domingo, 16 de novembro de 2025

Multiplicidade cultural

A multiplicidade cultural, ou multiculturalismo, refere-se à diversidade de manifestações, pensamentos, costumes, organizações familiares, linguagens, rituais, tradições, etnias, entre outros aspectos, que caracterizam grupos que habitam um mesmo território. A cultura, por sua vez, é o conjunto de símbolos, hábitos e capacidades espirituais, materiais, não materiais, intelec tuais e afetivos adquiridos pelos membros de uma sociedade e passados de geração em geração. Envolve conhecimento, moral, crenças, leis, modos de vida, visões de mundo, entre outros elementos. A cultura é uma criação humana, pois é próprio do ser humano atribuir sentidos a suas ações, con cretas ou simbólicas. Cada cultura tem características que a diferem de outras. Esse conjunto de características, conhecido como identidade cultural, confere a cada indivíduo o sentimento de pertencimento a um grupo, o que se expressa por um conjunto de modos de agir, pensar, vestir-se, alimentar--se, lidar com o poder, com o sagrado, entre outras coisas. Porém, com a globalização, são raras as culturas que conse guem se manter totalmente isoladas.

Um bom exemplo vem da gastronomia. Em toda grande cidade são encon trados restaurantes com pratos das mais variadas nacionalidades: japoneses, italianos, mexicanos, portugueses, ou com sabores e tradições comuns a mais de uma cultura. As culturas acabam influenciando umas às outras. Muitas vezes, é difícil saber a origem de um prato típico, bem como de um costume, de um idioma ou de um vestuário. Isso se deve, atualmente, à influência cada vez mais presente da facilidade de deslocamento e do acesso à informação, propiciados pela evolução dos meios de transporte e comunicação.

Diversidade cultural: patrimônio da humanidade


A cultura e sua diversidade são tão importantes para as comunidades huma nas que, em 2001, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) elaborou a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, com o objetivo de reafirmar a preocupação dos países-membros com a preserva ção e o respeito universal à diversidade cultural dos povos e das nações. Essa declaração estabelece que a diversidade cultural é um patrimônio da humanidade, manifestando-se na originalidade e na pluralidade de identidades características de grupos e sociedades. Com a diversificação cada vez maior da sociedade, é indispensável garantir uma interação harmoniosa com as pessoas, os grupos e suas identidades cul turais, pois ela é uma das fontes do desenvolvimento humano e um meio para uma existência afetiva, moral, intelectual e espiritual satisfatória. O respeito à diversidade cultural, portanto, é parte indissociável dos direi tos humanos e deve assegurar a livre expressão, o pluralismo de ideias e a igualdade de participação política e de acesso ao conhecimento científico, tecnológico e artístico.

Minorias


Quando tratamos de grupos sociais, “minoria” não significa quantidade menor de indivíduos. Muitas vezes, é de uma maioria que estamos falando. Os afrodescendentes, por exemplo, são considerados uma minoria, embora formem mais da metade da população brasileira. Quando se diz que um grupo é minoritário, isso se refere aos direitos que lhe são negligenciados, tornando-o, por questões históricas, uma parcela mais vulnerável da socie dade. Esses grupos costumam ser discriminados pelo grupo dominante em razão da cor da pele, gênero, religião, origem geográfica, orientação sexual, etnia ou situação econômica – e, em alguns casos, por mais de um desses fatores. Outro exemplo de minoria no Brasil são os povos indígenas. A maioria das etnias indígenas foi removida de suas terras originárias, que habitaram por milhares de anos, sendo deslocada para reservas que, muitas vezes, desvir tuam seus modos de vida.

Os quilombolas formam outra minoria. São grupos étnicos que descendem dos negros trazidos à força da África e escravizados no Brasil e que ocupam determi nada porção de terra. Essa terra pode ter sido comprada pelos próprios indivíduos, doada a eles, obtida como troca por prestação de serviços ou ocupada como forma de resistência à escravidão. Existem comunidades remanescentes de quilombos em praticamente todos os estados brasileiros. As maiores concentrações estão nas regiões Nordeste e Sudeste. Conforme os dados levantados pela Funda ção Palmares, publicados na Portaria no 34/2019, no Brasil há 3 271 comunidades quilombolas certificadas. Apesar da existência de um número expressivo, apenas 174 comunidades receberam o título de suas terras. A Constituição Federal de 1988 assegura, no artigo 68, o direito dos quilombolas à terra.

