quinta-feira, 27 de novembro de 2025

O SISTEMA FINANCEIRO MUNDIAL


O capital financeiro é o principal determinante da lógica econômica do século XXI, em substituição ao capitalismo comercial-industrial. No sistema financeiro, o valor das mercadorias e serviços associa-se à produção, à circulação e ao consumo. Esses elemen tos funcionam como uma grande rede, pois articulam índices de bolsas de valores, cotações do dólar, faturamento de empresas, entre outras informações relacionadas ao capital global.
Desde meados do século XX, as relações no padrão de acumulação de capital alteraram-se, passando do regime de acumulação fordista para o da acumulação flexível, quando as inovações tecnológicas nas áreas informacionais e de transportes potencializaram as relações de produção, circulação e consumo. Essa mudança resultou na diminuição da influência do modelo keynesiano, em que o Estado interfere mais na economia e na garantia das condições de vida, e a adoção do modelo neoliberal, em que o mercado se autorregula.
Para entender o funcionamento do sistema financeiro nos diferentes lugares do mundo, é preciso avaliar:

  • os investimentos de agentes (megainvestidores) que compram e vendem ações;
  • o papel do Estado no aumento ou na diminuição das taxas na instalação de corporações no território nacional ou mesmo nas bolsas de valores; o nível das produções locais e regionais e a especialização produtiva;
  • a reestruturação das relações de trabalho, com a possível precarização dos direitos trabalhistas e regimes de trabalho mais flexíveis;
  • os níveis de consumo, mais diversificados e instantâneos, garantidos pelo sistema informa cional (o pagamento por aplicativos de smartphones, abertura e uso de crédito, débitos automáticos no internet banking, por exemplo).

As bolsas de valores são elementos importantes para o funcionamento do capitalismo finan ceiro. Nelas são negociados contratos baseados nos valores presentes e futuros das ações e realizadas as transações que envolvem grandes quantidades de mercadorias, principalmente relacionadas a commodities. Na circulação financeira é possível aplicar investimentos em qualquer lugar do mundo e as decisões sobre manter ou não investimentos podem ser tomadas de maneira instantânea por meio dos veículos de comunicação e pelo sistema de investimento digital.
As ações representam parte de uma empresa que são negociadas nas bolsas de valores. A quantidade de ações que um sócio detém determina o seu grau de influência nas decisões empresariais.
Analisar a influência financeira dos países possibilita a compreensão da dinâmica do poder econômico global. Crises econômicas locais, como a de 2008, podem rapidamente atingir diversos países do mundo por meio do mercado de ações. A crise do mercado imobiliário nos Estados Unidos nesse período, por exemplo, gerou um pânico financeiro mundial, afetando países como a Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha e Itália, o que colocou em risco a estrutura da moeda única europeia, o euro.

A ATUAÇÃO DAS CORPORAÇÕES INTERNACIONAIS


Ao longo do ano, você estudou aspectos geopolíticos, econômicos e espaciais das atividades produtivas em diferentes lugares e tempos. No contexto do capitalismo financeiro, percebemos que um tipo de instituição permeia todas essas relações: os bancos.
Os bancos são agentes centrais que têm o poder de definir e direcionar o fluxo de capital para determinadas áreas produtivas, tendo em vista que financiam a construção de infraestrutu ras, a exploração e o beneficiamento de fontes de energia, a produção de bens e mercadorias industriais, entre outros. Essas são atividades que necessitam da articulação de complexos sistemas técnicos, envolvendo desde a aplicação de conhecimentos da engenharia até o uso de tecnologias da informação. Desse modo, os bancos têm papel importante na redefinição das funções dos lugares, na localização das unidades produtivas e na escolha dos valores produzidos, seguindo a lógica de maximização das receitas e de contenção de custos de produção.
Os bancos e os sistemas de crédito e cobrança estão cada vez mais presentes na vida das popula ções do mundo todo. Muitas cidades são repletas de agências, seguradoras e empresas de consultoria financeira e de crédito, compondo um complexo fundamental na regulação do sistema financeiro.
A partir de 1990, intensificou--se uma tendência global de fusão de bancos em grupos concentrados. Nos Estados Unidos, o conglome rado de bancos conhecido como Big Four (“Quatro Grandes”) anexou pelo menos 33 outros bancos, tanto estadunidenses como europeus e latino-americanos.
Os bancos costumam ser classificados como “mercados de capitalização”, tendo em vista que podem atuar na multiplicação do preço de títulos bancários no mercado de ações, em razão de sua participa ção na circulação do capital mundial. Dessa maneira, quanto maior for a participação do banco na circulação de capital, maior será o seu mercado de capitalização e, consequente mente, seu poder econômico.

