terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Japão e Tigres Asiáticos

Aspectos socioeconômicos do Japão e dos Tigres Asiáticos

O Japão, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, transformou-se em exemplo de crescimento econômico, aumentando sua participação no comércio internacional. A partir dos anos 1960, essa situação de crescimento econômico e comercial expressivo passou a ocorrer também nos Tigres Asiáticos.

Há, evidentemente, diferenças significativas entre esses países. O Japão é um país desenvolvido e forma, com os Estados Unidos, com a União Europeia e com a China, o principal eixo de poder econômico do mundo. O país é uma grande potência econômica, exportadora de mercadorias de alta tecnologia, sede de várias empresas transnacionais com filiais espalhadas pelo mundo, além de possuir diversos centros de desenvolvimento de tecnologia avançada. Constitui também um dos principais centros das finanças globais.

Tailândia, Indonésia, Malásia, Filipinas e Vietnã — considerados os novos Tigres Asiáticos, apresentam indicadores sociais bem inferiores aos do Japão e aos dos quatro Tigres. Esses cinco países vêm se industrializando recentemente, a partir dos anos 1980, e oferecem mão de obra extremamente barata. Suas economias passam por um processo de diversificação, com aumento significativo nas exportações de bens industrializados. Mas ainda é grande a porcentagem de mão de obra empregada em atividades primárias, principalmente no setor agrário. São economias dependentes dos investimentos estrangeiros, sobretudo de capitais japoneses e dos Tigres. Os Tigres apresentam indicadores sociais próximos aos dos países desenvolvidos e economia bastante diversificada, além de exportarem grandes quantidades de bens industrializados, inclusive equipamentos de alta tecnologia. A Coreia do Sul conta com importantes grupos empresariais transnacionais, que competem com grandes empresas transnacionais nos setores de eletroeletrônicos e de automóveis. No entanto, são economias dependentes de investimentos dos países centrais do sistema capitalista, especialmente do Japão.

Apesar da diversidade, esses países apresentam uma característica comum: a economia bastante orientada para o mercado externo, com grande capacidade de competição no mercado mundial. Isso se evidencia no grande volume de exportações. Outra característica comum importante no caso do Japão e dos Tigres é a forte presença do Estado na economia. Além de direcionar investimentos, o Estado desenvolve pesquisas e análises sobre o mercado internacional, elabora sistemas de organização empresarial, cria linhas de produtos e promove o desenvolvimento tecnológico, com o objetivo de apoiar as empresas privadas. Os sistemas de organização das empresas desses países, sobretudo do Japão, passaram a servir de modelo para programas de reestruturação de empresas do mundo inteiro. Embora os investimentos japoneses estejam distribuídos por todo o mundo, boa parte deles está concentrada no Sudeste e no Leste da Ásia. O capital japonês foi fundamental para o crescimento econômico desses países asiáticos. Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong recebem investimentos japoneses há mais de 40 anos.

Desde a década de 1980, as grandes empresas do Japão têm investido em países da região que se encontram em processo de industrialização, como Malásia, Indonésia, China, Tailândia e até mesmo Vietnã. A expansão desses investimentos faz parte do contexto da globalização, caracterizado por um aumento da concorrência internacional. Essas empresas japonesas buscam diminuir o custo de produção, utilizando mão de obra mais barata oferecida por diversos países do Leste e Sudeste Asiático.

Japão: grande potência industrial

Até 1868 o Japão era um país feudal (xogunato) e agrícola. A partir daquele ano (início da Era Meiji) foi restaurado o poder imperial, e teve início um rápido processo de desenvolvimento econômico e de transformações na sociedade japonesa. A industrialização, o combate ao analfabetismo e os investimentos em infraestrutura foram a base da modernização do país. Esse período durou até 1912. A Era Meiji concluiu o processo de ruptura com o passado feudal, estabelecendo uma estrutura de produção e relações sociais capitalistas. A partir dessas mudanças o Japão deu início a um período de expansionismo imperialista, que se estendeu até a Segunda Guerra Mundial. Ao final dessa guerra, o país, derrotado, estava com parte significativa de sua infraestrutura e capacidade produtiva desestruturadas. No entanto, graças a um conjunto de fatores, o Japão atingiu uma vigorosa recuperação econômica, que chegou a elevá-lo ao posto de segunda potência econômica mundial (em 2017, o país ocupava a terceira posição). Entre esses fatores, podemos destacar:

• a mão de obra barata e abundante, submetida a longas jornadas de trabalho;

• a valorização do trabalho em grupo;

• os fortes investimentos em educação, inclusive na qualificação de mão de obra;

• o amparo do Estado à economia, com forte apoio às empresas privadas;

• a adoção de uma política econômica protecionista, que mantinha (e, de certa forma, ainda mantém) impostos de importação elevados, com o objetivo de proteger a indústria nacional (proteção também presente no setor agrícola, especialmente no caso da produção de arroz);

• a enorme capacidade de poupança interna, que fez do país um dos maiores investidores nacionais;

• o auxílio financeiro-econômico dos Estados Unidos, que estavam preocupados com a possibilidade de um avanço do socialismo no Extremo Oriente.

O arquipélago japonês

O Japão é um arquipélago vulcânico, situado no oceano Pacífico (Extremo Oriente). Esse arquipélago compreende cerca de 3,4 mil ilhas de vários tamanhos, que se estendem paralelamente ao litoral oriental da Ásia na forma de um grande arco.

Quatro ilhas do arquipélago japonês apresentam grandes dimensões, correspondendo a 97% do território do país:

• Honshu, a maior delas (230.822 km2 ), abriga a capital do país, Tóquio;

• Hokkaido (83.519 km2 ) é a mais setentrional;

• Kyushu (42.030 km2 ) situa-se ao sul de Honshu;

• Shikoku, a menor dessas ilhas (18.780 km2 ), situa-se entre Honshu e Kyushu. De modo geral, suas ilhas são resultantes do vulcanismo ocorrido no fundo do oceano Pacífico em tempos geológicos recentes (há menos de 200 milhões de anos). O vulcanismo e o tectonismo continuam ativos no Japão, provocando, em algumas ocasiões, terremotos de grande intensidade e de graves consequências materiais e humanas, como o ocorrido em Kobe, em janeiro de 1995, que causou a morte de mais de 5 mil pessoas e atingiu 7,2 pontos na escala Richter, além do trágico terremoto seguido de tsunami ocorrido no dia 11 de março de 2011.

A questão demográfica

O Japão é um dos países mais populosos do mundo. Em 2018, contava cerca de 126 milhões de habitantes. Com uma pequena extensão territorial, sua densidade demográfica é, consequentemente, muito elevada (337 hab./km2 ). Na faixa compreendida entre Tóquio e Kobe (no centro-sul da ilha de Honshu) ocorre a maior aglomeração urbana do mundo, com mais de 70 milhões de habitantes. Nessa região estão as três principais áreas conurbadas do território japonês: Tóquio, com 38 milhões de habitantes (inclusive Yokohama); Nagoya, com 8 milhões; e Osaka, com 16 milhões (inclusive Kyoto e Kobe). Observe essa distribuição no mapa da figura 6. A partir de 2020, a população absoluta de Tóquio começa a reduzir e, segundo estimativas, a cidade permanecerá como a maior aglomeração do mundo em 2030, abrigando cerca de 37 milhões de habitantes.

A redução da natalidade e o envelhecimento populacional

Há décadas o Japão vem apresentando taxas de crescimento demográfico muito baixas e em declínio: 1,2% no período de 1965 a 1975; 0,8% no de 1975 a 1985; e 0,4% entre 1985 e 1995. Atualmente essa taxa está próxima de zero. Com uma taxa de fecundidade de apenas 1,39 filho por mulher, o governo japonês chegou a desenvolver campanhas de incentivo à natalidade, sem obter resultados satisfatórios. Para os casais jovens, os custos de moradia e educação dos filhos representam um peso econômico. A escassez de terras no Japão ocasionou uma grande elevação dos preços de imóveis, obrigando as famílias jovens a alugar ou comprar apartamentos minúsculos.

O envelhecimento da população japonesa é outro aspecto que preocupa as autoridades. Em 2015, a expectativa de vida no Japão era de aproximadamente 84 anos. Nesse mesmo ano, cerca de 25% da população tinha mais de 65 anos de idade. Em decorrência, há uma elevação dos gastos sociais, como previdência e saúde. Se a situação de baixa fecundidade persistir, o governo japonês estima que haverá uma redução de 14% no número de habitantes do país até 2050. No entanto, como a esperança de vida é alta, cerca de um terço dos japoneses terá, nesse mesmo ano, mais de 65 anos.

Atividades econômicas

A agropecuária e a pesca

A política agrícola japonesa, apesar das pressões internacionais, é marcada pelos subsídios aos agricultores, por limitação das importações e pelas elevadas tarifas sobre produtos agrícolas importados. Apenas 16% do território japonês é apropriado para as práticas agrícolas. Apesar disso, o Japão consegue obter grandes colheitas de seu solo, com o auxílio de técnicas modernas, máquinas e fertilizantes. A agricultura é desenvolvida nas planícies, sendo também aproveitadas as encostas das montanhas, por meio da técnica do terraceamento. No espaço rural japonês predominam as pequenas propriedades, consequência da reforma agrária instituída logo após a Segunda Guerra Mundial (1946). O principal produto cultivado no Japão é o arroz, alimento básico da população. Sua cultura ocupa 45% das terras agrícolas (figura 8). O país é um dos maiores produtores de arroz do mundo, apresentando também o maior rendimento por hectare (cerca de 6.500 kg por hectare, enquanto a média mundial é de aproximadamente 3.800 kg por hectare). Além do arroz, cultivam-se o chá, o algodão, a soja, a cana-de-açúcar e o trigo.

Apesar da elevada produtividade, o Japão não é autossuficiente, dependendo da importação de diversos produtos como trigo, açúcar, milho e soja. O Japão é o primeiro produtor mundial de pescado, sendo considerado o país mais desenvolvido tecnologicamente no setor. Navios-fábricas percorrem milhares de quilômetros de mares em busca de pescado.

Extrativismo

Parte da cobertura vegetal do Japão é aproveitada para exploração da madeira (construção, fabricação de papel) e geração de energia. Essa exploração é controlada pelo governo, que incentiva o reflorestamento. Devido à intensa demanda interna, o Japão importa madeira de vários países do globo, especialmente da Indonésia e do Brasil, sendo um dos maiores importadores de madeira tropical do mundo. Quanto ao extrativismo mineral, seus recursos são escassos, necessitando importar praticamente todas as matérias-primas essenciais ao desenvolvimento de sua atividade industrial, tais como: petróleo, carvão, minério de ferro, cobre, níquel e bauxita.

