segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Neoliberalismo e unificação de mercados

O colapso do socialismo representou a vitória do sistema capitalista. Desde o final do século XX, esse sistema tem adotado características do neoliberalismo, como a diminuição da intervenção do Estado na economia, a redução dos investimentos públicos em políticas sociais (educação, saúde, habitação), o controle dos gastos estatais, o fortalecimento da economia de mercado, a privatização das empresas públicas e a crescente participação de capitais externos nos mercados financeiros mundiais.
No âmbito internacional, uma das características mais marcantes do neoliberalismo é a existência de blocos econômicos regionais, ou seja, associações de países que estabelecem relações econômicas privilegiadas entre si. 
Entre tais blocos, destacam-se: a União Europeia (UE), que agrupa diversos países do continente europeu; o Bloco do Pacífico, que reúne o Japão, os Tigres Asiáticos (Singapura, Coreia do Sul, Hong Kong e Taiwan) e países do Sudeste Asiático (Indonésia, Tailândia, Filipinas); o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), cujos membros são Estados Unidos, Canadá e México; o Mercado Comum do Sul (Mercosul), constituído por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Criados para garantir mercado aos países-membros e fortalecer suas economias diante da alta competitividade mundial, os blocos econômicos sinalizam com a diminuição ou eliminação das barreiras alfandegárias no comércio entre eles. No entanto, não raro as negociações dos blocos privilegiam os interesses dos países mais industrializados e desenvolvidos que os compõem. Outro aspecto observado é que a cooperação comercial no interior de blocos formados por países em desenvolvimento varia de acordo com a estabilidade das economias nacionais.

Os efeitos sociais do neoliberalismo


Um dos efeitos da vitória do capitalismo no mundo globalizado contemporâneo foi o enfraquecimento dos mecanismos dos Estados para controlar a especulação financeira e a circulação de capitais em grande velocidade pelo planeta. Isso vem contribuindo para fragilizar as economias mundiais, que se tornaram suscetíveis a crises constantes.
A crise financeira de 2008 No final da década de 2000, grandes bancos dos Estados Unidos passaram a realizar empréstimos arriscados visando ao lucro rápido. O governo do país não impôs medidas para conter esses empréstimos, que saíram do controle e começaram a ser feitos sem garantia de pagamento. Em 2007, muitos bancos começaram a quebrar pela falta de pagamento dos empréstimos. Em pouco tempo, a crise estadunidense afetou diversos países. Os efeitos sociais dessa crise ainda estão presentes: redução de salários, aumento do desemprego, crescimento do número de pessoas empobrecidas e significativo aumento das desigualdades sociais.
Nesse contexto, muitos países passaram a adotar novas medidas neoliberais com o objetivo de superar a crise, como reformar leis trabalhistas e diminuir direitos sociais dos cidadãos. Isso fez com que, em diversos países, os trabalhadores perdessem direitos e sofressem reduções salariais. Além disso, muitos governos diminuíram os recursos aplicados em políticas públicas, como forma de cortar os gastos do Estado e possibilitar investimentos para retomar o crescimento econômico, abalado pela crise. Essas medidas agravaram os efeitos da crise e contribuíram para o crescimento da pobreza em muitas regiões do mundo. Contudo, isso não afeta todos os setores da mesma forma, e uma pequena parcela de indivíduos ampliou suas riquezas.
Organizações internacionais indicam que, em 2015, apenas 1% da população mundial concentrava mais de 99% das riquezas do planeta. Além disso, de 1988 até 2011, a renda dos 10% mais pobres do planeta aumentou cerca de 65 dólares, enquanto a renda do 1% mais rico aumentou cerca de 11 800 dólares – ou seja, 182 vezes mais.


Desigualdade entre países


Para compreender as causas e as consequências das desigualdades entre os países, diversas teorias foram formuladas, buscando soluções que diminuam essas diferenças.