A EXPANSÃO DAS ECONOMIAS EMERGENTES


A descentralização da produção e a expansão econômica dos países emergentes foi estudada pelo banco de desenvolvimento econômico Goldman Sachs, em 2001. A partir do estudo, foram indicados cinco países emergentes com potencial para serem as maiores economias do mundo, junto aos Estados Unidos, nos 50 anos seguintes. Faziam parte dessa estimativa Brasil, Índia, China e Rússia, denominados de BRIC. Em 2011, a África do Sul passou a integrar o grupo de países, formando o que conhecemos por Brics.
É válido ressaltar que não se trata de um bloco econômico e, sim, um grupo de coopera ção mútua para o desenvolvimento dos países em diversas áreas como ciência, tecnologia, saúde, inovação, infraestrutura, entre outras, totalizando 30 áreas de cooperação entre os membros.
Uma das ações desenvolvidas para a cooperação entre os países membros foi o Novo Banco de Desenvolvimento do Brics (NDB), criado em 2014, com sede em Xangai. O banco é uma alternativa aos organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, para a concessão de empréstimos e financiamentos de ações em prol de melhorias e desenvolvimento dos países-membros. Em 2021, o NBD forneceu US$ 153 milhões de dólares para o Brasil aumentar e melhorar a malha rodoviária do Pará e US$ 1 bilhão de dólares para a recuperação econômica da África do Sul, pós-pandemia.
As mudanças técnicas e tecnológicas nos sistemas de informação e a financeirização da economia proporcionaram mudanças nas práticas de consumo. Um exemplo disso é o uso de sites e aplicativos de compras, que utilizam plataformas de e-commerce (comércio eletrônico) para realizar suas vendas aos clientes. De acordo com dados divulgados pelo relatório da Neotrust, que monitora as vendas em sites e aplicativos, o faturamento nessas plataformas aumentou em 27% entre 2019 e 2021.
Cartões de crédito e débito em conta corrente ainda são os líderes entre as formas de paga mento dos brasileiros; porém, em 2021, houve uma pequena queda nos pagamentos com débito em conta corrente em relação a 2020, em função do aumento da escolha pelo Pix.
No e-commerce, o pagamento dos produtos é realizado de maneira automática, por meio de plataformas digitais que se conectam com os sistemas de crédito articulados às contas bancárias e aos cartões de crédito. Não há utilização física de dinheiro, que circula instantaneamente via informação digital da conta bancária do usuário para a empresa que produziu a mercadoria. O banco e as empresas do setor de crédito e cobrança medeiam essa transferência de dinheiro, retendo parte da transação em forma de taxas e juros.
Assim, o consumo no capitalismo financeiro se baseia na fluidez, na facilidade do consumidor em ter acesso à mercadoria de que necessita ou que deseja. Para isso, a otimização do tempo é fundamental.
A cultura de consumo no capitalismo financeiro conduz a transformações nas relações pro dutivas, o que gera uma série de impactos ambientais, sociais e na organização dos espaços.
O consumo exacerbado leva ao aumento do descarte de resíduos e da exploração de recursos naturais, o que gera poluição das águas, do ar e dos solos. Esses impactos atingem mais os países em desenvolvimento, onde os recursos naturais são explorados com maior intensidade e a mão de obra utilizada na produção das mercadorias tende a ser mais precarizada.
O consumismo é alimentado pela força ideológica das propagandas, sobretudo das grandes marcas, norteadoras de padrões, gostos e tendências. As propagandas transmitem valores e emoções associadas aos produtos. Assim, comprar uma mercadoria de uma marca de referência incluiria o sujeito que consome em uma nova posição e um novo status sociais.

A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO


A reestruturação das relações de produção e de circulação da economia no sistema financeiro impactaram fortemente o mundo do trabalho. A passagem do regime de produção fordista para o de acumulação flexível, a partir da década de 1970, promoveu a maximização de receitas e lucros de bancos, associados a ganhos cada vez maiores das empresas responsáveis pela produção de bens de consumo duráveis e não duráveis.
Nesse cenário, houve a intensificação dos regimes de trabalhos terceirizados e precarizados, uma alternativa do capital para a diminuição dos custos de produção com a mão de obra. Esses regimes de trabalho são caracterizados pelo pagamento por horas trabalhadas, a ausência de vínculos trabalhistas e a redução dos salários. Também há flexibilização ou mesmo desestruturação dos direitos trabalhistas, como férias, 13o salário e licença médica.
No entanto, a precarização e a terceirização do trabalho não ocorrem de forma homogênea, tendo em vista que atinge mais intensamente os países em desenvolvimento, que apresentam legislações trabalhistas mais flexíveis e mão de obra mais barata justamente para atrair empresas multinacionais para seus territórios.
A principal linha da produção industrial das megacorporações europeias e estadunidenses, o Sudeste Asiático, concentra as maiores taxas de precariedade das condições de trabalho, pois uma parcela considerável da população trabalhadora exerce sua função recebendo baixos salários e dedicando extensas jornadas em locais muitas vezes desprovidos de infraestrutura de higiene e segurança.
A América Latina também tem sofrido com a precarização do trabalho. De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), entre 2020 e 2021, houve um aumento de 80% no número de trabalhadores informais na região.
A partir de 2020, a pandemia causada pelo coro navírus e a crise econômica e sanitária instensificaram as mudanças do mundo do trabalho. Nesse período, houve um aumento das taxas de desemprego e da precarização do trabalho, tendo em vista que muitas atividades sofreram limitação, como medida de segu rança para conter a propagação do vírus. Com isso, muitos trabalhadores sofreram a perda ou a diminui ção de sua renda durante a pandemia.
Além disso, ocorreram mudanças nas rotinas de trabalho, que passaram a ocorrer de forma remota ou híbrida em muitas profissões. Esses trabalhos exigem o acesso à internet e às tecnologias digitais, o que ainda não é uma realidade para muitos grupos sociais. Diante desse cenário, pode-se afirmar que as desigualdades no mercado de trabalho se intensifica ram durante a pandemia.