Os costumes e modos de vida nas comunidades remanescentes de quilom bos foram fortemente influenciados pela cultura negra, indígena e cristã, com festividades, cantos e evocações próprios. Existem também minorias formadas por povos nômades, como os ciganos, os banjaras (ciganos da Índia), os beduínos e tuaregues (Oriente Médio e Norte da África), os fulânis (da costa atlântica do Senegal à densa selva centro-afri cana), os bosquímanos (sul da África), os aborígenes australianos e parte dos mongóis (Mongólia). Algumas minorias são definidas pela religião que seguem. É o caso da comunidade amish, um grupo cristão derivado do protestantismo alemão e suíço que vive no Canadá e nos Estados Unidos. Os amish são conhecidos por seus costumes conservadores e por manter distância da sociedade moderna, não fazendo uso de energia elétrica, aparelhos eletrônicos ou automóveis. Segundo eles, essas modernidades os afastariam do verdadeiro propósito cristão de retidão e de humildade.

 Globalização e diversidade cultural

Apesar de não ter surgido com a globalização, o multiculturalismo e a diver sidade cultural se acentuaram com ela. As migrações em busca de oportuni dades levaram para outros países culturas diferentes, que lá foram absorvidas total ou parcialmente. 
Os haitianos e os venezuelanos são dois exemplos de migrantes, que, fugindo da crise política e econômica em seu país, optaram por entrar em terri tórios estrangeiros, incluindo o Brasil, em busca de oportunidades. Para alguns, no entanto, a globalização moderna põe em risco a preservação de sua identidade e da diversidade cultural. Atrelada ao capitalismo, que visa principalmente ao lucro, essa diversidade vem sendo alvo, muitas vezes, de apropriação cultural, que desvirtua o sentido original da cultura local, podendo levar ao seu desaparecimento e até à sua completa assimilação por outra sociedade. A história registra vários casos de nações que invadiram territórios e con tinentes e impuseram seus costumes e modos de vida, muitas vezes por meio de violência, como no caso da colonização de alguns países da América Latina pelos conquistadores espanhóis, que resultou no quase desaparecimento das culturas inca, maia e asteca.

Etnocídio 

Quando uma cultura é destruída por outra, ocorre o que se denomina etnocídio. Os membros da cultura dominada são forçados a deixar suas tradi ções e a aceitar a dos invasores. Muitas vezes, seus costumes e modos de vida são vistos como inferiores pelos dominadores, e assim sua prática aos poucos é desestimulada. Em geral, o idioma é o primeiro a ser anulado, principalmente quando o povo dominado faz uso de transmissão oral, ou seja, não conta com um sistema de escrita. A perda do idioma de um povo significa o esquecimento gradativo de sua história.


O PROTAGONISMO FEMININO E O MULTICULTURALISMO

As diferentes formas de organização social e cultural influenciam a condição das mulheres nas sociedades de acordo com os valores e os papéis sociais a elas atribuídos. Nas organizações sociais tradicionais, era papel da mulher prover toda a comunidade. Apenas com o estabelecimento de agrupamentos sociais mais hierarquizados e a influência do cristianismo é que as mulheres passaram a desempenhar apenas o papel de cuidadora da casa e dos filhos, instituindo um modelo de sociedade patriarcal em que o homem é detentor dos direitos de trabalho, liberdade e participação política, entre outros. Com a necessidade de aumento da produção para atender às demandas da sociedade, as mulheres passaram a ser contratadas nas fábricas, recebendo menores salários e sem direitos trabalhistas. Foi somente após os movimentos sufragistas, no início do século XX, que as mulheres conquistaram o direito ao voto. Desde então, a luta das mulheres em busca de igualdade salarial, direitos, segurança e liberdade ganhou mais força. Tais movimentos acontecem de maneira distinta em cada cultura. Por exemplo, atualmente mulheres mulçumanas têm se posicionado cada vez mais contra a intolerância religiosa sofrida quando são vistas de hijab, vestimenta tradicional da religião. 
Os países do Oriente têm se destacado nos últimos anos em razão de seus avanços científicos e tecnológicos. Com isso, diversas pessoas com influências midiáticas têm trabalhado para expor a realidade de culturas, como forma de quebrar os estereótipos criados pela cultura ocidental. No infográfico a seguir, podemos analisar alguns exemplos de protagonismo feminino em diversas áreas. Esses exemplos do infográfico mostram importantes avanços de mulheres que não estão inseridas em contextos culturais ocidentais, colocados como padrão dominante.

