, passaram por um processo de desenvolvimento diferente daquele observado na quele Europa ocidental.
Os anos após a Segunda Guerra Mundial foram marcados pela transformação de uma ordem geopolítica baseada na hegemonia europeia em uma ordem bipolar, na qual duas grandes potências rivalizavam militar, econômica e ideologicamente: Estados Unidos e URSS.
Esse período, conhecido como Guerra Fria, caracterizou-se pela tensão permanente diante da ameaça de uma guerra nuclear sem precedentes.
Estados Unidos e URSS protagonizaram o embate apoiados por seus arsenais militares e incentivados pela defesa de suas visões de mundo.
Do lado soviético, a sociedade se estruturava em torno do socialismo de matriz stalinista, caracterizado, nesse contexto, pela economia estatizada, pelo foco no estabelecimento da indústria pesada, pela centralização do poder nas mãos do partido comunista e pela criação de uma estrutura de serviços sociais públicos.
Do lado estadunidense, defendia-se a consolidação do modelo capitalista, com o livre mercado, a iniciativa privada e a competição como motores do aprimoramento econômico e social.

A divisão da Europa


Estados Unidos e URSS demarcaram as respectivas áreas de influência geopolítica, conquistando apoios e aliados. Estava estabelecida a ordem bipolar. Os países europeus, destruídos pela guerra, buscavam se reconstruir economicamente e se posicionar nesse cenário, formando alianças políticas e aderindo a uma das duas esferas de poder.
Na Europa ocidental, a ajuda financeira fornecida pelo Plano Marshall (1948-1952) e a criação, em 1949, da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) marcaram a adesão ao modelo capitaneado pelos Estados Unidos.
Os países do leste da Europa, por sua vez, alinharam-se ou foram integrados à URSS após as Conferências de Yalta e de Potsdam (1945), estendendo a área de influência soviética por toda essa região, até os territórios controlados na Berlim Oriental.

O período de influência soviética


Sob o regime soviético, os países do Leste Europeu incorporaram as características políticas e econômicas ditadas por Moscou, com o Estado comandado por um partido autoritário que controlava a economia visando a uma rápida transição do modelo agrário para o industrial.
Mesmo com a existência de diferentes povos com culturas e tradições distintas, houve relativa estabilidade. Entretanto, havia insatisfações em relação ao modo como a política e a economia eram conduzidas pela URSS, que sufocavam militarmente qualquer tentativa de contestação social.
Sob o regime soviético, os países do Leste Europeu tiveram menor desenvolvimento econômico em comparação com os países mais ricos do lado ocidental, como Alemanha e França. Entretanto, houve melhora significativa nas condições de vida da população e ampliação da capacidade industrial.

Colapso da URSS e a formação da CEI


A passagem dos anos 1980 para os 1990 foi marcada por grandes transformações políticas e sociais na URSS e nos países alinhados do Leste Europeu.
A economia soviética chegava ao final do século XX com ritmo de crescimento cada vez menor. Os gastos expressivos com defesa militar e com investimentos na indústria pesada prejudicavam o desenvolvimento de outros setores, levando à escassez crescente de produtos e ao descontentamento popular.
Naquele momento, as economias mais ricas do Ocidente atravessavam a terceira etapa da Revolução Industrial, com a introdução de tecnologias modernas que não estavam disponíveis no mundo socialista, aumentando a desigualdade econômica entre os dois polos.
Internamente, o descontentamento popular com o autoritarismo político, a estagnação da economia e a perda da qualidade de vida eram crescentes e tomavam forma como movimentos sociais, muitos deles clandestinos.
Pressionado, o governo soviético iniciou uma série de reformas com o propósito de aumentar o grau de autonomia política e econômica dos países do Leste Europeu. Esse afrouxamento no rígido controle central foi suficiente para que vários países sob influência soviética buscassem independência.
Entre 1989 e 1991, esse processo levou à queda do Muro de Berlim, ao fim da URSS e a uma profunda reconfiguração das fronteiras do Leste Europeu.