Usinas termelétricas

Nas usinas termelétricas, o combustível – carvão mineral, óleo combustível (derivado de petróleo), gás natural, bagaço de cana-de-açúcar ou outro – é queimado para aquecer a água de uma caldeira até produzir vapor. A pressão exercida pelo vapor movimenta a turbina, que aciona o gerador e produz energia elétrica.
As usinas termelétricas se diferenciam umas das outras principalmente pela fonte de energia primária utilizada para aquecer a água: pode ser renovável ou não renovável; poluir muito ou pouco o ar; estar próxima ou distante; entre outras características.
Algumas usinas utilizam combustíveis fósseis, como carvão mineral ou óleo combustível, que são bastante poluentes. Outras utilizam lenha, que pode ser extraída de florestas plantadas especialmente para isso ou de florestas naturais – o que também impacta o ambiente.
Quando o combustível utilizado é pouco poluente e está disponível nas proximidades da usina, seu impacto ambiental é pequeno e o custo de produ ção de energia é baixo. No Brasil, por exemplo, muitas usinas de açúcar e ál cool geram sua própria energia em termelétricas queimando o bagaço que sobra da extração do caldo da cana-de-açúcar. Com a utilização de filtros mais eficientes, poluem menos. Além disso, vem crescendo o número de termelé tricas movidas a gás natural, que, embora seja um combustível fóssil, tem uma queima mais eficiente e quase não lança poluentes na atmosfera.
Uma grande vantagem das usinas termelétricas, assim como das nucleares, é a possibilidade de se localizarem próximo aos centros consumidores. Com isso, a distância de transmissão da eletricidade é curta e, consequentemente, os custos de produção são mais baixos. Contudo, se as fontes de combustível estiverem afastadas da instalação da usina, haverá gastos para transportá-lo.

Geração de energia elétrica

As sociedades humanas utilizam a eletricidade de diversas formas. A energia elétrica ilumina, aquece ou resfria ambientes e movimenta os mais variados motores, máquinas e aparelhos. Está presente na vida doméstica, na produção industrial, na irrigação de plantações, nos serviços, nas telecomunicações, nos transportes ferroviários e em muitas outras atividades humanas. No entanto, é importante destacar que, embora a energia elétrica seja imprescindível para as sociedades modernas, milhões de pessoas nos países em desenvolvimento ainda vivem sem ela.
A produção de eletricidade no mundo é muito concentrada em poucos países. Ao observar o grá fico ao lado, que mostra os principais produtores de eletricidade, é possível perceber que apenas dez países são responsáveis por 68,6% da produção mundial de energia elétrica. A energia elétrica pode ser obtida em usinas hi drelétricas, termelétricas, nucleares – como veremos neste capítulo – e de fontes consideradas alternati vas por serem mais limpas, como a eólica e a solar.

Usinas hidrelétricas


Segundo a Agência Internacional de Energia, nas últimas três décadas a pro dução de hidreletricidade aumentou de forma significativa em duas regiões do mundo: na Ásia, graças à ampliação na China para sustentar seu rápido crescimen to econômico, e na América Latina, por causa do crescimento da produção brasileira. O Brasil é um país bastante favorecido pelas condições geográficas para a geração de hidreletricidade, o que se deve a dois fatores principais: a grande quantidade de rios com muito volume de água e os extensos trechos correndo em planaltos.
Segundo o Ministério das Minas e Energia, em julho de 2018 as usinas hidrelétricas eram responsáveis por 63,6% da energia elétrica produzida no país, embora utilizemos apenas cerca de 38% do potencial total disponível nas bacias hidrográficas. Ou seja, ainda há um potencial a ser explorado à medida que o desenvolvimento econômico exigir mais oferta de energia.
Nas usinas hidrelétricas, a força da água movimenta as turbinas, que, por sua vez, acionam os geradores de energia. Para que a água passe com mais potência pelas turbinas, deve haver uma represa em uma área mais alta, com o objetivo de criar uma queda-d’água artificial. Uma barragem de concreto controla a passagem da água. Quanto mais alta for a queda e maior o volume de água armazenado, maiores as turbinas podem ser e, portanto, mais elevada será a produção de energia.
A água represada flui por grandes dutos até uma turbina, localizada na casa de força. A turbina gira e, como está ligada a um gerador, produz uma corren te elétrica. A eletricidade produzida é levada para a subestação elevadora, que a transforma em alta-tensão (corrente elétrica com tensão superior a 1 000 volts), para que seja levada por linhas de transmissão até os centros consumi dores. Quando chega a seu destino, a eletricidade é baixada para voltagens utilizadas em residências, escritórios, indústrias, etc. (110 V e 220 V).
A maior hidrelétrica em operação no mundo é a de Três Gargantas, construída no rio Yang-tse, na China. Ela dispõe de 32 turbinas de 700 MW, o que garante uma capacidade instalada de 22 400 MW. A segunda maior hidrelétrica do mundo é a de Itaipu, construída no rio Paraná, na fronteira do Brasil com o Paraguai. Essa usina, uma sociedade entre esses dois países, opera com 20 turbinas de 700 MW, capazes de produzir 14 mil MW.
A China é o maior produtor de hidreletricidade do mundo, com 28,4% do total mundial; o Brasil é o terceiro produtor, com 9% do total mundial. As taxas mais baixas de aproveitamento desse potencial estão nos países em desenvolvimento e com parque industrial pouco consolidado na África, na Ásia e na América Latina.
Desde a década de 1980, a construção de usinas hidrelétricas de grande porte vem sendo questionada por diversos grupos em defesa do meio ambiente. Isso porque os impactos ambientais decorrentes da construção de represas merecem destaque: vastas áreas de vegetação são inundadas, o ecossistema é completamente alterado, assim como a dinâmica de erosão e sedimentação.
Além disso, os moradores das áreas atingidas são obrigados a se deslocar. Apesar desses aspectos negativos, a hidreletricidade é uma forma de obtenção de energia limpa – não provoca poluição atmosférica nem emite gases responsáveis pela intensificação do efeito estufa, exceto quando há decomposição da vegetação da área inundada e consequente emissão de gás metano – e renovável – porque usa água.
Uma alternativa às grandes usinas hidrelétricas é a construção de pequenas centrais hidrelétricas, usinas com capacidade instalada entre 3 MW e 30 MW, que inundam uma área menor (menos que 3 km²) e cujos gastos com a transmissão da energia gerada são menores porque podem ser construídas mais próximas do mercado consumidor. Em geral são usinas fio d’água e, por isso, podem ficar sem funcionar em períodos de maior estiagem.
Atualmente, também há usinas fio d’água de grande porte, nesse tipo de usina não é necessário que haja reservatório muito grande, por isso não provoca grandes inundações, apenas o suficiente para garantir a regularização diária ou semanal do fluxo de água, causando menos impactos ambientais. As grandes usinas fio d’água são mais apropriadas para regiões de muita chuva, como a Amazônia. No entanto, até mesmo lá, nos meses de estiagem muito prolongada, há o risco de faltar água para seu funcionamento.
Belo Monte, construída no rio Xingu e inaugurada em 2016, é um exemplo de usina fio d’água de grande porte. Sua barragem alagou 512 km², dos quais 228 km² correspondem ao próprio leito do rio Xingu, para uma capacidade instalada final de 11 000 MW. Já a usina de Tucuruí, no rio Tocantins, um projeto mais antigo, inaugurada em 1984, alagou uma área de 2 850 km² para uma capacidade instalada de 8 370 MW. Apesar de ter uma barragem bem menor, isso não quer dizer que sua construção não tenha causado nenhum impacto socioambiental.