Os centros da moda no mundo

As conexões estabelecidas a partir das trocas comerciais interferiram em todas as esferas da vida social, inclusive no comércio de tecidos, roupas e tapeçarias. Os processos relacionados à produção de vestimentas estão inseridos em uma teia de relações que envolve desde a fragmentação da produção, em que os modelos são projetados em um país e produzidos em outros, até na forma de se vestir, em que pessoas se identificam com diferentes características identitárias e culturais. Com a Segunda Revolução Industrial e com o desenvolvimento da indústria têxtil por toda a Europa, padrões de design e qualidade de alfaiataria começaram a ser desenvolvidos, dando origem às principais grifes da moda. A representação do gosto das elites pelas produções de cidades como Milão (Itália), Paris (França), Londres (Inglaterra) e Nova York (Estados Unidos) criou uma indústria seletiva de consumo direcionada aos grupos sociais mais ricos e sendo desejo de outros grupos sociais menos favorecidos. No entanto, as escolas da moda têm se descentralizado da Europa em cidades como Tóquio (Japão), Seul (Coreia do Sul), Toronto (Canadá) e Mumbai (Índia). Esses locais se destacam em suas criações e passaram a ter influência na forma de vestir em todos os países do mundo.

Além dessas cidades globais da moda, existem outras no mundo que têm influência em determinados seguimen tos, como é o caso de São Paulo e Rio de Janeiro, no Brasil. O Brasil ocupa o 5o lugar do ranking produtivo de calçados em razão das atividades relacionadas ao setor pecuário, como a disponibilização de couro. Analise o gráfico a seguir. A indústria da moda tem uma cadeia produtiva com plexa e articula diferentes setores: agropecuário, químico, design, publicidade, propaganda e mídia especializada que se utiliza de técnicas, tecnologias e pesquisa científica para analisar tecidos e couros. A Divisão Internacional do Trabalho estabelece os lugares onde serão realizadas cada uma das etapas da produção: matéria-prima, planejamento, estraté gia, venda, entre outras, o que resulta em distintos valores de custos da produção.

AS TROCAS CULTURAIS NA GLOBALIZAÇÃO


O começo do processo de mundialização se dá a partir do momento em que diversos locais do mundo passaram a ser conhecidos em escala global. Esse processo ocorreu a partir dos séculos XV e XVII e é marcado pela expansão das redes econômicas dos impérios europeus e asiáticos para a África, a América e a Oceania em busca de novos produtos para comercialização e expansão territorial. Além da comercialização das mercadorias e da disputa pela predominância econômica, o contato entre os diferentes povos, por meio das invasões de novos territórios, resultou na impo sição da cultura dos colonizadores. Os mosaicos formados pelos azulejos mouriscos, por exemplo, foram importados por Portugal durante o século XV, uma das heranças adquiridas após as Conquistas Árabes (VIII-XII). Praticamente todo o território espanhol e português foi tomado pelos árabes, e, por centenas de anos, a cultura moura influenciou os padrões arquitetônicos e outros aspectos culturais. Esses aspectos foram incorporados pela cultura portuguesa e nos países onde houve processo de colonização, que estão evidentes em algumas construções em países como Brasil e Moçambique, por exemplo.

A globalização é o fenômeno que resulta dessa intensa integração entre os aspectos eco nômicos, sociais e culturais dos diferentes lugares do mundo, o que possibilita reduzir distâncias entre eles. As trocas culturais ficaram cada vez mais intensas em decorrência dos avanços das tecnologias de transporte e comunicação, assim como o aumento dos fluxos financeiros. As transformações nas tecnologias de comunicação, por exemplo, permitem-nos enviar e receber mensagens em tempo real, de qualquer lugar do mundo. Além disso, possibilitam a disse minação de produções artísticas, como filmes, séries e músicas, de diferentes países, contribuindo para a difusão de características culturais e modos de vida nos diferentes lugares do mundo. Analise a imagem a seguir. Os cabos submarinos permitem a troca de informações e energia e conectam territórios como Estados Unidos, China e o continente europeu, onde há a expansão dos grandes empreendimentos finan ceiros e tecnológicos. Outra importante caracterís tica da globalização é a organização espacial produtiva. Atualmente, as multinacionais possuem unidades em diferentes lugares do mundo, com o objetivo de diminuir os custos de produção e aumentar os lucros. Assim, as empresas passam a ter influência não apenas em seu país de origem, expandindo seu fluxo de produtos e capitais em escala global.

