A multiplicidade cultural, ou multiculturalismo, refere-se à diversidade de manifestações, pensamentos, costumes, organizações familiares, linguagens, rituais, tradições, etnias, entre outros aspectos, que caracterizam grupos que habitam um mesmo território. A cultura, por sua vez, é o conjunto de símbolos, hábitos e capacidades espirituais, materiais, não materiais, intelec tuais e afetivos adquiridos pelos membros de uma sociedade e passados de geração em geração. Envolve conhecimento, moral, crenças, leis, modos de vida, visões de mundo, entre outros elementos. A cultura é uma criação humana, pois é próprio do ser humano atribuir sentidos a suas ações, con cretas ou simbólicas. Cada cultura tem características que a diferem de outras. Esse conjunto de características, conhecido como identidade cultural, confere a cada indivíduo o sentimento de pertencimento a um grupo, o que se expressa por um conjunto de modos de agir, pensar, vestir-se, alimentar--se, lidar com o poder, com o sagrado, entre outras coisas. Porém, com a globalização, são raras as culturas que conse guem se manter totalmente isoladas.
Um bom exemplo vem da gastronomia. Em toda grande cidade são encon trados restaurantes com pratos das mais variadas nacionalidades: japoneses, italianos, mexicanos, portugueses, ou com sabores e tradições comuns a mais de uma cultura. As culturas acabam influenciando umas às outras. Muitas vezes, é difícil saber a origem de um prato típico, bem como de um costume, de um idioma ou de um vestuário. Isso se deve, atualmente, à influência cada vez mais presente da facilidade de deslocamento e do acesso à informação, propiciados pela evolução dos meios de transporte e comunicação.
Diversidade cultural: patrimônio da humanidade
A cultura e sua diversidade são tão importantes para as comunidades huma nas que, em 2001, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) elaborou a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, com o objetivo de reafirmar a preocupação dos países-membros com a preserva ção e o respeito universal à diversidade cultural dos povos e das nações. Essa declaração estabelece que a diversidade cultural é um patrimônio da humanidade, manifestando-se na originalidade e na pluralidade de identidades características de grupos e sociedades. Com a diversificação cada vez maior da sociedade, é indispensável garantir uma interação harmoniosa com as pessoas, os grupos e suas identidades cul turais, pois ela é uma das fontes do desenvolvimento humano e um meio para uma existência afetiva, moral, intelectual e espiritual satisfatória. O respeito à diversidade cultural, portanto, é parte indissociável dos direi tos humanos e deve assegurar a livre expressão, o pluralismo de ideias e a igualdade de participação política e de acesso ao conhecimento científico, tecnológico e artístico.
Minorias
Quando tratamos de grupos sociais, “minoria” não significa quantidade menor de indivíduos. Muitas vezes, é de uma maioria que estamos falando. Os afrodescendentes, por exemplo, são considerados uma minoria, embora formem mais da metade da população brasileira. Quando se diz que um grupo é minoritário, isso se refere aos direitos que lhe são negligenciados, tornando-o, por questões históricas, uma parcela mais vulnerável da socie dade. Esses grupos costumam ser discriminados pelo grupo dominante em razão da cor da pele, gênero, religião, origem geográfica, orientação sexual, etnia ou situação econômica – e, em alguns casos, por mais de um desses fatores. Outro exemplo de minoria no Brasil são os povos indígenas. A maioria das etnias indígenas foi removida de suas terras originárias, que habitaram por milhares de anos, sendo deslocada para reservas que, muitas vezes, desvir tuam seus modos de vida.
Os quilombolas formam outra minoria. São grupos étnicos que descendem dos negros trazidos à força da África e escravizados no Brasil e que ocupam determi nada porção de terra. Essa terra pode ter sido comprada pelos próprios indivíduos, doada a eles, obtida como troca por prestação de serviços ou ocupada como forma de resistência à escravidão. Existem comunidades remanescentes de quilombos em praticamente todos os estados brasileiros. As maiores concentrações estão nas regiões Nordeste e Sudeste. Conforme os dados levantados pela Funda ção Palmares, publicados na Portaria no 34/2019, no Brasil há 3 271 comunidades quilombolas certificadas. Apesar da existência de um número expressivo, apenas 174 comunidades receberam o título de suas terras. A Constituição Federal de 1988 assegura, no artigo 68, o direito dos quilombolas à terra.
Os costumes e modos de vida nas comunidades remanescentes de quilom bos foram fortemente influenciados pela cultura negra, indígena e cristã, com festividades, cantos e evocações próprios. Existem também minorias formadas por povos nômades, como os ciganos, os banjaras (ciganos da Índia), os beduínos e tuaregues (Oriente Médio e Norte da África), os fulânis (da costa atlântica do Senegal à densa selva centro-afri cana), os bosquímanos (sul da África), os aborígenes australianos e parte dos mongóis (Mongólia). Algumas minorias são definidas pela religião que seguem. É o caso da comunidade amish, um grupo cristão derivado do protestantismo alemão e suíço que vive no Canadá e nos Estados Unidos. Os amish são conhecidos por seus costumes conservadores e por manter distância da sociedade moderna, não fazendo uso de energia elétrica, aparelhos eletrônicos ou automóveis. Segundo eles, essas modernidades os afastariam do verdadeiro propósito cristão de retidão e de humildade.
Globalização e diversidade cultural
Apesar de não ter surgido com a globalização, o multiculturalismo e a diver
sidade cultural se acentuaram com ela. As migrações em busca de oportuni
dades levaram para outros países culturas diferentes, que lá foram absorvidas
total ou parcialmente.
Os haitianos e os venezuelanos são dois exemplos de migrantes, que,
fugindo da crise política e econômica em seu país, optaram por entrar em terri
tórios estrangeiros, incluindo o Brasil, em busca de oportunidades.
Para alguns, no entanto, a globalização moderna põe em risco a preservação de sua identidade e da diversidade cultural. Atrelada ao capitalismo, que
visa principalmente ao lucro, essa diversidade vem sendo alvo, muitas vezes,
de apropriação cultural, que desvirtua o sentido original da cultura local,
podendo levar ao seu desaparecimento e até à sua completa assimilação por
outra sociedade.
A história registra vários casos de nações que invadiram territórios e con
tinentes e impuseram seus costumes e modos de vida, muitas vezes por meio
de violência, como no caso da colonização de alguns países da América Latina
pelos conquistadores espanhóis, que resultou no quase desaparecimento das
culturas inca, maia e asteca.
Etnocídio
Quando uma cultura é destruída por outra, ocorre o que se denomina
etnocídio. Os membros da cultura dominada são forçados a deixar suas tradi
ções e a aceitar a dos invasores. Muitas vezes, seus costumes e modos de vida
são vistos como inferiores pelos dominadores, e assim sua prática aos poucos
é desestimulada.
Em geral, o idioma é o primeiro a ser anulado, principalmente quando o povo
dominado faz uso de transmissão oral, ou seja, não conta com um sistema de escrita.
A perda do idioma de um povo significa o esquecimento gradativo de sua história.
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