A teoria do livre mercado


Segundo a teoria baseada no livre mercado, o desenvolvimento de um país decorre da máxima liberdade de pessoas e empresas em realizar negócios. Nesse sentido, a atuação do Estado na economia, seja pela criação de leis reguladoras, seja pela cobrança de impostos, dificulta o ganho de capitais e a geração de empregos. Assim, a solução para os problemas econômicos estaria na redução da ação estatal.
Os teóricos do livre mercado atribuem, portanto, os problemas econômicos de um país à sua forma de se autogovernar, minimizando fatores externos e relações desfavoráveis impostas por países mais ricos.

O papel do Estado


Em oposição aos defensores do livre mercado, há aqueles para os quais a presença de um Estado forte é essencial para o desenvolvimento de um país. Essas teorias têm como exemplo o caso de países do Leste Asiático, como China, Coreia do Sul e Cingapura.
Neles, o Estado investiu em setores estratégicos, como educação e desenvolvimento tecnológico, e agiu para favorecer o crescimento de setores da economia.

Teoria da dependência


A teoria da dependência avalia que as desigualdades globais remontam ao período colonial, quando foi estabelecido um sistema em que alguns países acumulavam recursos em função da exploração de outros.
Esse quadro se agravou após a industrialização e, ainda hoje, mesmo que a indústria tenha se espalhado pelo mundo, há forte dependência entre os países que desenvolvem novas tecnologias e aqueles que apenas as consomem.

Integração regional

A integração regional é um processo característico do contexto da globalização e ocorre por meio da consolidação dos blocos econômicos.

Blocos econômicos


De uma forma geral, os blocos econômicos são organizações constituídas por diversos países, que adotam medidas específicas para ampliar as trocas comerciais e a circulação de mercadorias, de serviços, de informações e de pessoas. A formação dessas entidades está associada às similaridades entre os interesses políticos e econômicos desses países ou à proximidade geográfica de seus membros.
Diversos tipos de bloco econômico e etapas de integração ocorrem em diferentes partes do mundo, e cada um deles possui suas particularidades.

Principais blocos econômicos


O primeiro bloco econômico surgiu em 1944, formado por Bélgica, Holanda e Luxemburgo (Benelux, sigla em inglês). O objetivo era fortalecer os países-membros, cujos territórios estavam fragilizados após a Segunda Guerra Mundial. De lá para cá, inúmeros blocos surgiram em diversas regiões do mundo. Conheça a seguir alguns dos principais blocos da atualidade.

Mercado Comum do Sul (Mercosul)


O Mercado Comum do Sul (Mercosul) foi fundado por meio do Tratado de Assunção, em 1991. Inicialmente, o grupo era formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Atualmente, outros países sul-americanos, como Bolívia, Chile, Peru, Colômbia, Suriname e Guiana, estão inseridos no bloco como Estados Associados ou em processo de adesão. Em 2012, a Venezuela aderiu ao grupo, mas foi suspensa em 2016 por descumprir algumas regras.
O Mercosul abrange 67% do território da América do Sul e 62,2% da população do continente. Sua área é de aproximadamente 15 milhões de quilômetros quadrados, com uma grande diversidade de povos, culturas e paisagens.
O objetivo do Mercosul é estabelecer um modelo de integração regional, visando facilitar a livre circulação de mercadorias, serviços e pessoas, por meio da eliminação de tarifas alfandegárias internas e com a fixação de tarifas externas comuns.
É importante mencionar que, ao longo do processo de integração, além da agenda comercial, o bloco passou a incluir temas políticos, sociais e de cidadania.
Em 2019, o bloco movimentou 69,2% do PIB da América do Sul, sendo o oitavo maior do mundo. Trata-se, portanto, de um grande alvo de investimentos estrangeiros, colaborando para o desenvolvimento econômico e social dos países-membros.

União Europeia (UE)


A União Europeia (UE) originou-se no contexto da década de 1950, quando foram criadas algumas organizações responsáveis por colaborar na reconstrução dos países do continente arrasados pela Segunda Guerra Mundial: a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, fundada em 1951, e a Comunidade Econômica Europeia, em 1957.
Essas organizações se consolidaram como União Europeia na década de 1990. Representando, atualmente, a etapa mais avançada do processo de formação de blocos econômicos, a EU entrou em funcionamento em 1993.
De lá para cá, o bloco passou a ser composto de 27 países-membros; estabeleceu um mercado interno por meio do livre-comércio e da circulação de mercadorias, serviços e pessoas; adotou uma moeda única – o euro; e criou entidades financeiras e jurídicas próprias, como o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu.

Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA)


Em 2020, o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA, sigla em inglês) substituiu o antigo Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, sigla em inglês), que entrou em vigor em 1994, com o objetivo de eliminar barreiras alfandegárias, intensificar o comércio entre os três países e promover o crescimento econômico da região.
Atualmente, o USMCA tem se concentrado no livre-comércio de mercadorias agrícolas, têxteis e automobilísticas, além de promover a proteção da propriedade intelectual e das leis trabalhistas e ambientais.
O maior beneficiado do acordo, no entanto, são os Estados Unidos. Dados de 2019 revelam que as exportações de produtos agrícolas para o Canadá e o México renderam cerca de 40 bilhões de dólares ao país, sendo o milho o principal produto vendido. Além disso, 300 mil empregos foram gerados no setor agrícola durante esse período.

Comunidade da África Meridional para o Desenvolvimento (SADC)


A Comunidade da África Meridional para o Desenvolvimento (SADC, sigla em inglês) é composta de 16 países-membros: África do Sul, Angola, Botsuana, Comores, República Democrática do Congo, Lesoto, Madagascar, Malaui, Maurício, Moçambique, Namíbia, Seychelles, Essuatíni Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue.
O bloco foi criado em 1992 com o objetivo de promover a integração regional e o desenvolvimento econômico, bem como comprometer-se com o fim da pobreza e preservar a paz e a segurança da região.
A SADC pretende aprofundar os diversos estágios de integração comercial, estabelecendo um mercado comum por meio da criação de uma área de livre-comércio, da convergência das políticas econômicas e da adoção de uma moeda única.

Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean)


A Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean, sigla em inglês) foi fundada em 1984, reunindo Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia. O bloco foi inicialmente criado para incentivar a cooperação social, econômica, cultural e técnica entre os países-membros, bem como garantir a paz e a estabilidade da região. Mais tarde, outros países do Sudeste Asiático se uniram, formando um grupo de dez países-membros. São eles: Brunei, Camboja, Laos, Mianmar e Vietnã.
Composta de uma série de órgãos, como secretariados e comunidades específicas, a Asean visa constituir, atualmente, um mercado único e integrado cuja movimentação poderá envolver grandes volumes de recursos financeiros e alcançar mais de 500 milhões de pessoas.

Organizações econômicas internacionais

Além das organizações políticas e militares, o século XX foi marcado pela criação de entidades financeiras que se tornaram importantes atores no cenário econômico internacional. Essas organizações colaboraram intensamente para a consolidação da globalização.
Entre as principais organizações econômicas atuais, destacam-se:

• Banco Mundial – Criado em 1944, durante a Conferência de Bretton Woods, é ligado à ONU, mas possui autonomia para alcançar objetivos próprios. Além dos serviços financeiros, a organização atua fornecendo recursos para projetos de desenvolvimento, assistência técnica e soluções para ajudar os países a enfrentar desafios de diversas ordens.

• Fundo Monetário Internacional (FMI) – Também criado em 1944, durante a Conferência de Bretton Woods, busca promover a estabilidade da economia no âmbito mundial, fornecendo empréstimos aos países em crise. Os recursos do FMI são fornecidos pelos 190 países-membros, com o intuito de promover o crescimento econômico e o comércio internacional. Os empréstimos são concedidos mediante uma série de exigências a serem cumpridas pelos países solicitantes.

• Organização Mundial do Comércio (OMC) – É responsável pelo estabelecimento de um sistema global de regras para a realização das trocas comerciais entre países, com o objetivo de tornar essas atividades um instrumento de melhoria das condições de vida da população. Na prática, tem a função de regulamentar e monitorar os acordos econômicos vigentes e a política comercial de cada membro. Esse órgão tem como base o comércio irrestrito, promovendo a eliminação das formas de protecionismo adotadas por países para favorecer a produção e o comércio local, e atua como intermediador das disputas comerciais.

