sábado, 22 de novembro de 2025

Globalização e Divisão Internacional do Trabalho


O processo de globalização ocorrido nas últimas décadas foi impulsionado pela expansão das empresas multinacionais pelo mundo. A dispersão dessas empresas, favorecida pela revolução tecnológica e pelos avanços dos transportes, como vimos, criou as condições necessárias para a expansão do capitalismo em escala planetária. A partir da segunda metade do século XX, as grandes empresas, que atuavam ex clusivamente em seus países de origem – geralmente os mais ricos e industrializados –, passaram a instalar filiais em países menos desenvolvidos economicamente. Muitas dessas empresas, com sede nos Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, Inglaterra, França e Itália, tornaram-se grandes multinacionais, ao se instalarem em países que apresentavam maior po tencial de crescimento econômico, como Brasil, Argentina, México, África do Sul e Índia.

Divisão Internacional do Trabalho


A expansão das multinacionais pelo mundo, decorrente do crescimento do capita lismo, produziu mudanças significativas nas relações econômicas e comerciais entre os países, alterando a participação deles na Divisão Internacional do Trabalho (DIT). A DIT representa a especialização produtiva de cada país na economia e no comércio internacional, ou seja, como cada país está inserido mundialmente na produção e na comercialização de produtos e mercadorias. Até aproximadamente meados do século passado, a produção industrial concen trava-se em um número restrito de países, entre eles Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Japão. Grande parte dessa produção industrial destinava-se ao abasteci mento do mercado interno, enquanto o restante era exportado para os países menos industrializados e de economia primária. A estes cabia, basicamente, a função de fornecer matérias-primas agrícolas e minerais aos países mais industrializados. Com a expansão das multinacionais pelo mundo, a partir da segunda metade do século XX, muitas dessas empresas se instalaram em países de economia essencial mente agrária, como Brasil, Argentina, México, África do Sul e Índia. Esses países também investiram no desenvolvimento de suas indústrias, seja por meio de recursos financiados pelo Estado, seja por investimentos de capitais nacionais privados. Com o desenvolvimento de suas atividades industriais, esses países também se tornaram produtores e exportadores de bens industrializados.

A atual Divisão Internacional do Trabalho


Embora as multinacionais tenham passado a desenvolver suas atividades em vários países, é preciso lembrar que muitas nações com desenvolvimento econômico menor ainda têm economia essencialmente agrária, inserindo-se na atual DIT como fornece doras de produtos primários. Em geral, o parque industrial desses países é insuficiente, pouco desenvolvido e pouco diversificado. Por isso, a maior parte deles depende das atividades primárias (agricultura, pecuária, pesca e mineração). O esquema a seguir resume e ilustra a Divisão Internacional do Trabalho na atual fase de globalização.

A dependência econômica e tecnológica


Ainda que as empresas multinacionais tenham ajudado a promover o crescimento econômico dos países subdesenvolvidos onde se instalaram, a dependência econô mica e tecnológica desses países vem se acentuando cada vez mais em relação aos países desenvolvidos. Isso porque os países subdesenvolvidos continuam dependentes, em grande parte, das exportações de produtos tradicionais de baixo valor comercial e das importa ções de mercadorias mais avançadas tecnologicamente e, por isso, mais valorizadas. Desse modo, esses países não conseguem obter os recursos necessários para promo ver o crescimento de suas economias e investir no desenvolvimento de tecnologias.

Devemos lembrar, ainda, que grande parte dos lucros das empresas multinacionais que atuam nos países subdesenvolvidos tem sido enviada às suas matrizes no país de origem. Somente uma parcela reduzida dos lucros é investida efetivamente nos países onde suas filiais atuam. Além disso, grande parte das multinacionais que se instalam nos países menos desenvolvidos atua em setores tradicionais, como têxtil, alimentício, siderúrgico e petroquímico. As empresas de alta tecnologia (informática, microeletrônica, biotec nologia e aeroespacial) continuam concentradas nos países ricos e desenvolvidos.

