Conforme as regras
constitucionais, o mandato presidencial de Getúlio Vargas terminava em 1938. Aproximando-se
a data das eleições presidenciais, teve início a campanha eleitoral. Publicamente,
Getúlio manifestava que respeitaria as eleições e entregaria o poder. Mas, enquanto
isso, preparava um golpe de Estado para permanecer na presidência da República.
Em fins de setembro de 1937, o
governo notificou que o serviço secreto do Exército tinha descoberto um
perigoso plano comunista, chamado Plano Cohen, para destruir o regime
democrático. Na verdade, tratava-se de uma farsa armada pelo próprio governo, forjado
pelo capitão Olímpio Mourão Filho militante integralista. Em nome do combate ao
“perigo comunista”, Getúlio Vargas decretou o estado de guerra, prendendo o
maior número possível de adversários.
No dia 10 de novembro de 1937,
Vargas ordenou o cerco militar ao Congresso Nacional, impôs o fechamento do
legislativo e outorgou uma nova Constituição para o país, elaborada pelo
jurista Francisco Campos, substituindo a Constituição de 1934. Iniciava-se o
governo ditatorial de Vargas, conhecido como Estado Novo.
A Constituição do Estado Novo
ficou conhecida como “a polaca”, pois se inspirava no modelo da
constituição autoritária da Polônia.
Durante esse período, o país
viveu sob o chamado estado de emergência, que permitia ao governo
invadir casas, prender pessoas e exilar líderes oposicionistas. Getúlio Vargas
mantinha em suas mãos amplos poderes, e seus atos não se submetiam à Justiça.
Os estados brasileiros
perderam autonomia política, ficando submetidos ao governo federal. Em comemorações
públicas realizadas em todas as capitais, as bandeiras estaduais foram
queimadas para demonstrar que o federalismo estava morto.
Os partidos políticos foram
extintos e as eleições democráticas, suspensas. Greves e manifestações contrárias
ao governo eram proibidas pela polícia. A polícia política, comandada por
Filinto Müller, perseguia milhares de cidadãos, prendendo, torturando e
matando.
A Ação Integralista de Plínio Salgado
havia apoiado o Estado Novo de Getúlio. No entanto, o sistema autoritário de
Vargas não permitia a existência de partidos políticos, mesmo de direita. Por isso
impediu o funcionamento do partido de Plínio Salgado. Setores mais exaltados do
grupo de Plínio Salgado reagiram contra a medida de Vargas. Em maio de 1938, os
integralistas tentaram tomar de assalto o palácio presidencial, onde se
encontrava Vargas e sua família. O ditador e seus familiares reagiram de
revólver em punho contra os integralistas, até a chegada da polícia e do
exército. Plínio Salgado precisou fugir do país.
Aspectos Políticos-Administrativos
do Estado Novo
Para legitimar-se, o Estado
Novo utilizou de diferentes mecanismos. A legislação trabalhista transformou
Getúlio Vargas no líder político mais popular do Brasil. A instituição do
salário mínimo criou no imaginário popular a ideia de que o presidente Vargas
era um verdadeiro benfeitor da classe operária (lembrar que o salário mínimo na
época era suficiente para sustentar uma família de 4 pessoas).Um regime ditatorial como o
Estado Novo tinha que contar com órgãos repressivos eficientes. Filinto Müller,
o chefe de polícia de Vargas, ficou conhecido por perseguir, torturar e encarcerar
os inimigos do regime, principalmente a esquerda.
O Estado Novo valeu-se também
de uma bem montada máquina de propaganda. O DIP (Departamento de Imprensa e
Propaganda), criado em 1939, promovia, por meio do rádio, do cinema e de
outros veículos de comunicação, o regime e a figura de Vargas. Ao mesmo tempo
impedia a circulação de ideias contrárias. A instituição do programa radiofônico
a Voz do Brasil, permitia ao governo difundir as mensagens do seu interesse em
todo o território nacional. Foi criado também o DASP
(Departamento de Administração de Serviço Público) para coordenar o
funcionamento do vasto aparelho burocrático-administrativo do Estado Novo.