Produção de combustíveis fósseis

Energia vem do grego enérgeia e significa ‘trabalho’, portanto, é a capacidade de um corpo ou sistema produzir trabalho ou realizar uma ação, como movimentar ou transformar algo. Por exemplo, um motor que movimenta um automóvel só o faz porque consome energia, seja gasolina, seja óleo diesel ou eletricidade de uma bateria; um aparelho doméstico pode transformar energia elétrica em calor (forno), em frio (ar-condicionado), em movimento (ventilador), em luz (lâmpada), etc. Para obter energia, são usados diferentes tipos de recurso natural, que po dem ser renováveis ou não renováveis.
A energia renovável, como o nome indica, é obtida pela transformação de recursos que se renovam na natureza, como a radiação solar, os ventos e as águas, ou que podem ser cultivados, como os vegetais, por exemplo, a cana-de-açúcar e o milho, chamados biocombustíveis.
Já a energia não renovável é obtida de recursos que se formaram na natureza ao longo de milhões de anos, em camadas profundas do subsolo e que tendem a se esgotar. São os combustíveis fósseis, como o petróleo, o carvão mineral e o gás natural; e o urânio, que é um minério radioativo.

Consumo mundial de energia


O elevado consumo de petróleo e de carvão mineral provoca sérios danos ao meio ambiente. A queima desses combustíveis emite enormes quantidades de gases po luentes na atmosfera, como o dióxido de carbono (CO2 ), também conhecido como gás carbônico, principal responsável pela intensificação do efeito estufa.

Produção de petróleo no mundo


O petróleo começou a ser explorado comercialmente nos Estados Unidos no final do século XIX, e inicialmente era usado em lampiões. A grande expansão de sua produ ção se deu a partir do desenvolvimento da indústria auto mobilística no início do século XX, quando seus derivados passaram a ser utilizados em motores a combustão interna para mover veículos terrestres, como é o caso da gasolina e do diesel, e mais tarde para mover veículos aéreos, como é o caso do querosene de aviação. Esse recurso natural também é utilizado como matéria-prima na fabricação de diversos produtos: plásticos, bor rachas sintéticas, tintas, vernizes, adubos químicos, inseti cidas, cosméticos, remédios e muitos outros.
O petróleo motivou grandes mudanças geopolíticas e socioeconômicas no mundo, pois ele é indispensável para o funcionamento da economia de todos os países. Além de ser a fonte de energia mais usada no planeta e importante matéria-prima, é um recurso não renovável e de alto valor econômico.
Um dos atores importantes no mercado internacional de petróleo é a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Essa organização é um cartel de importantes produtores de petróleo do Oriente Médio, da África e da América do Sul. Foi constituída em 1960 por Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait e Venezuela, com o objetivo de estabelecer cotas de produção para os países -membros e estabilizar o preço internacional do petróleo.
Em 2018 era composta de quinze países, com destaque para a Arábia Saudita, maior produtor da Opep e segundo do mundo. Dos doze maiores produtores mundiais de petróleo, sete são membros da Opep. No entanto, a Rússia, o maior produtor de todos em 2017, não é membro da organização, assim como também não o são os Estados Unidos, a China e o México. O Brasil, embora seja o nono produtor mundial, à frente de muitos países da Opep, também não é membro desse cartel internacional dos produtores.

Produção de petróleo no Brasil


Em 2017 o Brasil já era o nono maior produtor mundial de petróleo, com uma produção de 2,6 milhões de barris/dia. Essa produção foi ampliada com a extração de petróleo no pré-sal, uma camada geológica situada na costa brasileira entre 5 e 7 quilômetros abaixo do nível do mar. Entre Santa Catarina e Espírito Santo existe uma grande reserva nessa camada de um tipo de petróleo mais leve, de excelente qualidade e com alto valor comercial.
Segundo a Petrobras, a produção média de petróleo no pré-sal saltou de 41 mil barris por dia, em 2010, para 1,4 milhão de barris diários, em 2017. Ou seja, 54% da produção petrolífera daquele ano veio do pré-sal.
De acordo com algumas previsões, cerca de 100 bilhões de barris de petróleo podem ser extraídos do pré-sal brasileiro – o que elevaria a produção para cerca de 5 milhões de barris por dia e posicionaria o país entre os cinco maiores produtores mundiais. Para explorar bacias em águas profundas são necessários grandes investimentos em pesquisas, desenvolvimento de tecnologia, plataformas, for mação de mão de obra qualificada, etc.
O desenvolvimento dessa alta tecnologia se deu graças ao empenho de técnicos e pesquisadores da Pe trobras, principalmente em seu Centro de Pesqui sa e Desenvolvimento (Cenpes), localizado no Rio de Janeiro (RJ), e a parcerias feitas com universi dades, como a COPPE/UFRJ e a Pontifícia Univer sidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), e com institutos de pesquisas, como o Laboratório Nacional de Nanotecnologia, localizado em Campinas (SP). Como resultado desse esforço, hoje o Brasil é um dos líderes mundiais em tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas.