Na Divisão Internacional do Trabalho, há países que produzem matéria-prima e há outros que são industrializados e fornecem produtos manufaturados. O Brasil, por exemplo, exporta majo ritariamente produtos agrícolas e minérios e importa tecnologia de outros países. Assim, embora a globalização possibilite a intensificação das trocas culturais e tecnológicas, também contribui para o aumento das desigualdades entre os países, tendo em vista que eles apresentam diferentes níveis de influência econômica, política, militar e cultural em escala global. A seguir, vamos conhecer alguns exemplos de trocas culturais na globalização.

A influência cultural estadunidense


Os Estados Unidos, além de serem uma potência política, econômica e bélica, são também uma potência cultural da indústria do entretenimento. Os Estados Unidos não apenas influenciam, mas fazem escola no cinema, nas histórias em quadrinhos, nos pro gramas de televisão, entre outros. A partir da segunda metade do século XX, os Estados Unidos têm ampliado sua influência impe rialista, tanto no campo da política e da economia, quanto na cultura. Eles foram responsáveis pelos empréstimos para reestruturação econômica dos países europeus pós Segunda Guerra Mundial, dolarizando a economia mundial. Assim, os Estados Unidos passaram a exercer influência nos costumes, hábitos e estilos de vida, principalmente por meio da indústria cinematográfica e televisiva. Um exemplo são as constantes propagandas sobre o modo de vida estadunidense, conhecido como American Way of Life. A indústria cinematográfica foi o principal meio de propaganda dos aspectos culturais estadunidenses, passando uma imagem idealizada de suas condições de vida. A presença da cultura estadunidense no mundo pode ser percebida de diversas formas, como a adoção de palavras e expressões da língua inglesa, os hábitos de consumo e a organização pro dutiva em vários países. Esses valores foram aos poucos sendo consolidados nos países da América Latina e em outros no mundo. Na imagem podemos observar pessoas em Dubai, consumindo em um restaurante fast-food, uma característica da cultura estadunidense mais difundida no mundo.

Atualmente, a preocupação dos Estados Unidos em manter seu status de maior potência bélica e econômica mundial é intensificada com a bipolarização causada pelo crescimento econômico e bélico da China, colocando-a como nova potência mundial.

A globalização e o rap


Com a globalização, o rap se disseminou por vários lugares do mundo, incorporando, em seu estilo, características locais. A desterritorialização das culturas faz com que, mesmo estando espacialmente separados, os jovens de vários lugares do mundo criem novas identificações. Um dos exemplos dessas novas identificações pode ser localizado no movimento hip hop como um todo e mais especificamente no rap. Os meios de comunicação, a indústria fonográfica, a televisão a cabo e a internet, especialmente, tornaram-se os canais de “reunificação” das identidades culturais que se formam sem que o território da nação seja sua referência exclusiva. Com isso, outras identidades se sobrepõem de maneira cada vez mais contundente: a negra, a jovem, a excluída, a periférica. O movimento hip hop pode ser considerado exemplo desse processo de globalização das culturas que tem como corolário a ideia de desterritorialização e a reunião daquilo que está ter ritorialmente separado através da comunicação. O rap surgiu como uma música dos jovens negros dos bairros periféricos dos Estados Unidos, no final da década de 1970, e logo foi apropriado por jovens negros, mestiços e excluídos das periferias de todo o mundo. “Periferia é periferia em qual quer lugar” é o título de uma canção do grupo de rap brasileiro Racionais MC’s e resume a ideia de que em qualquer periferia, qualquer jovem negro e/ou excluído está submetido às mesmas e precárias condições de vida.

No caso do Brasil, em particular, forma e conteúdo se adaptam à realidade cul tural brasileira, onde os sons do samba, baião, embolada e outros gêneros musicais produzidos pelos grupos negros e mestiços são incorporados ao som do rap, seja na batida – como base para os scratching ou nos samplers – seja nas letras, com a presença de elementos da cultura negra nacional, como Zumbi dos Palmares.

Hallyu: a onda cultural sul-coreana


A partir dos anos 2000, com a expansão do acesso à internet e às redes sociais, o consumo dos k-dramas (séries coreanas) e do k-pop (gênero musical produzido no país) vem aumentando exponencialmente em diversos países. Essa divulgação da cultura coreana é chamada de Hallyu, a “onda coreana”. É possível notar, por exemplo, a maior presença dessas produções em grandes plataformas de streaming do mundo todo.

Além do cinema e da música, outros produtos como cosméticos, jogos de vídeo game, roupas e alimentos, por exemplo, também sofreram um aumento das impor tações em decorrência da Hallyu. No gráfico a seguir, podemos analisar os produtos culturais da Coreia do Sul que são mais consu midos em outros países.