Indústria e dinamismo econômico

Em 1868, o país começou a se modernizar, construindo os alicerces de seu processo de industrialização. Nessa ocasião, o governo estimulou a formação dos zaibatsus, grandes conglomerados industriais (familiares), verdadeiros impérios com elevado grau de competição. Logo após a Segunda Guerra Mundial, os zaibatsus, que haviam contribuído também para a grande concentração de riquezas nas mãos de poucos indivíduos, tiveram seu poder drasticamente reduzido; membros das famílias desses impérios e seus principais executivos perderam vez na vida pública, e a maior parte de suas propriedades passou para o domínio do governo. Entretanto, muitas das grandes companhias que compunham os zaibatsus continuaram a existir e tiveram um papel importante na reconstrução do país no pós-guerra.

As inovações no processo de fabricação também foram de grande importância para a transformação do Japão em uma potência industrial (figura 11). Com o objetivo de reduzir custos, ciclos de produção e prazos, priorizando a qualidade dos produtos, desenvolveu-se uma nova organização da produção: o toyotismo. Esse sistema teve origem em meados do século XX na indústria automobilística Toyota. No entanto, é preciso ressaltar os aspectos negativos, particularmente para os trabalhadores, nesse sistema, como o fato de as empresas subcontratadas pagarem salários mais baixos e exigirem mais horas de trabalho. As novas estratégias produtivas do Japão levaram esse país a se tornar uma potência industrial, disputando com os Estados Unidos a liderança na fabricação de produtos como automóveis, eletrônicos, máquinas industriais e robôs. O país obteve, principalmente nos anos 1980, um período de grande acúmulo de capitais, graças aos superavits (saldos positivos) de sua balança comercial e à poupança financeira expressiva de sua população, que transformou o país em uma poderosa fonte de investimento, uma potência financeira.

No fim dos anos 1990, a economia japonesa entrou em recessão, isto é, diminuiu seu ritmo por causa do colapso de alguns bancos (que emprestaram dinheiro de retorno duvidoso para muitas empresas), da elevação do deficit (saldo negativo) do orçamento do governo e da queda na rentabilidade das empresas mais fracas, fato que contribuiu para o aumento do desemprego no país. Ainda no início do século XXI, com a migração de fábricas globais para países que ofereciam mão de obra mais barata, a estagnação do consumo interno, o elevado deficit público e as dificuldades para dinamizar setores ligados ao setor terciário mais moderno (consultoria, produção de software, publicidade, atividades ligadas à internet), entre outros motivos, o Japão passou por outro período de recessão em sua economia. Em junho de 2002, o Japão havia ratificado o Protocolo de Kyoto, acordo entre países para diminuir a emissão de gases na atmosfera e, em 2017, ratificou o Acordo de Paris. O país é responsável pelo lançamento de 7,5% dos gases de efeito estufa do planeta.

Diversificação e distribuição espacial da indústria No Japão, onde o parque industrial é amplamente diversificado, destacam-se as seguintes indústrias:

• siderúrgica e metalúrgica, com grandes estabelecimentos localizados próximo da zona carbonífera de Kyushu; embora importem matérias-primas, superam a produção de aço de vários países europeus;

• de construção naval (primeiro produtor mundial), com grandes e modernos estaleiros situados em Nagasaki e ao redor do porto de Kobe;

• têxtil, cujo principal produto é a seda (primeiro produtor mundial), seguida pelas fibras artificiais e sintéticas;

• eletroeletrônica, que é competitiva e das mais modernas do mundo, respondendo por cerca da metade das exportações de produtos eletrônicos e eletrodomésticos do mundo (fornos de micro-ondas, televisores, etc.);

• automobilística, cujos veículos, produzidos a baixo custo, são modernos e conquistaram parte dos mercados estadunidense e europeu, além de diversos países da própria Ásia e da América Latina. A robotização da atividade industrial atinge no Japão o índice mais elevado do mundo.

Tigres Asiáticos

Entre os anos 1960 e meados da década de 1990, nenhum local do mundo teve crescimento econômico tão expressivo como o apresentado por alguns países do Leste e Sudeste da Ásia. Na liderança desse crescimento estavam Taiwan, Cingapura, Coreia do Sul e Hong Kong — os quatro Tigres Asiáticos. Em suas pautas de exportações predominam os produtos eletroeletrônicos (televisores, DVDs, aparelhos de som, fornos de micro-ondas), equipamentos para computadores e para telecomunicações, tecidos sintéticos, roupas, plásticos e veículos. O crescimento econômico dos Tigres Asiáticos foi alicerçado no estreito relacionamento entre as empresas privadas e o governo, que oferecia proteção ao mercado interno, por meio de impostos elevadíssimos para os produtos importados. Além disso, o governo ofereceu grandes incentivos às exportações, adotou estratégias para atrair investimentos externos, investiu maciçamente na educação e na qualificação da mão de obra. A mão de obra barata, se comparada à dos países desenvolvidos, foi um grande atrativo para que empresas transnacionais, principalmente japonesas, se instalassem nesses países. O processo de desenvolvimento dos Tigres Asiáticos ocorreu sob regimes políticos ditatoriais, com exceção de Hong Kong. Assim, liberdade de imprensa e de expressão e eleições para governantes não faziam parte do dia a dia dos habitantes desses países.

Crise e retomada do crescimento

Após apresentarem uma relativa desaceleração no crescimento econômico no início dos anos 1990, os Tigres acabaram mergulhando em uma profunda crise na segunda metade da década de 1990. Apesar disso, não se deve desprezar o espetacular crescimento dessas economias. Foram mais de 30 anos (desde meados da década de 1960 a 1997) de conquistas de mercados mundiais que promoveram um aumento em torno de 700% do PIB dos Tigres. A ocorrência da crise é explicada por uma série de fatores, entre eles o crescimento do endividamento de curto prazo dos países e das empresas; o aumento crescente e irreal do preço dos imóveis; a desaceleração da economia global em 1996, que provocou queda nas exportações e levou as indústrias a reduzir bastante sua produção. No entanto, já no fim do século XX, os Tigres retomaram um ritmo de crescimento mais acelerado.

Coreia do Sul

Os principais produtos exportados pela Coreia do Sul são: veículos, calçados, roupas, tecidos, chapas de aço e produtos eletrônicos. Algumas grandes empresas sul-coreanas (chaebols) constituem atualmente poderosas transnacionais: a Hyundai, que fabrica veículos e navios (os veículos Hyundai tiveram, na década de 1980, suas vendas aumentadas em 400% nos Estados Unidos); a Samsung e a LG, que produzem equipamentos eletroeletrônicos e computadores; e a Daewoo, que fabrica veículos. Com a crise, alguns desses grandes grupos industriais coreanos faliram ou tiveram de fundir-se, sendo comprados também por outros grupos. A Hyundai, por exemplo, comprou a Kia e a Asia Motors.

Taiwan

Em 1949, com a formação da República Popular da China, o líder do partido Kuo-Min-Tang, Chiang Kai-shek, acompanhado de várias divisões do exército nacionalista, atravessou o estreito de Formosa e estabeleceu-se na ilha de Taiwan a República da China Nacionalista. A política posta em prática fundamentou-se na distribuição equilibrada da riqueza, na melhor utilização da terra e em melhores condições para o povo.

A China considera Taiwan uma província rebelde, não a reconhece como Estado-nação (país) e defende uma “reunificação pacífica”. As hostilidades entre ambas existem desde a Revolução Socialista na China continental. A entrada de Taiwan na Organização Mundial do Comércio, em novembro de 2001, deu-se como território, não como país. Apesar de haver ingressado na OMC, esse país ainda luta pelo seu reconhecimento internacional como Estado-nação, uma vez que foi obrigado a se retirar da ONU em 1971, com a entrada da República Popular da China na organização. Em 2014 ocorreram manifestações no país contra um acordo comercial firmado naquele ano que poderia significar uma possível invasão econômica da China no país.

Cingapura

Situado entre o estreito de Málaca (oeste) e o estreito de Cingapura (sudeste), que ligam os oceanos Índico e Pacífico, o país situa-se em uma área geográfica estratégica, pois está no percurso de rotas marítimas que ligam a Europa ao Extremo Oriente, à Indonésia e à Austrália. Sua localização tornou-se ainda mais importante a partir do fim do século XIX, com a abertura do canal de Suez, no Egito. Atualmente, Cingapura é uma república parlamentarista, mas há apenas um partido político no país. Seu sistema político é extremamente fechado. O comércio exterior de Cingapura é muito expressivo. Seus produtos de exportação são basicamente derivados de petróleo, borracha natural e maquinaria elétrica. Seu porto é o maior da Ásia e um dos mais movimentados do mundo.

Hong Kong

Hong Kong, território chinês que permaneceu entre 1842 e 1997 sob a administração colonial do Reino Unido, tem o status de Região Administrativa Especial da China. Suas características socioeconômicas atuais são resultado de um processo histórico marcado pelo desenvolvimento da economia de mercado, com uma integração muito forte ao sistema capitalista internacional, notadamente no Leste e Sudeste da Ásia. O sistema socioeconômico capitalista de Hong Kong está previsto para ser mantido até 2047, conforme acordo de devolução firmado entre Reino Unido e China. Atualmente, Hong Kong é um dos maiores centros financeiros do mundo, contando com cerca de 140 grandes bancos e sedes de várias empresas transnacionais. Esse setor é responsável por 80% de toda a renda gerada no território. O porto de Hong Kong é um dos maiores do mundo.

Os Novos Tigres

Os Novos Tigres, como vêm sendo chamados Malásia, Tailândia, Indonésia, Filipinas e Vietnã, oferecem, além da mão de obra barata, outros atrativos às empresas transnacionais: isenção de impostos, concessão de terrenos, investimento em infraestrutura (energia, meios de transporte, portos, comunicações) e grandes incentivos às exportações. Muitas empresas que empregam relativa quantidade de mão de obra na montagem de produtos, como televisores, rádios, brinquedos, aparelhos de som, computadores, e também empresas do setor têxtil, consideram altos os salários pagos nos quatro Tigres. Por esse motivo, buscam a mão de obra extremamente barata dos Novos Tigres e da China. No Vietnã, por exemplo, foram instalados 50 bancos estrangeiros; empresas multinacionais dos mais diversos ramos (alimentício, tecnologia, automobilístico, etc.). Outro aspecto interessante nesse processo de transformação dos Novos Tigres é o grande volume de investimentos proveniente dos quatro Tigres. Nos anos 1990, na liderança dos investimentos no Vietnã estavam Taiwan, Hong Kong, Cingapura e Coreia do Sul.