Produção de carvão mineral no mundo


O carvão mineral é usado comercialmente desde o final do século XVIII. Ele foi a principal fonte de energia da Primei ra Revolução Industrial, iniciada no Reino Unido, quando era muito usado para movimentar máquinas a vapor, trens e barcos. No fim do século XIX, já no contexto da Segunda Revolução Industrial, passou também a ser utilizado para produzir energia elétrica. O carvão mineral é o segundo combustível fóssil mais consumido no mundo.

Hoje em dia, o carvão mineral, sobretudo o de baixa qualidade, é usado principalmente na produção de energia em usinas termelétricas por meio de sua queima. Em segundo lugar, vem o uso em diversos processos industriais que necessitam de calor, como a fabricação de cerâmicas e vidros. O carvão também é muito usado em indústrias siderúrgicas. Nesse caso, o chamado carvão metalúrgico ou coque é mistu rado num alto -forno para fundir o mi nério de ferro e produzir o ferro-gusa, matéria-prima para a produção de aço, que depois será usado na fabricação de carros, geladeiras, edifícios, pontes, máquinas, etc. O carvão mineral também é uma importante matéria-prima para a indústria carboquímica, que produz fertilizantes, lubrificantes, combustíveis líquidos, entre outros produtos.
O Brasil produz carvão mineral, com destaque para os estados do Rio Grande do Sul, com 89% das reservas nacionais (só na jazida de Candiota, município localizado no sul do estado, estão 38% de todo o carvão brasileiro) e Santa Catarina, com 10%. Porém, é um carvão de baixa qualidade (linhito e sub-betuminoso), com muitas impurezas, que só pode ser utilizado em termelétricas locais. Por isso, o Brasil importa cerca de 15 milhões de toneladas de carvão metalúrgico por ano, provenientes de países como Estados Unidos, China e Austrália, que estão entre os maiores produtores do mundo.

Consequências da queima de combustíveis fósseis: o efeito estufa


Desde a Revolução Industrial, a concentração de dió xido de carbono (CO2 ), também conhecido como gás car bônico, tem aumentado na atmosfera. Isso acontece por que, a maior parte da energia consumida no mundo é proveniente de combustíveis fósseis – altamente poluentes e emissores do dióxido de carbono, com destaque para o carvão mineral, cujo maior produtor mundial é a China.
Perceba que apenas três países são responsáveis por quase 50% da emissão total de gás carbônico no mundo, portanto, são os que mais contribuem para intensificar o efeito estufa em termos absolutos. De acordo com diversos pesquisadores, as toneladas de gases estufa – dióxido de carbono, metano, entre outros – emitidas na atmosfera provocam a intensificação desse fenômeno, elevando a temperatura média da baixa atmos fera do planeta.
A dinâmica natural da atmosfera terrestre funciona da seguinte maneira: parte da radiação solar, quando entra em contato com essa camada gasosa da Terra, é refletida de volta ao espaço. Outra parte dessa radiação atravessa a atmosfera e aquece a superfície terrestre, devolvendo calor para a atmosfera. Por causa do efeito estufa, parte desse calor fica retida e aquece o ar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Comércio internacional

O comércio

Comércio é a troca de um produto por dinheiro ou por outro produto. Essa atividade relaciona o produtor com o consumidor.
Quando o comércio surgiu, era realizado por meio da troca de produtos. Ou seja, cada produtor vendia seu excedente diretamente a outro produtor. Porém, nem todo mundo ficava satisfeito com a troca, porque muitas vezes ela envolvia produtos diferentes, que exigiam mais trabalho que o outro produto aceito em troca.
Para resolver esse problema foi criado um equivalente geral, o dinheiro. Hoje em dia usam-se moedas, notas, cheques, cartões de plástico e meios eletrônicos para fazer um pagamento de uma troca comercial.

Comércio, consumo e desigualdade social


Com o passar do tempo, a atividade comercial cresceu e, atualmente, movimenta muitos recursos para fazer com que um produto saia, muitas vezes, de um país distante até chegar ao consumidor. Mas o comércio necessita expor o produto para que o comprador possa escolher o que deseja. Os pontos de venda têm esse papel.
Existem diferentes tipos de pontos de venda. Desde o pequeno comércio, caracterizado por pequenas lojas que atendem à população local, passando por grandes lojas que fazem parte de grandes redes comerciais, algumas delas internacionais.
A concentração de comércio e prestação de serviços, geralmente, ocorre no espaço urbano, já que nele estão a grande parte dos consumidores e a infraestrutura necessária para que as mercadorias circulem.
Cada vez mais cresce o comércio eletrônico, ou seja, loja “virtual”, representada em uma página da internet ou em aplicativos instalados em celular com informações sobre o produto, na qual o consumidor pode escolher e pagar por meio eletrônico, para depois recebê-lo em sua casa.
No Brasil e em muitos países do mundo, não são todas as pessoas que têm acesso aos produtos comercializados. As diferenças no poder de consumo revelam as desigualdades sociais. Enquanto algumas pessoas podem pagar por produtos de consumo sofisticados e caros, outras não conseguem nem ter acesso a itens básicos para sua sobrevivência, como alimentos, roupas ou um lugar adequado para viver.

