O processo de globalização tem se caracterizado pelo aumento crescente das desigualdades no mundo. De acordo com levantamentos da ONU e do Banco Mundial, dos mais de 7,5 bilhões de habitantes do nosso planeta, 1,8 bilhão de pessoas vive atualmente com uma renda inferior a 3,20 dólares por dia, enquanto 677 milhões de pessoas sobrevivem com menos de 1,90 dólar por dia.
Os números da pobreza são ainda mais alarmantes em alguns países da América Latina, da África e da Ásia, nos quais milhões de pessoas são privadas de seus direitos básicos, como o de ter uma alimentação equilibrada, uma moradia adequada, ter acesso aos serviços de saúde e educação etc.
A globalização trouxe benefícios a uns poucos países, principalmente aos mais ricos e desenvolvidos, que se mantêm na dianteira econômica e tecnológica, como Estados Unidos, Alemanha e Japão. Porém, para a grande maioria dos países, sobretudo para os mais pobres, a globalização não trouxe os benefícios econômicos esperados. Em muitos desses países, ao contrário, o padrão de vida e os indi cadores socioeconômicos pioraram muito nas últimas décadas, com o aumento das taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo, a diminuição da expectativa de vida e a queda da renda per capita. Como produto da atual fase do desenvolvimento do capitalismo, a globalização vem acirrando as divergências e ampliando as desigualdades entre os países.
Distribuição da riqueza
Uma das características do mundo globalizado é o aprofundamentodas desigualdades econômicas entre os países. O mundo globalizado é desigual, sobretudo em relação à distribuição da riqueza.
Analisando os dados do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, pode-se observar, de modo
geral, a concentração da riqueza nos países desenvolvidos.
O PIB corresponde à soma de todos os bens e serviços produzidos em um país no período de um ano. A divisão do PIB pela população total resulta no PIB per capita, que mostra a relação entre a quantidade de riqueza que um país produz e a parcela dessa riqueza que caberia a cada habitante, caso ela fosse dividida de forma igualitária.
Países considerados desenvolvidos, em geral, apresentam PIB per capita elevado. Muitos deles foram pioneiros no processo de industrialização e preservaram sua importância na economia global.
Alguns países desenvolvidos constituíram um forte aparato de proteção social, garantindo a seus cidadãos amplo acesso à educação, saúde, moradia e alimentação de qualidade.
Entretanto, a maior parte da população mundial vive em países de renda média ou baixa. Neles, o desenvolvimento econômico não é capaz de produzir ganhos financeiros elevados. Alguns deles, com efeito, apresentam baixo PIB per capita.
Em regiões como a África subsaariana, o Sudeste Asiático e a América Latina, há Estados com pouca capacidade de garantir boas condições de vida à maioria da população. Geram-se, assim, grandes desigualdades internas quanto ao acesso a direitos básicos, com reduzida infraestrutura e serviços precários para a maior parte da sociedade.
Considerando as desigualdades socioeconômicas entre os países, a ONU criou o IDH com o
objetivo de avaliar as condições de vida da população e oferecer dados aos governos e a outras
instituições para que possam planejar ações visando à redução das disparidades.
A comparação dos indicadores que compõem o IDH é uma importante ferramenta para
revelar as desigualdades no mundo globalizado.
No geral, os países desenvolvidos apresentam excelentes indicadores socioeconômicos, como
alta renda per capita, baixíssimos índices de analfabetismo e expectativa de vida elevada.
Já os países emergentes e os países subdesenvolvidos apresentam, em geral, indicadores
socioeconômicos inferiores aos dos países desenvolvidos.
Vale lembrar que as generalizações nos dão apenas uma ideia sobre a situação de um país
ou região. Países como Brasil, México, Índia e China, considerados emergentes, apresentaram
significativas melhorias nas condições de vida da população nas últimas décadas, mas possuem
níveis de desenvolvimento distintos.
Concentração de renda
A concentração de renda é outro indicador importante na avaliação das condições de vida da
população de um país. Ela é determinada pelo Índice de Gini, que combina aspectos econômicos
e sociais, pois mede a distribuição de renda em determinada população. Ele varia de 0 a 100,
sendo mais desigual quanto mais próximo de 100.
A concentração de renda é mais
alta em países subdesenvolvidos e emergentes. O Brasil e a África do Sul, por exemplo, estão
entre os mais desiguais do mundo. Isso não significa que nos outros países a renda seja distribuída
igualmente. Porém, há menores disparidades entre ricos e pobres.