Oriente Médio

Posição estratégica


O Oriente Médio está localizado em uma região estratégica entre a Europa, a África e o restante do continente asiático.
Nessa região se desenvolveram várias civilizações. A denominação “Oriente Médio” é fruto de uma visão eurocêntrica do mundo, consolidada no período das Grandes Navegações, quando os europeus estabeleceram rotas marítimas de comércio para a África, para a Ásia e para a América. Foi uma das regiões mais ricas e desenvolvidas e, a partir dela, os muçulmanos difundiram para o resto do mundo notáveis saberes científicos, artísticos e filosóficos. No século XV, a região foi dominada pelo Império Turco Otomano, permanecendo assim até o fim da Primeira Guerra Mundial, quando franceses e britânicos obtiveram o apoio dos povos árabes contra os turcos otomanos. Entretanto, Reino Unido e França já haviam acertado a partilha dessa região em um acordo secreto — o acordo Sykes-Pikot, pelo qual Síria e Líbano foram ocupados pelos franceses; Palestina, Iraque e Transjordânia (atual Jordânia), pelos ingleses. Somente no período entre as guerras mundiais e após a Segunda Guerra se consolidou o processo de independência, e as fronteiras entre os países foram sendo delimitadas. Esse processo, no entanto, não significou o fim dos conflitos. Pelo contrário, após a Segunda Guerra Mundial, eles continuaram a ocorrer em virtude principalmente da formação do Estado de Israel, dos fortes interesses das grandes potências pela região e das disputas internas pelo poder, que contribuíram para a deposição de governantes e alterações em regimes de governo.

Atividades econômicas


No Oriente Médio, com exceção de Israel, a atividade industrial é pouco expressiva. Destacam-se na Turquia a indústria siderúrgica e, nos países produtores de petróleo, refinarias e algumas indústrias petroquímicas. Acrescentam-se ainda os setores tradicionais, como o têxtil e o alimentício, que estão instalados próximo às grandes cidades. O turismo é também uma atividade com grande potencial. A região apresenta um rico e milenar patrimônio histórico e, no litoral do golfo Pérsico, os corais e a vida submarina do mar Vermelho e de toda a costa mediterrânea ainda apresentam riquezas naturais preservadas. Apesar das condições favoráveis ao turismo, os conflitos e a imagem difundida pela mídia sobre o fanatismo religioso e os valores culturais opostos aos do mundo ocidental constituem barreiras a essa atividade econômica. Abu Dhabi e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, são hoje importantes polos turísticos mundiais. Detentores de grandes reservas de petróleo, os Emirados diversificaram sua economia em aplicações financeiras no exterior e na aquisição de empresas. Um investimento significativo está relacionado à alteração de sua paisagem natural, com a construção de hotéis luxuosos, praias e ilhas artificiais. Isso foi acompanhado pela modernização dos aeroportos e toda essa estrutura tem contribuído também para atrair turistas de todas as partes do mundo. O petróleo deixou de ser sua atividade econômica exclusiva e, no Emirado de Dubai, a renda do turismo já supera a renda do petróleo.

A Turquia, com sua arquitetura herdada de dois grandes impérios — o Otomano e o Bizantino — e seu extenso litoral nos mares Egeu e Mediterrâneo, é também outro importante destino dos turistas que se dirigem ao Oriente Médio. A agricultura está restrita a algumas áreas, uma vez que existem extensos desertos no Oriente Médio. Ela se desenvolve principalmente nas planícies fluviais, em áreas irrigadas e na costa dos mares Mediterrâneo, Negro e Cáspio. Na agricultura voltada ao mercado interno, destacam-se arroz, milhete, trigo e algumas frutas. Entre as culturas destinadas também à exportação, sobressaem oliveira, chá, fumo, algodão e tâmara.

O petróleo


No Oriente Médio está grande parte das maiores reservas e centros de produção petrolífera. O interesse pelo controle de áreas produtoras de petróleo é uma das causas de guerras e revoluções na região, uma vez que este é o principal combustível da sociedade industrial e a fonte de matéria-prima para mais de 6 mil produtos. A concentração de aproximadamente 45% das reservas mundiais de petróleo no Oriente Médio e a exploração associada às grandes empresas multinacionais ou transnacionais do setor transformaram a região em proprietária da principal fonte de riqueza natural do último século, mas também resultaram em áreas com focos de tensão, disputas e intensos conflitos. Apesar da enorme riqueza gerada pela exportação de petróleo e de gás natural, parcela considerável da população não desfruta boas condições de vida. A riqueza flui para grupos minoritários, que detêm o poder político e econômico. Os países que apresentam as maiores reservas mundiais.

 Influência das potências mundiais no Oriente Médio 


Na atual política de “guerra contra o terrorismo”, os Estados Unidos e outros países europeus (particularmente o Reino Unido) acentuaram sua presença no Oriente Médio e na Ásia Central e promoveram o apoio a governos pró-ocidentais. Dessa forma, garante-se certo controle sobre reservas de petróleo e gás natural, oleodutos e gasodutos existentes ou que estão em projeto e em construção nos países da região. As relações do Ocidente com os governos do Oriente Médio e os interesses econômicos das grandes potências ficam claros quando consideramos que os Estados Unidos, apesar de se declararem defensores da democracia e da liberdade de expressão, apoiam governos que não prezam esses valores, como os da Arábia Saudita e do Kuwait.
O processo de exploração de petróleo na região pode ser dividido em duas fases. Na primeira, que ocorreu nas décadas iniciais do século XX até o final da década de 1950, a exploração, o transporte e a comercialização de petróleo e gás natural produzidos no Oriente Médio eram controlados por empresas mul tinacionais europeias e estadunidenses. Essas empresas, que ficaram conheci das como Sete Irmãs, pagavam royalties para o governo dos países do Oriente Médio pelos direitos de exploração do petróleo em seus territórios.
Na segunda fase, iniciada em 1960, os maiores produtores de petróleo da região criaram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), vi sando obter o controle da exploração em seus territórios e influenciar nos pre ços de comercialização desse produto no mercado internacional. Assim, países como Arábia Saudita, Iraque, Kuwait e Irã romperam com as multinacionais e passaram a controlar as empresas que faziam a prospecção, o refino e o em barque de petróleo e gás natural. Um novo acordo foi selado, então, com as multinacionais, que ficaram encarregadas do transporte e da comercialização do produto no mercado internacional.
Atualmente, a Opep reúne 14 países: cinco localizados no Oriente Médio (Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Emirados Árabes), sete na África (Argélia, Angola, Congo, Guiné Equatorial, Gabão, Líbia e Nigéria) e dois na América Latina (Venezuela e Equador). 
Apesar de a exploração de petróleo no Oriente Médio não ser mais feita por empresas multinacionais, a importância estratégica da região como fornecedora desse recurso ainda leva países como Estados Unidos, Inglaterra, França e Rússia a interferir política e militarmente na região. As interferências têm o objetivo de garantir o fornecimento desse produto a seus mercados consumidores. Foi o que ocorreu na década de 1990, quan do os Estados Unidos invadiram militarmente o Iraque e o Kuwait, ou, recentemente, com o apoio da Rússia ao governo ditatorial da Síria. Além disso, países como Inglaterra, França e Estados Unidos mantêm bases militares na região. 

Israel: desenvolvimento econômico


Israel é o único país do Oriente Médio considerado desenvolvido, em razão de suas características socioeconômicas. Além das boas condições de vida da população, a economia é diversificada, com os setores secundário e terciário bastante desenvolvidos. Há também nesse país importantes centros de pesquisa tecnológica. Israel conta com duas fontes de recursos fundamentais para a manutenção de seu crescimento econômico e de seus gastos militares: as doações da comunidade judaica mundial e a ajuda financeira dos Estados Unidos. No atual território de Israel, uma faixa litorânea, de clima Mediterrâneo, é densamente povoada (quase 300 hab./km2 ). No sul de Israel estende-se o deserto de Neguev, que ocupa praticamente a metade de seu território e onde vivem apenas 7% da população do país. Nessa região, ocorreu uma expressiva modificação no espaço. Com a construção de um eficaz sistema de irrigação, o deserto transformou-se em área fértil ao cultivo agrícola. Vale ressaltar que Israel, para tanto, passou a controlar os suprimentos de água da bacia do rio Jordão (inclusive suas nascentes nas colinas de Golã, território sírio) e os sistemas de aquíferos, que deveriam ser partilhados com os palestinos, resultando em uma das razões de conflito deste povo com Israel. A prosperidade agrícola deve-se também ao tipo de organização produtiva, representada pelo kibutz e pelo moshav. Cerca de 3% da população do país vive nos kibutzin (plural de kibutz). O kibutz convencional é uma fazenda agrícola comunitária, cujos integrantes compartilham toda a propriedade e, de comum acordo, distribuem as tarefas, configurando um modo de vida comunal. Atualmente, ocorreram adaptações em diversos kibutzin. Dessa forma, existem kibutzin com produção industrial com os mesmos modos de vida comunal que os kibutzin convencionais.

O moshav é uma vila agrícola onde cada família é proprietária de sua terra. Com uma administração central, nos moldes de uma cooperativa, as famílias dividem os equipamentos, compram sementes e outros implementos agrícolas e realizam a comercialização de sua produção. Apesar da carência de petróleo e de outros recursos energéticos característicos de grande parte do Oriente Médio, Israel tem os setores industrial e agrícola muito bem estruturados. Os principais setores industriais de alta tecnologia são bastante diversificados e destinam-se à produção de equipamentos militares, produtos químicos e farmacêuticos, softwares, aviação, telecomunicações, etc. A renda per capita é alta e apresenta um padrão de distribuição próximo ao dos países desenvolvidos.

O islamismo e o fundamentalismo islâmico


No Oriente Médio, a população é predominantemente árabe, contando também com turcos (na Turquia), persas (no Irã) e judeus (em Israel). Além desses povos, vivem na região curdos, armênios, entre outros. A maior parte dos habitantes dessa região, conforme visto na seção Para começar, professa a religião islâmica ou muçulmana. Os judeus formam o segundo maior grupo religioso. A palavra árabe islam quer dizer resignação ou total submissão à vontade de Deus. Os termos islâmico, muçulmano e maometano têm o mesmo significado, ou seja, denominam pessoa sujeita aos desígnios de Deus, ou Alá. A religião islâmica é a que mais cresce no mundo, contando com mais de 1 bilhão de adeptos.

Apesar de o islamismo ser a religião de quase 90% da população do Oriente Médio, existe uma diversidade de segmentos dentro dessa religião, dos quais os xiitas e os sunitas são maioria da população. A principal diferença desses dois segmentos está na visão de sucessão de Maomé, criador do islamismo: os sunitas acreditam que o sucessor deveria ser eleito pelo povo e os xiitas entendem que os descendentes de Ali (genro do profeta Maomé) deveriam liderar os islãs. Com base nisso, surgiram disputas relacionadas à doutrina e também se diferenciaram as práticas religioso-culturais.

O predomínio de uma ou de outra vertente na população de cada país é um importante fator para compreender tensões e conflitos regionais. Em ambas as vertentes pode estar presente o fundamentalismo islâmico.