O Conselho de Segurança da ONU

O Conselho de Segurança da ONU é constituído por quinze membros, sendo cinco deles permanentes e dez não permanentes. De acordo com a Carta das Nações Unidas, os membros permanentes são: Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China. Trata-se do único órgão da ONU que obriga que as decisões elaboradas durante as negociações sejam cumpridas por todos os países envolvidos.
O principal objetivo do Conselho de Segurança é intermediar o diálogo entre Estados envolvidos em conflitos e preservar a paz e a segurança internacionais. Para tanto, o Conselho detém o poder de revelar uma ameaça ou um ato de agressão, além de ter a responsabilidade de reunir as partes compreendidas com o objetivo de encontrar soluções pacíficas e promover relações amistosas.
Em casos de conflitos mais graves, o Conselho de Segurança pode recorrer à aplicação de sanções e intervenções diretas, porém respeitando os direitos humanos como pressuposto fundamental.
A escolha dos dez membros não permanentes é feita todos os anos, durante a Assembleia Geral da ONU. A cada ano, são estabelecidos cinco novos membros, cujos mandatos são de dois anos. A distribuição dos dez assentos é realizada de forma regional.

• Três assentos para países da África.

• Dois assentos para países da Ásia.

• Dois assentos para países da América Latina.

• Dois assentos para países da Europa Ocidental e outros Estados.

• Um assento para países do Leste Europeu.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)

A Otan é uma aliança militar formada por alguns países que estavam inseridos no bloco capitalista durante a Guerra Fria. Criada em 1949, por  meio do Tratado de Washington, incluía, inicialmente, doze países-membros: Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, França, Reino Unido, Países Baixos, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega e Portugal.
O objetivo da Otan no momento de sua criação era conter os avanços do bloco socialista e preservar os interesses dos aliados do bloco capitalista na correlação de forças que regia a geopolítica internacional da época.
Como estratégia de defesa, os países socialistas do Leste Europeu se uniram e formaram o Pacto de Varsóvia, em 1955, com a finalidade de criar uma aliança militar em caso de ataques do bloco capitalista, protegendo sua área de influência de invasões.
O fim do Pacto de Varsóvia ocorreu com a dissolução da União Soviética na década de 1990 e colaborou para o estabelecimento de uma série de mudanças na Otan. De lá para cá, a organização ampliou sua área de interesse e passou a intervir em outros continentes e regiões, além da Europa.
Atualmente, a organização é considerada por especialistas como um meio utilizado por grandes potências mundiais para atuar militarmente em locais em conflito, de acordo com os interesses dos países-membros.
Três dos cinco países com assentos permanentes do Conselho de Segurança fazem parte da Otan, porém algumas de suas intervenções são consideradas injustificáveis pela própria ONU.