A pobreza no mundo atual
A pobreza envolve um conjunto de
fatores, como renda, condições de alimenta
ção e acesso a serviços de saúde e educação,
condições de habitação e exclusão social.
Assim, ela é multidimensional, ou seja,
abrange vários aspectos.
Para avaliar se uma família se
encontra em situação de pobreza multidimensional, a ONU criou, em parceria com
institutos de pesquisa, o Índice de Pobreza
Multidimensional (IPM), em 2010.
O IPM identifica a sobreposição de pri
vações sofridas pelas famílias por meio da
análise de dez indicadores, incluindo nutrição,
mortalidade infantil, bens domésticos, acesso
a serviços básicos, como saneamento básico
e eletricidade, entre outros.
Ainda que a globalização aumente as disparidades entre os países, os seus efeitos em relação à pobreza variam de uma região para outra.
Ao longo das últimas duas décadas, o contingente de pobres aumentou significativamente em certas regiões do mundo, como na América Latina, na África Subsaariana e no sul da Ásia. Fatores como a estagnação econômica, o endividamento externo, a escassez de investimentos ou, ainda, o desvio dos recursos públicos por governos corruptos ou para a compra de armamentos contribuíram para o aumento da pobreza nessas regiões.
Nesse mesmo período, porém, o número de pobres no leste da Ásia diminuiu consideravelmente. Essa redução da pobreza foi ocasionada por fatores diversos, como o grande investimento em educação, ciência e tecnologia e o crescimento econômico, impulsionado pela liberalização do comércio e pelo aumento dos investimentos estrangeiros nessa região.
Embora a pobreza venha sendo globalmente reduzida nas últimas três décadas, existem
regiões no mundo onde milhares de pessoas ainda vivem com menos de 1,90 dólar por dia.
Vale destacar que a pobreza coloca em risco a segurança alimentar. Em 2021, a fome atingia
1,3 bilhão de pessoas.
A fome está relacionada à falta de acesso a terras produtivas e à baixa renda. As conse
quências são muito graves, principalmente para crianças e jovens, cujo desenvolvimento físico e
intelectual é comprometido pela subnutrição.
De acordo com a ONU, a segurança alimentar deve ser uma das metas prioritárias de
investimento nos países.
A desigualdade econômica interna dos países
Além do aumento das disparidades em nível mundial, com a ampliação da distância entre os países ricos e os pobres, a globalização tem aumentado as desigualdades no interior dos próprios países. Esse fenômeno tornase ainda mais grave nos países subdesenvolvidos, como ocorre, no Brasil, onde o número de excluídos é bastante elevado, com milhões de pessoas vivendo em condições precárias. Todavia, a pobreza também vem aumentando mesmo nos países ricos e desenvolvidos, principalmente em razão do desemprego crescente, da redução dos benefícios assistenciais (cortes nos gastos previdenciários) e da diminuição das verbas destina das às questões sociais (habitação, educação, saúde etc.).
Estimase que, nos países mais ricos do mundo, como os Estados Unidos, 8,7% da população esteja vivendo na pobreza, ainda que em condições de vida melhores se comparadas às dos pobres que vivem em países como Brasil, México ou Índia, e muito melhores em relação à população pobre que vive em países da África, como Níger, Burundi e Chade. Isso ocorre porque a assistência social e os serviços de saúde, por exemplo, são mais acessíveis à população dos países ricos, enquanto essas outras áreas são extremamente deficientes nos países mais pobres.
Saúde e educação
A baixa renda dos países considerados subdesenvolvidos é refletida em muitos indicadores socioeconômicos, como a expectativa de vida. Isso resulta da escassez de investimentos em sistemas públicos de saúde, saneamento básico e campanhas de vacinação, o que aumenta o risco da proliferação de doenças, reduzindo a esperança de vida ao nascer. Além disso, nesses países, muitas pessoas não conseguem ter uma alimentação saudável por falta de recursos financeiros.
Países com grande desigualdade social ou com rendas mais baixas costumeiramente apresentam problemas de acesso à educação. Muitas vezes, a educação básica não é gratuita e há casos em que as crianças precisam se deslocar por longas distâncias até a escola. Os rendimentos insuficientes das famílias são outro fator que afeta negativamente a educação, pois levam as crianças a trabalhar para contribuir com o sustento familiar.
O acesso de meninas à educação é particularmente afetado em regiões onde tradições e leis desestimulam as mulheres a avançar em sua formação acadêmica. Em certos casos, a segurança das meninas é colocada em risco caso elas decidam estudar.