Atualmente, os grupos fundamentalistas, que atuam em vários países da região, no sul e no sudeste asiáticos e no norte da África, têm como objetivos principais, de modo geral, a necessidade de romper com o Ocidente – considerado o “Grande Satã” –, desestabilizar governos pró-ocidentais nos países de maioria muçulmana e substituir a lei dos homens pela Lei Divina, expressa no Corão (livro sagrado transmitido por Deus ao profeta Maomé). Alguns radicais islâmicos defendem o uso da força para expandir a religião islâmica, como os que atuam no Iraque e na Síria e que, em 2014, declararam a criação de um país, o Estado Islâmico, como veremos adiante neste capítulo. Os movimentos fundamentalistas defendem um conjunto rígido de regras para o vestuário, rituais de casamento e alimentação, princípios de justiça social, normas de educação das crianças e condutas de vida para as mulheres (que não têm os mesmos direitos dos homens). No entanto, ressalva-se que em vários países de maioria muçulmana tem havido maior participação da mulher na sociedade. Mesmo no Irã, um Estado teocrático, vem aumentando o número de mulheres que frequentam centros universitários — onde cerca de 40% dos estudantes são do sexo feminino —, participam do mercado de trabalho e da política. Na Arábia Saudita, até meados de 2018, era proibido que mulheres dirigissem veículos. Esse era o único país no mundo em que as mulheres não podiam obter habilitação de motorista. Apesar de restrições e desigualdades históricas, não há, no Corão, restrições à atuação da mulher na vida social.

A questão Palestina e o Estado de Israel


Com a criação do movimento sionista no século XIX, milhares de judeus, de todas as partes do mundo, começaram a migrar para a Palestina, transformando a região em palco de permanentes conflitos com os árabes. Em 1917, a Palestina foi ocupada pelos ingleses. Esse movimento de caráter nacionalista tinha como objetivo a criação de um Estado judaico (Israel) em um território considerado sagrado para esse povo, ou seja, a “Terra Prometida”. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), milhões de judeus foram mortos. Outros tiveram de abandonar seus países de origem. Essa situação foi determinante para a institucionalização de um Estado judaico e a aprovação da ONU para a criação, em 1947, de um plano de partilha da Palestina, que previa a formação de dois Estados: um árabe e outro judeu. Em 1948, os ingleses retiraram-se da Palestina, e Israel constituiu-se em Estado. A partilha da Palestina entre árabes e judeus causou grande insatisfação aos povos árabes. Logo após a criação do Estado de Israel, os exércitos dos países árabes vizinhos (Egito, Síria, Líbano, Iraque e Transjordânia) atacaram o país, dando início a uma guerra violenta. Em janeiro de 1949, terminavam os combates, que conferiam a Israel novas áreas, ampliando em 50% a área original de seu território. Ainda em 1949, foram assinados acordos de armistício, segundo os quais o Estado Árabe da Palestina seria dividido entre Israel, que conquistara a Galileia e o deserto de Neguev; Transjordânia, que ficaria com a Cisjordânia (a oeste do rio Jordão), passando a se chamar Reino Hachemita da Jordânia; e Egito, que ficaria com a Faixa de Gaza.

Em 1967, eclodiu outro conflito armado, a Guerra dos Seis Dias. No fim da guerra, Israel obteve a península do Sinai e a Faixa de Gaza, do Egito; Golã, da Síria; e a Cisjordânia (margem ocidental do rio Jordão), da Jordânia. Em 1973, o Egito, a Síria e a Jordânia envolveram-se em nova guerra com Israel para a retomada dos territórios perdidos na Guerra dos Seis Dias, porém sem sucesso. Em 1979, por meio de um acordo intermediado pelos Estados Unidos, o Acordo de Camp David, Israel concordou em devolver ao Egito a península do Sinai.

Entre judeus e palestinos o conflito teve outros desdobramentos. Em 1964, foi criada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que reunia diversos grupos extremistas palestinos com um alvo comum: lutar pela criação de um Estado palestino e pela destruição do Estado de Israel. Em 1969, Yasser Arafat (líder da Al Fatah — atualmente um partido, mas que foi fundada, em 1964, como uma organização política e militar) assumiu a presidência da OLP. Até 1987, a organização utilizava métodos terroristas para alcançar seus objetivos. Em 1988, o líder da OLP apresentou um “plano de paz” na Assembleia Geral da ONU, no qual reconhecia o Estado de Israel. Esse acontecimento marcou o início de uma nova fase para a OLP, que conquistou mais espaço no campo diplomático, passando a negociar com os Estados Unidos e, posteriormente, com Israel. Foi nesse mesmo período que surgiu em Gaza o Hamas, outro importante grupo de combate palestino. No dia 13 de setembro de 1993, após dois meses de negociações secretas com a mediação do governo da Noruega, Arafat, pela OLP, e o então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, assinaram na Casa Branca (Estados Unidos) um acordo de paz. Partes da Cisjordânia e de Gaza foram devolvidas aos palestinos e se tornaram regiões autônomas e de administração palestina. Foi, então, criada a Autoridade Nacional Palestina (ANP) — representante legal dos palestinos, responsável pela administração de seus territórios. As terras palestinas encontram-se divididas. O Hamas detém o controle de Gaza, e a ANP controla a Cisjordânia. Enquanto o Hamas se nega a reconhecer o Estado de Israel e qualquer negociação, a ANP ainda acredita que consiga reconquistar parte das terras palestinas com a negociação. Observe a figura 29. Em 2005, foi concluída a desocupação israelense do território de Gaza. No entanto, até o final de 2018, Israel ainda mantinha os bloqueios aéreo, marítimo e terrestre, restringindo a circulação de mercadorias, pessoas e serviços entre o território e o mundo. Essa situação agrava a situação de pobreza e o desemprego em Gaza. São várias as questões pendentes para um acordo de paz mais duradouro entre os dois povos: a questão do “muro de proteção” que contorna boa parte da Cisjordânia; a definição dos limites entre Israel e o futuro Estado palestino; a disputa por Jerusalém; e a existência de assentamentos judaicos em territórios da Autoridade Nacional Palestina. Além dessas e de outras questões, há sempre a preocupação de como grupos extremistas judeus e palestinos enfrentarão um processo de negociação que de fato encaminhe a região para a paz.

Em 2017, o governo estadunidense do então presidente Donald Trump reconheceu Jerusalém como capital de Israel e, no ano seguinte, foi inaugurada a embaixada dos Estados Unidos nessa cidade, interferindo na questão das negociações entre a ANP e Israel. Atualmente, mais de 130 países na ONU deram reconhecimento ao Estado da Palestina, que tem condição de Estado observador, não membro, das Nações Unidas (figura 30). Apesar disso, Israel, Estados Unidos e vários países europeus ainda não reconhecem a existência desse Estado.

Irã: Revolução Islâmica, oposição ao Ocidente e transformações recentes

Até 1979, o Irã foi um dos principais aliados dos Estados Unidos entre os países do Oriente Médio. Em 1953, o governo estadunidense apoiou o golpe de Estado promovido pelo xá Reza Pahlevi. Com Reza Pahlevi, o Irã constituiu uma política econômica e social apoiada no modelo ocidental. Do ponto de vista econômico, foi um período de desenvolvimento industrial e de crescimento. Apesar disso, ocorreu um profundo questionamento das correntes mais radicais do islamismo. Líderes religiosos foram perseguidos e alguns foram expulsos do país. Em 1979, uma onda de manifestações populares depôs o governo do xá e empossou o líder xiita aiatolá Khomeini. Surgiu a República Islâmica do Irã, que se caracterizou pela busca de um caminho próprio, não alinhado a nenhuma das grandes potências, Estados Unidos e ex-União Soviética. A partir de 1980, o Irã rompeu relações com os Estados Unidos e passou a ser controlado pelos chefes religiosos (aiatolás), que estabeleceram normas sociais rígidas, de acordo com os princípios do islamismo, formalizando um Estado teocrático (o atual governo do Irã, apesar de civil, está submetido ao poder dos aiatolás). Apesar do rígido controle do governo do Irã, nos últimos anos vêm ocorrendo mudanças de comportamento por parte de alguns iranianos, especialmente dos jovens, que têm buscado acesso à informação e à cultura ocidental, por meio de filmes, músicas e internet. Atualmente, o Irã é, entre os países islâmicos, aquele que exerce maior influência no Oriente Médio e tem mantido relações estáveis com praticamente todos os países vizinhos. É o maior opositor à existência do Estado de Israel. O atual governo mantém fortes relações com a China e a Rússia. Essas relações incluem cooperação técnica, associação para a exploração de petróleo em subsolo iraniano e venda de armas e de combustível para as usinas termonucleares.

Outro motivo de enfrentamento entre o Irã e o Ocidente é o desenvolvimento de um programa nuclear. Os Estados Unidos sempre alertaram que o governo iraniano teria a ambição de produzir armas de destruição em massa e que o país estaria próximo de conquistar a tecnologia necessária para alcançar tal objetivo. Alemanha, França e Reino Unido apoiavam os argumentos estadunidenses sobre a ameaça que o programa nuclear representaria para o Oriente Médio e outras regiões do mundo. Em 2013, o Irã, que sempre defendeu que seu programa nuclear teria objetivo exclusivamente pacífico e energético, firmou um acordo visando a uma redução desse programa, em troca da diminuição de sanções econômicas que sofria por parte da comunidade internacional. No mesmo ano, com a eleição de Hassan Rohani, um governante moderado, o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, teve, por telefone, uma conversa histórica com o presidente iraniano, sinalizando uma reaproximação diplomática. Em 2015, foi assinado um acordo nuclear entre o Irã e o grupo de países do P5+1 (formado pelos 5 países-membros do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha), após mais de uma década de negociações, visando restringir a possibilidade de os iranianos desenvolverem a bomba atômica.
No entanto, em 2018, os Estados Unidos saíram do acordo e uma das alegações utilizadas pelo então presidente Trump, que restabeleceu as sanções econômicas ao país, foi a de que o governo iraniano apoiaria grupos terroristas e milícias, como o Hezbollah, o Hamas, a Al-Qaeda e o Taleban.

Iraque e Afeganistão: guerras e ocupação


Parte dos conflitos atuais no Iraque teve início em 1979, com a instauração da ditadura do governo de Saddam Hussein. O novo governo, apoiado pelos Estados Unidos, envolveu-se em uma longa guerra contra o Irã pela disputa por uma faixa de terra ao sul da fronteira entre os dois países, delimitada pelo canal Chat al-Arab, junto ao golfo Pérsico. Esse fato deflagrou a Guerra Irã-Iraque (1980-1988). No fim da década de 1980, os dois países assinaram um acordo de paz, em que o Chat al-Arab permaneceu sob o domínio do Irã. Em 1990, endividado pela guerra contra o Irã, o Iraque invadiu o Kuwait — um pequeno país da península Arábica pontuado de poços de petróleo. Em decorrência, houve uma reação imediata dos Estados Unidos, da França, do Reino Unido, da Arábia Saudita e de outros países, dando origem, em 1991, à Guerra do Golfo. As forças iraquianas renderam-se sem impor condições. Após essa guerra, foi imposto ao Iraque um embargo econômico pela ONU e a inspeção sobre o controle de armas no país. Em 1998, Saddam Hussein expulsou os funcionários da ONU e expôs novamente o país à possibilidade de um novo confronto internacional.