Comércio internacional


A atual expansão do capitalismo e a consequente globalização econômica ampliaram diversos tipos de redes mundiais. Uma importante rede da globalização é formada de portos e aeroportos de diversos países dos cinco continentes, por meio da qual circulam mercadorias de todos os tipos. O comércio internacional é um dos principais fluxos da globalização. Portanto, a expansão mundial do comércio depende da ampliação e modernização dos sistemas de transportes que interligam todos os países do mundo.
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a taxa de crescimento das exportações mundiais de mercadorias quase sempre se manteve superior ao crescimento do produto mundial bruto, evidenciando que as economias nacio nais ficaram mais interdependentes, característica da globalização. De acordo com dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), o comércio interna cional de mercadorias cresceu a uma taxa média de 6,2% ao ano entre 1950 e 2007, enquanto o PIB mundial cresceu 3,8% ao ano no mesmo período.
Entretanto, em consequência da crise econômica iniciada em 2008 nos Estados Unidos, o comércio mundial encolheu 12,1% em 2009 e o PIB mundial encolheu 2,1%. Superada a crise, houve uma retomada do crescimento: no período 2010-2017, as trocas internacionais de mercadorias cresceram 3,0% e o PIB mundial, 2,6%. Entre os fatores que contribuíram para o aumento da circulação de merca dorias entre os países, destacam-se:

■ a assinatura de acordos para a redução de barreiras comerciais interna cionais, no âmbito da OMC, ou regionais, com destaque para a União Europeia, o maior bloco comercial do mundo, formado por 28 países;

■ os avanços tecnológicos nos transportes, como a expansão e moderniza ção de portos e aeroportos interligados em rede e a fabricação de navios e aviões mais rápidos, econômicos e com maior capacidade de carga (observe a fotografia abaixo);

■ a expansão das empresas multinacionais, que, como vimos, vêm instalan do filiais em vários países e pressionam para que haja redução das barrei ras à circulação de seus produtos pelo mundo – como vimos, essas em presas são um dos agentes mais importantes da globalização.

Apesar da expansão do comércio mundial, o fluxo de mercadorias ainda é um fenômeno bastante concentrado: 51,5% das exportações internacionais provêm de apenas dez países.

Balança comercial


Para compreender a balança comercial de qualquer país, temos que anali sar os valores de suas exportações e importações. Quando um país exporta mais do que importa, sua balança comercial apresenta superavit, isto é, tem saldo positivo. Por outro lado, se as importações superam as exportações, a balança apresenta deficit, ou seja, tem saldo negativo.
De 2012 para 2013 houve um aumento das importações feitas pelo Brasil. Isso provocou uma redução do superavit na balança comercial, até chegar a um deficit em 2014. Em 2015 e 2016, devido ao agravamento da crise econômica brasileira e à consequente redução do consumo interno, as importações caíram bem mais que as exportações, com isso o superavit aumentou. Perceba que as exporta ções também caíram, mas em ritmo menor que as importações. Em 2017, houve uma recuperação, mas que ainda não alcançou os patamares pré-crise.

A importância do comércio de mercadorias


Os países desenvolvidos exportam predominantemente bens industriali zados, grande parte deles com alto valor agregado. Em alguns países em desenvolvimento, até o final da década de 1970, as exportações eram compos tas quase exclusivamente de produtos primários, o que caracterizava a antiga divisão internacional do trabalho. Conforme o processo de industrialização avançou, a pauta de exportação desses países foi se modificando. Atualmente, como mostra a tabela abaixo, os produtos industrializados têm presença im portante na pauta de exportações de muitos países em desenvolvimento, agora chamados de emergentes, como é o caso do México. O grande destaque como exportador de industrializados, porém, é a China.

Os quatro produtos mais exportados pelo Brasil, responsáveis por receitas no valor de 70,5 bilhões de dólares (32,4% do total das exportações), são commodities de baixo valor agregado, mas na lista dos mais exportados também aparecem, embo ra em menor quantidade, produtos de alto valor agregado, como automóveis e aviões, responsáveis por 10,2 bilhões de dólares (4,7% do total).

A concentração do comércio mundial


O comércio mundial é muito concentrado. As exportações e as importações dos Estados Unidos, do Canadá, de alguns países da Europa e da China, juntas, representam quase 80% de tudo o que é comercializado no mundo.
Os Estados Unidos, juntamente com o Japão, destacam-se no setor de informática e na indústria automobilística. A Alemanha e a França vendem produtos industrializados. Nos países da América do Sul predominam as exportações de alimentos (Brasil e Argentina) e minerais (Brasil, Chile e Peru).

Redes globais de informações

Além dos fluxos de investimentos de capitais, no atual contexto da globaliza ção o fluxo de informações e conhecimentos é um dos que mais têm se expan dido pelo mundo – fenômeno que está relacionado ao desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação.