O avanço da produção globalizada


O processo de globalização da economia também gerou mudanças significativas na organização do sistema produtivo das grandes empresas. As multinacionais, além de expandirem suas atividades no mundo, passaram a divi dir as diferentes etapas de fabricação e montagem de seus produtos entre suas filiais espalhadas pelo mundo ou transferiram parcelas inteiras do processo de produção para empresas sediadas em outros países. As etapas de fabricação de um automó vel, por exemplo, podem ocorrer, simultaneamente, em diferentes países, cada qual encarregado de produzir um conjunto de peças para a montagem final do veículo. Com a possibilidade de produzir simultaneamente em diversos países, as multina cionais diminuíram os custos de produção e ampliaram significativamente os seus lu cros, pois puderam desenvolver suas atividades nos países que apresentam condições mais vantajosas. Assim, se a produção de um determinado produto torna-se onerosa e, portanto, menos rentável em um determinado país, a empresa pode transferir sua produção para outros lugares, onde os custos (mão de obra, matéria-prima, impos tos etc.) são reduzidos e os lucros, consequentemente, podem ser maiores.

Os signos da globalização no dia a dia


Com a globalização econômica e a dispersão das grandes multinacionais pelo mundo, os produtos dessas empresas se difundiram pelo planeta, sendo comer cializados simultaneamente em grande número de países. Entre esses produtos que se tornaram mundialmente conhecidos, podemos dar destaque a algumas marcas de refrigerantes, certos tipos de sanduíches vendidos em rede de lancho netes, algumas marcas de tênis e artigos esportivos. As marcas desses produtos podem ser consideradas, portanto, signos de uma linguagem mundial que atinge, ainda que de maneiras distintas, todas as socieda des envolvidas pela globalização.

Além dos signos mundiais, o processo de globalização vem se caracterizando pela difusão de termos e expressões do idioma inglês pelo mundo, que acabam sen do incorporados ao cotidiano de milhões de pessoas. A influência do inglês em outras línguas foi ampliada pelos meios de comunicação de massa, sobretudo em razão do predomínio do cinema e da música estadunidenses na cultura mun dial e, mais recentemente, por causa do desenvolvimento e do alcance da internet.

No Brasil, por exemplo, observamos o uso cada vez mais frequente de pala vras e expressões originárias do inglês, como fast-food (comida rápida), self-service (autosserviço, autoatendimento), delivery (entrega em domicílio), e-mail (correio eletrônico), entre muitas outras.

As multinacionais e o comércio mundial


Ao promover a expansão das multinacionais pelo mundo, o processo de globaliza ção ocorrido nas últimas décadas também gerou o aumento crescente do comércio internacional, formado pelas exportações e importações de bens e serviços. De acordo com dados de 2021 da Organização Mundial do Comércio (OMC), o comércio internacional movimenta anualmente mais de 45 trilhões de dólares. No iní cio da década de 1950, o valor desse comércio representava, aproximadamente, 0,3% desse valor, cerca de 126 bilhões de dólares.

O desenvolvimento de meios de transporte mais eficientes ajudou a diminuir sig nificativamente os custos do transporte de produtos, impulsionando as relações co merciais entre os países e o aumento do comércio em escala mundial. Atualmente, o custo médio da tonelada transportada por um navio, por exemplo, é três vezes menor do que era cobrado há cerca de quatro ou cinco décadas.

Além disso, a diminuição das tarifas alfandegárias, decorrente da abertura das economias nacionais ao mercado global, acarretou uma redução no preço das mer cadorias comercializadas mundialmente.

A redução drástica dessas tarifas incentivou ainda mais as trocas comerciais entre os países. Para se ter uma ideia do imenso volume desse comércio, basta observar que somente pelas vias marítimas que ligam os principais portos do mundo circulam diariamente cerca de 29 milhões de toneladas de mercadorias.

Entre as mercadorias mais comercializadas estão os produtos industrializados (automóveis, máquinas e aparelhos eletroeletrônicos), os gêneros agropecuários (café, açúcar, soja, milho, arroz, carne), os recursos minerais (ferro, cobre, níquel, manganês) e os energéticos (petróleo, gás natural, carvão mineral).




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