Guerra e ocupação do Afeganistão


No dia 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos foram atingidos pela maior ação terrorista realizada no país. O atentado foi atribuído pelo governo estadunidense à rede terrorista internacional Al-Qaeda, liderada pelo saudita Osama Bin Laden. A Al-Qaeda mantinha naquele momento sua base no Afeganistão, que era praticamente dominado pelo grupo fundamentalista Taleban, que implantou um regime de governo islâmico repressivo, sobretudo às mulheres, entre 1996 e 2001. Elas eram obrigadas a ocultarem-se sob a burca e viverem em suas casas, praticamente confinadas, ficando proibidas de frequentar escolas e locais de trabalho.

Após o atentado de 11 de setembro, o Conselho de Segurança da ONU exigiu que o grupo entregasse Osama Bin Laden. Em 2002, diante da negativa do Taleban em entregar o terrorista, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão, depuseram o governo Taleban, estabeleceram um novo governo e instalaram novas bases militares estadunidenses no Oriente Médio (figura 32). Em 2011, os Estados Unidos iniciaram a retirada parcial das tropas do país, comprometendo-se a fazer a retirada total até 2016. No entanto, a partir de 2017, o governo Trump passou a enviar mais soldados ao país.

Guerra e ocupação do Iraque 


Depois da ocupação do Afeganistão, os Estados Unidos miraram um novo alvo: o Iraque. Junto ao Reino Unido, argumentavam que o Iraque constituía um risco à segurança mundial, pois o governo iraquiano desenvolvia programas de armas de destruição em massa, mantinha armas químicas e bacteriológicas estocadas e estabelecia ligações com grupos terroristas. Em 2002, os Estados Unidos, sob o governo de George W. Bush, pressionaram o Conselho de Segurança da ONU solicitando uma revisão da questão iraquiana. A relação do Iraque com o resto do mundo ainda estava em impasse desde a expulsão dos inspetores da ONU, em 1998. O Conselho de Segurança obrigou o Iraque a aceitar a volta dos inspetores ao país. Enquanto ocorria o trabalho dos inspetores da ONU no Iraque, os Estados Unidos e o Reino Unido deslocaram milhares de soldados e equipamentos de combate para o Oriente Médio. Em 2003, foi tomada a decisão de atacar o Iraque, independentemente da posição da ONU e contra a posição de três dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança: Rússia, China e França. A guerra contra o Iraque, nesse contexto, atropelou o órgão máximo para julgar essas questões. A ofensiva militar resultou na derrubada do regime ditatorial de Saddam Hussein e em sua posterior prisão. Em 2006, Saddam Hussein foi julgado sob o governo interino iraquiano e condenado à pena de morte.

A ocupação militar não conseguiu estabilizar politicamente o país. Uma sucessão de atentados contra militares e civis (tanto estrangeiros como iraquianos), promovidos por grupos insurgentes contrários à presença estadunidense, passou a fazer parte do cotidiano. Com o pretexto de combater o terrorismo, a ocupação do Iraque estimulou esse tipo de embate. Além disso, ficou comprovado que o Iraque não produzia armas de destruição em massa, principal alegação que justificou a ação militar das tropas ocidentais. Em dezembro de 2011, os Estados Unidos retiraram oficialmente suas tropas do país.

Curdos


Exemplo da maior nação constituída sem Estado, o povo curdo soma cerca de 30 milhões de pessoas distribuídas por seis países: predominantemente na Turquia, onde estão cerca de 15 milhões de pessoas, no Iraque, no Irã, na Síria, na Armênia e no Azerbaijão. Os curdos enfrentam uma longa trajetória de perseguição e de dura repressão às tentativas de formação política do Curdistão, principalmente na Turquia e no Iraque. Isso ocorre porque o território onde pretendem construir seu país dispõe de recursos naturais, como o petróleo, e é onde se localizam as nascentes dos rios Tigre e Eufrates. Na década de 1980, os curdos foram massacrados pelo exército iraquiano de Saddam Hussein, inclusive com o uso de armas químicas. Acredita-se que tenham morrido mais de 800 mil curdos nesse período. A presença estadunidense no Iraque, a partir de 1992, beneficiou o povo curdo. Os curdos iraquianos fizeram alianças com os Estados Unidos e ganharam uma rede de proteção aérea; em troca, apoiaram a intervenção no Iraque. Os curdos pretendem manter ou mesmo ampliar a autonomia que conquistaram nessa região, rica em petróleo, na qual são maioria e têm hegemonia cultural. Eles acreditam na criação de uma república federativa que garanta sua autonomia. Em 2005, com a volta das eleições para a escolha de novos governantes no Iraque, depois da queda de Saddam Hussein, a Aliança Curda conquistou 25% das cadeiras da Assembleia Legislativa. Um sistema democrático poderia garantir maior estabilidade para o povo curdo nesse país. No entanto, entre 2014 e 2018, propriedades rurais e cidades de maioria curda no Iraque foram dominadas pelo Estado Islâmico, levando a uma nova onda de violência e destruição. Os curdos fizeram alianças vitoriosas com países do Ocidente para combater o EI, mas não conseguiram apoio posterior desses países para levar adiante a reivindicação de criação de um Estado nacional.

Em 2016, na Turquia, os grupos de guerrilheiros Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK) e do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) assumiram atentados terroristas em busca de instabilidade política para a conquista da independência. Em decorrência dos eventos, o governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, abriu uma temporada de forte repressão à oposição.

Síria 


No Oriente Médio, as atenções dos Estados Unidos também estão focadas na Síria, país de grande diversidade populacional, majoritariamente muçulmano sunita. Segundo autoridades governamentais estadunidenses, o governo sírio financia e facilita a atuação de grupos terroristas, principalmente no Iraque e em Israel. Em 2011, a Síria foi um dos países envolvidos na onda de movimentos pró-democracia, conhecida como Primavera Árabe. Esses movimentos foram desencadeados em vários países árabes contra seus regimes ditatoriais. Desde então, a Síria vem passando por uma guerra civil que adquiriu contornos de conflito étnico-religioso, ao opor os principais grupos que habitam o país. O presidente da Síria, ditador Bashar al-Assad, pertence ao grupo alauita (uma das vertentes do grupo islâmico xiita) e é apoiado por seus integrantes que representam apenas 10% da população. Outros grupos também minoritários apoiam o regime. Essas minorias foram privilegiadas durante a ditadura da dinastia Assad. Formaram o grupo social mais rico e preencheram os principais postos de comando do Estado sírio e do Partido Baath (partido único do regime). Em contraste, mais de 70% da população do país, socialmente discriminada, é formada por muçulmanos sunitas e curdos. A ONU estima que entre o ano de 2011 e os primeiros meses de 2018 cerca de 5 milhões de sírios, especialmente mulheres e crianças, saíram do país em busca de refúgio. Nesses anos, a Turquia foi o principal destino da maioria dos refugiados.

Os radicais do Estado Islâmico


No contexto de instabilidade política na Síria e no Iraque, estruturou-se uma organização terrorista formada por radicais islâmicos sunitas desses dois países, além de estrangeiros não árabes que abraçaram a sua causa, ou seja, estabeleceu-se um califado, o Estado Islâmico (EI), regido pela lei do Islã e que teria como objetivo governar todos os muçulmanos. Na prática, esses radicais formam uma milícia: uma organização militar composta de terroristas, muitos deles vinculados a grandes redes terroristas, como a Al-Qaeda. Observe o mapa da figura 36. Os radicais muçulmanos do EI controlam trechos dos territórios da Síria e do Iraque, inclusive cidades desses países. Esses radicais, chamados de jihadistas pela imprensa internacional, dominam poços e refinarias de petróleo na Síria e no Iraque; recebem doações de células terroristas de diversos países, principalmente da Arábia Saudita e do Catar; arrecadam impostos nas cidades controladas; saqueiam bancos; e fazem reféns com o intuito de cobrar resgates e impressionar a comunidade internacional (muitas vezes, executam alguns reféns e postam os vídeos em redes sociais). É também por meio da internet que muitos jovens, que abraçam a causa dos radicais islâmicos, são cooptados.

O avanço do EI foi combatido a partir de 2015 por uma coalização liderada pelos Estados Unidos por meio de ataques aéreos, pelos curdos e pelo exército iraquiano, no Iraque, e pelo exército sírio, na Síria. O enfrentamento militar reduziu progressivamente os territórios dominados pelo EI. Em 2017, quase quatro anos depois de o grupo terrorista ter estabelecido controle sobre áreas no Iraque, o governo iraquiano declarou o fim da guerra contra o EI. Apesar das grandes perdas militares e territoriais, os episódios não derrotaram o grupo, que ainda é considerado uma ameaça. Em 2017, combatentes se dirigiram à Líbia para formar outras bases.

domingo, 12 de janeiro de 2025

Ásia: diversidade natural e questões ambientais

1. Localização e algumas características

A Ásia é o continente de maior extensão territorial do mundo, com 44,9 milhões de quilômetros quadrados, ocupando quase 30% das terras emersas do planeta. Constitui com a Europa um único bloco continental, denominado Eurásia.
A Ásia está localizada na porção leste da Eurásia. A divisão entre a Europa e a Ásia não decorre somente de características naturais, mas, sobretudo, em razão dos aspectos culturais. As fronteiras entre os dois continentes determinam o limite entre o mundo ocidental e o oriental, e foram estabelecidas com base em estudos desenvolvidos na Grécia antiga que consideraram as características culturais dos povos que habitavam essa região, como religião, língua e costumes.
A divisão entre a Europa e a Ásia leva em conta aspectos histórico-culturais. A Rússia, por exemplo, apresenta parte de seu território no continente europeu e parte no continente asiático.
O continente está localizado no Hemisfério Oriental da Terra, a leste do Meridiano de Greenwich, e é cortado pelo Círculo Polar Ártico ao norte, pelo Trópico de Câncer ao centro e pela Linha do Equador ao sul.
A Ásia e a Europa formam um mesmo bloco continental, a Eurásia, separado pelos Montes Urais, pelo Mar Cáspio, pelo Mar Negro e pelo Mar Mediterrâneo. O continente asiático está separado da África pelo Istmo de Suez, comunica-se com a Oceania pelas ilhas da Indonésia e separa-se da América pelo Estreito de Bering.
O continente asiático apresenta 11 fusos horários e é banhado pelos oceanos Glacial Ártico, Índico e Pacífico. Há diversos mares e golfos no interior e na costa asiática. Entre eles destacam-se o mar Vermelho — que se comunica com o mar Mediterrâneo através do canal de Suez —, o mar Cáspio, o mar Negro, o mar da China e o do Japão.
O contorno irregular da Ásia forma penínsulas de grande importância: as penínsulas Arábica, do Decã, Malaia, Indochinesa, da Coreia, Kamtchatka e da Anatólia. No litoral do sudeste asiático, situam-se vários arquipélagos de origem vulcânica: o arquipélago da Indonésia (ilhas Java, de Bornéu, de Sumatra), o das Filipinas e o do Japão. 
Esses arquipélagos fazem parte do Círculo de Fogo do Pacífico, zona de intensa atividade vulcânica e sujeita a abalos sísmicos frequentes. Outra região de importância estratégica é o estreito de Taiwan, também conhecido como estreito de Formosa. Situado entre a China e Taiwan, tem intensa navegação comercial e constitui uma zona de tensão entre os dois países. Outras zonas de tensão estão presentes no mar da China Oriental e no mar da China Meridional, envolvendo Japão, Indonésia, China, Malásia, Filipinas, Vietnã e Coreia do Sul. 
O canal de Suez, no Egito, foi inaugurado em 1869. Trata-se de um canal artificial com 163 quilômetros que liga o mar Vermelho (cidade de Suez) ao mar Mediterrâneo (cidade portuária de Port-Said). Apesar das reformas realizadas posteriormente, a profundidade do canal não permite a passagem de grandes petroleiros. 
No Oriente Médio existem dois golfos de intensa navegação comercial: o golfo Pérsico e o golfo de Omã. O limite entre eles é o estreito de Ormuz. Através de suas águas, a produção de petróleo é escoada para o resto do mundo. Por essa razão, a região do golfo Pérsico é alvo de constantes conflitos e constitui uma área estratégica mundial.
A Ásia é também o continente mais populoso do mundo, com aproximadamente 4,6 bilhões de habitantes (dados de 2020 do Banco Mundial), o que corresponde a cerca de 59% da população mundial.
A Ásia é composta de mais de 45 países. Alguns deles, como Turquia e Rússia, são considerados transcontinentais, pois uma parte de seus territórios está localizada na Europa.
O continente abriga o maior país do mundo, a Rússia, com mais de 17 milhões de km2, e os países mais populosos são a China e a Índia, com mais de 1 bilhão de habitantes cada um.