A era informacional



Atualmente, os satélites de telecomunicações e os cabos submarinos de fibra óptica permitem a circulação de informações em tempo real e o número de pessoas conectadas à internet é crescente (observe, no mapa abaixo, a rede de cabos submarinos em todo o mundo). Por isso, pesquisadores, como o soció logo espanhol Manuel Castells, chamam esse momento histórico de era infor macional. Para as corporações transnacionais, esse fenômeno facilita a difusão global de hábitos de consumo e de ideias, além do controle de suas filiais es palhadas por diversos países. Alguns canais de notícias de redes internacionais de televisão interligam o planeta transmitindo programas noticiosos em diferentes línguas. Dos três maiores canais, dois são estadunidenses e um é britânico. As principais agências de notícias – entre as quais se destacam uma estadunidense, uma britânica e uma francesa – são responsáveis pela distribuição da maior parte das informa ções que circulam na mídia mundial. É importante destacar que essas grandes redes de telecomunicações estão sediadas em alguns dos países desenvolvidos mais poderosos, veiculam globalmente os pontos de vista de seus acionistas e, embora privadas, muitas vezes difundem a visão de mundo dos governos des ses países.
Entretanto, para se contrapor a essa visão dominante, têm sido criadas redes internacionais de televisão em países emergentes, como Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, que veiculam notícias em árabe, inglês, persa e urdu. Do mesmo modo, foram criadas agências de notícias que ofere cem um ponto de vista diferente, com destaque para a agência de notícias chinesa controlada pelo governo chinês, que em pouco tempo se transformou na maior do mundo.
Mas uma das mudanças mais revolucionárias da era informacional foi o desenvolvimento da internet, que propiciou o explosivo crescimento de em presas de tecnologia. As duas empresas de mídia que mais atraem receitas publicitárias são estadunidenses. Isso dá a essas empresas um poder muito grande na internet e nas redes sociais. No entanto, nesse setor também estão surgindo empresas em países emergentes, com destaque para a China, que sedia a quarta maior empresa de buscas na internet do mundo e se expandiu simultaneamente com o rápido crescimento de usuários de internet na China. Segundo a Internet World Stats (site internacional que apresenta dados esta tísticos do uso da internet no mundo), entre 2000 e 2017 o aumento do número de pessoas conectadas à internet na China foi de 3 330%, enquanto nos Estados Unidos foi de 227%. No entanto, o número relativo de pessoas conectadas ainda é baixo na China e principalmente na Índia, quan do comparado ao dos Estados Unidos ou mesmo ao do Brasil.
O globo terrestre está conectado por um extenso sistema de telecomunicações. Por isso, muitos têm usado a ex pressão “aldeia global” para se referir à globalização da cultura e das informações, querendo dizer com isso que os povos do mundo todo mantêm cada vez mais contato, como se vivessem em um lugar pequeno.

Redes globais de investimentos

Os investimentos de capitais estão entre os principais fluxos da globalização e formam uma rede que atinge em maior ou menor grau praticamente todos os países do mundo. Nessas redes circulam grandes somas de dinheiro, que podem ser alocadas de forma produtiva ou especulativa. A distinção entre capital produtivo e capital especulativo ajuda a compreen der a dinâmica dos fluxos de investimentos no mundo globalizado.
Os investimentos produtivos são os empreendimentos que se materializam na paisagem na forma de edifícios, fábricas, fazendas, estradas, lojas, entre outros, e têm maior potencial de geração de renda e de empregos. E os inves timentos especulativos estão associados a toda prática de compra e venda (mercadorias, ações, moeda estrangeira, imóveis, etc.) com a intenção de obter lucro rápido e elevado, aproveitando as variações de preços. A seguir, vamos conhecer mais detalhadamente as características dos investimentos produtivos e especulativos.


1. Investimentos produtivos



Os investimentos produtivos que empresas de um país fazem em outro – conhecidos também como investimentos externos diretos ou investimentos estrangeiros – vêm crescendo desde a Segunda Guerra Mundial, quando muitas empresas sediadas nos países desenvolvidos começaram a instalar filiais em outros países, inclusive em países em desenvol vimento. A maior expansão desses investimentos ocorreu a partir de 1990, com a aceleração do pro cesso de globalização dos capitais, e sobretudo nos anos 2000, atingindo seu recorde em 2007. A crise econômica que ocorreu entre 2008 e 2009 provocou uma queda nesse fluxo, que até 2017 ainda não tinha recuperado o patamar pré-crise.
Os países empenham-se cada vez mais em atrair investimentos produtivos, uma vez que geram renda, empregos e aumentam a arrecadação de impostos, criando riquezas e estimulando o crescimento econômico. No entanto, a atra ção de capitais produtivos depende de políticas econômicas favoráveis, de investimentos em educação (básica e de formação de mão de obra qualificada) e de boa infraestrutura (transporte, telecomunicações, energia, etc.).
A construção e a melhoria da infraestrutura em diversos países, inclusive no Brasil, têm atraído investimentos produtivos. Ainda assim, a maior parte dos investimentos produtivos mundiais é dire cionada a poucos países, principalmente àqueles que oferecem melhores con dições macroeconômicas e mais segurança jurídica, isto é, que asseguram o respeito às leis e aos contratos firmados. .Os quinze principais receptores de investimentos produtivos em 2017. Juntos, eles abrigaram 71% dos investimentos externos feitos no mundo.


Atuação das empresas multinacionais



Os principais agentes da globalização da produção são as empresas multi nacionais (do inglês multinational enterprises, segundo terminologia da Unctad), isto é, empresas que têm sede em um país e atuam por meio de filiais em outros países. Também são chamadas de empresas transnacionais. Porém, mesmo distribuindo filiais pelo mundo, elas mantêm estreitos vínculos com seu país de origem. Em geral, o controle acionário, as decisões estratégicas, a pesquisa e o desenvolvimento e as estratégias de marketing continuam concentrados na matriz da empresa. Além disso, a maior parte dos lucros obtidos nas filiais do exterior é enviada aos países de origem.
As transnacionais instalaram-se em países desenvolvidos e em desenvolvi mento, principalmente, a partir da Segunda Guerra Mundial, quando intensifi caram sua expansão global. Os principais fatores que as atraíram aos países desenvolvidos foram o amplo mercado consumidor, a qualificação da mão de obra e a disponibilidade de boa infraestrutura, o que permitia a instalação de fábricas mais modernas e produtivas.
Já nos países em desenvolvimento, os principais atrativos eram mão de obra barata, impostos baixos e facilidade para exportação, entre outras vantagens que aumentavam a taxa de lucro. Em geral, nesses países se instalavam indús trias tradicionais, como as do ramo têxtil, de calçados, de eletrônicos baratos, de brinquedos, etc., que empregam grande quantidade de mão de obra e não requerem alta qualificação. Esse processo favoreceu a desconcentração da produção industrial no mundo.
Embora esse fenômeno ainda ocorra, sobretudo nos países mais pobres, hoje em dia há muitas empresas multinacionais de alta tecnologia instaladas em países em desenvolvimento que dispõem de boa infraestrutura e de mão de obra qualificada, porém mais barata do que nos países de origem. Em mui tos desses países, o governo concede facilidades para a exportação e para a remessa de lucros às matrizes das multinacionais.
A China, por exemplo, converteu-se no maior exportador mundial: em 2017, segundo o Banco Mundial, 94% de sua pauta de exportações era composta de bens industrializados, sendo 25% desse total de produtos de alta tecnologia.
A Índia, por sua vez, é um dos maiores exportadores mundiais de software e uma das principais sedes de serviços globais de telemarketing. Esse país abriga grandes empresas multinacionais atuantes nesses setores, principalmen te estadunidenses. Muitas delas estão instaladas no parque tecnológico de Bangalore, onde a maior parte das grandes empresas de tecnologias da informação e comunicação tem filiais.