A Segunda Guerra Mundial e o
Fim do Estado Novo
No governo Vargas havia vários
ministros simpatizantes do nazismo. Os descendentes de alemães e italianos do Sul
do Brasil viam com simpatia as vitórias da Alemanha Nazista na Guerra. Quando os
Estados Unidos entraram na guerra, em dezembro de 1941 (ataque japonês a Pearl Harbour),
o Brasil tomou partido dos Aliados (ingleses, franceses, norte-americanos...) e
passou a fornecer matérias-primas a eles. O Nordeste brasileiro se tornou uma
base estratégica para as operações aliadas. O Brasil se colocava, portanto, contra
a Alemanha.
Com isso os lideres da
oposição despertaram para a luta política interna e intensificaram suas
críticas ao fascismo internacional e ao Estado Novo.
Em 1942 o Brasil declarou
guerra ao eixo (Alemanha, Itália e Japão). Em 1943 começava a se formar a FEB
(Força Expedicionária Brasileira) para lutar, ao lado dos americanos, contra as
forças nazistas na Itália. Isto provocou uma contradição: internamente tínhamos
um governo autoritário e, no plano externo, enviávamos soldados para combater
as ditaduras.
No início de 1943, foi fundada
a Sociedade Amigos da América, com o objetivo de combater os remanescentes do
movimento integralista e o autoritarismo de Vargas. A Ordem dos Advogados do
Brasil, por sua vez, criticava os princípios jurídicos do Estado Novo. Em outubro
de 1943 foi lançado o Manifesto dos Mineiros (liberais da oligarquia
mineira), pedindo garantias constitucionais à liberdade de expressão.
Vargas, sentindo o novo rumo
dos acontecimentos, demitiu alguns auxiliares com posições fascistas mais
evidentes, caso de Filinto Müller. Começou também a articular uma transição
para a democracia que o mantivesse no poder. Em fevereiro de 1945, o governo
fixou prazo para a eleição presidencial. Concedeu anistia ampla a todos os
condenados políticos. Libertou os comunistas presos, entre os quais Luís Carlos
Prestes. Permitiu a volta dos exilados ao país.
Nesse clima de abertura
democrática, foram organizados diversos partidos políticos, como: União
Democrática Nacional (UDN); Partido Social Democrático (PSD); Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB); Partido Social Progressista (PSP). Foi
permitida também a legalização do Partido Comunista Brasileiro (PCB),
que vivia na clandestinidade.
Nas eleições presidenciais,
marcadas para 2 de dezembro de 1945, concorreriam três candidatos: o general
Eurico Gaspar Dutra (PSD e PTB, que contava com o apoio de Vargas; o brigadeiro
Eduardo Gomes (UDN); e o engenheiro Yedo Fiúza (PCB).
Queremismo
No decorrer da campanha
eleitoral, Getúlio Vargas fazia um jogo político contraditório. Apoiava formalmente
o general Eurico Gaspar Dutra, mas, às escondidas, estimulava um movimento
popular que pedia sua permanência no poder. Esse movimento, impulsionado pelo
PTB e pelo PCB, ficou conhecido como Queremismo, palavra derivada dos
gritos populares de “Queremos Getúlio!”.
Aproveitando o momento de
prestígio popular, Getúlio Vargas decretou, em junho de 1945, a lei
antitruste. Essa medida dificultava as atividades do capital estrangeiro no
Brasil e acabou provocando a reação das empresas estrangeiras e de seus
representantes.
Os setores de oposição
política a Vargas, temendo que ele continuasse no poder e impedisse a
realização das eleições presidenciais, uniram forças para derrubá-lo da presidência.
Em 29 de outubro de 1945, tropas do Exército cercaram a sede do governo
(palácio do Catete) e obrigaram Vargas a renunciar. A presidência da República
foi entregue temporariamente a José Linhares, presidente do Supremo Tribunal
Federal.
Era o fim do Estado Novo. Sem receber
punição alguma, Getúlio Vargas foi afastado do poder, retirando-se
tranquilamente para sua fazenda em São Borja, no Rio Grande do Sul. Com o apoio
político de Vargas, o general Dutra venceu as eleições presidenciais.
Fonte: Gilberto Cotrim - Historia Global; Saraiva.
Antonio Pedro/ Lisânias de Lima - História do Brasil; FTD.