A xenofobia contra as produções sul-coreanas


Com a difusão do cinema sul-coreano, houve o aumento de discursos de ódio e xenofobia contra várias produções do país asiático. Assim como no cinema, grupos famosos de k-pop presenciam e relatam situações em que sofrem com tal violência. Nas adaptações feitas pela indústria cinematográfica de Hollywood, muitas vezes as características culturais de outros países são apagadas em detrimento da cultura estadunidense. No entanto, o mesmo não acontece quando a indústria cinematográfica da Coreia do Sul produz seus remakes de grandes produções de outros países.

sábado, 15 de novembro de 2025

OS SISTEMAS COLONIAIS


Os cinco principais impérios europeus (britânico, francês, português, espanhol e neerlandês) consolidaram-se principal mente em decorrência do desenvolvimento de tecnologias de navegação; suas embarcações transportavam mercadorias na rota marí tima eurasiática, conectando o Sul e o Sudeste Asiático com os principais centros da Europa. Assim, o enriquecimento comercial dos países europeus se deu com base no controle dos fluxos comerciais de produtos alimentares e matérias-primas. Os fluxos comerciais contribuíram para a ampliação das cidades e dos territórios europeus. Um dos objetivos dessa expansão era o acúmulo de capital, com a exploração de minerais e especiarias, o que resultou na colonização de diversos territórios. Além da exploração dos recursos naturais, os impérios europeus impunham suas práticas culturais e seus modos de vida em suas colônias. Essas imposições culturais tiveram início no século XI, com as Cruzadas, e se intensifi caram no século XV, com as Grandes Navegações, e no século XVIII, com o aumento das trocas comerciais e culturais.

Como resultado da expansão dos mer cados e territórios, ampliou-se a influência das cidades e alteraram-se as dinâmicas de circulação de mercadorias e pessoas, com consequente aumento da circulação de capital. As cidades passaram a ser centros de distribuição de mercadorias e de infor mações sobre o que acontecia em outras partes do mundo, como retrata a obra de arte O mercado de vegetais, de Hendrick Sorgh. As informações, nesse período, eram tão importantes quanto as mercadorias, e muitas delas foram cartografadas como conhecimentos relevantes para os Estados ampliarem seus territórios e os fluxos econômicos.

AS COLÔNIAS FRANCESAS


O processo de desenvolvimento do sistema colonial francês iniciou-se com a fundação do Porto Real (1605) na província de Nova Escócia, na costa canadense, para consolidar o cultivo de tabaco e interferir na estratégia inglesa de dominação da América do Norte.

Os franceses fundaram novos portos marítimos ao longo da costa oeste africana, como no Senegal, em 1624. Anos mais tarde, assentaram-se sobre os territórios asiáticos nas atuais regiões indianas de Bengala e Pondicherry (1673), Yanam (1723), Mahe (1725) e Karaikal (1739) e passaram a exercer enorme influência nas ilhas africanas Bourbon (1664), Maurício (1718) e Seychelles (1756), e nas centro-americanas do Haiti, Guadalupe, Martinica, Granada e Guiana. A ação da colonização francesa indica a magnitude das ocupações por praticamente todas as regiões continentais. Analise o mapa a seguir, que representa as colônias francesas entre os séculos XVI e XX.

O movimento de apropriação territorial francês foi intenso, agressivo e expansivo. O projeto territorial era aproveitar ao máximo o acesso a novas manufaturas e mercadorias. Na América, destacou-se pela produção de peles e peixes, na região dos grandes lagos canadenses; tabaco e corante, no atual estado estadunidense da Louisiana; e açúcar e rum, nas ilhas da América Central. Na África, exploravam marfins e o trabalho escravizado. O principal núcleo comercial existente era entre Europa e os demais territórios: Ásia, na conexão manufatureira de sedas com a Turquia; Pérsia, comercializando ornamentos têxteis, sedas e tapeçarias; e Península Arábica, vendendo café, na cidade de Mokha, e pérolas, extraídas no Golfo Pérsico. Outras conexões de destaque eram a Índia, nas trocas de produtos como sedas, gemas, algodão, canela, tintas e búzios; e a China, ao fornecer corantes, perfumes, ervas, sedas, porcelanas e chás. Essas redes comerciais do Império Francês formavam a relação de produção que determinava seu poder econômico. Quanto mais um império criasse núcleos de trocas, mais poderia operar em diversos territórios e assegurar os recursos neles situados, além de participar da economia global mente, influenciando na definição de preços e no controle das economias de outros territórios.

