Aos poucos, os temas ambientais foram ganhando importância no debate entre países. Em 1972, ocorreu a primeira reunião da ONU dedicada exclusivamen te a esse assunto. Trata-se da Conferência sobre Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo (Suécia). Naquela época, a poluição do ar estava entre as maiores preocupações dos participantes dessa conferência. Também havia interesse em tratar do acesso aos recursos naturais.
Nessa primeira grande conferência da ONU dedicada ao tema ambiental, os
países mais ricos propuseram aos mais pobres o crescimento zero, baseados em
estudos que indicavam que os recursos naturais do planeta seriam insuficientes
para dar a toda a população humana condições iguais de consumo.
Isso gerou
uma resposta clara dos países mais pobres, que recusaram a proposta e reivindicaram o direito ao desenvolvimento. Por isso, esse debate ficou conhecido como
Zeristas versus Desenvolvimentistas.
Os países então reunidos decidiram criar um órgão da ONU para cuidar das
discussões internacionais ambientais: o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA).
PNUMA
Criado em 1972, o PNUMA (figura 16) começou a funcionar no ano seguinte, mas
só teve uma sede definitiva em 1984, em Nairóbi (Quênia). A criação do PNUMA
permitiu o surgimento da ordem ambiental internacional, um conjunto de tratados
internacionais que buscaram regular as ações humanas sobre o ambiente.
Entre as atividades do PNUMA está a produção de relatórios que ajudam a
conhecer a situação do mundo em relação a assuntos ligados ao meio ambiente,
como os desastres ambientais – que acontecem devido a secas prolongadas ou a
períodos de chuvas que causam deslizamento de terra e inundações.
Também são
produzidos estudos sobre a conservação da biodiversidade e sobre o acesso à água
doce de qualidade pela população mundial. Além disso, são produzidos guias que
incentivam a adoção de práticas para um uso mais eficiente dos recursos naturais.
Desde então, houve um importante crescimento da quantidade de acordos
internacionais com o objetivo de tentar controlar a degradação ambiental, orga
nizados a partir do PNUMA.
Da Rio-92 à Rio+20
Durante 20 anos, uma série de conferências foi realizada para discutir temas
ambientais. Diferentemente da reunião de Estocolmo (Suécia), nesse período, as
discussões não culparam a pobreza pela degradação ambiental, mas, sim, o modelo de produção capitalista, que necessita de matéria-prima constantemente para
produzir as mercadorias. Essa maneira de produzir consome bastante energia, além
de gerar muito descarte rapidamente, o que causa sérios impactos ambientais.
Rio-92
Em 1992, mais de 170 países participaram da Conferência das Nações Unidas
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como Rio-92, por ter sido
realizada no Rio de Janeiro (RJ). O evento também recebeu o nome de Eco-92.
Pela primeira vez em reuniões da ONU, as ONGs também puderam participar
como membros das delegações dos países presentes. Essa conferência foi influenciada por uma ideia divulgada um pouco antes, em 1987: o desenvolvimento
sustentável, que é uma forma de produzir mercadorias sem esgotar os recursos
naturais atuais para que as gerações futuras também possam usufruir desses
recursos. Esse desafio ainda não foi alcançado.
O evento no Rio de Janeiro visava elaborar um plano de ação para recuperar
o planeta da degradação ambiental e que deveria ser aplicado até o ano 2000. Ele
ficou conhecido como Agenda 21. Mais duas declarações resultaram do evento
no Brasil: a Declaração de Florestas, na qual os países afirmaram que manteriam
as florestas, e a Declaração do Rio, que firmava o compromisso dos países em
manter o planeta em condições de ser habitado pelas gerações futuras.
Aproveitando a reunião de líderes e chefes de Estado, foram assinados mais
dois acordos muito importantes: a Convenção sobre Diversidade Biológica e a
Convenção sobre Mudanças Climáticas.
Convenção sobre Diversidade Biológica
A Convenção sobre Diversidade Biológica estabeleceu que a conservação da
biodiversidade é importante para garantir a reprodução das espécies e de suas
relações. Além disso, ela é a base da engenharia genética.
De nada adianta ter
conhecimento para manipular genes se não existirem seres vivos que possam ser
utilizados em estudos e experiências que favoreçam a pesquisa e a descoberta de
novos remédios, alimentos e materiais.
Por isso, esse tratado internacional estabeleceu que, caso alguma tecnologia
ou produto venha a ser gerado a partir de um ser vivo que existe em um país, o
país que o desenvolveu deve repassar o conhecimento àquele que mantém a in
formação genética em uma área natural. Ou seja, o país que detém a informação
genética deve receber a tecnologia desenvolvida a partir dela.
Também foi estabelecido que o conhecimento associado de comunidades
tradicionais locais, que vivem em áreas protegidas, como povos indígenas, qui
lombolas e caiçaras, deve ser reconhecido no processo de desenvolvimento
tecnológico e, por isso, ser remunerado de algum modo.
