segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Potências industriais

A distribuição das indústrias no espaço


Diversos fatores influenciam a distribuição das indústrias pelo espaço geo gráfico, determinando áreas mais favoráveis à sua instalação. Entre eles destacam-se: 

■ disponibilidade de capital; 
■ oferta de energia; 
■ reservas de matéria-prima; 
■ redes de transporte; 
■ mão de obra qualificada; 
■ mercado consumidor; 
■ sistemas de telecomunicações; 
■ centros de pesquisa. 

Outros fatores determinantes para a instalação de indústrias são as condições oferecidas pelo poder público. No Brasil, por exemplo, alguns governos esta duais e municipais doam terrenos, reduzem impostos e concedem outros be nefícios para atrair indústrias. O peso de cada um desses fatores varia também dependendo do tipo de indústria.
Durante a Primeira Revolução Industrial, muitas indústrias siderúrgicas se desenvolveram nas regiões carboníferas do Reino Unido (norte da Inglaterra) e no Vale do Ruhr, na Alemanha, por causa da disponibilidade de hulha, tipo de carvão mineral usado nos altos-fornos das siderúrgicas para fundir o minério de ferro, primeira etapa do processo de fabricação de aço. A produção desse metal deixou de ser importante no Reino Unido, em grande parte por causa do esgotamento das minas de carvão. Na Alemanha, a siderurgia continua impor tante: no Vale do Ruhr ainda se extrai grande quantidade de hulha e o país importa o minério de ferro, que entra na Alemanha principalmente pelo porto de Roterdã (Países Baixos) e depois é transportado pela hidrovia do Reno.
Na Segunda Revolução Industrial, quando o petróleo se transformou na principal fonte de energia e em importante matéria-prima, a disponibilidade do combustível era essencial para a localização de indústrias de bens interme diários como as refinarias e petroquímicas. No início, essas indústrias se con centraram perto de jazidas desse combustível fóssil. Foi o que ocorreu nos Estados Unidos, país onde o petróleo começou a ser explorado no final sécu lo XIX em campos localizados na Califórnia e principalmente no Texas. Nesse estado, localiza-se a maioria das refinarias e petroquímicas e a sede da maior petrolífera do país. Segundo dados do Boletim Estatístico da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em 2017 os Estados Unidos produzi ram 9,4 milhões de barris de petróleo por dia (terceiro produtor mundial, atrás apenas de Rússia e Arábia Saudita). No entanto, como seu consumo foi de 19,9 milhões de barris por dia, foram os maiores importadores. 

Desconcentração industrial 


Historicamente, as indústrias de bens intermediários costumavam se insta lar próximas às reservas de matérias-primas. No entanto, como vimos no capí tulo anterior, atualmente, com o avanço tecnológico nos meios de transporte, as indústrias podem ser construídas longe das reservas. A existência de uma boa rede de transportes viabiliza o recebimento de matérias-primas e o esco amento das mercadorias produzidas em regiões distantes dos recursos naturais. Um exemplo disso é a indústria siderúrgica japonesa. 
O Japão, que é um dos maiores produtores mundiais de aço, não dispõe de reservas de minério de ferro e carvão mineral, recursos utilizados na pro dução desse metal. O país importa todo o ferro e o carvão que utiliza em suas siderúrgicas, que, por isso, estão instaladas em áreas portuárias (isso também facilita as exportações de parte da produção).
A desconcentração industrial no interior dos países ocorreu com mais in tensidade nos países de industrialização antiga, mas já ocorre também nos de industrialização recente, como o Brasil. Esse fenômeno está associado ao au mento dos custos de produção, sobretudo nas grandes cidades, em função do encarecimento da mão de obra, dos imóveis e dos impostos urbanos, além dos grandes congestionamentos que dificultam o transporte de matérias-pri mas e de mercadorias. 
Assim, em busca de custos mais baixos, muitas indústrias se deslocam para cidades menores e até mesmo para a zona rural dos muni cípios. Um fator importante para a escolha da localização das indústrias típicas da Terceira Revolução Industrial, que envolvem conhecimentos tecnológicos mais sofisticados e atualização constante, é a disponibilidade de mão de obra com alto grau de qualificação. Isso explica a formação dos parques tecnológicos.

Parques tecnológicos 


Os parques tecnológicos (ou tecnopolos) são centros irradiadores de novas tecnologias, onde se localizam indústrias da atual revolução técnico-científica: informática, robótica, telecomunicações, biotecnologia, etc. Esses parques tecnológicos desenvolveram-se nas proximidades de importantes universida des (ou mesmo em seu campus) e de outros centros de pesquisa. Nas univer sidades e nos centros de pesquisa se originam as inovações tecnológicas e se forma a mão de obra altamente qualificada que será aproveitada pelas empre sas inovadoras. Os parques tecnológicos estão concentrados em poucos países, geralmen te desenvolvidos, como os Estados Unidos, o Japão, a Alemanha, o Reino Unido e a França. Também são encontrados em algumas economias emergen tes, como a China, a Índia e o Brasil.

Os tecnopolos estão representados no mapa de acordo com uma pontuação que indica o nível de inovação tecnológica, com base na oferta e na qualidade dos seguintes itens:
 
■ universidades e centros de pesquisa que oferecem mão de obra qualifi cada e desenvolvimento tecnológico; 
■ empresas que oferecem competência técnica e estabilidade econômica; 
■ empresas empreendedoras e dinâmicas; 
■ disponibilidade de capital para investimento.