AS COLÔNIAS BRITÂNICAS


As ocupações britânicas são muito semelhantes às francesas. Ao todo, seu domínio colonia lista englobou mais de 33,7 milhões de quilômetros quadrados, mais que a extensão dos impérios russo e mongol, por exemplo. O início do desenvolvimento de um sistema colonial britânico – no período do Rei Jaime I (1603-1625) – ocorreu por volta de 1606, com a fundação da Companhia Britânica das Índias Orientais e da Companhia Londrina da Virgínia. Impulsionada pelas novidades das técnicas, do desenvolvimento científico e da organização da produção e das relações de trabalho no período da Primeira Revolução Industrial, a Inglaterra assumiu posição de liderança no movimento de integração mundial na passagem do capitalismo comercial para o industrial. Esse processo resultou em sua influência mundial, na economia e no processo de colonização, em função de suas necessidades de matéria-prima para abastecer as fábricas.

A exploração britânica compreendia todos os continentes do globo e anexou fornecedores de matérias-primas fundamentais, como minérios e alimentos. No continente americano, esse processo se deu com a fundação das 13 colônias, a partir das Companhias Londrina da Virgínia e Companhia de Plymouth. Nesses territórios predominavam a produção de tintas e tabaco (sul) e de peles e peixes (norte); na América Central, predominava a produção de rum, açúcar, tabaco e pau-campeche. As terras africanas foram exploradas, inicialmente, para fins de escravização e de exploração de marfins. O centro comercial do mundo, composto por Índia, China e Indonésia, fornecia mercadorias como ópio, especia rias (cravo, açafrão, canela, anis), aço, sedas, pedras preciosas, algodão, tintas, búzios, corantes, perfumes, ervas, sedas, porcelanas e chás.

A OCEANIA E A ECONOMIA AUSTRALIANA


O Pacífico Oriental e a Oceania constituíram-se como uma região tardiamente colonizada (entre os séculos XVIII e XIX), sendo foco de interesse dos principais centros econômicos nesse contexto. A primeira ocupação inglesa foi a partir da fundação da cidade de Perth, na região de Albany. As ilhas, repletas de recursos naturais, foram alvo de grande interesse do mercantilismo inglês. Analise o mapa a seguir, que representa o território da Austrália, Nova Zelândia e os arqui pélagos da Micronésia, Polinésia e Melanésia. Note que a divisão do território da Oceania foi estabelecida a partir dos processos de colonização por parte das grandes potências europeias. A economia colonial se desenvolveu com base na criação de carneiros, ovelhas e bovinos e na exploração de metais, como o ouro, em um complexo envolvendo Melbourne e Sydney, as mais importantes cidades australianas até hoje.

A colonização da Austrália levou mais de dois séculos para se consolidar, só sendo possível pelas atividades primárias extrativistas exercidas e pela criação de redes ferroviárias conectando as seis colônias: Nova Gales do Sul, Tasmânia, Austrália Ocidental, Austrália Meridional, Terra da Rainha e Victoria. O processo de mecanização da agricultura e o uso de diferentes tecnologias na área possibilitou o crescimento da produção agrícola na região. A indústria foi aos poucos sendo desenvolvida e sua expansão é recente, com destaque para a mineral, alimentícia e têxtil. A Austrália é um dos maiores exportadores de minério de ferro, carvão e lítio, entre outros minérios, principalmente em decorrência da formação geológica do território. De acordo com os Dados Mundiais de Mineração divulgados pelo Ministério Federal da Agricultura, Regiões e Turismo da Áustria, o país aumentou sua produção e exploração de minérios em 143% nos últimos 20 anos.

A Austrália é responsável por quase metade da produção de lítio, ficando à frente de grandes potências econômicas como China e Estados Unidos. Esse crescimento e destaque no setor mineral estão atrelados às modificações realizadas pelas mineradoras australianas no processo produtivo, com o investimento em tecnologia para o mapeamento dos minérios, otimização e aumento da produção, além da tentativa de redução de danos ambientais e acidentes. Os minérios se tornaram mais do que commodities na economia australiana, transformando o setor mineral em um importante mercado de investimentos. A maior produção do país é o minério de ferro, como mostra o gráfico a seguir. A exportação de minério de ferro entre 2020-2021 alcançou mais de 150 milhões de dólares australianos.