Investimentos externos no grupo BRICS



Países emergentes muito populosos e com elevado PIB, como os do grupo BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, sobretudo os quatro primeiros, que estão entre as maiores economias do mundo, apresentam a vanta gem de ter um grande mercado consumidor. Isso atrai investimentos externos e contribui para seu elevado crescimento econômico.
A distribuição dos investimentos produtivos no espaço geográfico mundial é bastante desigual. Os cinco países do grupo BRICS recebe ram 26% de todo o investimento produtivo feito no mundo em 2017. Em com pensação, os membros do BRICS ficaram com 55% do montante de investimentos produtivos direcionados aos países em desenvolvimento. O maior beneficiado foi a China, com 36% do total dos investimentos produtivos feitos no grupo de países em desenvolvimento, seguida pelo Brasil, que ficou com 9%.
Os investimentos também ocorrem entre os países do BRICS. A China é o país do grupo que mais tem dinheiro disponível para investir, e o Brasil, sobre tudo depois da crise econômica que ocorreu entre 2014 e 2016, é o que tem menos recursos para fazer investimen tos produtivos, principalmente no se tor de infraestrutura. Não por acaso, empresas chinesas têm aumentado substancialmente seus investimentos no Brasil.


2. Investimentos especulativos



Hoje é relativamente fácil transferir grandes quantias de um lugar para outro, pois o dinheiro tornou-se eletrônico, virtual, e circula pelos computa dores do sistema financeiro globalizado. Com isso, os mercados tornaram-se globais e os investidores ampliaram enormemente as possibilidades de aplicar seus recursos em busca de lucro rápido. As distâncias não são mais rele vantes, pois pode-se aplicar em qualquer país que esteja conectado ao sis tema financeiro global.
Não se sabe ao certo o volume de investimentos especulativos que circulam pelo sistema financeiro mundial. No entanto, se considerarmos as principais bolsas de valores e os maiores bancos, podemos inferir que chega à casa dos trilhões de dólares.
Muitas empresas ou pessoas que dispõem de capital investem em ações, que são negociadas nas bolsas de valores, como as de Nova York, Tóquio ou São Paulo. Ao comprar ações, o investidor adquire uma parcela da empresa que as emitiu, tornando-se acionista. A empresa investe esse dinheiro na produção e, se obtiver lucros, os acionistas recebem parte dele – os dividendos –, de acordo com a quantidade de ações que possuem.
Muitos investidores, porém, não estão interessados em aplicar seu dinheiro de forma produtiva, no longo prazo, e esperar que a empresa produza e seja bem-sucedida para obter dividendos. Preferem lucrar no curto prazo e, para tanto, podem, por exemplo, comprar ações na baixa (quando estão desvalorizadas) e vender na alta (quando se valorizam). Essa estratégia é chamada de especulação.

A especulação financeira


A diferença entre o que foi pago pelas ações e o que se ganhou com a ven da delas, após a valorização, é chamada de lucro financeiro. O lucro obtido pode ser utilizado para a compra de mais ações ou para qualquer outro tipo de inves timento especulativo em qualquer lugar do mundo que ofereça mais vantagens. Desse modo, o investimento em ações tanto pode ser produtivo como especulativo.
Além do mercado acionário, há outras modalidades de inves timento especulativo, como compra e venda de moeda ou de títulos da dívida pública. Uma empresa ou pessoa pode comprar moeda estrangeira ou títulos públicos na baixa e vender na alta, obtendo lucro financeiro com essa operação.
A emissão de títulos da dívida pública pelo governo de um país é uma forma de tomar dinheiro emprestado. Ao comprá-los, o investidor está, na prática, emprestando dinheiro ao Estado, que terá de pagar juros ao comprador.
O capital especulativo gera menos empregos que o capital produtivo e tende a tornar vulnerável a economia dos países que ficam dependentes desse tipo de investimento. Muitas vezes os grandes bancos, os fundos de pensão e outros fundos de investimento retiram o dinheiro desses países ou passam a cobrar juros mais elevados para continuar emprestando, levando-os à inadimplência, como ocorreu na crise argentina em 2001 e na grega em 2011.
Com as facilidades da informática e das telecomunicações, os agentes que comandam a globalização financeira rastreiam diariamente os melhores inves timentos em ações, moedas ou títulos públicos no mundo. Isso lhes dá um poder muito grande, com capacidade de quebrar economicamente empresas e até mesmo países. Os maiores bancos do mundo têm um patrimônio gigantesco, maior que o PIB da maioria dos países.




China: política e desenvolvimento econômico

A China abriga a maior população do mundo. É um país predominantemente rural que se tornou uma das maiores economias mundiais da atualidade ...