UMA NOVA ORDEM MUNDIAL

 Conflitos na Velha Ordem Mundial e o mundo bipolar

 
Ao longo do século XX, alguns países decidiram implementar o socialismo como sistema administrativo de estruturas políticas e econômicas internas. O primeiro deles foi a Rússia.
A Revolução de 1917 foi inicialmente marcada pela derrubada da monarquia czarista – que dominou o país durante séculos – e, em seguida, por uma guerra civil que perdurou nos anos seguintes. Essa guerra foi resultado das disputas entre grupos revolucionários (exército vermelho) e grupos contrarrevolucionários (exército branco).
Com a vitória do exército vermelho, os bolcheviques, liderados por Vladimir Lenin (1880-1924), passaram a implementar uma série de medidas socialistas, que transformaram as estruturas políticas, sociais e econômicas do país.
A partir de 1922, a Rússia passou a implantar o socialismo e a agregar outros países do Leste Europeu e da Ásia, formando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Entre 1947 e 1989, o período em que a Guerra Fria perdurou, a disputa política, econômica e militar travada pelas duas superpotências estabeleceu uma ordem mundial caracterizada pela bipolaridade, isto é, pela presença de dois grandes blocos: o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco socialista, liderado pela União Soviética.
Também chamado de Velha Ordem Mundial ou Ordem Mundial Bipolar, esse período demonstrou que a disputa entre as superpotências era, sobretudo, uma questão ideológica, já que não houve confronto militar direto entre elas. Por isso, recebeu a denominação Guerra Fria.
Tanto a URSS como os Estados Unidos utilizaram diversos meios para aumentar suas áreas de influência, tais como a corrida armamentista, a aeroespacial, das artes, do esporte, etc.
A partir da década de 1970, os primeiros sinais de enfraquecimento da União Soviética começaram a aparecer, decorrentes de divergências políticas internas, crises econômicas, fome, desemprego, violação dos di reitos humanos, entre outros aspectos. 
Esse panorama culminou no colapso do bloco socialista e no fim da Guerra Fria, representado pela queda do Muro de Berlim, em 1989, e pela dissolução da União Soviética, em 1991. 
A década de 1990 foi marcada pelo surgimento de uma Nova Ordem Mundial, com a emergência de novos polos de poder econômico e político, do estabelecimento de suas zonas de influência e do aumento da integração entre eles.


Emergência de novas potências e a Nova Ordem Mundial



A Nova Ordem Mundial iniciou-se em 1991, com a dissolução da União Soviética e a adoção do sistema capitalista por ex-repúblicas soviéticas e por países do Leste Europeu. Os sinais das transformações globais já vinham aparecendo nas décadas anteriores, com a recuperação de alguns países que foram arrasados durante a Segunda Guerra Mundial.
Em 1991, com a queda da maior parte dos regimes comunistas do planeta e a desintegração da União Soviética, a divisão do mundo em dois blocos opostos – um dos marcos do século XX – chegou ao fim. Essa nova configuração provocou uma importante reorganização das relações internacionais em um processo marcado por rupturas e permanências.
O fim da União Soviética e a emergência de novos centros de poder econômico, representados por Japão, China, Tigres Asiáticos e países da Europa Ocidental, resultaram em um sistema internacional caracterizado pela “multipolaridade” ou “unimultipolaridade”, como propôs na época o pesquisador estadunidense Samuel Huntington (1927-2008).
Para esse teórico, o mundo tornou-se multipolar do ponto de vista econômico, e unipolar dos pontos de vista militar, ideológico e cultural, considerando a hegemonia dos Estados Unidos nesses aspectos.
Diferentemente da Velha Ordem Mundial, cuja correlação de forças entre as duas superpotências era pautada no poder político e militar, na Nova Ordem Mundial os países passaram também a disputar a hegemonia econômica, comercial e tecnológica.
Os países do Norte, na década de 1990, apresentavam alto grau de industrialização, boas condições socioeconômicas e um elevado Produto Interno Bruto (PIB).
Os países do Sul eram considerados pobres em razão dos graves problemas que enfrentavam, como desigualdade social, fome, elevadas taxas de mortalidade infantil e violência, além de menor grau de industrialização, vulnerabilidade econômica e baixo Produto Interno Bruto.
É nesse contexto regional que o Brasil estava inserido no início da década de 1990. Os dados socioeconômicos levantados naquela época demonstravam que o país enfrentava elevados níveis de concentração de renda e desigualdade social.
De um lado, novas formas de organização de blocos de países ganharam força, especialmente os chamados blocos econômicos. Por outro lado, o fim das disputas entre os Estados Unidos e a União Soviética não afastou o perigo de um conflito nuclear. 
Atualmente, muitos países produzem armas nucleares, como a bomba atômica. Isso representa um sério perigo para a paz mundial, pois entre alguns desses países há rivalidades e disputas que podem levar a uma nova guerra. Ao mesmo tempo, Estados Unidos e China, as duas maiores potências econômicas da atualidade, vivem um período de rivalidade. 
De acordo com analistas internacionais, o principal motivo é a disputa sobre quem assumirá o protagonismo da economia global nas próximas décadas. Segundo essas análises, o governo estadunidense teme que a China ocupe um papel de liderança em muitas áreas, principalmente a tecnológica, onde o país asiático vem apresentando grande desenvolvimento nos últimos tempos. 
Aliada a essa situação, a Rússia, detentora de grande arsenal nuclear, busca exercer supremacia na região da antiga URSS. Tudo isso evidencia as permanências históricas do contexto da Guerra Fria nas relações internacionais na passagem do século XX para o XXI. 
Entretanto, não restam dúvidas de que o ano de 1991 marcou o fim de certas características do mundo contemporâneo e o começo de novos processos históricos.