2. Regionalização

Devido à sua grande diversidade natural e complexidade de grupos étnicos e culturas, a Ásia pode ser regionalizada, de acordo com a localização de cada país, em seis regiões: Extremo Oriente, Sudeste Asiático, Ásia Meridional, Oriente Médio, Ásia Central e Ásia Setentrional. 

Extremo Oriente 

Localizada no leste do continente, essa região é banhada pelo Oceano Pacífico, abrangendo China, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Japão, Taiwan e Mongólia. Destaca-se em razão da numerosa população absoluta da China e de seu crescimento econômico nas últimas décadas. Conta ainda com a forte economia do Japão, país integrante do G-7, mas sofre com as divergências diplomáticas entre as duas Coreias (do Sul e do Norte), que tiveram origem na Guerra Fria.

Sudeste Asiático 

Formada por Singapura, Tailândia, Vietnã, Camboja, Malásia, Laos, Mianmar, Filipinas, Brunei, Indonésia e Timor-Leste, essa região é dividida em duas par tes: a continental ou peninsular (Península da Indochina) e a insular (ilhas). 
Localizada em sua maior parte entre o Trópico de Câncer e a Linha do Equador, com temperaturas médias elevadas durante o ano, é a região tropi cal do continente, que apresenta as monções. Nela, destaca-se o país-cidade Singapura, em razão de seu elevado padrão de vida. Nos demais países, predo mina a população rural, com grandes problemas sociais.

Ásia Meridional

Índia, Paquistão e Bangladesh são alguns dos países dessa região, conhecida também como subcontinente indiano e caracterizada por elevada população absoluta e grande desigualdade social. A Índia se destaca por sua grande população – em torno de 1,3 bilhão de habitantes (dados de 2021 do Banco Mundial) – e seu setor industrial, em amplo desenvolvimento. Ainda que apresente índices sociais preocupantes, vem ganhando lugar de destaque na economia mundial como um país emergente e promissor.

Oriente Médio 

Com baixos índices de pluviosidade, as áreas desérticas predominam nessa região, que é a mais seca da Ásia e uma das mais ricas em petróleo do mundo. Nela se encontram países como Arábia Saudita, Iraque, Israel e Irã. A etnia árabe e a religião islâmica predominam na região, conhecida também pelos intensos conflitos entre israelenses e palestinos.

Ásia Central 

É formada por países localizados a leste do Mar Cáspio, integrantes da antiga União Soviética: Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Quirguistão e Tadjiquistão. São países com economia baseada na agricultura e nos negócios relacionados ao petróleo (extração ou rota de oleodutos).

Ásia Setentrional 

Corresponde às terras localizadas na parte asiática da Rússia, região do país conhecida como Sibéria. Nela predominam temperaturas baixas e clima polar, com os invernos mais longos e rigorosos de todo o continente. A região tem muitas reservas de petróleo e gás natural, e a agricultura desem penha importante papel, facilitada pelo relevo plano e pelo solo tchernozion.

3. Formas do relevo 

Entre as diferentes formações ao longo da vasta extensão territorial da Ásia, destacam-se as cadeias montanhosas, no oeste e centro do continente; as planícies, no norte e sul; e os planaltos, principalmente localizados na área central.

Cadeias montanhosas

Há muitas montanhas no continente asiático, como o Cáucaso e os Mon tes Urais, na divisa com o continente europeu, e o Himalaia, ao sul. Em grande parte, as montanhas são parcialmente cobertas de neve, que alimentam os rios asiáticos com o degelo nas elevadas altitudes. 
A maioria das montanhas do continente cor responde a dobramentos modernos e formações geologicamente recentes, resultantes do encontro de placas tectônicas na Era Cenozoica, o mesmo fenômeno que formou as cadeias montanhosas do centro, sul e sudeste da Europa. 
Boa parte do continente asiático se encontra no que se convencionou chamar de Círculo de Fogo do Pacífico, a região da superfície terrestre mais instável geologicamente, condicionada aos movimentos das placas tectônicas, com tremores de terra constantes e inúmeros vulcões ativos.

Himalaia 

Os picos mais elevados da Terra estão na Cordilheira do Himalaia, com des taque para o Everest (na fronteira da China com o Nepal), com 8 848 metros, e o Kanchenjunga (na fronteira do Nepal com a Índia), com 8 586 metros de altitude. Esses picos são atração turística e recebem montanhistas de todo o mundo, que se deslocam para a região a fim de escalá-los. Países como o Nepal e a China, por exemplo, cobram pedágio de até 10 mil dólares da pessoa que deseja chegar ao cume do Everest. Para viabilizar o plantio em relevo montanhoso, a população da região adota técnicas agrícolas como o terraceamento, que consiste na construção de degraus no terreno inclinado para plantio. O principal cultivo no terraceamento é o arroz, alimento básico da maioria da população asiática.

Planícies

As planícies, que também marcam o relevo da Ásia, foram formadas por processos de sedimentação relativamente recentes. Nelas se concentra a maior parte da população asiática e são realizadas atividades econômicas em grande escala, como a agropecuária. 
No continente, antigas civilizações desenvolveram-se em relevos de planície: a chinesa, na planície do leste do país; a indiana, na Planície Indo-Gangética; e a mesopotâmica, na planície dos rios Tigre e Eufrates. 
As principais planícies da Ásia são:

• Planície da Sibéria, no norte da Rússia; 
• Planície Indo-Gangética (vale dos rios Indo e Ganges), na Índia e no Paquistão; 
• Planície da Mesopotâmia, drenada pelos rios Tigre e Eufrates, no Iraque; 
• Planície Chinesa, drenada pelos rios Yang-tsé-kiang (Azul) e Huang-he (Amarelo), na China; 
• Planície do Rio Bramaputra, na Índia e em Bangladesh; 
• Planície do Rio Mekong, no Vietnã, no Camboja e no Laos.

Planaltos

Os planaltos da Ásia são divididos entre os de altitudes elevadas e os de altitudes mais baixas. Entre os mais elevados estão o Planalto do Tibete (ao norte da Cordilheira do Himalaia) e o Planalto do Pamir (nas fronteiras do Tadjiquistão, Afeganistão e China). 
Esses planaltos são de formação geológica mais recente, pouco des gastados pela erosão dos ventos e das chuvas. 
Os de menor altitude, mais antigos e desgastados pela erosão, são o Planalto da Arábia (Arábia Saudita), o Planalto do Decã (Índia), o Planalto Siberiano (Rússia), o Planalto da Anatólia (Turquia) e o Planalto do Irã (Irã).

O relevo e a atividade sísmica

Na Ásia são encontradas as mais elevadas montanhas e as depressões mais profundas da Terra. Entre Israel e Jordânia, na região do Oriente Médio, situa-se o mar Morto, cujas águas estão a 412 metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo. Na cordilheira do Himalaia localiza-se o ponto culminante do relevo terrestre, o monte Everest, com 8.848 metros de altitude, na fronteira entre o Nepal e a China. Essa cordilheira é uma cadeia montanhosa de formação recente na história geológica da Terra (começou a se formar há cerca de 70 milhões de anos, enquanto a história do planeta iniciou-se há cerca de 4,6 bilhões de anos). A cordilheira do Himalaia descreve um arco de 2.800 quilômetros de extensão, constituindo uma “muralha” entre a China e a porção meridional do continente. Muitos dos picos mais altos da Terra estão localizados no Himalaia, como o K2, o Nanda-Devi, o Kanchenjunga e outros, além do Everest. Dezenas de outros picos, mais de 70, ultrapassam a altitude de 7.300 metros.
Diversos países do continente asiático estão sujeitos à instabilidade geológica. As zonas de instabilidade estão concentradas no sul e no leste do continente, próximo às regiões montanhosas e no litoral. Essa instabilidade, responsável pela ocorrência de terremotos, vulcanismo e maremotos, deve-se à colisão das placas tectônicas no continente ou no oceano. Em dezembro de 2004, um abalo sísmico de magnitude 9,15 na escala Richter (o segundo maior da História), originado no fundo do oceano Índico, provocou um tsunami (onda gigante) que causou a morte de aproximadamente 250 mil pessoas e deixou cerca de 1,8 milhão de desabrigados, a maior parte deles na Índia e no Sri Lanka. O fenômeno ocorreu em razão do choque das placas indo-australiana e euro-asiática. Nesse choque entre as duas placas, uma delas é projetada para o alto e desloca a massa de água do oceano que está sobre ela, formando as ondas gigantescas.