Depois da Rio-92, ocorreram novas rodadas de discussão sobre a ordem am
biental internacional. No caso da biodiversidade, um dos resultados do encontro
dos países-membros da Convenção foi o Protocolo de Biossegurança, assinado
no ano 2000, em Cartagena (Colômbia). Esse documento estabeleceu normas para
o transporte de organismos geneticamente modificados, que devem ser obede
cidas pelos países que adotaram o Protocolo.
Outro documento importante foi definido em 2010, em
Nagoya (Japão). Trata-se do Protocolo de Nagoya, que regulamentou como será a participação dos países
nos benefícios que resultem da utilização de recursos ge
néticos, o que interessa diretamente às comunidades tra
dicionais, as maiores beneficiadas com essa decisão.
Por exemplo, se um laboratório desenvolver um remédio
utilizando o conhecimento de uma comunidade tradicional,
ela deverá ser paga. Mas como será esse pagamento? Não
é simples definir, já que algumas comunidades não usam o
dinheiro para expressar valor e outras têm mais de um líder,
o que não deixa claro a quem pagar o benefício. Enfim, o
debate vai continuar por mais alguns anos para tentar resolver esses impasses.
Convenção sobre Mudanças Climáticas
Controlar as emissões de gases que aumentam o efeito estufa é o principal
objetivo da Convenção sobre Mudanças Climáticas. De acordo com o Painel
Intergovernamental das Mudanças Climáticas (International Panel of Climate
Change – IPCC), órgão assessor da Convenção, para conter o aquecimento global,
é preciso diminuir a emissão dos gases que retêm calor.
Isso gerou um impasse, pois tornou-se necessário definir quais países deveriam
reduzir a emissão deles. Esse documento reconheceu que os países que mais lan
çaram gases de efeito estufa na atmosfera no passado deveriam ser os primeiros
a reduzir a emissão deles.
Desse modo, países que ainda estavam em uma situação
econômica e social inferior poderiam ter a oportunidade de melhorar as condições
da população, o que, segundo os modelos de desenvolvimento econômico atuais,
implica aumentar a emissão de gases de efeito estufa.
Para gerar emprego e
renda, é preciso aumentar a atividade econômica, o que leva à necessidade de
aumentar a produção de energia, uma das fontes de emissão desses gases.
Em 1997, foi assinado o Protocolo de Quioto, resultado de uma reunião na
cidade de Quioto (Japão). Esse protocolo confirmou o princípio adotado na Convenção sobre Mudanças Climáticas e determinou aos países que se industrializaram
primeiro que reduzissem as emissões de gases de efeito estufa entre 2008 e 2012.
Os Estados Unidos não concordaram com o Protocolo e não o ratificaram, ficando
sem a obrigação de diminuir as emissões desses gases. Os países da União Europeia assumiram outra posição e concordaram em reduzir as emissões.
Na conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP18) em
Doha (Catar), em 2012 (figura 22),
ficou decidido que o Protocolo de
Kyoto terá seu período de funcio
namento prorrogado até 2020.
Em 2015, na COP21, foi assinado
o Acordo de Paris, que entrará em
vigor a partir de 2020.
O principal
objetivo do acordo, ratificado por
195 membros da Convenção do Clima da ONU e a União Europeia, é
manter o aquecimento global “mui
to abaixo dos 2 oC”. Segundo cientis
tas ligados à ONU, se o aquecimento
global chegar aos 2 oC, o planeta estaria condenado a um “futuro sem volta”, com
eventos que vão prejudicar a economia e a sociedade, como mudanças climáticas
extremas e escassez de água.
O texto do acordo também diz que todos os países do mundo devem fazer
esforços para limitar o aumento da temperatura global a até 1,5 oC. Os pontos do
acordo também deverão ser revisados a cada cinco anos e os países desenvolvidos,
em um primeiro momento, vão investir 100 bilhões de dólares por ano em medidas de combate à mudança climática e de adaptação dos países em desenvolvimento. Porém, para garantir a participação dos Estados Unidos no acordo, apenas
alguns pontos do documento terão força de lei internacional, sendo os outros
pontos de cumprimento voluntário. Mesmo assim, em 2017, o então presidente
dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a saída dos Estados Unidos do acordo, alegando que só voltaria a integrá-lo quando houvesse cláusulas econômicas
que ele considerasse justas ao país.
Rio+20
Em 2012, foi realizada uma reunião no Rio de Janeiro (RJ), a Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, também chamada de Rio+20, que teve como meta discutir a adoção de um modelo de desenvolvi
mento econômico, denominado economia verde, capaz de:
•não esgotar recursos naturais para que gerações futuras possam utilizá-los;
•promover, ao mesmo tempo, a inclusão social de parcelas pobres da popu
lação sem que elas esgotem ainda mais as reservas naturais.
Pensar em formas de produção que gerem poucos impactos ambientais e
promovam o acesso dos mais pobres a uma vida melhor é bastante complexo.
Com a globalização, em geral, aumentam as dificuldades para conseguir emprego
e a riqueza fica concentrada, o que resulta em elevado nível de desemprego, até
mesmo de mão de obra qualificada, como se verifica atualmente em países como
Espanha e Grécia.
Na Rio+20, pela primeira vez na história da ONU, um cidadão pôde se mani
festar diretamente, sem precisar estar vinculado à delegação de um país ou ser
membro de uma ONG.
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