Sistemas políticos e econômicos do século XX: socialismo e capitalismo

Com o término da Segunda Guerra Mundial, os EUA e a URSS despontaram como grandes potências mundiais. A partir de então, o cenário geopolítico mundial passou a contar com dois grandes blocos antagônicos: um capitalista e o outro socialista.
O capitalismo e o socialismo são sistemas políticos e econômicos utilizados por governos para dirigir um país.
Atualmente, o capitalismo é predominante na maior parte do mundo, mas, ao longo do século XX, alguns países, como Coreia do Norte, China, Cuba e a extinta União Soviética, adotaram o sistema socialista como alicerce de suas estruturas governamentais.
É importante lembrar que, apesar de o capitalismo e o socialismo apresentarem características particulares bem definidas, cada país implementa o sistema escolhido de acordo com as especificidades históricas, sociais, econômicas e políticas.
Em seguida, veremos as principais características desses dois sistemas e as diferenças básicas entre eles.

Teoria capitalista


A origem do capitalismo está associada às transformações de ordem política e econômica ocorridas na Europa a partir do século XVI, caracterizadas pela ampliação do comércio com outras regiões do mundo, pelo surgimento das cidades comerciais e pelo enfraquecimento do modo de vida feudal. No entanto, o aprofundamento desse sistema ocorreu nos sé culos seguintes, especialmente com a Revolução Industrial, no século XVIII.
De acordo com o sistema capitalista, as leis de um país devem assegurar o direito à propriedade privada dos bens. Dessa forma, os cidadãos que possuem capital acumulado, chamados de capitalistas, podem investir na produção de novos bens e serviços, gerando lucros que aumentam ainda mais o capital acumulado.
Além disso, as leis de um país capitalista devem garantir aos cidadãos a possibilidade de escolherem os produtos que desejam comprar. O Estado deve evitar intervenções na economia, com base no pressuposto de que o mercado deve ser regulado pela lei da oferta e da procura.
Os capitalistas procuram promover o consumismo, estimulando os cidadãos a comprar grandes quantidades de produtos. O consumismo é incentivado principalmente pela propaganda veiculada pelos meios de comunicação de massa. Por meio das propagandas, os capitalistas apresentam os produtos destinados ao consumo de cada grupo social, tentando associar a posse desses produtos à aquisição de status e de prazer imediato.
 Com o surgimento do capitalismo, duas novas classes sociais – a burguesia e o proletariado – se formaram, assim como os princípios econô micos fundamentais desse sistema: 

• propriedade privada dos meios de produção – maquinários, instrumentos, fábricas, etc.; 
• livre concorrência no mercado, isto é, quando empresas competem entre si para venderem seus produtos e serviços sem a ordenação do Estado; 
• trabalho assalariado; 
• busca por lucros. 

No plano político, o surgimento do capitalismo deu origem ao Estado No plano político, o surgimento do capitalismo deu origem ao Estado moderno. Ao longo do tempo, esse sistema passou por diferentes fases, moderno. Ao longo do tempo, esse sistema passou por diferentes fases, adquirindo características distintas: capitalismo comercial, industrial, impe rialista, financeiro, etc.
O sistema capitalista foi disseminado pelo mundo durante a Guerra Fria pelos governantes dos EUA.