Entre esses planaltos e as cadeias montanhosas, situam-se extensas planícies aluviais, formadas pela acumulação de sedimentos transportados pelos rios. A planície da Sibéria, na Rússia, entre os Montes Urais e o planalto Central Siberiano, é a mais extensa do continente (7 milhões de quilômetros quadrados). No norte da Índia, ao sul do Himalaia, localiza-se a planície Indo-Gangética, que é atravessada pelos rios Indo e Ganges e tem grande importância econômica. Essa planície originou-se da acumulação de sedimentos provenientes da erosão das montanhas, trabalho realizado pelas águas que vertem para os rios Indo, Ganges e Brahmaputra. Os deltas e os vales desses rios são muito importantes para a atividade agrícola, pois são muito férteis. No leste da Ásia, destacam-se a planície Chinesa e a da Manchúria. Em parte da planície Chinesa, aparece o solo loess, de grande fertilidade, o que permite desenvolver atividade agrícola em larga escala, onde são cultivados o trigo, a soja, o milho e a batata. Excetuando-se a planície da Sibéria, todas as demais do continente concentram bastante população em função da grande fertilidade dos solos. No sudeste da Ásia, localiza-se a planície da Indochina, que também apresenta grande importância econômica em razão da fertilidade de seus solos. Entre os rios Tigre e Eufrates, em território iraquiano, localiza-se a planície da Mesopotâmia, que constitui parte da região denominada Crescente Fértil, onde se desenvolve intensa atividade agrícola. Acredita-se que foi nessa região que pela primeira vez se estruturou a prática da agricultura, há aproximadamente 10 mil anos. Outra unidade de relevo presente no continente asiático são as depressões. Além da maior depressão absoluta do mundo, o mar Morto, várias outras estão espalhadas ao redor de outros mares e lagos asiáticos, como o mar Cáspio, ao norte do Irã, e o mar de Aral, entre o Usbequistão e o Casaquistão.

4. A hidrografia

Em geral, o território asiático é rico em recursos hídricos. Comparativamente aos demais continentes, a Ásia conta com o segundo maior volume de água doce do planeta. Isso se explica, em parte, por sua grande extensão territorial, pela presença de climas úmidos e pelo grande abastecimento de água proveniente do derretimento de gelo das montanhas. 
No entanto, é importante lembrar que todo o volume de água doce do continente precisa abastecer mais de 60% da população mundial, e a distribuição do recurso não é uniforme. Existem áreas com grande escassez de água na Ásia, como as extensas regiões desérticas do Oriente Médio (Deserto da Arábia e Deserto do Irã) e da China (Deserto de Gobi). Em outros casos, como na Planície da Sibéria, os rios congelam no inverno.
Um estudo desenvolvido pelo World Resources Institute aponta que, entre os dez países com as menores cotas de água por habitante, oito estão na Ásia (Kuwait, Emira dos Árabes, Catar, Arábia Saudita, Jordânia, Barein, Iêmen e Israel).

Rios 

Os rios do continente asiático têm suas vertentes nos oceanos Pacífico, Índico e Glacial Ártico. Ao longo de seus vales, os rios possibilitaram a concen tração de numerosas populações em suas proximidades.

Recursos hídricos

Apesar de haver rios e lagos de grande dimensão no continente, a escassez de água doce já é um problema para alguns países e deverá se ampliar no futuro. A Ásia abriga cerca de 60% da população mundial e apenas 36% dos recursos hídricos. 
O crescimento industrial tem aumentado o consumo e, ao mesmo tempo, a poluição das águas. Além disso, a necessidade de ampliação de áreas irrigadas para agricultura e pecuária deverá comprometer outras fontes de abastecimento. O sul da Ásia concentra o maior despejo de água de esgoto não tratada do mundo. A cordilheira do Himalaia e o planalto do Tibete são os dois grandes dispersores de águas da Ásia. A maioria dos rios asiáticos nasce na parte central do continente. 
Os rios asiáticos, de modo geral, têm regime misto: são alimentados pelas águas provenientes tanto do derretimento das neves (nival) como das chuvas (pluvial), especialmente as de verão no sul e sudeste asiáticos, onde ocorrem as monções de verão, proporcionando elevados índices pluviométricos. Como vimos, muitas áreas densamente povoadas do continente encontram- -se nos vales e nas desembocaduras dos rios de maior extensão, como o Ganges, o Indo, o Yang-tse (rio Azul), o Huang-Ho (rio Amarelo) e o Mekong. 
O rio Ganges nasce no Himalaia e deságua no golfo de Bengala, onde forma o maior delta do mundo. Ele apresenta grande importância econômica, pois, na época das cheias, suas águas fertilizam as terras por onde passam. Além disso, é bastante conhecido pelo seu significado religioso. Os praticantes do hinduísmo, por exemplo, banham-se em suas águas em busca de purificação. O Ganges e seus afluentes formam uma bacia hidrográfica com aproximadamente 1 milhão de quilômetros quadrados, a mais povoada do globo, com densidade demográfica de cerca de 400 hab./km2 . 
O rio Indo nasce no planalto do Tibete e deságua no mar Arábico. Com a construção de uma rede de canais, as áreas secas atravessadas por seu curso médio foram transformadas em regiões agrícolas.
Dois importantes rios que banham a planície da China são o Yang-tse e o Huang-Ho. Este, com 5.200 quilômetros de extensão, atravessa áreas de solo loess e deságua no mar da China Oriental. O Yang-tse nasce no planalto do Tibete e também deságua no mar da China Oriental. Com 5.500 quilômetros, é o mais extenso rio asiático e nele foi construída a maior hidrelétrica do mundo: Três Gargantas. Na planície da Indochina, o principal rio é o Mekong, com 4.180 quilômetros de extensão. Ele nasce na China, na região do Tibete, corta a península de norte a sul e deságua no mar da China Meridional. Em suas margens cultiva-se principalmente arroz. No norte da Ásia, os rios mais importantes são os que atravessam a planície da Sibéria. Entre eles se destacam o Ienissei e o Ob. Esses rios, que têm as águas congeladas no inverno, causam grandes inundações na época do degelo. 
Na parte ocidental da Ásia, correm os rios Tigre e Eufrates, que cortam a planície da Mesopotâmia, no Iraque. No continente asiático, observa-se também um grande número de lagos e mares interiores. Entre eles se destacam o mar Cáspio, entre o Irã, o Turcomenistão, o Casaquistão, a Rússia e o Azerbaijão; o mar de Aral, entre o Casaquistão e o Usbequistão; o lago Baikal, na Rússia; e o lago Balkash, no Casaquistão. 
No fim da década de 1960, os técnicos da ex-URSS decidiram utilizar as águas dos rios Sirdaria e Amudaria e do mar de Aral para irrigar as plantações de algodão, vegetais oleaginosos, frutas e outras culturas, nas áreas secas do Casaquistão e do Usbequistão. 
O desastre ambiental decorrente desse projeto foi alarmante e amplamente divulgado nos anos 1990, depois do fim da URSS. Em 2001, com ajuda financeira do Banco Mundial, foi implantado um programa de recuperação do mar de Aral (em sua porção norte) que vem apresentando resultados positivos.

Agora, conheça as características dos principais rios do continente. 

• Rios Tigre e Eufrates: banham a Planície da Mesopotâmia e deságuam no Golfo Pérsico. Propiciam a fertilidade do solo em uma região em que predomina o clima desértico, característica que tor nou a ocupa ção da região de confluência desses rios local de estabelecimento de povos e civilizações desde a Antiguidade. O controle das águas desses rios é uma questão conflituosa entre a Síria, a Turquia e o Iraque.

• Rios Indo e Ganges: o Indo drena a Índia e o Paquistão; já o Ganges drena a Índia e Bangladesh. No vale desses rios está uma das maiores concentrações populacionais do mundo. De acordo com a religião que predomina na Índia – o hinduísmo –, lavar--se no Ganges é um ato sagrado; por isso, mais de 1 milhão de pessoas se banham nesse rio diariamente. O Ganges também é de grande importância econômica para os indianos: além da margem fértil para a agricultura, suas águas são usadas para consumo, irrigação agrícola e como via de transporte. Tanto o Indo quanto o Ganges são extremamente poluídos, e o governo tem investido altos recursos para torná-los mais limpos.

• Rio Mekong: atravessa Vietnã, Camboja e Laos. Em suas margens é cultivado principalmente o arroz, produto de grande consumo nesses países. As capi tais Vientiane (Laos) e Phnom Penh (Camboja) se situam nas margens desse importante rio, cuja foz, no Vietnã, desá gua no Oceano Pacífico.

• Rio Bramaputra: nasce no Himalaia, banha o sul do continente, atravessa Índia e Bangladesh e deságua no Rio Ganges (a confluência dos dois rios forma um grande delta na Baía de Bengala). Suas margens têm elevada concentração populacional, um dos fatores que implicam maior exposição dos solos aos processos erosivos. A região do delta é sujeita tanto a cons tantes inundações, causadas pelo transbordamento dos rios, quanto a ciclones nas áreas da costa.

• Rios Yang-tsé-kiang (Azul) e Huang-he (Amarelo): localizados na China, seus vales têm grande produção agrícola e áreas muito populosas. A Usina Hidrelétrica de Três Gargantas, no Rio Yang-tsé-kiang, a maior do mundo, foi construída para gerar energia para a numerosa população chinesa e para o setor industrial do país. A obra pro vocou impactos ambientais e sociais enormes. A barragem dessa usina inundou 13 cidades, 4 500 aldeias e 162 sítios arqueológicos, e obrigou o deslocamento de mais de 1 milhão de pessoas.

• Rio Jordão: em algumas regiões da Ásia existem sérios conflitos armados em razão da disputa pela posse e con trole da água, como na Bacia do Rio Jordão – entre Israel, Síria e Jordânia – e na Bacia do Rio Eufrates – que atra vessa Turquia, Síria e Iraque. No caso do Rio Jordão – cujos lençóis freáticos estão na Cisjordânia –, israelenses e palestinos lideram as disputas. Atual mente, os poços são controlados por militares israelenses. Por sua vez, eles também se confrontam com a Síria e a Jordânia pelo controle do vale do rio, que é a principal fonte de água da região. A situação do rio é bastante comprometida, especialmente devido à poluição e a seu uso para mineração e irrigação. Apenas um terço do volume original dele chega ao Mar Morto.

Mares e lagos 

Na fronteira da Ásia com a Europa está localizado o maior lago do mundo, o Mar Cáspio, com 371 mil km². Do leito do Mar Cáspio é extraída grande quantidade de petróleo e gás natural pelos países banhados por ele, o que dá à região uma importância estratégica mundial.
O Mar Morto, situado entre a Jordânia e Israel, é o ponto mais baixo do relevo terrestre e destaca-se pelo mais alto índice de salinidade. Seu volume vem diminuindo drasticamente desde o século XX.
Na região da Ásia Central, o Mar de Aral, localizado na fronteira entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, está em processo acelerado de desaparecimento. Esse mar, que já foi o quarto maior lago do mundo em superfície e volume de água, encontra-se hoje intensamente poluído e reduzido a 10% de seu tama nho original.
O Mar de Aral era alimentado pelas águas dos rios Amu Daria e Sir Daria. No entanto, a partir da década de 1980, o governo da antiga União Soviética passou a retirar água em grande quantidade desses rios para irrigar o cultivo de algodão na região. Com menor quantidade de água para alimentá-lo, o Mar de Aral foi, aos poucos, secando. Além do desastre ambiental, a indústria pesqueira que sustentava a eco nomia local foi prejudicada, pois o pouco de água que sobrou no mar recebeu grande quantidade de pesticidas e elevada concentração de sal. Como con sequência do declínio do nível de água do Mar de Aral, a poluição também contaminou os lençóis de águas subterrâneas. 
Atualmente, o governo do Uzbequistão, em parceria com a comunidade internacional, tenta reverter a situação. No entanto, a exploração de petróleo em seu leito seco já teve início, o que parece impedir grandes avanços na tentativa de recuperar o mar. O desaparecimento do Mar de Aral é considerado um dos maiores desas tres ambientais da história da humanidade.