Comunidade dos Estados Independentes


As revoluções que puseram fim à URSS se expandiram para o Leste Europeu, o que resultou no abandono do modelo de socialismo soviético e em uma tentativa de reaproximação com a Europa ocidental capitalista, formalizando o abandono da esfera de influência russa.
Paralelamente, em 1991, sob liderança da Rússia, surge a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), criada com o intuito de conter o avanço da influência ocidental e, ao mesmo tempo, promover uma relação pacífica e igualitária entre as ex-repúblicas soviéticas.
Nesse sentido, a CEI é movida pela proposta de favorecer a cooperaçãoentre os países-membros em áreas como economia, saúde, educação, e desenvolvimento científico e tecnológico. Também tem como meta agir na mediação de conflitos entre os participantes e promover a gestão de estruturas econômicas e militares herdadas da era soviética.
Apesar da tentativa de estabelecer um ambiente de colaboração entre as ex-repúblicas soviéticas, há tensões entre os membros, sobretudo relacionadas à presença de movimentos separatistas na região.
A expansão da Otan sobre o Leste Europeu e o desejo manifestado por várias ex-repúblicas soviéticas de aderirem à União Europeia têm preocupado Moscou, que entende esses movimentos como ameaças ao seu projeto de hegemonia na região e, em alguns casos, como afrontas à segurança nacional russa.

Conflitos recentes


Em 2008, o conflito provocado pela ação dos separatistas da Ossétia do Sul que vivem dentro do território da Geórgia e a ação da Rússia, colocando-se militarmente a favor dos separatistas e contra a Geórgia, desencadearam a Guerra Russo-Georgiana, que culminou com a saída da Geórgia da CEI.
Entre 2014 e 2015, a Rússia ocupou militarmente a península da Crimeia, situada na Ucrânia, mas com maioria étnica russa. Em 2022, a Rússia atacou novamente o território ucraniano. Em ambas as situações, as alegações russas se apoiaram na necessidade de defesa de seu território diante do avanço da Otan, que, supostamente, estaria prestes a aceitar a inclusão da Ucrânia entre seus membros.
Em reação a essa postura da Rússia, parte da comunidade internacional, representada principalmente pelas maiores potências econômicas ocidentais, tem praticado sanções econômicas contra os russos, procurando uma estratégia não militar de contenção do país.

A questão energética


A Rússia é uma importante fornecedora de gás natural, utilizado como fonte de energia, para países do oeste da Europa. A dependência do gás russo impõe um limite às sanções que esses países podem aplicar à Rússia em casos de conflito.
Em contrapartida, parte das receitas russas se baseia na venda do gás à Europa ocidental. Desse modo, apesar de haver uma disputa geopolítica encampada pela Rússia no que se refere ao avanço do Ocidente sobre suas áreas de influência, há, ao mesmo tempo, a necessidade de manter relações comerciais com esses países.

Economia e inserção no cenário mundial


Os países do Leste Europeu, quando comparados às nações mais ricas do continente, apresentam economias menos desenvolvidas. Em parte delas, o setor primário, seja na agricultura, seja na exploração mineral, exerce maior influência na composição do PIB.
De modo geral, são economias que se encontram na transição de um modelo com grande influência estatal para uma economia de mercado nos moldes capitalistas. Nesse sentido, em vários países é necessário promover reformas nos sistemas tributários e jurídicos que contribuam para o aumento dos investimentos privados internos e externos.
Nações do Leste que integram a União Europeia, como Polônia, Hungria e Eslováquia, se valem das vantagens alfandegárias pertinentes ao bloco para atrair empresas do lado ocidental, que, por seu turno, visam se beneficiar com menores custos da força de trabalho. 
Situação semelhante ocorre em países que integraram a ex-Iugoslávia, como é o caso da Eslovênia e da Croácia, que hoje apresentam economias em desenvolvimento e atrativas ao mercado internacional, com destaque para o setor de turismo.
No âmbito da CEI, permanece uma forte dependência em relação à Rússia, sobretudo no que diz respeito ao fornecimento de energia. Muitos países do bloco contam com parques industriais antigos e tecnologicamente defasados.
Os níveis de desemprego são elevados, ocasionando uma pressão migratória do Leste em direção ao Oeste Europeu. Como consequência, as remessas financeiras enviadas pelos emigrantes constituem uma importante fonte de renda para muitas ex-repúblicas soviéticas.
Nesse contexto, as conquistas sociais da era socialista se deterioraram em razão do aumento significativo das desigualdades sociais.


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