Teoria socialista


O socialismo surgiu no fim do século XVIII com base em ideais de transformação do capitalismo, à medida que esse sistema passou a ser responsável por concentração de riqueza e desigualdades sociais. 
Os fundamentos do sistema socialista são baseados no equilíbrio en tre as classes e nos princípios da igualdade e da justiça social. 
A corrente inicial que difundiu os primeiros fundamentos desse siste ma político e econômico é denominada socialismo utópico, cujos prin-ma político e econômico é denominada socialismo utópico, cujos prin cipais pensadores foram Conde de Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1837) e Robert Owen (1771-1858). 
Décadas mais tarde, os alemães Friedrich Engels (1820-1898) e Karl Marx (1818-1883) se destacaram como importantes teóricos que aprofun daram o pensamento socialista, dando origem ao socialismo científico.
No sistema socialista, por outro lado, os meios de produção, como as terras e as indústrias, devem ser compartilhados. No socialismo não há propriedade privada de meios de produção, apenas propriedades estatais. Além disso, em todas as atividades, os trabalhadores devem servir à coletividade e ao Estado.
Outra característica importante do socialismo é a planificação da economia pelo Estado. São os altos funcionários do governo socialista que determinam diversos aspectos da economia, como o valor dos salários pagos aos trabalhadores, quais bens devem ser produzidos, a quantidade de cada produto que uma pessoa pode dispor etc.
Enquanto os EUA defendiam os princípios capitalistas, os governantes da URSS passaram o período da Guerra Fria buscando propagar pelo mundo o sistema socialista. Na URSS, esse sistema era chamado de “socialismo real”, ou seja, o socialismo que foi colocado em prática e que se caracterizava pela existência de um único partido político: o Partido Comunista (PC), responsável por todas as funções do Estado.

Os países não alinhados


Enquanto os EUA e a URSS disputavam áreas de influência, as potências imperialistas europeias, desgastadas pela guerra, não conseguiram impedir o processo de independência de suas colônias na Ásia e na África. Muitos dos governantes dessas novas nações independentes não pretendiam se “alinhar” a um dos dois blocos, o norte-americano ou o soviético.
Em abril de 1995, governantes de 29 países afro-asiáticos se reuniram na Conferência de Bandung, realizada na Indonésia, e criaram um documento no qual exigiam que todos os povos tivessem o direito de se constituírem como nações plenamente independentes, condenavam o imperialismo e o racismo, além de exigirem o direito de ter um papel mais ativo nas questões internacionais, principalmente naquelas que os afetavam diretamente.
Esses países deram início ao grupo que ficou conhecido como Movimento dos Países não Alinhados, ao qual aderiram a Índia, o Egito, a Iugoslávia, entre outros. Entre os Não Alinhados, havia países de regime socialista e também de regime capitalista. Eles rejeitaram a ideia de divisão do planeta em dois blocos ideológicos, o capitalista e o socialista, e enfatizaram que o mundo, na realidade, estava dividido entre países ricos e países pobres.
Dessa forma, os Não Alinhados se autodefiniram como países formadores do Terceiro Mundo, criando o chamado terceiro-mundismo; enquanto o Primeiro Mundo seria constituído pelos países capitalistas desenvolvidos alinhados aos EUA, e o Segundo Mundo seria composto pelos países socialistas desenvolvidos alinhados à URSS.

A CORRIDA ARMAMENTISTA


Os EUA e a URSS foram os países que saíram mais fortalecidos da Segunda Guerra Mundial. Eles se tornaram grandes rivais nas décadas seguintes. Essa rivalidade se manifestava de modo dramático na chamada corrida armamentista, que era a disputa pela capacidade de produzir armas cada vez mais destrutivas.

