domingo, 16 de novembro de 2025

AS TROCAS CULTURAIS NA GLOBALIZAÇÃO


O começo do processo de mundialização se dá a partir do momento em que diversos locais do mundo passaram a ser conhecidos em escala global. Esse processo ocorreu a partir dos séculos XV e XVII e é marcado pela expansão das redes econômicas dos impérios europeus e asiáticos para a África, a América e a Oceania em busca de novos produtos para comercialização e expansão territorial. Além da comercialização das mercadorias e da disputa pela predominância econômica, o contato entre os diferentes povos, por meio das invasões de novos territórios, resultou na impo sição da cultura dos colonizadores. Os mosaicos formados pelos azulejos mouriscos, por exemplo, foram importados por Portugal durante o século XV, uma das heranças adquiridas após as Conquistas Árabes (VIII-XII). Praticamente todo o território espanhol e português foi tomado pelos árabes, e, por centenas de anos, a cultura moura influenciou os padrões arquitetônicos e outros aspectos culturais. Esses aspectos foram incorporados pela cultura portuguesa e nos países onde houve processo de colonização, que estão evidentes em algumas construções em países como Brasil e Moçambique, por exemplo.

A globalização é o fenômeno que resulta dessa intensa integração entre os aspectos eco nômicos, sociais e culturais dos diferentes lugares do mundo, o que possibilita reduzir distâncias entre eles. As trocas culturais ficaram cada vez mais intensas em decorrência dos avanços das tecnologias de transporte e comunicação, assim como o aumento dos fluxos financeiros. As transformações nas tecnologias de comunicação, por exemplo, permitem-nos enviar e receber mensagens em tempo real, de qualquer lugar do mundo. Além disso, possibilitam a disse minação de produções artísticas, como filmes, séries e músicas, de diferentes países, contribuindo para a difusão de características culturais e modos de vida nos diferentes lugares do mundo. Analise a imagem a seguir. Os cabos submarinos permitem a troca de informações e energia e conectam territórios como Estados Unidos, China e o continente europeu, onde há a expansão dos grandes empreendimentos finan ceiros e tecnológicos. Outra importante caracterís tica da globalização é a organização espacial produtiva. Atualmente, as multinacionais possuem unidades em diferentes lugares do mundo, com o objetivo de diminuir os custos de produção e aumentar os lucros. Assim, as empresas passam a ter influência não apenas em seu país de origem, expandindo seu fluxo de produtos e capitais em escala global.

Na Divisão Internacional do Trabalho, há países que produzem matéria-prima e há outros que são industrializados e fornecem produtos manufaturados. O Brasil, por exemplo, exporta majo ritariamente produtos agrícolas e minérios e importa tecnologia de outros países. Assim, embora a globalização possibilite a intensificação das trocas culturais e tecnológicas, também contribui para o aumento das desigualdades entre os países, tendo em vista que eles apresentam diferentes níveis de influência econômica, política, militar e cultural em escala global. A seguir, vamos conhecer alguns exemplos de trocas culturais na globalização.

A influência cultural estadunidense


Os Estados Unidos, além de serem uma potência política, econômica e bélica, são também uma potência cultural da indústria do entretenimento. Os Estados Unidos não apenas influenciam, mas fazem escola no cinema, nas histórias em quadrinhos, nos pro gramas de televisão, entre outros. A partir da segunda metade do século XX, os Estados Unidos têm ampliado sua influência impe rialista, tanto no campo da política e da economia, quanto na cultura. Eles foram responsáveis pelos empréstimos para reestruturação econômica dos países europeus pós Segunda Guerra Mundial, dolarizando a economia mundial. Assim, os Estados Unidos passaram a exercer influência nos costumes, hábitos e estilos de vida, principalmente por meio da indústria cinematográfica e televisiva. Um exemplo são as constantes propagandas sobre o modo de vida estadunidense, conhecido como American Way of Life. A indústria cinematográfica foi o principal meio de propaganda dos aspectos culturais estadunidenses, passando uma imagem idealizada de suas condições de vida. A presença da cultura estadunidense no mundo pode ser percebida de diversas formas, como a adoção de palavras e expressões da língua inglesa, os hábitos de consumo e a organização pro dutiva em vários países. Esses valores foram aos poucos sendo consolidados nos países da América Latina e em outros no mundo. Na imagem podemos observar pessoas em Dubai, consumindo em um restaurante fast-food, uma característica da cultura estadunidense mais difundida no mundo.

