quinta-feira, 25 de julho de 2024

CONFLITOS NA TURQUIA: TURCOS E CURDOS

País marcado por conflitos e disputas territoriais, a Turquia tem como uma de suas principais questões geopolíticas o conflito territorial com os curdos, povo que ocupa sobretudo áreas no oeste do país. Os curdos também ocupam áreas nos territórios de outros países, como Iraque, Irã, Síria, Geórgia e Armênia.

O povo curdo reivindica a criação de um país autônomo – o Curdistão – para a preservação de sua identidade cultural, prometido pelos britânicos desde o período colonial da região. No entanto, especialmente por ocupar uma área estratégica de nascentes de rios e reservas petrolíferas, sua autonomia é negada. Os curdos formam o quarto maior grupo étnico do Oriente Médio.

A luta pela autonomia do povo curdo começou a ser travada a partir da década de 1980, com a atuação do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), e tem como objetivo formar o Estado curdo e abrigar sua população, que se mantém dispersa e reprimida por toda a região. O PKK já realizou ações armadas e ataques à bomba contra forças de segurança turcas, motivo pelo qual é considerado uma organização terrorista pelo país.

Outro problema enfrentado pela Turquia e que afeta diretamente os curdos se refere à disponibilidade hídrica e energética. Para solucioná-lo, o governo turco deu início ao projeto da Grande Anatólia, cujo objetivo é construir 22 represas e 19 usinas hidrelétricas ao longo dos rios Tigre e Eufrates. Além disso, o projeto também prevê a melhoria da infraestrutura urbana e rural em toda a área contemplada. No entanto, esse projeto prevê o alagamento de áreas do país ocupadas pelos curdos, que seriam obrigados a deixar suas terras. Outras críticas ao projeto vieram de países vizinhos, como Síria e Iraque, que protestaram por entenderem que ficariam privados de água. Já os sauditas e os israelenses apoiaram o projeto de construção do grande sistema, que inclui um duto que ligará as barragens do sudeste da Turquia a Israel e a Riad.

Além disso, a Turquia é um dos principais destinos de refugiados provenientes de países que passam por guerra civis e instabilidade política na região, como é o caso da Síria e do Iraque. A guerra civil na Síria, iniciada em 2011, é o principal fator de expulsão de pessoas na região e aproximadamente 3,5 milhões de sírios se encontravam refugiados no território turco em 2021. O governo turco está diretamente envolvido no conflito e frequentemente facilita que os refugiados sírios abandonem seu território em direção aos países europeus como forma de exercer pressão geopolítica sobre a União Europeia.

O governo turco é criticado pela comunidade internacional por violar os direitos humanos por meio de ações que reprimem a liberdade de expressão e a democracia, atuando de forma autoritária em episódios que envolveram a prisão de jornalistas críticos ao governo, a repressão de movimentos LGBTQIAPN+ e a prisão de refugiados sírios pela polícia secreta turca, que os entrega ao país de origem.

Os curdos também foram fortemente reprimidos no Iraque, durante o governo de Saddam Hussein (1979-2003). Com a deposição de Saddam Hussein após a invasão estadunidense, havia a esperança de que os curdos se fixassem pacificamente nos territórios ao norte do país. A partir de 2006, o Iraque chegou a ter dois presidentes, que participaram da guerrilha curda durante o governo do antigo ditador. Receosa de que o fortalecimento curdo poderia atingir também seu território, a Turquia passou a atacar a região curda no Iraque.

Curdos 

Exemplo da maior nação constituída sem Estado, o povo cur do soma cerca de 30 milhões de pessoas distribuídas por seis países: predominantemente na Turquia, onde estão cerca de 15 milhões de pessoas, no Iraque, no Irã, na Síria, na Armênia e no Azerbaijão. Os curdos enfrentam uma longa trajetória de perseguição e de dura repressão às tentativas de formação política do Curdis tão, principalmente na Turquia e no Iraque. Isso ocorre porque o território onde pretendem construir seu país dispõe de recursos naturais, como o petróleo, e é onde se localizam as nascentes dos rios Tigre e Eufrates. 

Na década de 1980, os curdos foram massacrados pelo exér cito iraquiano de Saddam Hussein, inclusive com o uso de armas químicas. Acredita-se que tenham morrido mais de 800 mil curdos nesse período. A presença estadunidense no Iraque, a partir de 1992, bene ficiou o povo curdo. Os curdos iraquianos fizeram alianças com os Estados Unidos e ganharam uma rede de proteção aérea; em troca, apoiaram a intervenção no Iraque. Os curdos pretendem manter ou mesmo ampliar a autonomia que conquistaram nessa região, rica em petróleo, na qual são maioria e têm hegemonia cultural. Eles acreditam na criação de uma república federativa que garanta sua autonomia.

Em 2005, com a volta das eleições para a escolha de novos governantes no Iraque, depois da queda de Saddam Hussein, a Aliança Curda conquistou 25% das cadeiras da Assembleia Legislativa. Um sistema democrático poderia garantir maior estabilidade para o povo curdo nesse país. 

No entanto, entre 2014 e 2018, propriedades rurais e cidades de maioria cur da no Iraque foram dominadas pelo Estado Islâmico, levando a uma nova onda de violência e destruição. Os curdos fizeram alianças vitoriosas com países do Ocidente para combater o EI, mas não conseguiram apoio posterior desses países para levar adiante a reivindicação de criação de um Estado nacional. 

Em 2016, na Turquia, os grupos de guerrilheiros Falcões da Liberdade do Cur distão (TAK) e do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) assumiram atentados terroristas em busca de instabilidade política para a conquista da independência. Em decorrência dos eventos, o governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdo gan, abriu uma temporada de forte repressão à oposição.


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