Pesquisa e desenvolvimento
Na atualidade, um dos principais fatores que diferenciam o desempenho econômico entre os países é a criação e o domínio de tecnologias avançadas.
Produtos de alta tecnologia têm alto valor agregado, isto é, são mais valiosos do que produtos menos elaborados, como as matérias-primas e produtos primários em geral.
Os líderes globais em desenvolvimento tecnológico investem grandes somas em pesquisa e desenvolvimento, estimulando a inovação e aumentando seu grau de competitividade na economia global. Esses investimentos podem ser públicos, ou seja, realizados pelo Estado, ou privados, feitos por empresas.
À medida que os países desenvolvidos criam novas tecnologias, a distância entre os países produtores e os países consumidores desses bens aumenta e cria-se uma relação de dependência entre eles.
Alguns países, como a China, combinam altos investimentos em pesquisa e tecnologia com forte capacidade de produção industrial. Assim, rendimentos financeiros elevados são obtidos em suas exportações.
Acesso à internet
Nos países mais pobres, o acesso à internet e às novas tecnologias restringe-se a uma pequena parcela da população. Neles não há infraestrutura básica e, como resultado, parte da população sofre com a chamada exclusão digital.
Sem internet, os excluídos digitais têm o acesso à informação e à comunicação limitados, o que traz impactos negativos para seu desenvolvimento pessoal, acadêmico e profissional.
Globalização, trabalho e desemprego
Se, por um lado, os avanços tecnológicos foram essenciais para impulsionar o atual processo de globalização; por outro, as novas tecnologias tiveram um impacto direto sobre o emprego. A onda de inovações, apoiada nas tecnologias da informação, da microeletrônica e da robótica, sobretudo a partir da década de 1970, foi cada vez mais incorporada ao processo produtivo, principalmente nas linhas de produção e montagem das indús trias, eliminando milhares de postos de trabalho, como ocorreu nas indústrias auto mobilísticas, com a substituição dos trabalhadores por máquinas.
Nas últimas décadas, as novas tecnologias da informação também alcançaram outros setores de atividades econômicas, sobretudo o de serviços, promovendo a infor matização em bancos, escritórios, companhias telefônicas, empresas de transporte, redes de supermercados, lojas de departamentos etc. A expansão dessas novas tecnologias nos diversos setores da economia faz parte da própria lógica capitalista, na qual as empresas se modernizam para aumentar a produtividade e os lucros, ao mesmo tempo que buscam reduzir os custos da pro dução, como mão de obra (gastos com salários, encargos trabalhistas e benefícios sociais), energia, transporte, entre outros.
A tecnologia e o desemprego Uma das consequências da expansão de novas tecnologias nos diversos setores da economia é que muitos postos de trabalho acabam sendo fechados, agravando a ten dência de aumento da taxa de desemprego entre a população economicamente ativa (PEA). A PEA compreende o conjunto de pessoas que desenvolve alguma atividade econômica, recebendo uma remuneração (salário) pelo trabalho realizado. Compre ende também os trabalhadores que se encontram temporariamente desempregados. A tabela a seguir apresenta as taxas de desemprego de alguns países desenvolvi dos e de alguns subdesenvolvidos.
Nos países ricos, o processo de inovação tecnológica é rápido e intenso, e as novas tecnologias reduzem, drastica mente, a utilização da mão de obra. O que essas inovações tecnológicas criam são novos postos de trabalho em áreas de alta tecnologia, como informática, computação e robó tica. Ainda que em menor número, esses postos requisitam mão de obra altamente qualificada. Por meio do autoconhecimento somos capazes de conhecermos nossas capacidades, habilidades, limitações, ou seja, conhecimentos importantes para definirmos nossa vida profissional. No entanto, em geral, a incorporação de novas tecnologias no sistema produtivo tem efeito negativo sobre o número de empregos. Isso acontece porque o aumento do número de desempregados não é compensado pela abertura de novos postos de trabalho em outros setores de atividades, já que a economia não cresce tão rapida mente como seria necessário para absorver a mão de obra disponível.
Nos países pobres, os desempregados também enfrentam mais dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, e, por isso, muitos deles passam a engrossar o contingente de trabalhadores do mercado informal. Inúmeros trabalhadores que ingressam na economia informal são pouco qualificados e mal remunerados. Além disso, não têm vínculo empregatício, ou seja, não têm acesso aos direitos trabalhistas, como, no caso do Brasil, férias remuneradas, 13º salário, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, licença maternidade etc.