Com o fim da Guerra Fria – a dissolução da União Soviética e a abertura para o capitalismo em quase todos os antigos países socialistas –, foi estabelecida uma nova ordem mundial: os Estados Unidos assumiram, num primeiro momento, nos anos 1990, o papel de potência hegemônica nos planos econômico, político e militar. Entretanto, no decorrer deste século XXI, intervenções militares onerosas e crise econômica envolvendo esse país, além da ascensão de outros centros com grande importância geopolítica e econômica no mundo, levaram a uma nova con figuração do poder mundial.
Nesse novo período, as guerras entre grupos étnicos de um mesmo país, particularmente na África e na Ásia, e a luta pela independência empreendida por vários povos (como os chechenos, na Rússia) ou pela formação de um Estado-nação (como o reivindicado por palestinos) continuam ocorrendo. Ainda são mar cantes disputas territoriais entre países, como o conflito entre Índia e Paquistão pelo controle da região da Caxemira, bem como os atentados terroristas.
Após os atentados terroristas contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, uma das prioridades de algumas potências mundiais, em termos políti co-militares, passou a ser o combate ao terrorismo internacional – inimigo dis perso por vários países que age, geralmente, sem anunciar, causando grandes danos humanos e materiais, mesmo sem dispor de um arsenal expressivo. Nesse contexto, os gastos militares globais, que haviam caído logo após o fim da Guerra Fria, voltaram a crescer
Potências hegemônica
Uma potência hegemônica é aquela que influencia, de algum modo, os outros países do mundo. Ela impõe sua política, interferindo nas relações internacionais. Os Estados Unidos, especialmente após a Segunda Guerra, moldaram o sistema mundial de acordo com sua visão e seus interesses. O país, que já era a maior economia mundial desde a Primeira Guerra, passou a controlar cerca de 40% do PIB mundial, mantendo sua força política e militar e exercendo grande influência cultural no mundo.
As potências ocidentais (países da Europa ocidental, Estados Unidos e Cana dá) exercem sua hegemonia no mundo desde a metade do segundo milênio. Porém, a partir da Guerra Fria, passou-se a chamar de “mundo ocidental” os países capita listas desenvolvidos, independentemente de sua localização geográfica. Austrália, Nova Zelândia e Israel também são incluídos nesse grupo, em algumas análises. O mundo ocidental também é chamado, simplesmente, de Ocidente.
Particularmente em relação à influência no continente asiático, os Estados Unidos enfrentam a concorrência de dois fortes protagonistas geopolíticos neste início do século XXI: a Rússia e a China. Assim como os Estados Unidos, esses dois países são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que tem como finali dade manter a paz e a segurança no mundo. Os outros membros permanentes des se Conselho são a França e o Reino Unido. Essa designação confere a esses países o poder de vetar resoluções tomadas pela Organização. Os outros dez membros, de um total de quinze, são eleitos pela Assembleia Geral para um período de dois anos.
A Rússia está mais atuante no cenário político-militar internacional e vem trabalhando para reduzir a influência do Ocidente nos territórios próximos ao seu, como nos países da Ásia Central, nos europeus próximos à sua fronteira e em parte dos países do Oriente Médio, sobretudo Irã e Síria – este último em posição estra tégica por abrigar uma base militar russa, em Tartus, em pleno mar Mediterrâneo, além de ser importante comprador de armamentos da indústria militar da Rússia.
Em relação à ascensão da China, especialistas em relações internacionais entendem que o país compete com os Estados Unidos não apenas no aspecto econômico, mas também no âmbito geopolítico mundial. As relações entre Esta dos Unidos e China cada vez mais desempenham um papel importante na geopo lítica global.
A forte expansão da economia chinesa exige que o país busque fornecedores de matérias-primas e parceiros comerciais ao redor de todo o mundo, am pliando seus mercados e suas possibilidades de investimento. Em decorrência dessa situação, têm sido inevitáveis os choques de interesses com os Estados Unidos. No próprio continente asiático, os chineses já desempenham papel im portante no desenvolvimento econômico de vários países, bem como na África.
Além disso, em termos geopolíticos, uma série de tensões regionais passa pela relação sino-estadunidense, e, de certo modo, também pela relação russo-estadunidense, como a possível proliferação de armas nucleares na Coreia do Norte (Estado socialista), o programa nuclear no Irã e o conflito na Síria.
Apesar de os Estados Unidos serem a maior potência militar do planeta e influenciarem decisões políticas dos organismos interna cionais, como o FMI, o Banco Mundial e a OMC, a crise mundial iniciada em 2007 no país e as ações militares extremamente custosas, como as empreendidas nos territórios do Afeganistão (2001), do Iraque (2003) e da Líbia (2011), fragilizaram sua economia e contribuíram para que perdessem a supremacia econômica abso luta (sobre a influência nos organismos internacionais, em particular no FMI.
Nesse contexto, como visto anteriormente, China e Rússia, além da própria União Europeia, liderada pela Alemanha, do Japão e dos Estados Unidos, torna ram-se relevantes e atingiram patamares mais expressivos nas questões políticas e econômicas internacionais. Em razão disso, é possível afirmar que vem se configurando um mundo multipolar, com vários atores exercendo supremacia no espaço global.
O combate ao terrorismo vem sendo realizado por meio de diversas ações, li deradas especialmente pelos Estados Unidos e por países da Europa, e conta com o apoio da Rússia. Algumas dessas ações são: maior rigor no controle do fluxo de imigrantes; estabelecimento de leis que autorizam os governos a prender, sem julgamento e por tempo indeterminado, pessoas suspeitas de atos terroristas; promulgação de leis que permitem aos órgãos de segurança do governo rastrear e-mails e “grampear” ligações telefônicas.
No entanto, são ações que violam os direitos de liberdade das pessoas. Ao apoiar algumas iniciativas dos Estados Unidos e de alguns países europeus no combate ao terrorismo internacional, o governo russo espera que as potências ocidentais não reprovem as ações de seu exército para reprimir o movimento sepa ratista na Chechênia – república que faz parte da Federação Russa e onde um grupo de guerrilheiros islâmicos havia declarado independência em 1991.
A Rússia, por sua vez, não concorda com ações militares dos Estados Unidos contra países que, segundo os estadunidenses, apoiam e protegem terroristas. Es ses países, como o Irã e a Coreia do Norte, são tradicionais aliados dos russos e man têm com eles acordos de cooperação econômica e científica, especialmente o Irã.
Outras questões divergentes entre Rússia e Estados Unidos no contexto político-militar europeu são:
- o projeto estadunidense de estruturação de escudos antimísseis nucleares na Romênia (inaugurado em 2016) – que integram os escudos de defesa da Otan – e na Polônia, sob justificativa de proteção ao Irã. Esses escudos serão disponibilizados para a Otan e apresentam-se à Rússia como uma questão bastante contestada, já que esta os considera uma ameaça;
- a não adesão da Ucrânia e da Geórgia à Otan, por pressão da Rússia. O Ocidente também vinha se posicionando de forma contrária ao separatis mo no leste e no sul da Ucrânia e ao apoio russo aos separatistas, em meados da década de 2010. Apesar dessas divergências, Estados Unidos e Rússia veem-se mutuamente como aliados na luta contra o terrorismo internacional.
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