A pontuação de cada item pode variar de um a quatro. O único tecnopolo que obteve quatro pontos em cada item, totalizando 16 pontos, foi o Vale do Silício (Silicon Valley). Esse tecnopolo, localizado no estado da Califórnia (Es tados Unidos), começou a se desenvolver em 1951, quando foi criado o Stanford Industrial Park, no campus da universidade de mesmo nome, atraindo indústrias de alta tecnologia. Outras universidades da região tiveram papel importante na formação de mão de obra qualificada e na produção de pesquisa avançada, entre as quais a Universidade da Califórnia (campi de Berkeley e de São Fran cisco). Esse tecnopolo serviu de modelo para muitos dos outros que surgiram em diversos países e ainda hoje é o mais importante do mundo. 
No Brasil também há diversos parques tecnológicos, embora sejam pequenos quando comparados ao do Vale do Silício. Em 2014, de acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, havia no país 28 parques em operação, com 939 empresas instaladas, que geravam cerca de 30 mil empregos, além de mais 2,2 mil empregos de alta qualificação em insti tuições de pesquisa instaladas nesses tecnopolos. Como mostra o mapa ao lado, a maioria dos tecnopolos do Brasil se localiza nos estados da região Sudes te, que concentra a maior parte das em presas inovadoras e a maior parte das universidades e institutos federais de educação. 
O primeiro tecnopolo brasi leiro se desenvolveu em torno da Uni versidade de Campinas (Unicamp) e do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), entre ou tras universidades e centros de pesqui sa localizados em Campinas, no estado de São Paulo. No entanto, tem havido uma descentralização e hoje um dos tecnopolos mais importantes do país é o Porto Digital, no Recife (PE).

Potências industriais


Atualmente, a China está à frente em termos de desenvolvimento do setor industrial. O país passou por reformas econômicas, como a abertu ra para o capital externo e algumas mudanças na forma de produção, e vem apresentando elevado crescimento econômico nos últimos anos. No país, muitos contrastes internos convivem. Do ponto de vista econômico, a pobreza extrema em regiões interioranas ainda persiste, paralela ao desenvolvimento intenso e à produção indus trial expressiva na porção leste do país. Do ponto de vista político, oficialmente o regime existente é o de Estado-Partido, característico das nações socialistas do século 20. Contudo, a China é a 2a maior economia do mundo, com projeções de se tornar a nação mais rica do planeta até meados do século 21.
O Japão é sinônimo de liderança tecnológica e industrial. Destaca-se por suas fábricas robotizadas e pioneirismo no que se refere a avanços em telecomunicações. Após ter sido derrotado na Segunda Guerra Mundial, o país se reconstruiu com recursos financeiros externos, e in vestiu grande parte deles na educação pública, aliada à pesquisa científica. No final dos anos 1970, o país reorganizou seus parques industriais. Muitas fábricas foram abertas na região do Sudeste Asiático, mesmo que suas sedes tenham permanecido no Japão. O país lidera as cadeias de inovação e tecnologia, e seus produtos são sinônimo de inovação e modernidade.
A maior potência mundial, os Estados Unidos, é responsável por grande parcela do fluxo produtivo global. Embora hoje seja sede de algumas das maiores empresas do mundo, sua industrialização teve início tardio, a partir do período correspondente à Segunda Revolução Industrial. Na atualidade, as empresas estadunidenses constantemente buscam regiões e até países que ofereçam benefícios para a implantação de parques industriais. Em virtude da saída dessas empresas de alguns locais, nos quais tinham re levância para a economia local, pode-se ocorrer o desemprego em massa.
A região conhecida como Vale do Silício, localizada no sudoeste dos Estados Unidos, começou a receber muitas empresas e indús trias em busca de mão de obra mais barata e fácil acesso a matérias-primas. Em razão da demanda por trabalhadores qualificado, motivada pela Revolução Técnico-Científico-Informacional (Terceira Revolução Industrial), muitas universidades e institutos de pesquisa também surgiram na região, e alguns trabalham em conjunto com as empresas.

Desigualdades estruturais


Apesar dos avanços e da modernização de indústrias de bens de consumo, é preciso ressaltar que as transformações ocorrem de maneiras diversas e com velocidades diferentes pelo mundo. Não são todos os lugares que se beneficiam de parques industriais de alta tecnologia, pois faltam mão de obra qualificada, infraestrutura adequada e investimentos. Tal diferença acentua desigualdades e relações de dependência econômica e política entre países e blocos econômicos. Enquanto temos polos de produção tecnológica intensa, há também países inteiros que sequer acompanharam a evolução de processos industriais, como é o caso de alguns países da África e da Ásia.
O continente africano ainda é a região menos industrializada do mundo. Segundo relatórios da União Africana (UA) e da Comissão Econômica da ONU para África (CEA), enquanto na região norte da África houve um leve crescimen to do produto interno bruto (PIB) nos últimos anos, nos países que compõem a região conhecida como África Subsaariana constatou-se um recuo recente de quase 4% no PIB.
Ainda sofrendo com o legado da escravidão e do colonialismo, a economia do continente depende da ex portação de matéria-prima e bens primários para países desenvolvidos – e da importação de bens de consumo. Existem planos em andamento para fomentar a industrialização regional da África. Em agosto de 2018, o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvi mento Industrial (Unido, na sigla em inglês) firmaram um compromisso para aprofundar a colaboração entre os países africanos, a fim de acelerar sua industrialização.
A ideia é facilitar a cooperação entre as instituições e a atuação conjunta, de modo a desenvolver agroindústria, economia circular, parques industriais sus tentáveis, empreendedorismo, investimentos em inovação e tecnologia, além de fomentar o comércio e mais linhas de financiamento.
Um dos desafios da industrialização africana é a falta de a mão de obra qualificada. Como o continente tem uma população predominantemente jovem, composta sobretudo por adolescentes e jovens adultos, é preciso formar téc nicos capazes de trabalhar nas novas áreas trazidas pela Terceira Revolução Industrial e garantir que eles consigam trabalho nas regiões onde moram.

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