5. O clima e a vegetação

A Ásia tem grande variedade climática e de formações vegetais. O clima muito diversificado se deve principalmente ao fato de o continente ter grande extensão latitudinal, com significativa quantidade de terras localizadas nas zonas climáticas tropical, temperada e glacial. Fatores como relevo, altitude e atuação dos ventos e correntes marítimas também são determinantes na variação climática do continente. Essas características influenciam a formação e o desenvolvimento de diversos tipos de vegetação.

A Ásia é um continente de grandes contrastes climáticos. Nela estão localizadas tanto áreas bastante chuvosas quanto desérticas ou regiões de clima polar e regiões de clima tropical.
Para compreender os vários tipos de clima do continente, devem-se considerar os seguintes fatores:

• latitude, uma vez que as terras asiáticas estendem-se desde a linha do equador (baixa latitude) até a região polar Ártica (alta latitude);

• grande extensão territorial, que permite a atuação dominante de massas de ar continentais (secas) em seu interior e proporciona a maior influência da continentalidade, tornando os invernos mais rigorosos no interior da Ásia;

• altitude, pois é o continente que apresenta as altitudes médias mais elevadas (sem considerarmos a Antártida);

• formas de relevo, cujas montanhas muitas vezes formam barreiras que impedem a passagem das massas de ar úmido;

• ventos monçônicos na porção meridional do continente, que sopram ora do continente para o oceano (secos), ora do oceano para o continente (úmidos). De acordo com a influência desses fatores, a Ásia apresenta diversos tipos climáticos. Próximo ao oceano Glacial Ártico (altas latitudes) e nos planaltos e nas montanhas (altitudes elevadas) predomina o clima Frio.

No norte da Ásia, o clima Frio, subdividido em frio ártico (polar) e frio continental, apresenta temperaturas acima de 10 °C apenas durante cerca de quatro meses do ano. Nos outros meses, as temperaturas são bem inferiores. A cidade de Verkhoianski, na Sibéria, por exemplo, registrou as temperaturas mais frias do globo, próximas dos 70 graus abaixo de zero. As vegetações correspondentes a esse tipo de clima são a Tundra (frio ártico) e a Floresta de Taiga ou de Coníferas (frio continental), cuja espécie predominante é o pinheiro, que se desenvolve até mesmo nos solos mais secos.
Na Mongólia, na China e no Oriente Médio, existem extensas áreas de clima Desértico. Os desertos do Oriente Médio são quentes, como ocorre nos desertos da Arábia e do Irã. Os desertos da parte central são frios. É o caso do deserto de Gobi, na Mongólia e na China, e do Takla Makan, na China. Em razão da aridez desse clima, nessas porções ocorrem as vegetações de estepes e desértica. Nos desertos, em terrenos onde há alguma umidade em virtude da pequena profundidade de um lençol de água, formam-se os oásis, com diversas espécies vegetais, entre as quais se sobressai a tamareira. No sul e no sudeste da Ásia, ocorre o clima de Monções, que é influenciado pelos ventos monçônicos. A principal característica do clima de Monções (Tropical) é a variação das precipitações pluviométricas, marcando duas estações, uma seca (inverno) e outra chuvosa (verão), considerando a dinâmica das estações no hemisfério norte.
No verão, os ventos monçônicos sopram do oceano para o continente, carregando grande umidade, o que ocasiona chuvas prolongadas, indispensáveis para a irrigação da cultura do arroz e de outros produtos. Nesse período, ocorrem fortes enchentes nas planícies litorâneas do Índico e em parte do Pacífico. No inverno, os ventos monçônicos sopram do continente para o oceano. Nesse período, as temperaturas no interior do continente são mais baixas do que as do oceano, o que provoca correntes de ventos continentais secos e frios. O clima Equatorial aparece em quase todas as ilhas que compõem a Indonésia, no extremo sudeste do continente. Em razão da umidade e das altas temperaturas, a vegetação, em alguns trechos das regiões abrangidas pelos climas de monções e equatorial, é formada pelas Florestas Tropical e Equatorial.

Clima e formações vegetais 

No norte da Rússia (porção norte da Sibéria e do Extremo Oriente), em regiões localizadas na área do Círculo Polar Ártico, ocorre o clima polar. Com baixas temperaturas durante o ano todo, o solo é predominantemente congelado. Quando a camada de gelo derrete nos dias de verão, forma-se a tundra, vege tação rasteira, composta basicamente de musgos e liquens.
Em grande parte do norte da Ásia, ao sul da região ártica, predomina o clima frio. Nessa região se desenvolve a taiga, floresta composta de árvores de grande porte, com ramos curtos e folhas pequenas, cuja principal espécie é o pinheiro.
Nas áreas de clima temperado e subtropical, encontram-se as florestas temperadas, dominadas por bétulas, álamos e carvalhos. Essa formação vegetal, composta de árvores de grande porte que perdem as folhas durante o outono e o inverno (decíduas), ocorre principalmente no Japão e litoral leste da China. Nas áreas continen tais centrais, onde o clima semiárido também está presente, há as estepes, com vegetação rasteira.
Na China e no Oriente Médio existem extensas áreas de clima desértico. Na China, a aridez da porção oeste do território deve-se à presença da cadeia do Himalaia, a qual funciona como uma bar reira natural que impede a entrada de ventos e massas de ar úmido provenientes do Oceano Índico. O Deserto de Gobi (sul da Mongólia e norte da China) e o Deserto de Takla Makan (China) são caracteri zados pela vegetação conhecida como deserto frio.
Já no Oriente Médio, os desertos são prolongamentos do Deserto do Saara (África). A vegetação dos desertos da Arábia e do Irã é conhecida como deserto quente, dominada por espécies rasteiras e xerófitas. 
Nas áreas caracterizadas pela grande altitude, como o norte da Índia e o sul da China, ocorrem o clima frio de montanha e a vege tação montanhosa. 
No extremo oeste, na região próxima aos mares Negro e Medi terrâneo, ocorrem o clima mediterrâneo e a vegetação mediterrânea.
Nas áreas de clima tropical e equatorial, no sudeste e sul do continente, for mam-se as florestas tropicais. Densas, heterogêneas e latifoliadas, essas flores tas se estendem do sul da Índia até os arquipélagos das Filipinas e da Indonésia. No sul e sudeste da Ásia, o clima tropical é influenciado pelos ventos de monções, cuja principal característica é a mudança de sentido ao longo do ano, influenciando a umidade da região. 
No inverno, os ventos partem do continente (alta pressão) em direção ao Oceano Índico (baixa pressão). Nesse período, os ventos continentais são frios e secos, o que provoca índices pluviométricos menores no continente. 
No verão, os ventos partem do Oceano Índico (alta pressão) carregados de umidade, seguindo em direção ao sul e sudeste da Ásia (baixa pressão). Isso causa grandes quantidades de chuvas prolongadas no continente, provocando muitas enchentes. O vento de monções é fundamental para o desempenho agrí cola na Índia, que depende da alternância da estação chuvosa; no entanto, as chuvas torrenciais podem afetar drasticamente o cultivo de arroz, realizado nas grandes planícies dos rios da região.


6. Problemas ambientais

O crescimento econômico da Ásia — em especial da China, da Índia e de alguns países do Sudeste Asiático — tem colocado o continente no centro do debate ambiental internacional. O recente desenvolvimento econômico exigiu maior consumo de energia, maior queima de combustíveis fósseis para a produção industrial, e elevação do consumo de água, sobretudo para irrigação de lavouras. No mesmo compasso, milhões de pessoas passaram a se alimentar melhor e ingressaram na sociedade de consumo com a elevação do padrão de vida. Isso foi acompanhado por uma intensificação da ocupação e do uso da terra e, em particular, do solo em diferentes regiões do continente asiático, com diversas consequências ambientais, como contaminação de cursos d’água e do solo por agrotóxicos, compactação do solo pela utilização de máquinas agrícolas, redução da cobertura vegetal e poluição marinha e do ar.

A poluição não está associada somente ao crescimento econômico. Diversas localidades degradadas do continente são produto da pobreza, da ausência de investimento em saneamento básico e da intensa utilização de lenha como combustível doméstico, por exemplo. Atualmente, entre as cidades mais poluídas no mundo, cerca de metade está no continente asiático.
Países como China e Indonésia estão entre os de maior biodiversidade no mundo. São chamados megadiversos, devido ao grande número de espécies de plantas e animais endêmicos. No entanto, ao longo das últimas décadas, o desmatamento tem modificado a paisagem natural asiática. Como em outros continentes, a vegetação original tem sido retirada para dar lugar à criação de animais e ao cultivo. 
O aumento populacional acelerado no continente a partir da segunda metade do século XX não deixa de ser um fator determinante na ocupação das áreas de vegetação nativa, com a expansão urbana. As florestas tropicais foram bastante devastadas pela ação antrópica. Com a grande demanda de madeiras nobres pelos países desenvolvidos, as florestas da Malásia e da Indonésia estão próximas da exaustão. No caso desta última, matas são retiradas para o cultivo da palmeira de dendê. O biodiesel gerado abastece grandes economias da Europa, como a Alemanha.
No norte do continente, a taiga também vem sendo agredida pela ação humana. Muitas árvores são extraídas para alimentar principalmente as indús trias de papel e celulose. Além da devastação de vegetação nativa, o continente asiático sofre outras formas de degradação ambiental, como a poluição do ar e a deterioração dos rios e mares. A construção da Usina Hidrelétrica de Três Gargantas também causou grande impacto ambiental, pois uma vasta área florestal da China foi inundada.
Na região do Oriente Médio, por exemplo, ocorrem impactos ambientais, sobretudo no Golfo Pérsico, em função de frequentes derrama mentos de petróleo. No que se refere à poluição ambiental, a China é em grande parte respon sável pela liberação de enorme quantidade de poluentes na atmosfera, consequência de seu acelerado crescimento industrial e econômico. Na Índia também há grande poluição ambiental – segundo dados de 2014 da Organização Mun dial da Saúde (OMS), 13 das 20 cidades mais poluídas do mundo são indianas.
Além disso, as condições de pobreza de muitos países asiáticos geram impacto ambien tal, pois a ausência de saneamento básico pro duz esgoto a céu aberto e acúmulo de lixo em rios, lagos e orlas marítimas. 
A população asiática também teme pelos tes tes nucleares realizados pela Coreia do Norte, que contaminam o solo e o mar com radioatividade, ação realizada por outros países do continente no passado, como Índia, China, Paquistão e Rússia.

China: política e desenvolvimento econômico

A China abriga a maior população do mundo. É um país predominantemente rural que se tornou uma das maiores economias mundiais da atualidade ...