As armas nucleares


Desde 1942, com o chamado Projeto Manhattan, os EUA se empenhavam na construção da bomba atômica. Esse ambicioso plano foi dirigido pelo físico Robert Oppenheimer. A primeira produzida pelo projeto foi testada em junho de 1945, no deserto do estado norte-americano do Novo México. Nessa ocasião, Oppenheimer e mais três cientistas recomendaram a utilização da bomba contra o Japão, uma decisão da qual se arrependeriam posteriormente.
Após o fim da Segunda Guerra, em 1946, os EUA continuaram os testes atômicos no Atol de Bikini, no oceânico Pacífico, aperfeiçoando a tecnologia até criarem as bombas de hidrogênio, que tem poder destrutivo muitas vezes maior que o da bomba atômica.
Os soviéticos, que desde 1945 já tinham o projeto de construir uma bomba atômica, aceleraram seu programa nuclear e, em 1949, testaram, com sucesso, a sua primeira bomba no deserto do Cazaquistão.
A prática da espionagem foi essencial para que a URSS concretizasse seu projeto nuclear, tanto que os soviéticos também construíram bombas de hidrogênio, menos potentes que as norte-americanas, mas que podiam ser lançadas por aviões.
À medida que os dois países desenvolviam suas armas, o potencial destrutivo aumentava consideravelmente.

O medo da guerra nuclear


Além das bombas nucleares, os EUA e a URSS desenvolveram mísseis intercontinentais que podiam ser lançados a longas distâncias para atingir o território inimigo. A produção dessas armas e a possibilidade de uma guerra nuclear provocavam pânico nos habitantes desses países.
Em 1961, o presidente norte-americano John Kennedy iniciou uma política de incentivo à construção de abrigos antinucleares, a fim de que a população pudesse se proteger de ataques inimigos. As pessoas, dominadas pelo temor de uma possível guerra nuclear, construíram muitos desses abrigos, abastecendo-os com víveres suficientes para sobreviverem longos períodos caso houvesse uma guerra nuclear.

Os serviços de inteligência


Durante a Guerra Fria, o acesso às informações secretas do inimigo era essencial e, por isso, tanto os EUA como a URSS mantinham serviços de inteligência. Os norte-americanos tinham a Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês), criada em 1947, e os soviéticos, o Comitê de Segurança do Estado (KGB, na sigla em russo), criado em 1954.
Cada uma dessas instituições atuava na obtenção de informações secretas por meio da espionagem, infiltrando seus agentes em muitos países sob influência da potência rival. Com isso, planos políticos, projetos militares para construção de aviões supersônicos, submarinos atômicos e espaçonaves, por exemplo, não estavam seguros.
Além disso, essas agências de espionagem exerciam um papel importante dentro de seus próprios países, pois, por serem controladas pelo governo, perseguiam pessoas que eram consideradas subversivas, ou mesmo “traidoras”, que pudessem agir de forma a favorecer o rival. Assim, as agências de espionagens representavam também um mecanismo de controle ideológico sobre a população.

Rumo ao espaço


Durante a Guerra Fria, os EUA e a URSS também investiram no desenvolvimento de tecnologia espacial. Esses investimentos eram estratégicos, pois os foguetes utilizados nos lançamentos de espaçonaves e satélites podiam ser utilizados para lanças mísseis nucleares a longa distância. Além disso, os satélites colocados na órbita terrestre poderiam servir para a monitoração e o controle do que acontecia nas mais diversas regiões do planeta.
Os soviéticos saíram na frente, dando início à corrida espacial ao lançar um satélite artificial na órbita da terrestre, o Sputnik I, em 1957. Eles também foram os primeiros a enviar um homem ao espaço, Yuri Gagarin, em 1961, e uma mulher, Valentina Tereskova, em 1963.
Os norte-americanos, por sua vez, foram os primeiros a alcançar a Lua, com Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Aldrin a bordo da astronave Apolo 11, em 1969. A partir de então, os dois países passaram a adotar uma política de cooperação, compartilhando informações das suas pesquisas espaciais.
[...] a exploração espacial passou a ser vista cada vez mais como uma aventura da humanidade como um todo e não de uma nação em particular. Além de expandir o conhecimento humano do cosmo, ela estimulou novas tecnologias e levou ao desenvolvimento de novos materiais e processos de fabricação. Muitas dessas inovações tiveram aplicação comercial, do isolamento e lubrificação avançados até a conservação de alimentos por congelamento e secagem a vácuo.

China: política e desenvolvimento econômico

A China abriga a maior população do mundo. É um país predominantemente rural que se tornou uma das maiores economias mundiais da atualidade ...