Atualmente, a preocupação dos Estados Unidos em manter seu status de maior potência bélica e econômica mundial é intensificada com a bipolarização causada pelo crescimento econômico e bélico da China, colocando-a como nova potência mundial.

A globalização e o rap


Com a globalização, o rap se disseminou por vários lugares do mundo, incorporando, em seu estilo, características locais. A desterritorialização das culturas faz com que, mesmo estando espacialmente separados, os jovens de vários lugares do mundo criem novas identificações. Um dos exemplos dessas novas identificações pode ser localizado no movimento hip hop como um todo e mais especificamente no rap. Os meios de comunicação, a indústria fonográfica, a televisão a cabo e a internet, especialmente, tornaram-se os canais de “reunificação” das identidades culturais que se formam sem que o território da nação seja sua referência exclusiva. Com isso, outras identidades se sobrepõem de maneira cada vez mais contundente: a negra, a jovem, a excluída, a periférica. O movimento hip hop pode ser considerado exemplo desse processo de globalização das culturas que tem como corolário a ideia de desterritorialização e a reunião daquilo que está ter ritorialmente separado através da comunicação. O rap surgiu como uma música dos jovens negros dos bairros periféricos dos Estados Unidos, no final da década de 1970, e logo foi apropriado por jovens negros, mestiços e excluídos das periferias de todo o mundo. “Periferia é periferia em qual quer lugar” é o título de uma canção do grupo de rap brasileiro Racionais MC’s e resume a ideia de que em qualquer periferia, qualquer jovem negro e/ou excluído está submetido às mesmas e precárias condições de vida.

No caso do Brasil, em particular, forma e conteúdo se adaptam à realidade cul tural brasileira, onde os sons do samba, baião, embolada e outros gêneros musicais produzidos pelos grupos negros e mestiços são incorporados ao som do rap, seja na batida – como base para os scratching ou nos samplers – seja nas letras, com a presença de elementos da cultura negra nacional, como Zumbi dos Palmares.

Hallyu: a onda cultural sul-coreana


A partir dos anos 2000, com a expansão do acesso à internet e às redes sociais, o consumo dos k-dramas (séries coreanas) e do k-pop (gênero musical produzido no país) vem aumentando exponencialmente em diversos países. Essa divulgação da cultura coreana é chamada de Hallyu, a “onda coreana”. É possível notar, por exemplo, a maior presença dessas produções em grandes plataformas de streaming do mundo todo.

Além do cinema e da música, outros produtos como cosméticos, jogos de vídeo game, roupas e alimentos, por exemplo, também sofreram um aumento das impor tações em decorrência da Hallyu. No gráfico a seguir, podemos analisar os produtos culturais da Coreia do Sul que são mais consu midos em outros países.

A xenofobia contra as produções sul-coreanas


Com a difusão do cinema sul-coreano, houve o aumento de discursos de ódio e xenofobia contra várias produções do país asiático. Assim como no cinema, grupos famosos de k-pop presenciam e relatam situações em que sofrem com tal violência. Nas adaptações feitas pela indústria cinematográfica de Hollywood, muitas vezes as características culturais de outros países são apagadas em detrimento da cultura estadunidense. No entanto, o mesmo não acontece quando a indústria cinematográfica da Coreia do Sul produz seus remakes de grandes produções de outros países.

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