AS COLÔNIAS NEERLANDESAS


A influência neerlandesa deu-se tar diamente em relação aos outros países colonizadores. A tomada da ilha de Manhattan e a criação de Nova Amsterdã (1626) – pos terior Nova York (1664) – foi feita com muita dificuldade, tanto pela resistência territorial dos povos indígenas algonquins como pela já ante rior instalação britânica, entre 1606 e 1607. Da mesma forma, no Brasil, a tentativa de ocupar Bahia, Pernambuco, Maranhão e Sergipe em 1624 não teve a permanência e o sucesso esperados.

Apesar de as Companhias das Índias Ocidentais (1621), setor neerlandês responsável pelas colônias na América, serem predominantemente financiadas pelo capital das elites neerlandesas e conseguirem controlar os preços e parte da circulação do açúcar na região, os territórios conquistados foram perdidos em 1640, após muita pressão dos países ibéricos.

O principal núcleo operante da colonização neerlandesa situava-se entre América Central e Caribe, Curaçao, Antilhas e Guiana, a partir de um intenso e competi tivo circuito produtivo de açúcar e sal. No Oriente, o Sudeste Asiático foi central no sistema de ilhas que forneciam importantes mercadorias, como cedro, cravos, pérolas, pimen tas e noz-moscada. Como todos os outros mercadores eurasiáticos, os neerlandeses estabeleceram cone xões com os centros persas (sedas e tapeçarias), indianos (sedas, gemas, algodão e canela), chineses (perfu mes, tapeçarias, porcelanas e sedas) e japoneses (sedas).

A EXPANSÃO DA ECONOMIA RUSSA


Historicamente, o Estado russo tem pretensões expansionistas. Desde o século XVI, o país buscou acesso a saídas marítimas, motivando, assim, políticas que levaram à conquista de diversos territórios. Essa expansão foi marcada pela fundação de São Petersburgo, às margens do Mar Báltico, em 1703. A Rússia apresenta o maior território do mundo, com grandes formações de relevo, como os montes Urais, os montes Altai, o Planalto Central Russo, a planície Sarmática e as montanhas do Cáucaso, ao sul. Os rios não atravessam o país, nascendo geralmente em altitudes elevadas dos planaltos e montes e seguindo em direção aos mares de Azov, Cáspio (Rio Volga), Branco e Báltico. Na parte asiática, localizam-se a planície da Sibéria, o Planalto Central Siberiano e vários montes, que circundam o limite da Rússia com a Mongólia e a China. As pradarias e as estepes, assim como a tundra, são áreas que foram ocupadas para a produção de alimentos.

Atualmente, a Rússia mantém essa política expansionista, exercendo sua influência na geopolítica de petróleo e gás, pois é responsável pelo abastecimento desses recursos para o continente europeu. Os gasodutos construídos têm origem nas usinas russas e atravessam toda a Europa, chegando em Portugal e no Reino Unido. Isso mostra uma rede de fluxos econômicos intensa e duradoura. De acordo com a Agência Internacional de Energia, em 2021, a exportação de petróleo e do gás natural correspondeu a 45% da economia russa. Todos os gasodutos europeus estão conectados a redes de distribuição russa, o que evidencia uma dependência de toda União Europeia pelo gás russo enquanto fonte de energia.

A construção de um novo gasoduto conectando diretamente a Rússia e a Alemanha foi desenvolvida em razão do plano de redução e extinção de uso de energia nuclear da Alemanha. Em 2022, em decorrência de conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, parte do governo alemão questionou a construção e o for necimento de gás; no entanto, em razão do investimento de empresas alemãs na construção, o gasoduto segue em ope ração. O conflito ocasionou redução das exportações de gás natural, mas o país ainda se configura como o principal for necedor para a Europa.

A ROTA DA SEDA

A Rota da Seda foi um importante marco para o intercâmbio cultural entre o Oriente e o Ocidente, considerando que é o maior e mais antigo registro de um sistema de comercialização. A Rota da Seda se desenvolveu entre os séculos I e XV e se estendia da China às proximidades do Mediterrâneo. Durante esse período, foi o principal elo de transmissão cultural e de mercadorias ao longo da Eurásia.

Durante séculos, a Rota da Seda dinamizou o comércio junto à das Especiarias, abrindo caminhos para os povos da Ásia e da Europa. Eram aproximadamente 8 000 km de estradas entre a então capital chinesa, a cidade de Xian, até o Oriente Médio, que possibilitava a conexão com a região do Mediterrâneo. Os viajantes passavam pelas terras do Afeganistão e do Irã, pelo mar Mediterrâneo, Turquestão e Anatólia, entre outras localidades, onde comer cializavam objetos e alimentos. Também havia a troca de conhecimentos e tecnologias, como a escrita, a navegação, a tecelagem, as técnicas agrícolas, entre outros.

