Multinacionais
As empresas multinacionais ou transnacionais estão entre os principais agentes do
processo de globalização. A expansão dessas empresas pelo mundo ocorreu principalmente da
segunda metade do século XX em diante, favorecida pela Revolução Técnico-Científica e pela
evolução dos meios de comunicação e de transporte.
As grandes corporações multinacionais são os agentes principais da mundialização do modo capitalista de produção. São essas empresas que impulsionam o intenso fluxo de informações, mercadorias, capitais e pessoas entre os lugares do mundo.
As multinacionais são empresas que, por meio de filiais ou subsidiárias, desenvolvem atividades em muitos países, mas têm uma única matriz, geralmente no país de origem. Essas empresas podem atuar em diferentes setores de atividades econômi cas, como os de serviços (imobiliárias, bancos, seguradoras, redes de televisão, estúdios de cinema etc.), os de agropecuária (fazendas de monoculturas comerciais e de pecuária extensiva moderna), de minerais (mineradoras, prospecção e refino de petróleo), os comerciais (lanchonetes e restaurantes, lojas de depar tamento, hipermercados etc.) e, sobretudo, os industriais (fabricação de bens de produção e de consumo).
É importante sabermos que a maioria das corporações multinacionais é originária de países desenvolvidos e é restrito o número de empresas desse porte que possuem matriz em países subdesenvolvidos.
Até quase a metade do século XX, existia um número restrito de multinacionais no mercado mundial, e a maioria era estadunidense. A partir de então, grandes empresas europeias, japonesas e canadenses, além das estaduniden ses, começaram a transferir parte de suas atividades para outros países, principalmente para aqueles com indústrias menos desenvolvidas.
Desse modo, o processo de produção industrial em larga escala deixou de ser exclusivo dos países mais ricos do Hemisfério Norte, passando a existir tam bém em países com economia voltada, até então, para a produção e exportação de gêneros primários. Isso significa que as empresas multinacionais começaram a se instalar em países subdesenvolvidos que lhes ofereciam mais vantagens econômicas, de modo que obtivessem aumento dos lucros e maior acumulação de capital.
Entre essas vantagens, destacam-se: mão de obra barata, recursos naturais (ma térias-primas) e terras em abundância a baixo custo; legislações trabalhistas e ambientais pouco rígidas no controle das atividades das multinacionais; amplo mercado consumidor para os produtos. Países como a China, o Brasil, a África do Sul, a Argentina, a Índia, o México e a Coreia do Sul são os principais alvos das multinacionais em expansão. Por essa razão, esses países têm passado por um intenso processo de industrialização e, consequentemente, intenso desen volvimento econômico.
Uma marca dessa expansão das multinacionais, sobretudo aquelas ligadas à produção industrial, é a transferência de grande parte de seus parques manufatureiros tradicionais (siderúrgico, petroquímico, têxtil, alimentício etc.) para os países subdesenvolvidos. Já nos países-sede dessas empresas, têm ganhado importância os setores industriais de tecnologia avançada (como os de informática, os de biotecnologia e os aeroespaciais), que exigem intensa aplicação de conhecimento científico e uso de mão de obra altamente qualificada.
Multinacionais e a fragmentação do processo produtivo
No início do processo de expansão das multinacionais, as filiais das indústrias implantadas em países estrangeiros desenvolviam basicamente todas as etapas de produção no mesmo lugar. No entanto, com a globalização, ocorreram
grandes mudanças no processo produtivo, especialmente das multinacionais.
Nas últimas décadas, no entanto, a busca de custos mais baixos e de maior produtividade levou muitas dessas empresas a dividir as fases de produção e a montagem de seus produtos entre suas filiais espalhadas pelo mundo.
A evolução dos meios de transporte e de comunicação favoreceu a busca por menores
custos e maiores lucros, permitindo às empresas fragmentar as etapas de produção e montagem
de seus produtos. Com isso, componentes e partes de um mesmo bem passaram a ser fabricados
em diferentes locais do planeta, seja por filiais, seja por empresas parceiras.
A produção de smartphones, exemplificada anteriormente, é realizada com peças e componentes fabricados em diversos países do mundo.
Essa fragmentação do processo industrial tornou-se possível com o aprimoramento das tecnologias na Terceira Revolução Industrial e a criação dos novos meios de transporte em massa e de comunicação em tempo real.
Dessa forma, não somente os componentes de telefones celulares, mas também os de computadores, automóveis, aviões, aparelhos eletrônicos, roupas e uma infinidade de outras mercadorias podem ser fabricados em unidades de produção de diferentes países. Os materiais são reunidos, então, em um único local para montagem e posterior comercialização do produto.
Essa fragmentação do processo produtivo também está sendo aplicada por multinacionais do segmento de serviços. Como exemplo, podemos citar o caso de companhias aéreas estadunidenses cujos escritórios de reservas de passagens funcionam em outros países, bem como o de empresas japonesas de informática cujos softwares são desenvolvidos por empresas indianas.
Assim, a fragmentação da produção industrial e empresarial leva as multinacionais a conduzir suas estratégias de funcionamento como se não existissem fronteiras entre as nações. Por esse motivo, essas empresas também são denominadas transnacionais.
Multinacionais e o comércio mundial
No final da década de 2010, o comércio internacional, ou seja, as importa ções e as exportações de bens e serviços entre os países, gerou um faturamento anual de quase 40 trilhões de dólares, muito maior do que na década de 1950 – cerca de 126 bilhões de dólares (dados da Organização Mundial do Comércio). As multinacionais foram as principais desencadeadoras desse vertiginoso cres cimento do comércio em âmbito mundial e, atualmente, são responsáveis por cerca de um terço do valor de tudo o que é comercializado entre os países.
As vultosas operações realizadas por essas corporações são possíveis, principalmente, em razão da queda das barreiras fiscais entre nações e da formação de blocos econômicos. Isso significa que o governo de muitas nações vem diminuindo os impostos sobre mercadorias importadas ou exportadas por multinacionais instaladas em seu território. Em alguns casos, essas corporações multinacionais são até mesmo isentas do pagamento desse tipo de imposto, o que viabiliza a livre atuação delas, que po dem, dessa forma, trocar com maior facilidade as mercadorias entre suas filiais e comercializar sua produção em vários mercados consumidores ao mesmo tempo.
Acordos e associações entre empresas
O capitalismo financeiro promoveu a concentração de capital em razão do estabelecimento
de acordos e associações entre empresas, gerando grandes corporações industriais e financeiras,
muitas das quais constituíram trustes, holdings e cartéis.
O truste agrupa empresas que são incorporadas por outra maior. Essas grandes corporações
procuram obter o controle total da produção, desde as fontes de matéria-prima até a distribuição
da mercadoria. Geralmente, o truste é uma empresa que atua em diversos setores da economia,
podendo constituir monopólios – quando uma empresa atua sozinha em determinado setor – ou
oligopólios – quando poucas empresas controlam certo setor.
Quando ocorre o agrupamento de empresas – de um mesmo setor ou não – pode haver
a presença de uma holding, isto é, de uma empresa constituída somente para administrar o
conglomerado e exercer maior poder de influência sobre o mercado, defendendo os interesses
do grupo e gerenciando o fornecimento de matéria-prima, a produção e a comercialização.