A técnica de produção da seda, criada na China, foi o impulso para o início dessas trocas. De difícil execução, dominada apenas pelos chineses, a tecnologia foi mantida em segredo por um longo tempo. A seda era um artigo luxuoso, que só podia ser comprado por grandes imperadores e famílias ricas associadas à administração dos impérios.

A Rota da Seda teve papel crucial na definição e na transformação das fronteiras ao longo de seu percurso, pois as redes de comercialização eram espaços de disputa entre os povos, com destaque para os impérios Mongol, Romano e Persa. A seda era produzida apenas pelos chineses. Durante três milênios, as mariposas que produziam a seda eram encontradas apenas em território chinês. A produção do tecido nobre, utilizado para fabricação de roupas para serem utilizadas tanto no inverno como no verão, era uma das principais atividades econômicas da China. A importação da seda incentivou a criação de importantes rodas comerciais que conectavam o oeste da Ásia e o oeste da Europa. Entre os séculos I a XV d.C. a Rota da Seda se estabeleceu como a principal rota comercial. 
Atualmente, o governo Chinês pretende restabelecer a Rota da Seda e expandi-la por via marítima, percorrendo o Mar Meridional da China e o oceano Índico, com destino aos países da região do Estreito de Ormuz, expandindo a zona de influência chinesa sobre as rotas comerciais do mundo.

O OCIDENTE E O ORIENTE

Uma das formas de organização do espaço mundial é a regionalização dos continen tes de acordo com as características culturais predominantes em determinada localidade. A chamada Eurásia compreende a massa continental que abriga os continentes europeu e asiático, separando-se dos demais por meio de mares e oceanos. No entanto, a divisão entre Europa e Ásia ocorre principalmente em função de aspectos culturais, e não por causa de grandes barreiras geográficas. Em decorrência das relações entre diversos povos, as diferentes influências culturais estão presentes em muitos países europeus e asiáticos, apesar da distinção cultural entre Oriente e Ocidente. A disseminação e as trocas culturais na Eurásia foram geradas principalmente pelas trocas comerciais e disputas territoriais entre os grandes impérios. Assim, ao mesmo tempo que o contato entre Europa e Ásia proporcionou intercâmbios culturais, também causou conflitos que originaram a fragmentação desses territórios.

O desenvolvimento das sociedades ao longo da história está relacionado a características culturais, ou seja, às formas pelas quais os agrupamentos humanos se relacionavam entre si e com o meio físico. Desse modo, as sociedades desenvolveram características específicas. Os diversos reinos distribuídos pela Eurásia muitas vezes disputavam territórios com o objetivo de obter melhores condições produtivas e conseguir o controle comercial, o que resultava em muitos conflitos e guerras. São exemplos disso os frequentes confrontos entre os impérios Romano, Otomano, Persa, Russo e Chinês. Na disputa territorial, alguns impérios se expandiram e, com isso, ampliaram suas influências religiosas, econômicas e culturais. A ideia de “ocidentes” e “orientes” está relacionada à diversidade étnico-cultural das socie dades na Eurásia, explicada em grande parte pelas significativas transformações territoriais sofridas desde o século XIII a.C. até o século XIX d.C. Durante esse longo período, as populações ocuparam terras, formaram territórios, construíram aldeias e cidades e comercializaram mercadorias. Com isso, também trocavam conhecimentos, o que promoveu intercâmbios culturais.

Os gregos formaram o primeiro núcleo da cultura europeia e per maneceram na Península do Peloponeso até serem incorporados pelas repú blicas romanas, no século II a.C.

O intenso fluxo comercial de sedas, roupas, tecidos, pedras preciosas, incensos, especiarias e ferramentas tornaram as cidades importantes lugares de intercâmbios de valores culturais e de conhecimentos. Na Europa e na Ásia, desenvolveram-se diversas sociedades que influenciaram o mundo todo. Os principais alfabetos usados e as religiões mais praticadas atualmente, por exemplo, são de origem euroasiática. No entanto, apesar de os termos Ocidente e Oriente serem usados comumente para dividir o grande bloco eurasiano, os grupos não são homogêneos. Há um conjunto diversificado de sociedades em cada um deles, as quais se conectam física, social e culturalmente. Analise as imagens a seguir, que representam o Estreito de Bósforo, na Turquia. Esse local conecta o Mar Negro ao de Mármara e marca um dos limites do continente asiático com o europeu. Por isso, trata-se de um importante ponto de troca entre o Ocidente e o Oriente.

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